Paulo José Buso ou simplesmente Paulo Buso. Este foi um dos mais destacados senão o mais importante dos pilotos de carreteira paranaenses, cuja carreira chegou ao auge na década de 1950.
Tri-campeão da prova Curitiba-Ponta Grossa-Curitiba pela antiga estrada pavimentada com saibro, entre outros feitos. Faleceu a 25 de fevereiro de 2002. Não é necessário dizer mais nada.
Simplesmente vamos transcrever crônica que fizemos logo após o seu falecimento: “Senhores, desliguem seus motores. Desliguem todos, por favor, apenas por algum tempo, os de 4, os de 6, principalmente os de 8 em V e, se houver, os de 12 cilindros também. Que se faça silêncio. Que os pistões fiquem quietos, as bielas e os virabrequins descansem em seus mancais e bronzinas.
Deixem que o combustível, como se sangue fosse, permaneça sereno em seu depósito e não circule pelas veias do carro, como de um corpo, levando o alimento que faz pulsar o motor, o coração. Que as bobinas as velas não emitam a centelha que dá vida à máquina.
E que os escapes não cuspam fogo nem fumaça, apenas esperando. Isto porque, as rodas dianteiras da carreteira Ford número 10 não terão mais que acertar, em alta velocidade, os dois pranchões colocados sobre as precárias pontes de madeira de rios como o Barigui, o Passaúna, o Verde e outros, na estrada Curitiba-Ponta Grossa. O combustível preparado com benzol não terá mais que passar pelos três carburadores e derreter as velas do motor Mercury 51, comprimido contra os cabeçotes de alumínio Edelbrock.
O comando de válvulas artesanal, confeccionado com muito trabalho nas altas horas da noite, não será ais acionado. A engrenagem da segunda marcha não terá mais que aguentar todo o esforço do motor para que o carro vença a subida da Serra de São Luiz do Purunã.
Ali, as pedras do chão de macadame permanecerão inertes agora, pois, não serão arremessadas para longe pelas rodas traseiras da carreteira. Nem mais a poeira do saibro será levantada, para depois pousar suavemente, levada pelo vento frio, sobre as folhas verdes das árvores, tingindo-as de branco.
Na verdade, nem mais a água das chuvas terá o trabalho de retirar essa poeira, devolvendo o verde à mata. Mas, se apurarmos o ouvido, talvez ainda seja possível detectarmos o eco refletido pelos paredões rochosos, nas profundezas das grotas, do som grave saído dos escapes do motor.
Mais acima, já nos Campos Gerais, no caminho de Porto Amazonas, as pombas rolas não levantarão vôo e se perderão no horizonte, aos bandos, assustadas pelo barulho de um motor a mais de 6.000 giros.
Saindo das casas à margem da estrada, a gurizada curiosa não subirá mais nos barrancos, para ver passar aquele carro esquisito e barulhento. As touceiras de capim, as paineiras, não se curvarão, como num cumprimento, empurradas pelo ar deslocado pelo carro. Na ponte do Rio dos Papagaios só haverá silêncio, sem derrapagens.
Em Palmeira, ninguém estará esperando para ver quem vem na frente e, dali a Ponta Grossa, nas grandes retas, ninguém mais baterá o recorde de 12 minutos. Aliás, ninguém mais acenará com o boné branco para o público, na pista de Interlagos, nem passará voando sobre os trilhos do trem da rua Marechal Floriano Peixoto, não haverá mais comemoração na chegada, na praça General Osório.
Morreu Paulo Buso, Paulo José Buso, o “gentleman”, o tricampeão. Serenamente, como ele demonstrava ser sereno ao segurar um copo de água com uma das mãos, sem fazer o líquido tremer e dizia: “Piloto de carro de corrida tem que ser assim”.
O Leão da Estrada, como era chamado pelo jornal Paraná Esportivo, não rugirá mais. Calaram-se para sempre, ele e sua carreteira com a imagem do leão pintada nas portas. Disse o seu amigo e companheiro de corridas Paulo Silva: “Parece que Buso não morreu e sim recebeu a bandeirada final”. (Por Ari Moro)
(Extraído de: ruiamaraljr.blogspot.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário