sexta-feira, 27 de maio de 2022

RELEMBRANDO O RESTAURANTE NINO " Em 1955, na rua Pedro Ivo nº 423, no vigésimo andar do Edifício Frederico Reichmann, em Curitiba, surgiu o Restaurante Nino, fundado pelo italiano Giovani Arseri, cujo apelido era Nino.

 RELEMBRANDO O RESTAURANTE NINO
" Em 1955, na rua Pedro Ivo nº 423, no vigésimo andar do Edifício Frederico Reichmann, em Curitiba, surgiu o Restaurante Nino, fundado pelo italiano Giovani Arseri, cujo apelido era Nino.


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Giovanni Arcere (1906-1967), proprietário do Restaurante Nino, na Praça Carlos Gomes em Curitiba-PR.

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Alice Corrêa Arcere, esposa do sr. Giovanni Arcere, proprietários do Restaurante Nino, na Praça Carlos Gomes em Curitiba-PR.
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O governador Paulo Pimentel em um jantar no restaurante Nino.

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RELEMBRANDO O RESTAURANTE NINO
" Em 1955, na rua Pedro Ivo nº 423, no vigésimo andar do Edifício Frederico Reichmann, em Curitiba, surgiu o Restaurante Nino, fundado pelo italiano Giovani Arseri, cujo apelido era Nino.
Segundo Bóris Musialowski, um dos assíduos clientes - 'O Restaurante Nino, que ficava no último andar do prédio da Gazeta, na Pedro Ivo, esquina com a praça Carlos Gomes, foi uma das coisas mais fora do comum, na época, para Curitiba: um restaurante num prédio! Pode-se dizer que foi o primeiro restaurante a ir às alturas. O acontecimento foi realmente muito comentado! Era um restaurante de elite. Servia os mais variados pratos com o maior requinte. Acho que para a época era muito caro'.
O Nino era um restaurante bastante procurado pelos políticos. Comenta-se, inclusive, que passou a constar do cardápio o arroz à Ney Braga! em homenagem ao político, ilustre freqüentador do restaurante.
O jornal O Estado do Paraná, registrou à época alguns encontros de executivos e políticos realizados no Restaurante Nino: 'Homenagem da Câmara de Comércio Teuto-Brasileira: Com a presença do Governador Munhoz da Rocha realizou-se no dia de ontem, no Bar e Restaurante Nino, grande almoço oferecido pela Câmara do Comércio Teuto-Brasileira, em homenagem ao Dr. Fritz Oellers, Embaixador da República da Alemanha, atualmente em visita a Curitiba'. (O Estado do Paraná, 16/01/1955).
'Homenageado o Governador Munhoz da Rocha - Pelo transcurso do IV aniversário de sua posse no governo do Paraná, o Dr. Bento Munhoz da Rocha foi alvo de expressiva homenagem que lhe foi tributada pelos auxiliares diretos de seu governo e que constou de um banquete servido no Restaurante Nino'. (O Estado do Paraná, 2 fev. 1955).
Em 1961, o Restaurante Nino passou a ser administrado pelo sr. Hans Egon Breyer e sua esposa. Basicamente manteve o mesmo cardápio existente na época do sr. Giovani: carne, frango, peixe, camarão, vatapá e seus respectivos acompanhamentos, tudo com muito requinte.
Considerado um dos restaurantes mais chiques do sul do Brasil, usava prataria Hering, louça branca, toalhas brancas engomadas e fazia propaganda em out-door na entrada de Ponta Grossa.
Em entrevista, o sr. Breyer afirmou que o Restaurante Nino tinha uma vista panorâmica maravilhosa, podia-se descortinar a Serra do Mar, e isso era um dos motivos para atrair a clientela.
O Nino foi um restaurante que ganhou fama pela sua sofisticação, pela sua cozinha internacional, pelo tratamento dispensado aos fregueses. Conforme comentários das pessoas entrevistadas, todas são unânimes em dizer que o Nino, apesar de ser um restaurante caro, era um ambiente muito agradável, que merecia ser freqüentado, principalmente para se comemorar com amigos ou a dois.
O Nino funcionou até 1972, sob a responsabilidade do sr. Breyer. A partir dessa data, o novo proprietário transformou as instalações para um restaurante vegetariano. "
(Extraído do livro: Gosto, prazer e sociabilidade : bares e restaurantes de Curitiba, 1950-60, de Maria do Carmo Marcondes Brandão Rolim / Fotos: Internet)
Paulo Grani

***Praça Eufrásio Correia em 1903. *** ***— Foto: Sá Barreto Rosa ***

 ***Praça Eufrásio Correia em 1903. ***
***— Foto: Sá Barreto Rosa ***


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Rua XV de Novembro, na década de 1930. ***— Foto: Revista Illustração Paranaense ***

 Rua XV de Novembro, na década de 1930.
***— Foto: Revista Illustração Paranaense ***


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***Bairro Umbará, na época ainda referenciado como "Colônia", em 1930. *** ***— Foto: Arthur Wischral ***

 ***Bairro Umbará, na época ainda referenciado como "Colônia", em 1930. ***
***— Foto: Arthur Wischral ***


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***Praça Rui Barbosa, na década de 1960/70. *** — Foto: Coleção Jesus Santoro/MIS-PR

 ***Praça Rui Barbosa, na década de 1960/70. ***
— Foto: Coleção Jesus Santoro/MIS-PR


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Desde criança, ouvia minha mãe, Iolanda Greinert Grani (89), contar suas lembranças do tempo em que trabalhou numa fábrica de balas e chocolates que pertencia ao sr. José Nicolau Abagge, a qual funcionava na rua Saldanha Marinho nº 1260 (entre a Brigadeiro Franco e a Desembargador Mota), em Curitiba

Desde criança, ouvia minha mãe, Iolanda Greinert Grani (89), contar suas lembranças do tempo em que trabalhou numa fábrica de balas e chocolates que pertencia ao sr. José Nicolau Abagge, a qual funcionava na rua Saldanha Marinho nº 1260 (entre a Brigadeiro Franco e a Desembargador Mota), em Curitiba


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José Nicolau Abagge, foi um empreendedor de rara atividade. Com seu fabuloso tino comercial tornou-se grande empresário, tendo aberto as seguintes empresas: Industrias Alimentícias Abagge, Armazém São Francisco, Chocolates Urca, Panificadora São Francisco, Fábrica de Balas e Bolachas São Francisco, Olaria Abagge, Serraria Abage, Carpintaria Abagge, Fábrica de Brinquedos Abagge, Estamparia Abagge, Latas e Embalagens Abagge, entre outras.

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A fila de pessoas para comprar pão na época da guerra. José Nicolau Abagge, conseguiu importar importar trigo da Argentina durante a guerra, produzindo pães para a população e bolachas para os soldados que estavam no front de batalha.
Na foto, da esquerda para direita: O predinho do "Armazém São Francisco, Padaria e Fábrica de Bolachas". No prédio do meio, o primeiro Supermercado Abagge. No prédio da direita, a "Fábrica de Chocolates e Balas". Em todos prédios, a parte superior era formada por residências na frente e nos fundos, os salões que eram utilizados pelas indústrias.

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Embalagem do bombom de "chocolate ao leite."

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O Ford da Padaria São Francisco, dirigido por Elias Abagge, irmão do sr. José Nicolau.

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Ponto dos bondes Elétricos que havia na Praça Tiradentes.

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Minha mãe, Iolanda Greinert Grani, com seus dezoito anos.

Pode ser uma imagem de 1 pessoaMinha madrinha, Iracema Scaramella Henze, aos dezoito anos de idade.

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Em 05/11/1937, o Jornal da Tarde, publicava o lançamento das "Balas Caipira", produzidas pela Fábrica de Balas e Chocolates Abagge: "Alerta Petisada !!! Balas Caipira - Coleções Premiadas. A última novidade a ser lançada na praça, hoje. Além de ser um produto saboroso, oferece aos seus colecionadores os mais lindos prêmios. As Balas Caipira, cuja coleção completa compõe-se de apenas 60 (sessenta) quadros (figurinhas) numerados(as), distribue os mapas elucidativos [...] que formam a coleção. À venda em todos os negócios da Capital e do Interior. Pedidos dirétos pelo telefone 89 - J.N.Abagge - Curityba."
Ao que tudo indica, o empresário José Nicolau Abagge estava tentando seguir os passos do sucesso das Balas Zequinha, as quais estavam sendo comercializadas em Curitiba e no estado, desde 1929, com apenas 50 estampas naquela época. 

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José Nicolau Abagge ao lado de sua esposa Carmela Aymone, ladeadas pelos filhos.

FABRICA DE BALAS E CHOCOLATES URCA
Desde criança, ouvia minha mãe, Iolanda Greinert Grani (89), contar suas lembranças do tempo em que trabalhou numa fábrica de balas e chocolates que pertencia ao sr. José Nicolau Abagge, a qual funcionava na rua Saldanha Marinho nº 1260 (entre a Brigadeiro Franco e a Desembargador Mota), em Curitiba, em frente à Igreja São Francisco de Paula. Lá, trabalhou junto com outra operária, Iracema Scaramella Henze (91), sua colega desde a juventude, a qual tornou-se minha madrinha de batismo.
Minha mãe contou-me que foi admitida, nos idos de 1948, para "embrulhar" balas. Determinada na realização das tarefas que lhe designavam, logo destacou-se entre as operárias. Dona Carmela, esposa do seu Nicolau, logo percebeu sua facilidade de aprender e espontaneidade na realização de tarefas. Então, em determinada ocasião conversou com ela procurando saber sobre seus costumes e perspectivas de vida, onde percebeu, também, seu bom caráter e honestidade.
Em pouco tempo, Iolanda foi remanejada para o setor de expedição de pedidos, onde conferia o peso das latas de balas e outros produtos, carimbava as notas de vendas, colocava os selos dos impostos, conferia as caixas e latas durante os carregamentos, controlava estoques dos ítens fabricados, atendia compradores que vinham do interior e, ainda cuidava da inspeção das outras operárias, no tocante ao uso do uniforme de trabalho e inspeção de saída. Quando a produção da seção de balas atrasava algum pedido, ela ia ao setor de enchimento das latas e auxiliava, até completar os pedidos. Trabalhou nessa fábrica durante três anos e saiu em 1951, para se casar com meu pai Edevino Grani.
Recentemente, lembrei-me do que ela contava com grande satisfação acerca daquele tempo de sua vida, e fui em busca dessa história para melhor conhecer essa empresa, seu empreendedor, e entender o contexto.
Pois bem, o seu José Nicolau Abagge (nome de batismo Yussef), era um imigrante sírio, nascido em 18/04/1892. Seu temperamento empreendedor, aventureiro e corajoso, fez com que, em 1905, com apenas treze anos de idade, se aventurasse embarcar em direção ao Brasil buscando melhor condição de vida para si e seus familiares.
O pequeno José juntou-se a outros meninos da mesma idade, entre eles Jorge Gid e Elias Bitar, e embarcaram clandestinamente em um navio que partiu em direção à "terra prometida", o Brasil. Desembarcaram no Rio de Janeiro, onde permaneceram unidos como irmãos. Naquele começo, mantinham-se vendendo bilhetes de loterias e fazendo bicos em geral. Por sua vez, seu José saía pelas ruas do Rio vendendo doces árabes que ele mesmo confeccionava, pois aprendera a fazê-los com sua mãe, desde sua infância na Síria. Com o dinheiro que produzia, além de manter-se, enviava uma parte para sua família, na Síria, para ajudá-la no seu sustento.
Ele e seus amigos mantiveram-se sempre unidos, algum tempo depois resolveram mudar-se para Curitiba, para tentar a vida pois souberam que havia outros patrícios já estabelecidos na cidade. Ao chegar em Curitiba no começo da década de 1910, José Nicolau começou a trabalhar fazendo sorvetes e doces; depois foi trabalhar como padeiro em uma padaria, cujo dono ensinou-lhe tudo sobre panificação. Mais tarde, esse senhor vendeu-lhe essa padaria que ficava na rua Saldanha Marinho, sendo este empreendimento o início de seu sucesso como empresário. Em 1916, casou-se com Carmela Aymone, imigrante italiana. Em 1934, José naturalizou-se brasileiro.
Trabalhando com determinação, instalou no mesmo prédio um armazém, onde vendia os chamados "secos e molhados". Mudou a padaria para os fundos do mesmo prédio, instalando junto dela, uma fábrica de bolachas.
Com seu espírito empreendedor, construiu ao lado direito desse Imóvel mais dois predinhos de dois pisos. Nesse imediato, instalou o primeiro Supermercado Abagge de Curitiba e, no outro da direita, uma Fábrica de Balas e Biscoitos, mais tarde, ampliada para fabricação de chocolates, também.
Em 05/11/1937, o Jornal da Tarde, de Curitiba, publicava o lançamento das "Balas Caipira", produzidas pela Fábrica de Balas e Bolachas J.N. Abagge: "Alerta Petisada !!! Balas Caipira - Coleções Premiadas. A última novidade a ser lançada na praça, hoje. Além de ser um produto saboroso, oferece aos seus colecionadores os mais lindos prêmios. As Balas Caipira, cuja coleção completa compõe-se de apenas 60 (sessenta) quadros (figurinhas) numerados(as), distribue os mapas elucidativos [...] que formam a coleção. À venda em todos os negócios da Capital e do Interior. Pedidos dirétos pelo telefone 89 - J.N.Abagge - Curityba."
Ao que tudo indica, o empresário José Nicolau Abagge estava tentando seguir o sucesso das Balas Zequinha, as quais estavam sendo comercializadas em Curitiba e no estado, desde 1929, com apenas 50 estampas naquela época. Pena que não localizamos quaisquer figurinhas dessa citada coleção.
Iracema, descreve o funcionamento da Fábrica de Balas em 1948: "Na fabricação de balas, o seu Romão, um imigrante russo e surdo-mudo, era o confeiteiro. Manuseava o tacho fervente, cujo cristal despejava, primeiramente, numa mesa de aço e, depois com a ajuda de um gancho fixado na parede, esticava e dobrava a massa, sem parar, até dar o ponto certo e atingir o diâmetro certo para o corte dele, no tamanho das balas. Nesta seção trabalhavam mais de trinta pessoas, contando as embrulhadeiras. Seu Romão permaneceu na fábrica até a sua venda, em 1958.
"Eram produzidas balas carioca da gema, as de goma, de hortelã, de guaco, de canela, pastilhas de frutas (chamadas tuti-fruti) e outras. A "carioca da gema", era muito gostosa, feita de côco e gema de ovo, era a bala mais difícil de embrulhar, pois era compridinha e pequena. A bala de guaco, também muito apreciada, era quadrada, grande e esverdeada.
Em 16/02/1943, José Nicolau Abagge publica no jornal curitibano Folha da Tarde, a aquisição das marcas de chocolates "Urca" e "Mégue", da fábrica do mesmo nome, de São Paulo-SP, o embrião de sua fábrica de balas e chocolates.
Sobre a Fábrica de Chocolates, Iracema Henze descreve suas lembranças da fabricação de chocolates: "A chocolataria era gerenciada pelo sr. Amorim e a chefe de produção, era dona Daltiva. O bomboneiro era um senhor chamado José. O setor de chocolataria recebia os sacos das sementes de cacau que vinham dos produtores e iniciava-se o processo de fabricacão torrando as sementes. Descascavam, separavam os resíduos e depois moíam as amêndoas até virar pó. Por último, prensavam até virar uma massa que, depois, era derretida; separava-se uma parte que era o chocolate amargo e na outra parte era adicionado leite e açúcar, para fazer o famoso chocolate ao leite. Os chocolates eram levados em formas às geladeiras até dar o ponto de manuseio, depois de desenformados eram espalhados sobre as mesas e embalados um a um pelas operárias que ficavam sentadas ao redor das mesas.
"Na seção de chocolates trabalhavam diversas pessoas na parte artesanal de sua produção e o embrulhamento era manual, onde trabalhavam cerca de 30 operárias. Produzia-se um bom sortimento de bombons: ameixa preta, côco carioca, frutas, passas, damasco, triângulo com passas, creme branco e outros.
"O bombom chamado côco carioca era feito inteiro com côco e recoberto de chocolate. Já o de damasco, era feito com creme branco, ia para a estufa até secar e, depois era coberto com chocolate. Fazíamos um chocolate pequeno, chamado "Bis", tipo grão, em cujo interior tinha licor, eles eram colocados em uma caixinha de papelão.
"Antecedendo a Páscoa, a chocolataria passava a produzir, também, coelhos recheados de vários tamanhos, alem de ovos e outras guloseimas de páscoa. Os ovos de diversos tamanhos, eram embrulhados em papel aluminizado de diversas cores. O menor ovo, era chamado mignon.
"No ano de 1947, em plena 2ª Grande Guerra, a fábrica recebeu uma encomenda inusitada, da parte da Loja (Armazem Scander ?) , cujas vitrines ficavam de frente para a Estação de Bondes que havia na Praça Tiradentes: Fazer um grande ovo de páscoa, que seria colocado na vitrine da loja e seria objeto para venda de uma rifa numerada. Detalhe, o ovo deveria estar envolto a uma Bandeira do Brasil, confeitada, estendida e drapeada com ondulações, nas cores e dimensões oficiais.
"Então a equipe de confeiteiros da chocolataria debruçou-se em fazer aquele ovo de páscoa inusitado, com quase hum metro de altura. Dentro, foi recheado com um grande coelho envolto a papel alumínio e assentado em uma cesta cheia de ovos de diversos tamanhos e cores, em meio a tiras de papel celofane. O ovo teve que ser feito em partes separadas, e, após recheado, montada a parte superior. Foi um desafio que alegrou cátodos e dona Carmela e seu José elogiaram a equipe.
"Terminado o desafio, o grande ovo foi levado à loja e colocado na sua vitrine principal. Aquele ponto de bondes, à época, era o local de maior circulação da cidade. Rapidamente a notícia correu por todos os cantos da cidade e o público vibrou com a idéia.
"A alegria durou pouco pois, logo que a notícia chegou ao ouvido das autoridades, alguém apontou que aquilo feria a lei sobre a bandeira e que ela não poderia ser exposta estampada daquela forma. O delegado mandou retirar a bandeira do ovo. Enfim, o ovo voltou à fábrica e a linda bandeira confeitada, drapeada em seu entorno, foi retirada.
"Na seção de bolacharia, dona Alice capitaneava mais de vinte moças. Produziam as bolachas tipos maria, champagne e maisena. Faziam, também, os biscoitos tipo cream crackers quadrados e os salgadinhos redondos.
"Seu Nicolau, como todos os funcionários o bem conheciam, era uma pessoa muito boa, de um coração ímpar, porém, bastante enérgico, pois assim era necessário ser, para tratar o grande número de funcionários que tinha."
"Certa vez, os cartazes anunciavam o filme A Grande Valsa, que passaria em matinê no Cine Palácio, cuja propaganda despertou entre algumas funcionárias, bolarem um jeito de fugir do serviço, durante aquele expediente. O plano arquitetado envolvia apenas quatro delas, pois, em maior número, poderiam ser descobertas. Chegou a hora, naquela tarde, e, cada uma delas deram um jeito de escapar e esgueiraram-se por um muro que tinha uma passagem que dava acesso à rua e, correram em direção ao cinema.
"Uma outra funcionária, que não foi convidada, descobriu o plano arquitetado e, depois da fuga das quatro cumplices, correu delatar ao seu José o acontecido. Ele ficou furioso, vestiu um terno branco que gostava de usar quando ia ao centro, e foi até a frente do cinema, onde aguardou até o fim da sessão. Na saída do público, as quatro amigas, de mãos dadas, deram de cara com o seu José postado à frente, de braços cruzados, tipo um pai que flagra suas filhas fazendo algo proibido. Elas, correram em direções diferentes e sumiram. À ele restou esperá-las na fábrica. Ao confrontá-las, uma a uma, foi aquele sermão."
Uma das protagonistas era a própria Iracema, então, uma bela jovem de 17 anos, fazendo suas proezas. Saiu da fábrica em 1951 para se casar com Waldemar Henze.
José Nicolau Abagge, foi um empreendedor de rara atividade. Com seu fabuloso tino comercial tornou-se grande empresário, tendo aberto as seguintes empresas: Industrias Alimentícias Abagge, Armazém São Francisco, Chocolates Urca, Panificadora São Francisco, Fábrica de Balas e Bolachas São Francisco, Olaria Abagge, Serraria Abage, Carpintaria Abagge, Fábrica de Brinquedos Abagge, Estamparia Abagge, Latas e Embalagens Abagge, entre outras.
Foi muito influente na vida social, política, econômica empresarial e religiosa do Estado. Foi benemérito na construção da Igreja São Francisco de Paula e a Igreja Ortoxa São Jorge. Foi um dos idealizadores e fundadores do Clube Sírio Libanês do Paraná e do Iate Clube de Guaratuba.
Em 1951, iniciou a construção de um moinho nas imediações da linha férrea Curitiba-Paranaguá, que hoje é o Moinho Anaconda. Não chegou a ver concluída a obra, pois faleceu antes, em 06/04/1953, aos 58 anos de idade. Deixou 10 filhos, 32 netos, 68 bisnetos e 18 trinetos.
Após o falecimentos do seu José Nicolau e sua esposa, em 1953, a Fabrica de Chocolates foi transferida para os filhos Leonardo e Nicolau e seu genro Levy Suplicy Ferreira do Amaral, os quais venderam-na em 1958.
Hoje, o antigo prédio da Fábrica de Chocolates, abriga as instalações das empresas Coletiza e Mada.
(Agradecimento especial aos membros da família Abagge: Dr. Munir Abagge, Sheila Cordeiro Abagge, Mário Abagge e Juçara Amaral Sprenger / Fotos: Acervo da família Abagge, Biblioteca Nacional, Pinterest)
Paulo Grani

quinta-feira, 26 de maio de 2022

Barão de Mauá: O Maior Empresário do Brasil Império Irineu Evangelista de Souza começou sua vida profissional, em 1825, aos doze anos de idade, na cidade do Rio de Janeiro, trabalhando como caixeiro para um negociante português de nome João Rodrigues Pereira de Almeida.

 Barão de Mauá: O Maior Empresário do Brasil Império
Irineu Evangelista de Souza começou sua vida profissional, em 1825, aos doze anos de idade, na cidade do Rio de Janeiro, trabalhando como caixeiro para um negociante português de nome João Rodrigues Pereira de Almeida.


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Barão de Mauá: O Maior Empresário do Brasil Império
Irineu Evangelista de Souza começou sua vida profissional, em 1825, aos doze anos de idade, na cidade do Rio de Janeiro, trabalhando como caixeiro para um negociante português de nome João Rodrigues Pereira de Almeida.
Quatro anos depois, após a liquidação dos negócios de seu ex-patrão, o jovem Irineu entrou para a firma Carruthers & Cia, sendo admitido como auxiliar de contabilidade. Destacando-se entre os demais funcionários, Carruthers associou o moço aos seus interesses, escolhendo-o para ser o gerente de seu estabelecimento comercial, ao retornar para a Escócia. Irineu contava, então, 23 anos. Na direção desta firma de exportação e importação foi que o futuro industrial adquiriu o knowhow necessário para seus outros cometimentos. Quando em 1846, resolveu iniciar nova carreira, Irineu possuía uma larga experiência comercial e financeira, além da firma criada por ocasião de sua primeira viagem à Inglaterra, seis anos antes.
Anos mais tarde, ainda no princípio da década de 1850, quando o comércio internacional de negros escravos foi abolido, Irineu Evangelista, juntamente com outros capitalistas, criou o segundo Banco do Brasil ou Banco do Brasil de Mauá, como depois ficou conhecido. Absorvida pela disposição do Governo de fundir os dois maiores bancos da cidade do Rio de Janeiro, o Banco de Mauá e o Banco do Comércio, a instituição logo foi ferida de morte. Em agosto de 1854, o novo Banco do Brasil iniciava suas operações, sob a direção do visconde do Paraná. Mauá, porém, não desistiu de suas idéias a respeito da necessidade de ampliação do crédito em um país, ainda quase todo a ser explorado, como o Brasil. Seu objetivo, voltaremos a este tema no capítulo seguinte, era estar a frente de uma instituição financeira capaz de injetar capitais na economia brasileira e impulsioná-la rumo ao progresso.
Ramificando-se por várias províncias do Império e, em seu período áureo, contando com várias filiais na Argentina, no Uruguai e na Inglaterra, além de braços na França e nos Estados Unidos, esta instituição funcionou como o motor de seus muitos cometimentos empresariais
O Estabelecimento de Fundição e Estaleiro Naval da Ponta da Areia foi o eixo de inúmeros outros empreendimentos levados a cabo por Irineu Evangelista em seus primeiros anos de industrial. Além de fabricar tubos de ferro para a obra mencionada, aquela fábrica teve participação decisiva na iluminação a gás do Rio de Janeiro e na construção do Canal do Mangue, obras suas. Produziu vapores para três de suas companhias: a Companhia de Rebocadores para a barra do Rio-Grande, a Companhia Navegação a Vapor do Amazonas e a Companhia de Navegação a Vapor e Estrada de Ferro de Petrópolis. Durante os conflitos no Rio da Prata em 1850, a empresa forneceu armamentos aos combatentes uruguaios, apoiados pelo Império.
Em seus onze primeiros anos, cerca de setenta e dois navios foram produzidos naquele estabelecimento - quinze dos quais integraram a marinha de guerra brasileira, participando dos conflitos contra o Paraguai. Agricultores interessados na modernização de suas instalações também eram clientes do estabelecimento: caldeiras, engenhos de açúcar, guindastes, peças para navios e máquinas a vapor de todo tipo faziam parte de seus pedidos
Na fase industrial de sua vida, Irineu Evangelista de Souza teve participação ora mais, ora menos destacada no estabelecimento de inúmeras ferrovias no país, ao longo do penúltimo quartel do século XIX. Foi o concessionário e o construtor da Estrada de Ferro de Petrópolis, conhecida como E. F. Mauá.
A inauguração do trecho inicial da E. F. de Petrópolis rendeu a Irineu Evangelista o título de barão de Mauá. No dia 30 de abril de 1854, praticamente dois anos depois de ter recebido a concessão do Governo da província do Rio de Janeiro para construir o caminho de ferro, ouviu-se pela primeira vez na América do Sul o sibilo da locomotiva – logo apelidada pela multidão de Baronesa, em homenagem à esposa do empreendedor ilustre.
No balanço consolidado das suas empresas em 1867, o valor total dos ativos foi estimado em 115 mil contos de réis (155 milhões de libras esterlinas), enquanto o orçamento do Império, no mesmo ano, contabilizava 97 mil contos de réis (97 milhões de libras esterlinas). Estima-se que a sua fortuna seria equivalente a 60 bilhões de dólares, nos dias de hoje
Vinte anos depois, um novo melhoramento permitiu a Mauá subir mais um degrau da escala nobiliárquica. O lançamento de um cabo submarino ligando o Brasil à Europa, por meio do telégrafo elétrico, foi o grande responsável pelo novo título de visconde. A idéia de ligar o país ao “mundo civilizado” remontava a 1853, quando o Governo imperial abriu concessões para a obra. Desde então, dois concessionários já haviam tentado, sem sucesso, organizar a companhia. Em 1872, Irineu Evangelista recebeu o privilégio. No ano seguinte, estava aberta em Londres a Brazilian Submarine Telegraph Company, para quem Mauá vendera o privilégio. Finalmente, em 22 de junho de 1874, o Imperador teve a honra de inaugurar o cabo transatlântico, enviando telegramas ao papa e à rainha da Inglaterra, de uma sala da Biblioteca Nacional. Quatro dias depois, Irineu era elevado de barão a visconde de Mauá.
Décadas depois, em sua biografia sobre o visconde, Alberto de Faria oferece aos leitores um Mauá arquetípico, apresentando-o, nos termos de Carlyle, como um ideal realizado, uma encarnação prática dos valores e rumos a serem perseguidos pela nação. Irineu Evangelista teria, não apenas antevisto de forma abstrata as linhas mestras da nação, antes, pelo contrário, fora capaz de demonstrar, efetivamente, suas idéias, fazendo de suas ações um guia prático para a posteridade. “Gênio realizador” – eis como o definia Getulio Vargas. Assim sendo, aquilo que, em vida, Mauá não fora capaz de realizar, por obstáculos alheios à sua vontade, cumpria ser levado a cabo pelas gerações futuras. Era essa a mensagem básica da narrativa autobiográfica escrita por Faria. Finalmente, em suas obras de interpretação do Brasil, Azevedo Amaral reconhecia em Mauá “o restaurador do sentido econômico da evolução brasileira”
Fonte: Mauá - Alberto de Faria
Ref Brazil Imperial