Chrystabel "Jane" Leighton-Porter: A arma secreta da Grã-Bretanha na Segunda Guerra Mundial

Chrystabel Leighton-Porter foi o modelo para a heroína Jane do desenho animado do jornal Daily Mirror da Segunda Guerra Mundial, que elevou o moral durante o Blitz. Enquanto as tropas americanas cobiçavam pinups de Betty Grable e as garotas Varga da revista Esquire, soldados, marinheiros e aviadores britânicos foram para a guerra inspirados pela história em quadrinhos do The Daily Mirror. O primeiro-ministro Winston Churchill sugeriu que Jane era "a arma secreta da Grã-Bretanha"

Nascida Chrystabel Jane Drewry em Eastleigh, Hampshire, em 11 de abril de 1913, seu pai trabalhava na fábrica de carruagens da cidade. Chrystabel tinha uma irmã gêmea mais velha, Sylvia, e era a mais nova de onze filhos, dos quais três morreram jovens. Eastleigh era cercada por campos e sebes, onde ela podia crescer amando o campo e passar os dias, sem se importar com o mundo, jogando tênis e nadando. Sua carreira de modelo começou depois que ela deixou a escola quando se mudou para Londres para morar com sua irmã e ela ganhava a vida posando para aulas de vida.

"Quando posei nua pela primeira vez, me senti um pouco estranha. Mas logo percebi que, para os artistas, eu poderia muito bem ser um vaso de flores, então não me senti como se estivesse sendo cobiçada."

Jane nasceu quando o artista Norman Pett fez uma aposta de que ele poderia criar uma história em quadrinhos tão popular para adultos quanto a história em quadrinhos Pip, Squeak e Wilfred era para crianças. Originalmente, a esposa de Pett, Mary, foi modelo para ele, mas no final da década de 1930, ela abandonou a carreira de modelo em busca do golfe. Pett então se juntou a Chrystabel, que ele conheceu enquanto ela era modelo para uma aula em Birmingham, onde ela também trabalhou como telefonista.

O cartunista do Daily Mirror, Norman Pett, desenhava uma charge semanal desde 1932, que ele chamava de Jane's Journal — The Diary of A Bright Young Thing. Ela fez sua primeira aparição no Mirror em 5 de dezembro daquele ano.

Em 1938, Don Freeman começou a escrever para o quadrinho, aumentando sua continuidade. Jane foi desenhada em um estilo de caneta de desenho animado simples, muito semelhante aos desenhos animados pós-Primeira Guerra Mundial (1919) de René Giffey (1884-1965) e seus colegas de revistas da sociedade francesa e seus descendentes lineares. A quantidade de perigo em torno de Jane sempre foi moderada, e a quantidade de pele que ela expôs e sua própria consciência de seu papel em suas desventuras aumentaram e diminuíram ao longo dos anos — a regra básica era que quanto mais inconsciente ela era de sua sexualidade, mais pele ela poderia mostrar.

Em um gesto de apoio final ao esforço de guerra, Christabel fez sua primeira sessão de fotos nua para o Mirror pouco antes do Dia D. Poucos dias depois, bem acima do avanço dos Aliados na França, um avião solitário circulou antes de lançar grandes maços de jornal para as tropas que lutavam abaixo. Seguiu-se uma calmaria compreensível na luta, antes de recomeçar com um certo vigor renovado. Foi dito que o primeiro veículo blindado britânico em terra no Dia D carregava uma grande representação de uma Jane nua, inspirando os soldados a dizer que "Jane tinha dado tudo de si". Ela também foi creditada por "inspirar" a 36ª Divisão a avançar seis milhas para dentro da Birmânia.

Chrystabel era a mulher que mantinha os soldados britânicos sorrindo durante suas horas mais sombrias. Uma história ilustra seu efeito sobre aqueles nas forças armadas. Um submarino britânico havia sido atacado e estava aleijado e sem energia no fundo do oceano. As correntes marítimas giravam em torno do navio e sempre havia a chance de o inimigo atacar para matá-lo. A tripulação lá dentro esperava que o navio se tornasse seu túmulo, mas sabia como eles queriam passar seus últimos momentos. Um pedido foi feito ao capitão. Os submarinistas queriam viver o tempo que restava olhando para fotos, atualmente em seu cofre, de uma mulher incrivelmente bonita de Eastleigh, Hampshire. Seu comandante obedeceu e as imagens da extremamente sexy Christabel Leighton-Porter, também conhecida como "Jane", foram distribuídas.

Inacreditavelmente, esse incidente marítimo em particular teve um final feliz. Finalmente foi possível reflutuar o submarino acidentado e a tripulação retornou à segurança da terra firme. E essa é apenas uma das dezenas de histórias semelhantes que revelam como os ativos de nível A dessa elegante senhora de Hampshire foram um golpe direto nas forças armadas.

A confidente íntima de Jane era uma dachshund de estimação chamada Fritz. Seu nome completo era Jane Gay, um trocadilho com o nome Lady Jane Grey. Até 1943, Jane raramente se despia, ficando apenas com a roupa de baixo, mas então ela fez uma aparição completamente nua ao sair do banho e cair desajeitadamente no meio de uma multidão de soldados britânicos.

Christabel refletiu: "Os jovens não conseguem entender o que era todo esse alvoroço. Mas durante a guerra, havia uma atmosfera diferente, sentimentos diferentes. Jane tinha um culto de seguidores. Era tão importante para os meninos. Eu amava o alvoroço que era feito sobre mim. Mas eu sempre ficava impressionada com a popularidade da tira. E quando as pessoas diziam 'Oh, você não sabe o quanto Jane significa para nós?', eu ficava impressionada."

O impacto de seu largo sorriso e excelentes estatísticas físicas nas tropas da Segunda Guerra Mundial não pode ser subestimado. Na luta contra o fascismo, manter o moral do pessoal de serviço em um clima de morte implacável, racionamento e destruição era praticamente tão vital quanto ter munição suficiente. Christabel foi, simplesmente, a primeira bomba sexual da Grã-Bretanha.

A proeminência do desenho animado era tanta que os capitães de submarinos recebiam cópias das tiras com semanas de antecedência para que suas tripulações não perdessem nenhum desenvolvimento crucial. Não há como negar que nos dias sombrios da guerra um interesse sexual para "os meninos" era vital. Mas a guerra alimentada por hormônios em alta não era nenhuma novidade. Havia um senso de inocência sobre os desenhos animados e a honra da heroína sempre permanecia imaculada.

Fotografias de Christabel estavam por toda parte, estampadas nas paredes de refeitórios e bares por todo o país. Sua imagem foi pintada em aviões e pintada em jipes. Correspondências de fãs inundaram os escritórios do Daily Mirror na Fleet Street e sempre que ela fazia uma aparição pessoal, ela acabava no centro de um mar agitado de uniformes.

''De repente, me tornei uma queridinha no mundo todo'', ela lembrou. ''Um almirante me disse que não havia ninguém nos navios, da menor patente à mais alta da frota, que não tivesse um desenho de Jane no bolso ou no beliche.''

Há história após história mostrando a extensão da popularidade e do fascínio de Christabel. Uma das dezenas de cartas que ela recebeu ao longo dos anos conta como soldados exaustos e traumatizados retornando para East Anglia da horrível Batalha de Arnheim receberam ofertas de banhos e camas, mas só queriam ler sobre Jane. "Eles saíram cambaleando da aeronave... alguns deles beijaram a grama; tudo o que queriam era o Daily Mirror", ela diz.

PETT E CHRYSTABEL COM FRITZ O CÃO

Chrystabel Leighton-Porter começou um ato de striptease de music hall baseado na personagem Jane que excursionou por bases militares ao redor do país. Enquanto as bombas de Hitler choviam sobre Londres, os atores fugiram do West End para lugares onde havia tábuas mais seguras para pisar, deixando muitos teatros sem estrelas. Quando eles se mudaram, Christabel e suas coristas de pernas longas dançaram, e com grande efeito. Eles conseguiram contornar uma lei que proibia mulheres nuas de se moverem no palco, empurrando-a para fora em um trenó, desfilando com ela e depois empurrando-a para fora novamente. "Era um show bem safado para aqueles dias", Christabel lembrou. "Uma corista ficou nos bastidores com um casaco de pele para mim."

Na guerra, era obrigatório que atores e artistas se juntassem à ENSA (Entertainments National Service Association), cujo trabalho era organizar entretenimento para as tropas, e embora o público de Chrystabel fosse composto principalmente por soldados, ela nunca foi convidada pela ENSA para se apresentar na linha de frente.

"Acho que eles acharam que meu show era um pouco picante demais, e talvez arriscado de ser feito para um teatro cheio de tropas lascivas! Era diferente quando eu fazia shows em teatros provinciais, porque embora houvesse muitos garotos lá, sempre havia muito público em geral também. Além disso, era em um ambiente um pouco mais controlado, na verdade", explica Chrystabel.

O conteúdo do ato variou devido às restrições impostas pelos censores locais. Alguns censores estavam preocupados com a quantidade de roupas que Chrystabel removeu durante o show. O momento favorito de Christabel da fama de ser Jane ocorreu quando a sexy showgirl, pela primeira vez vestida recatadamente, conheceu o então Lord Chamberlain. "Diga-me, minha querida", perguntou o chefe da casa real, "o que você faz em seu ato?" "Bem", explicou Christabel, "em um momento eu viro as costas para o público, tiro meu sutiã e cubro meus seios com minhas mãos enquanto me viro." Houve um silêncio momentâneo, antes que o ajudante do rei respondesse: "Você deve ter mãos muito grandes."

Se o entretenimento estava perto do limite, então a jornada de Christabel para casa, com o Fritz da vida real, muitas vezes se transformava em um passeio de tirar o fôlego. Ela pedalou parte do caminho, desviando de bombas, com seu cachorro sentado em uma cesta na frente. O show viajou por grande parte do país e um itinerário movimentado se tornou ainda mais agitado por convites para visitar instalações de serviço onde quer que ela estivesse tocando.

Ela ganhou o título de "Garota Perfeita da Grã-Bretanha" no London Palladium e foi contratada pelo agente teatral Lew Grade, o que a levou a estrelar o filme As Aventuras de Jane em 1949. Foi lançado em DVD em abril de 2008.

Christabel permaneceu um pouco assustada com a forte reação que sua figura e rosto provocaram, mas estava claramente encantada que sua beleza impulsionasse equipes de bombardeiros por ataques perigosos através do Canal da Mancha e profundamente na Alemanha. Ela se lembrou de ter paralisado um regimento inteiro durante uma aparição: "Eu nem pensei sobre isso", ela disse sobre o aspecto sexual de seu trabalho. "Onde quer que eu tenha estado, as pessoas perguntaram por que era tão popular. É algo que eu nunca fui capaz de responder. Foi feito de uma forma que fez de Jane uma pessoa real. Era mais o que você não via, não o que você via. Eu sempre fui tratada com o maior respeito."

"Jane" recebeu muitas cartas de militares propondo casamento (62 em apenas uma semana) e Chrystabel teve o cuidado de esconder o fato de que já havia se casado secretamente com Arthur Leighton-Porter, um piloto da Força Aérea Real, antes do início da guerra.

Quando refletiu sobre a popularidade da história em quadrinhos, a Sra. Leighton-Porter escolheu não se deter no picante. ''Acho que foi porque Jane era um pouco garota da porta ao lado, um pouco da Inglaterra para os meninos'', ela disse. ''Jane se tornou uma coisa cult, na verdade, e acho que esposas e namoradas ficavam felizes que seus meninos tinham algo para se divertir.''

Em 1948, o assistente de Pett, Michael Hubbard, assumiu os desenhos animados de Jane. Hubbard continuou a desenvolver o enredo dos desenhos animados até 1959, quando deu a Jane um casamento feliz e encerrou a série.

No início dos anos 1960, Chrystabel mudou-se para Bermuda e depois para Horsham em Sussex, onde centrou suas atividades em seu filho Simon (que mais tarde seguiu o pai para a RAF) e foi uma arrecadadora de fundos para várias instituições de caridade. Nos anos 1980, uma série de televisão da BBC foi feita de "Jane" e estrelada por Glynis Barber.

GLYNIS BARBER COMO "JANE" NA SÉRIE DE TV

Ao longo de seus últimos anos, Chrystabel Leighton-Porter fez aparições regulares em reuniões de guerra. Em 1993, a exposição Forces Sweethearts do Imperial War Museum incluiu suas calcinhas com babados dos anos 1940.

Em uma reunião de veteranos da Segunda Guerra Mundial no 60º aniversário do Special Operations Executive, homens do SOE ficaram olhando para seu rosto ainda bonito, então gentilmente a cercaram para pedir autógrafos. Mais tarde, ela foi encontrada sentada cercada por admiradores relembrando com uma pilha de suas fotos seminuas daquela época. "Eles ainda me tratam como se eu tivesse 18 ou 19 anos. A nostalgia continua e continua. Eles praticamente me comeram viva..."

segunda-feira, 20 de janeiro de 2025

Chrystabel "Jane" Leighton-Porter: A arma secreta da Grã-Bretanha na Segunda Guerra Mundial

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