quarta-feira, 12 de outubro de 2022

CONTO CAIÇARA: A SAGA DO NELSON

 

CONTO CAIÇARA: A SAGA DO NELSON


A SAGA DO NELSON 
Por: Leandro Tavares


Quando eu me pego a pensar nessa historia, confesso que, ainda me arrepia a carne, e a alma ainda receia em relembrar.

Quem conta um conto, acrescenta aquilo que lhe convém, e se me convém contar, é porque eu acredito, e espero que, a mesma verdade que me encantou, os encante, espero fazê-los sentir, o mesmo que senti ao ouvir essa historia, talvez falte o fogão a lenha o breu de uma noite fria de inverno, porem, cabe a você querido leitor, se imaginar nesse contexto, e se imaginar, como eu estava, vivenciando essa historia, como é comum na cultura caiçara, de pai pra filho, passado de geração em geração.

Reza a lenda que, a muito tempo atrás, Matinhos era menos que uma cidade, uma vila, não se pode ao certo dimensionar datas, porem, havia em Matinhos, um homem cujo nome era Nelson Tavares, pai de família, trabalhador, sua marca registrada era um fino bigodinho que demarcava seu rosto branco e entalhado pelos raios solares e as mãos da vida, como todo bom caboclo Matinhense, cultivava sua roça, vez ou outra de milho, arroz, feijão, mandioca, ou aquilo que o período possibilitava a produção, caçava, não muito adepto da caça por arma de fogo, cultivava em si, a cultura de fazer armadilhas, um covo para apanhar um tatu  na toca, o mundéu no carreiro pra apanhar a cutia, e uma boa arapuca no carreiro do nhambu.

Com a pesca, era mais seletivo, raras as vezes que se via o velho Nelson a beira mar, empunhando um caniço ou linha de mão, menos ainda com redes e canoas, mas, por vez ou outra, principalmente em dias de frio,  madrugadas escuras, era possível vê-lo a beira mar, tarrafa em punho, cesto de timbopéva a tira colo, calça a meio pau e uma camisa de botão com as mangas arregaçadas.

O sol naquele dia, estava tímido, aos poucos ia perdendo a força, dando lugar a uma tarde que esfriava a cada segundo, aquele ar nostálgico que ainda me arrepia só de lembrar, o frio pouco a pouco se tornava insuportável e somente aos pés de um fogão a lenha e uma talagada e outra de cachaça, era capaz de esquentar o corpo do caboclo, já que a alma era aquecida por historias e mais historias, Nelson porem, naquele dia, resolveu não escutar as historias, apanhando sua tarrafa, um cesto, sai de casa sorrateiro, sem se preocupar em avisar ninguém, não havia perigo, logo, não havia tanta preocupação como hoje em dia.

Não havia lua, não havia luz elétrica, não haviam ruas, os caminhos eram estreitos, só quem era acostumado, poderia se guiar de forma precisa, e em menos de 10 minutos, Nelson Já estava a beira mar, olhando cauteloso, procurando o melhor lugar, como se dizia, a melhor “costa” para dar uma “sova”, ele anda por mais alguns minutos beirando o mar, vez ou outra vê um garoçá passar assustado, e logo, encontrando um ponto que imaginava ser o ideal, desamarra a tarrafa e se prepara para a pesca.

Ato continuo, ele safa a tarrafa, prendendo o chumbo na boca, anda, pé por pé, lento e sorrateiro, e ao ver a onde se formando a sua frente, faz um giro, 360º, solta a tarrafa com maestria, e a mesma cai a frente, totalmente aberta, porem, ele de súbito, da um pulo, assustado, olha pra trás a procura, algo havia lhe tocado as pernas naquele momento.

Não havia nada, ele desconfiado, recolhe a tarrafa, lentamente, sem fazer barulho algum, sai da água e caminha um pouco a frente, mesmo ritual, segurar o chumbo na boca, safar metade da tarrafa, pé por pé, giro, e soltar, agora ele dá mais um pulo, soltando um “VALHA-ME DEUS”, e recolhendo sua tarrafa sem ao menos se preocupar se havia pego alguma tainha, e olhando pra trás, pela areia, não vê viv´alma, o vento a muito não batia nas arvores, e o silencio era somente interrompido quando ao longe se ouvia o pio de uma coruja.

Nelson então sai da água, solitário, receoso, não sentia medo, mas é fato que, pro caboclo, qualquer coisa relacionado ao oculto, espíritos, assombração, almas, assustavam bem mais, do que os perigos representados por homens, por vivos, e ele caminha, vê ao longe uma fogueira, dois homens faziam “hora”, esperando para voltar a água e continuar a pescaria. Nelson os saúda com o típico “ooo”, e se esquenta na fogueira, silencioso, aceita um trago de pinga que lhe é oferecido, porem se mantém calado, silencioso.

          Pouco depois, eles voltam a água, Nelson se afasta, indo em direção oposta, a verdade é que, qualquer um, voltaria pra casa, não ficaria ali, porem ele, decide continuar, e repetindo o ritual da tarrafa, entra na água, e ao girar, mais uma vez, sente algo bater em suas pernas, como se uma chicotada fosse deferida por alguém que estava atrás dele, como um raio, ele se vira, ao mesmo tempo, uma coruja pia ao longe, dando um ar ainda mais tenebroso aquela noite fria, porem o Caboclo não se intimida, recolhe a rede, havia apanhado um belo exemplar de tainha, retira ali mesmo, joga em seu cesto, e recomeça, mesma coisa, agora, parecia com mais força, algo tocava suas pernas, e o assustava, nisso, ouve-se o uivo de um cachorro bem próximo, e um arrepio corre por sua espinha, ao mesmo tempo que sua mente cria mil possibilidades.

Dessa vez, ele se retira da água, entoa uma reza que a muito aprendera, olha ao redor, não se contem, reza baixinho ao mesmo tempo que, observa o mar, ele não pode sair dali, sem saber o que acontecia, e entra na água, receoso, porem disposto a enfrentar.
E nisso, novamente, ele sente algo chicotear suas pernas, e assim todas as vezes que soltava a tarrafa das mãos, sentia que o choque era cada vez mais forte, isso se mantém durante toda a noite, até que, cansado, vai para casa.

Ao chegar em casa, ele olha a mulher, que ao vê-lo pálido, indaga sobre o ocorrido, ele então relata, imitando ainda, como fazia ao lançar a tarrafa na água, jurava de pé junto que, o tinhoso o havia atentado a noite toda, e contava vantagem de o ter enfrentado, não se amedrontado, nisso, ao ver ele imitar o ritual de pesca, Diva não contem uma gargalhada, que o apanha de surpresa, arrancando alguns xingamentos, a mulher o abraça, e passa a mão pelas costas do marido, puxando pra si, uma das tiras que serviam de alça do cesto, havia arrebentado, ao girar, batia na perna.

Percebendo o que de fato havia ocorrido, o homem cai na gargalhada.

De quanto em quanto contava pelos botecos da vila, a historia, omitindo a parte da alça arrebentada...

- E como o senhor soube a verdade pai?

- O caboclo Matinhense, depois de um trago ou dois, virava um exímio contador de verdade, de verdade.


(O texto foi publicado na íntegra, sem qualquer alteração do texto original)

O CASARÃO DE MATINHOS

 

O CASARÃO DE MATINHOS


Basta correr o olhar pela orla de Matinhos para contemplar o Pico, famoso entre os surfistas e celeiro de talentos desse esporte. Contudo, é justamente do pico que, quase impreterivelmente, avista-se uma construção de três andares dona de um singelo colorido, atualmente na tonalidade amarela suave, e com um aspecto acolhedor que faz do nome Casarão a definição mais indicada a esse tradicional hotel do litoral paranaense.
Em quase quatro décadas de existência sobre o comando do proprietário Nilson Vedolin, o espaço abrigou e deu vazão a histórias inesquecíveis que, com frequência, levam seus protagonistas a retornarem a fim de sorverem novamente a magia que paira no local. E o período de Carnaval costuma receber alguns antigos candidatos a pierrôs e colombinas em busca de reviver ou aguçar ainda mais um turbilhão de emoções que só um estabelecimento, que tem pessoas envolvidas intrinsecamente com o desenvolvimento do município e o mar como vizinho consegue proporcionar.

Com as portas abertas desde 1974, Vedolin conta que comprou fiado a estrutura. “Arrendei um bar para vender bebidas por uma temporada e acabei achando o meu caminho, depois de trabalhar por anos em bancos e farmácias sem conseguir juntar muita coisa. Muitas vezes tentamos levar a vida para um lado, mas a vida leva para outro”, ensina. “Consegui fechar negócio e, depois de alguns anos só pagando pelo local, comecei a investir e reformar toda a estrutura interna e isso não parou mais. Todo ano temos reformas seja por causa das ressacas, seja pela necessidade de incrementar os serviços. Os clientes são cada vez mais exigentes e a concorrência obriga a gente a não parar”, ensina.
Apesar de ser um abrigo de histórias, o hotel recebeu esse nome em homenagem a novela O Casarão, do autor Lauro César Muniz. Ela foi exibida em 1976, dois anos após Vedolin adquirir o imóvel. “Achei que a fachada do Casarão remetia a construção da novela, por isso optei por esse nome”


Fonte: Blog O Casarão de Matinhos.

Vista da Antiga Cooperativa Mista do Boqueirão, hoje Supermercado Jacomar, na Rua Francisco Derosso esquina com Waldemar Loureiro Campos - Bairro Xaxim, meados dos anos 70

 Vista da Antiga Cooperativa Mista do Boqueirão, hoje Supermercado Jacomar, na Rua Francisco Derosso esquina com Waldemar Loureiro Campos - Bairro Xaxim, meados dos anos 70


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Antiga Chácara Poplade, que existia, onde atualmente é o “Bairro Cristo Rei”, ali se produziam os melhores Vinhos de Curitiba, na década de 1920.

 Antiga Chácara Poplade, que existia, onde atualmente é o “Bairro Cristo Rei”, ali se produziam os melhores Vinhos de Curitiba, na década de 1920.


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terça-feira, 11 de outubro de 2022

HISTÓRIA DE MATINHOS: A VILA DOS PESCADORES

 

HISTÓRIA DE MATINHOS: A VILA DOS PESCADORES


A “Vila de Pescadores” eram núcleos de pescadores, agricultores e posseiros que foram se formando na região litorânea ao norte do Município de Guaratuba. Moravam próximos à praia e nela construíam os ranchos para guardar as canoas e os apetrechos de pesca. A cunhagem da canoa, como é conhecida a arte de fazer embarcações de um pau só, ainda pode ser encontrada na região. A tradição, passada de geração a geração de pescadores ensina que as árvores utilizadas são: guapuruvu, figueira parda, figueira limão, jequitibá, ingá e cedro. As casas eram de pau-a-pique, barreadas em mutirão, cobertas de sapé ou de telhas. O chão sempre de terra batida e varrido com vassoura de cipó. As tarimbas (estrados de bambu) das camas eram forradas com esteiras grossas feitas artesanalmente de taboa trançada. Alguns caiçaras usavam fogão a lenha; muitos cozinhavam em tacurubas, conjunto de três pedras no chão onde se equilibrava a panela. A água utilizada para os serviços domésticos era trazida em potes ou latas, de fontes ou de rios. Em volta das casas havia pomar de frutas e horta. 


Nos sertões, ficava a roça onde plantavam os alimentos necessários para o consumo, entre eles a mandioca da qual se fazia a farinha.O processo para a produção da farinha constituía-se em: colher a mandioca, raspar, lavar, ralar, prensar, peneirar, fornear e ensacar. A pesca era farta e para conservar o pescado era preciso “escalar” (fazer cortes), salgar e colocar para secar ao sol. A alimentação diária era peixe com banana verde e pirão de farinha de mandioca.Os medicamentos eram preparador com ervas plantadas pelos próprios caiçaras, grandes conhecedores dos efeitos curativos delas.

MATINHOS: IGREJINHA DE SÃO PEDRO

 

MATINHOS: IGREJINHA DE SÃO PEDRO


Foto: Antonio Kasczeszen Jr

Com a frequência cada vez mais assídua de banhistas, surgiu a idéia de se construir uma pequena igreja no balneário de Matinhos. Em 30  junho de 1938, a comunidade adquiriu o terreno, imóvel incorporado à Mitra Diocesana de Curitiba. Sob orientação técnica de José João Bigarella e esforço voluntário de muitos, foi inaugurada em 29 de Junho de 1944, dia em que se comemora São Pedro, patrono dos homens simples do mar. Em 1951 foi construida a torre, dando a Igrejinha um visual mais harmonioso ao conjunto. No seu interior, sobre o altar, encontra-se um mural do sueco Paulo Kohl, cuja pintura representa um pescador em perigo; na praia a família aguarda-o ansiosa pelo difícil regresso do alto-mar. Atualmente a Igrejinha não é usada para celebrações mas fica aberta para visitação pública e é um dos pontos turísticos mais conhecidos de Matinhos. Aqui, sob o olhar do aluno de Olhar Fotográfico da Casa da Cultura, Antonio Kasczeszen Jr:

Foto: Antonio Kasczeszen Jr


Foto: Antonio Kasczeszen Jr

Foto: Antonio Kasczeszen Jr


Foto: Antonio Kasczeszen Jr

Foto: Antonio Kasczeszen Jr

***“As primeiras instalações da Fábrica Lucinda”. *** Bairro Juvevê]. Por volta de 1920

 ***“As primeiras instalações da Fábrica Lucinda”. ***
Bairro Juvevê]. Por volta de 1920


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Posto Santo Antônio, fundado em 1948. Foi o primeiro posto de combustível do Bairro Pinheirinho, era de propriedade de Isaac Ferreira da Cruz.

 Posto Santo Antônio, fundado em 1948. Foi o primeiro posto de combustível do Bairro Pinheirinho, era de propriedade de Isaac Ferreira da Cruz.


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segunda-feira, 10 de outubro de 2022

O COMPLEXO MAPI DE CAIOBÁ

 

O COMPLEXO MAPI DE CAIOBÁ



O Complexo formado pelo Edifício Caiobá, Restaurante Panorâmico, Parque das Piscinas e Hotel Parque Balneário foi construído pela Construtora MAPI de Curitiba. O projeto arquitetônico é do alemão radicado no Brasil Franz Heep (1902-1978), com a colaboração do arquiteto Elgson Ribeiro Gomes, falecido recentemente. O projeto do edifício residencial é de uma inteligência ímpar, inclusive tendo sido feito um estudo para o aproveitamento dos ventos para a sua implantação. Os apartamentos dispensam o uso do ar condicionado, por serem muito bem ventilados, com ventilação cruzada. Os apartamentos estavam à frente do seu tempo, todos com cozinha americana em dois níveis. Os elevadores paravam entre os andares, gerando uma economia sensível. Os corredores da circulação comum eram abertos e claros, também gerando economia de energia. Todos os apartamentos são de frente para o mar, em uma localização privilegiada. Na época da construção, a Construtora MAPI montou uma carpintaria no local para a confecção de todas as portas e janelas, que creio eu, estão em bom estado desde sua inauguração, em 1960. 


O Edifício é todo revestido com pastilhas de vidro, ainda atuais. Na década de 60, grandes bailes eram realizados em Caiobá, como o Baile dos Casados e Garota de Caiobá, que coincidem com o início da carreira do nosso querido colunista Dino Almeida. Na estrutura de lazer do Edifício Caiobá, contávamos com piscina ( linda!), play ground, e cinema durante a temporada, além de várias atividades patrocinadas pelo condomínio. Uma curiosidade foi o pioneirismo na reprodução de um apartamento decorado com a mesma insolação no alto do Ed. Acácia na Praça Zacarias, para que os compradores pudessem testar a incidência solar e comprar os apartamentos que estavam em Caiobá.  

Colaboração: Flávio Flann e Sílvia Pierri

MATINHOS: ANTIGA IGREJA DE SÃO PEDRO

 

MATINHOS: ANTIGA IGREJA DE SÃO PEDRO


Em 1938 o terreno foi comprado pela comunidade. Em 1942 as obras tiveram início, e foi concluída em 29 de junho de 1944; dia de São Pedro, o qual a igreja foi nomeada. Foi a primeira igreja da cidade, e era frequentada pelo povo da região. Em 1990 a igrejinha foi restaurada e transformada em museu ecológico. Anos mais tarde foi reformada e voltou a ser a Igrejinha São Pedro, que é muito prestigiada e atualmente é visitada por muitos turistas. Já foi registrada sob o olhar do aluno Antonio Kasczeszen Jr  e agora é apresentada pela aluna do Curso de Olhar Fotográfico da Casa da Cultura de Matinhos, LARISSA FERREIRA.