fotos fatos e curiosidades antigamente O passado, o legado de um homem pode até ser momentaneamente esquecido, nunca apagado
sábado, 4 de março de 2023
Armazém de Francisco Fruet que existia no Bairro do Portão Década de 1920 *Provavelmente na Avenida Republica Argentina.
Armazém de Francisco Fruet que existia no Bairro do Portão
UM JAPONÊS NO MARUMBY
UM JAPONÊS NO MARUMBY
https://keyimaguirejunior.wordpress.com/2022/11/13/um-japones-no-marumby/
Post dedicado aos neuróticos idiotas – eles ainda existem – que impediram alemães e japoneses de escalar na Serra do Mar: poderiam sinalizar para submarinos inimigos na Baía de Paranaguá.
§ 1 – Quando Nelson “Farofa” me procurou, durante as pesquisas para seu livro, não tive mais que algumas fotos do meu pai para mostrar. Ele usava uma câmera francesa de fole, com a qual me ensinou fotografia – e fez registros de paisagens naturais do Paraná: Marumby, Vila Velha, Antonina. Não foram usadas no livro, mas lidar com os arquivos familiares despertou recordações – “o edifício imenso da memória”, segundo Proust. Não pretendo portanto complementar a memória do marumbinismo, mas contar algumas sensações pessoais.
§ 2 – O Piper Cherokee 140 pilotado pelo meu filho deslizou na pista do Aeroporto do Bacacheri e ganhou altura. Sobrevoamos bairros do norte de Curitiba e acompanhamos por alguns quilômetros a BR-101, sentido Nordeste. O perfil da Serra do Mar foi se aproximando e a superamos passando muito perto do espetacular complexo rochoso do Marumby, iluminado em cheio pelo sol. Do outro lado, o litoral e suas praias: contornamos a Ilha do Mel, tocamos o solo em Guaratuba. Voltamos a atravessar a Serra em sentido contrário; uma volta contornando a Região Metropolitana de Curitiba e pousamos fácil no aeroporto. Passeio magnífico: apesar da zoeira que o motor do avião deixa nos ouvidos, acrescenta muito ao conhecimento terrestre do território do Paraná.
§ 3 – Devo confessar que, de causa perdida e quixotesca, já tenho o suficiente com o Patrimônio Cultural. O Ambiental, as causas ecológicas e animais, têm meu radical e irrestrito apoio – mas a dedicação a elas não são a minha praia. Trepar em morro e singrar mares nunca dantes navegados são para quem tem essa disposição interna no DNA, o que não é o meu caso. Montanhas, florestas, marinhas – cenários maravilhosos, mas meu assunto são casas velhas…
E no entanto, meu pai bem que tentou, levando-me várias vezes em excursões pela Serra do Mar, e tenho disso lembranças bem nítidas. Em grande parte, a coisa não funcionou porque nessa época – década de quarenta – a atividade de escalador tinha dado lugar à de caçador e pescador. Esse é o fulcro da história: se tenho um bloqueio invencível, é o de matar um animal, tenha ele penas ou pelos. Faço exceção só para ofídios…
Fui adestrado com uma calibre 22 – e enquanto se tratava de acertar uma latinha jogada para cima, sem problema. Mas atirar num animal que foi cevado e vem confiantemente na calma da noite roer uma espiga de milho, e além do mais tem a carinha simpática das cutias, pacas e capivaras – é uma covardia desnecessária. Só menos horrenda que os sujeitos armados até os dentes, comuns nas estações ferroviárias desse tempo, leva ndo pencas sanguinolentas de lindos passarinhos, alguns ainda se debatendo.
De qualquer modo, fui a algumas dessas excursões, das quais lembrei durante a leitura do Nelson Farofa.
§ 4 – Eu teria menos de cinco anos de idade, visto que morávamos na Praça Garibaldi, ao lado da Casa Wolf. A caminhada, na madrugada curitibana, até a Eufrásio Correa, levando pequena mochila, era o início da jornada. Depois vinha a parte da qual eu mais gostava: a viagem de trem, com fagulhas e fuligem da Maria Fumaça entrando pelas janelas. Tinha as paradas nas estações, para bolinhos, ovos ou milho cozido com um envelopinho de papel para o sal. Os vendedores, no corredor do vagão, com guloseimas e até revistas…
Na Estação Marumby era onde ficavam os marumbinistas, que eu saiba todos amigos do meu pai. Havia uma passada no Martinelli – com a placa “aqui há otis” na porta – para trocar de roupa e pegar as trilhas, que se dissolviam e o caminho era balizado por referências: árvores, pedras, riachos.
(Numa dessas, demos de cara com uma assustadora correição de formigas: um ruído estranho no silêncio da floresta, mas também alvoroço dos passarinhos. Diante da onda irrefreável das formigas, insetos fugiam em pânico, e eram presa fácil das aves. Fizemos uma grande volta para contornar a migração.
Eu era advertido quanto ao ruído de dentes estalando; poderia ser um bando de catetos, considerado o maior perigo da mata, pior mesmo que as serpentes, inofensivas para quem está de coturnos. Mas havia relatos de ataque de bandos de zorrillos, ambos no entanto, bastante raros.)
Perto desse ponto, encontramos certa vez com o grande Stamm: ele cuidava de uma fonte e, achando que havia muita perda de água, estava calafetando uma fresta entre pedras com massa de vidraceiro. Foi único dos grandes marumbinistas que encontrei, dos demais só tive referências.
Não consta que meu pai tenha participado dessas escaladas pioneiras, abertura de trilhas e percursos, mencionadas no livro do Farofa. Mesmo porque ele não era muito de contar histórias, em conversas com amigos no trem é que eu escutava algumas referências:
– aos marumbinistas Stamm, Sabão, Hatschbach, Gofergê (?), Curial, Saracura, Schiebler (esse famoso pelo acidente em que caiu sobre o próprio facão), Cipó, Gavião, Vitamina, Tarzã, Rasputin. O “apelido de montanha” do meu pai era OK, mas segundo ele, “não pegou”…
– aos morros: Olimpo, Abrolho, Esfinge, Gigante
– aos obstáculos: passagens, chaminé, picada, Transversal.
Que eu me lembre, para o fim do período de escalador, ele tinha uma preferência pela Serra da Prata, à qual ia com tanta frequência que era conhecido nas turmas como “Dono da Serra da Prata”. Talvez tenha sido nessa fase também que começou a ser acompanhado pelo irmão Noboro, que mais tarde enturmaria com o pessoal do Farofa.
Costumava levar companhia nessas escaladas: minha mãe, cunhados, amigos – as primeiras vezes do meu irmão, que depois se tronou veterano com mais de 25 subidas ao Olimpo, e que também levava primos e amigos. Tenho umas quantas fotos dessas escaladas, sendo sua principal atração, o “mar de nuvens”, que “compensava qualquer cansaço”. E que hoje se vê das janelas dos aviões em qualquer voo doméstico…
Quando construiu a casa da Rua Kellers, em 1950 – vale lembrar, a poucas dezenas de metros do Belvedere da Praça João Cândido – fez nela um mirante, para observar a Serra do Mar. Vale lembrar também que, nos anos trinta, Frederico Kirchgassner fez, em sua casa em cota um pouco mais alta e a pouca distância, um terraço com a mesma finalidade. Tanto de um quanto de outro, o que se vê hoje são as maravilhas do imobiliarismo.
§ 5 – Leituras recomendadas.
– ALVES, Nelson Luiz Penteado (Farofa). As montanhas do Marumby. Curitiba, do autor, 2008.
– FAGNANI, José Carlos; FIORI, Júlio Cesar; WACECK, José Carlos Penna. Caminhos coloniais da Serra do Mar. Curitiba, Natugraf, 2006.
– HEGENBERG, Hugo; WISCHRAL, Arthur. Unterwegs im Paranaenser Littoral. Curitiba, inédito, 1930 (?).
– TOMBAMENTO DA SERRA DO MAR. Curitiba, SECE/CPC, 1987. Cadernos do Patrimônio.
– WAGNER, Helmuth Erich. “Serra do Mar no Estado do Paraná”. Curitiba, SECE, 1981.
FOTOGRAFIA MARIALBA RG IMAGUIRE – 2015
UMA “VILLA” BURGUESA EM CURITIBA
UMA “VILLA” BURGUESA EM CURITIBA
5 – Plantas
A “Planta térrea” não tem indicação de uso dos espaços – no entanto, todos têm janelas e se intercomunicam.
Se foi construída conforme o projeto, a casa deve ter apresentado problemas quanto ao funcionamento.
Os acessos se dão pela varanda em “L” – sendo o social pela sala de jantar, que por sua vez não se relaciona diretamente com a social.
Na outra extremidade do “L”, fica a entrada de serviço – que vai dar na cozinha aos fundos, depois de passar pela porta dos quartos e do banheiro. A cozinha é complementada por um quarto e uma despensa. Nesta, há uma escada que a representação não indica se vai ao sótão ou ao porão. Na chamada planta térrea, não há indicação de chegada dessa escada; sendo prevista no entanto outra, na porta externa da cozinha, descendo para o quintal.
A construção só se enquadra como “villa burguesa” por sua empostação. Nem seu programa construtivo e nem suas dimensões correspondem a esse conceito.
Examine-se algumas áreas: sala…………. 18 m2
sala de jantar… 24 m2
quarto maior….. 20 m2
banheiro……… 4,75 m2
cozinha ……… 12 m2
A área útil do pavimento é de aproximados 170 m2 – considerando o térreo não utilizado, 340 m2. Não são dimensões que abrigassem um programa de sociabilidade ao gosto burguês, que compreendia outros usos.
Talvez o espaço de leitura mais complexa, seja a varanda. Depois de entrar pelo portão, localizado no chanfro do muro, na esquina, percorre-se uma distância de quase 18 metros de jardim, para chegar à entrada da escada. Esta conduz ao encontro de um dos segmentos do “L”, que é alargado para recebê-la. É necessária então uma curva de 360º no percurso, para chegar à sala de jantar – e duas de 90º para a sala de visitas, áreas íntima e de serviço.
O Sr.Paulo Grötzner nos informou que a casa sofreu várias reformas, sem dúvida tornadas necessárias pelos problemas de fluxo detectados acima.
7 – Elevações
Na ausência de perspectiva – pouco usada em projetos da época – a visualização que se oferece da obra pronta, é nas duas elevações. Sendo construção de esquina, os dois desenhos fazem a representação do pretendido com a obra.
Sinteticamente, podemos observar uma valorização do pavimento superior, dado pela seqüencia de colunas da varanda e respectivo guarda-corpo. O pavimento térreo, não contém elementos ornamentais e tem seu visual praticamente obstruído pelo muro.
O aspecto senhorial da Villa é dado pelas colunas da varanda, em intervalos desiguais, apoiadas no guarda-corpo. E também pelo volume e presença do telhado, com beiral ornamentado com mãos francesas e contornando toda a construção.
O conjunto é coroado pelo telhado, bastante volumoso e, como já dito, um volume bem elaborado, ornamentado com pináculos metálicos.
As bow-windows contribuem para apresentar um tratamento elegante da volumetria externa e dos espaços internos da sala de jantar e do quarto principal.
Recurso ornamental freqüente na época, são as duas pinturas com paisagens, que não pudemos perceber se são afrescos ou telas aplicadas às paredes.
6 – Corte
O pé direito desse pavimento é de 2,50 m e, apesar de baixo para os padrões da época, perfeitamente utilizável, inclusive como habitação.
O pavimento superior tem 3,50 m. Nas elevações, essa altura e alguns recursos ornamentais valorizam esse piso como principal.
Houve aqui a necessidade de compensação da pequena inclinação do terreno, que desce 1,20 m dos fundo para a rua, havendo na parede posterior, um espessamento para contenção.
A cumeeira do telhado é bastante alta – a linha principal fica a 4m de altura em relação à do forro da casa.
O projeto, escassamente permitiria a execução do telhado, embora seja evidente que um construtor experiente poderia suprir as indicações faltantes. Mas alguns volumes – por exemplo as bow-windows – não poderiam se construídos somente com base na representação no projeto.
Abaixo, uma fotografia da Villa quando pronta. Posteriormente, foram plantadas seqüencias de palmeiras “Jerivá” ao redor, que dificultaram a vista da arquitetura.
RECORDANDO A BIBLIOTECA PÚBLICA DO PARANÁ
RECORDANDO A BIBLIOTECA PÚBLICA DO PARANÁ
Foto: Arquivo Público do Paraná
Foto: Arquivo Público do Paraná
Foto: pinterest
Foto: Arquivo Público do Paraná
Foto: Arquivo Público do Paraná
Foto: pinterest
Foto: Arquivo Público do Paraná
Foto: Arquivo Público do Paraná
Foto: pinterest
Foto: Acervo BPP