segunda-feira, 3 de julho de 2017

Curitiba e regiao


Carroça que fazia entrega de gelo e cervejas da Cervejaria Atlântica, em 1925




Vista de Curitiba feita do Alto do São Francisco, com a Rua Ébano Pereira em destaque. Foto do final de 1928

Região do Passeio Público, região de Várzea do Rio Belém. Final do séc XIX
Estação de Bondes na Praça Tiradentes. 1948

Abertura da Av Sete de Setembro. 1949

Cruzamento das ruas Monsenhor Celso x XV de Novembro. 1947
Área da Praça Afonso Botelho, com o Rio Água Verde sendo canalizado. 1940

Vista aérea da Avenida Vicente Machado e da rua Comendador Araújo. 1948

O Largo da Ordem em fotografia de 1908. Aparecem um poço de água potável, um quiosque e a sarjeta, no meio da Rua José Bonifácio, para escoamento da água das chuvas



A Rua Ébano Pereira, uma homenagem ao instalador da Vila de Curitiba. Em fotografia feita em 1905. A visão atual seria da Rua XV para o Alto São Francisco

Aspecto de Curitiba feito do Alto da Bela Vista, em 1901, por F. Langer. A rua que aparece em primeiro plano é o final da atual Emiliano Perneta

Adolph Volk gravou essa vista parcial do Alto da Glória em direção ao sul de Curitiba, em 1893. O prédio que aparece em destaque no segundo plano é o da atual Câmara de Vereadores, quando ainda em construção

Em 1880 o fotógrafo José Durski, de Sorocaba, fez esse flagrante da Rua Fechada, atual José Bonifácio

Outra foto de 1870 mostra a Rua das Flores, a principal de Curitiba. O espaço fotografado está compreendido hoje entre as ruas Monsenhor Celso e Barão do Rio Branco

Em 1870, o fotógrafo fixou essa vista parcial de Curitiba. Em primeiro plano, a capoeira onde hoje se localiza a Praça Carlos Gomes. Na margem do Rio do Ivo, vemos uma lavadeira e algumas pessoas. Ao fundo a antiga Igreja Matriz, na atual Praça Tiradentes

O Passeio Público desde a sua fundação, em maio de 1886, teve seu lago formado pelas águas do Rio Belém, que se tornaram poluídas pelos dejetos químicos lançados pelo curtume que existia no atual Parque São Lourenço. Hoje, o lago recebe água de poços artesianos. Foto de 1947 

Outro local de lazer para o curitibano, nas décadas de 1930 e 40, era o Tanque do Bacacheri, onde existia um balneário com trampolim e cabines para vestiários. Até hoje é formado pelo Rio Bacacheri, afluente do Rio Atuba. Foto de 1937 

Esquina das ruas Carneiro Lobo e Silva Jardim. O Rio d’Água Verde é canalizado para permitir o calçamento das ruas. Foto feita em dezembro de 1941 

A Cascatinha do Rio Uvu era atração que reunia banhistas e aficionados em piqueniques. Atualmente, engrossa o caudal poluído de Curitiba. Foto de 1928 

Outubro de 1911: a enchente dos rios do Ivo e Belém atinge a Rua João Negrão. Foto tirada do alto da Ponte Preta 

Por ocasião da Copa do Mundo de 1950, o Rio Belém, em frente do Estádio do Ferroviário, recebe uma limpeza. Toalete com pretensão de esconder a já notável poluição 

Obras do desvio do Rio do Ivo para o canal de vazão, na Praça Carlos Gomes. Em foto de 23 de abril de 1993 

Rua Barão do Rio Branco esquina com José Loureiro, durante uma enchente do Rio do Ivo em 11 de fevereiro de 1947. O terreno que aparece à direita foi a causa do desvio do rio em 1992 

Enchente causada pelo Rio do Ivo na Avenida Luiz Xavier, em janeiro de 1997 

Obras feitas na Avenida Vicente Machado, na gestão de Rafael Greca, na tentativa de conter as enchentes do Rio do Ivo 

Praça Tiradentes em 1934, com obras para a instalação da Estação de bondes de onde partiriam os mesmos para os mais diversos bairros da cidade

Bonde Birney, fabricado nos Estados Unidos, dirigindo-se ao ponto final do Seminário, em 1940

Bonde de mulas circulando pela Rua XV esquina com atual Monsenhor Celso, em novembro de 1911

Estação de bondes na Praça Tiradentes, em 1939. O bonde que aparece teve a sua carroceria criada e construída em Curitiba

Bonde vindo pela Rua Barão do Rio Branco, em frente do prédio do antigo Clube Curitibano, em 1931

Bondes Nivelle, fabricados na Bélgica, foram os primeiros elétricos de Curitiba. Foto da Rua XV de Novembro, em 1925

Vista parcial da Praça Tiradentes em direção ao Leste de Curitiba. Foto de 1940

Alto da Rua XV de Novembro esquina com Ubaldino do Amaral, em direção ao centro da cidade. Foto de 1940

Abertura da Rua XV de Novembro, ex-Rua São Paulo, em direção ao atual Alto da Caixa D’Água. Foto de 1940

Rua Cruz Machado esquina com Dr. Murici. Em construção o prédio mais estreito de Curitiba, em 1940

Escritório central da Cia. Força e Luz na Rua Monsenhor Celso, em 1940


Vista da Praça Tiradentes e Rua Marechal Floriano com bonde, em 1940


Avenida João Pessoa, atual Luiz Xavier, em 1940, com ônibus da Cia Força e Luz


Avenida Vicente Machado no cruzamento com a Visconde de Nácar em 2007

Avenida Vicente Machado no cruzamento com a Visconde de Nácar em 1939

Avenida Vicente Machado no cruzamento com a Visconde de Nácar em 1937

Duas fotos da Universidade do Paraná. Na de cima vemos o prédio quando foram construídas as alas laterais, em 1927. Na de baixo, feita em 1946, temos a fachada iluminada em regozijo à Federalização

Partida da Estação de Curitiba das tropas do Regimento de Segurança com destino a União da Vitória, em 26 de setembro de 1912
No dia 15 de outubro de 1912, João Gualberto saía com suas tropas de União da Vitória rumo a Palmas

O caixão com o corpo de João Gualberto chega ao Quartel do Tiro Rio Branco, onde seria velado. Foto do dia 6 de novembro de 1912.(O Quartel do Tiro R. Branco estava no local onde hoje se encontra o Banco do Brasil, ao fundo vemos parte da Rua Dr. Murici)
O acompanhamento fúnebre com o caixão de João Gualberto passa pela Rua XV de Novembro, em 6/11/1912

Foto do coronel João Gualberto

O corpo de João Gualberto, tombado nos campos do Irany em 22 de outubro, chega na Estação de Curitiba no dia 6 de novembro de 1912, às três horas da tarde

Medalha comemorativa da Exposição do Centenário, 1953.


Portal da entrada da Exposição Mundial do Café no Centenário do Paraná, em 1853. Hoje no local está posicionado o portão de entrada do Colégio Militar de Curitiba


Portal da entrada da Exposição Mundial do Café no Centenário do Paraná, em 1853. Hoje no local está posicionado o portão de entrada do Colégio Militar de Curitiba
Alameda da entrada da Exposição do Café, festejando o Centenário do Paraná, 1953.
Símbolo da Exposição: um gigantesco grão de café, tendo um mastro com as bandeiras referentes à Exposição Mundial do Café

Pavilhão central decorado com figuras do Poty, Centenário do Paraná, 1953.
Vista parcial dos pavilhões da Exposição do Centenário, 1953.
Arte demonstrando o uso do solo na plantação dos cafezais, 1953.


Desfile de ciclistas na Rua XV de Novembro esquina com a Rua Dr. Murici, na Semana da Pátria de 1939
Primeira parte construída da Universidade do Paraná, símbolo da cidade de Curitiba. Foto de 1918
  
Motociclistas reunidos na Bairro Juvevê em 1939.
Era difícil o acesso às praias, as familias se divertiam no Rio Iguaçu, em 1930.
Festividades na Rua XV de Novembro, em 1937.
O automóvel, símbolo de status social. Julio Hoffman e família nos arredores de Curitiba, na década de 1920.
Passeio na Estrada da Graciosa, com mulheres ao volante, em 1927.
Capela de São Francisco, em 1910. Fazia parte das conhecidas ruínas da igreja inacabada. Foi demolida entre 1912-14
Cervejaria Cruzeiro no bairro do Batel, década de 1920.
Fotografia da antiga Cervejaria Atlântica, onde hoje está instalada a Brahma. Suas fornalhas queimavam tanta lenha quanto as locomotivas da Estrada de Ferro Curitiba-Paranaguá

Um caminhão Nasch, carregado com a chamada lenha de metro, destinada a alguma fábrica para ser usada como combustível, na década de 1950. Na época, tanto os automóveis como os caminhões eram importados
A foto é da colônia Senador Correia, entre Guarapuava e Apucarana, em 1919.
Carroção colonial tracionado por oito animais (cavalos e mulas), que transportava as mercadorias no começo e em meados do século passado. Incluindo no transporte as chamadas carradas de lenha de metro, assim denominadas por não serem picadas em pequenas achas

Curitiba Antiga 2



Imagem do prédio da Universidade do Paraná, verdadeiro símbolo de Curitiba. Foto de 1927.




Rua XV de Novembro, em agosto de 1945.




Rua Barão do Rio Branco em obras na década de 1920. O bonde foi um marco no transporte da cidade.


Vista da cidade em 1927, com a Rua do Rosário em primeiro plano. Cenário amplo da urbe sem edifícios tapando o horizonte.




Avenida República Argentina em rebuliço para instalar o asfalto, em 1952. À direita, o antigo Armazém Fruet.




O asfalto elimina a empoeirada rua de saibro, era o progresso chegando ao Bairro do Portão, em 1952.

Curitiba Antiga



Os trilhos dos bondes ficaram, temporariamente, acima do leito a ser asfaltado na Av. República Argentina, em 1952


Avenida República Argentina já asfaltada, ao lado da Igreja, em 1952



O asfalto chega ao ponto final do Portão, hoje cruzamento com a Av. Kennedy. Ainda aparecem os trilhos da Estrada de Ferro. Foto ainda de 1952



O Passeio Público em foto de 1924, onde vemos o movimento de frequentadores junto às canoas do lago. Ao fundo, à esquerda, o prédio da Universidade do Paraná




Fonte luminosa da Praça Rui Barbosa, em fotografia de 1960



O largo, em frente à Igreja do Portão, ambiente de intenso comercio, quando do asfaltamento em 1952

Soluções para um “problema” chamado Belém

Geograficamente, Curitiba está localizada na planície de inundação da bacia do Rio Iguaçu e o centro da cidade se encontra em uma colina espigada de vertentes suaves, na direção norte-sul, formando terraços enxutos com rampas ligeiramente inclinadas até as baixadas onde se encontram o Rio Ivo e o Rio Belém. 

As cheias dos rios Ivo e Belém provocam inundações nas regiões mais baixas do centro urbano (1). Muitos prejuízos eram decorrentes das enchentes, como a invasão das lojas comerciais pelas águas, paralisação da circulação de veículos, acumulação de lama e lixo. Havia uma ameaça onipresente na memória da população, atribuída às más condições sanitárias da capital paranaense. A rede de esgoto era reconhecida como o fator que ocasionava epidemias, pois devido à sua precariedade, os elementos de contaminação acabavam passando para o encanamento de abastecimento de água. Além disso, com as chuvas, a carga de líquido dos esgotos aumentava, determinando infiltrações na rede distribuidora de água potável. 

 No final da década de 30, aproveitando a presença no Brasil do urbanista francês Alfred Agache (2), o governo estadual resolveu encomendar um plano de urbanização para Curitiba. O saneamento do Centro constituía a principal meta do plano, a fim de resolver os constantes desastres causados pelas enchentes. 

Em 1940, o interventor Manoel Ribas determinou para o prefeito da capital que se formasse uma comissão para a elaboração de um plano, o qual se concluiria após dois anos e tomou o nome de “Plano de Urbanização da Cidade de Curitiba”. Dentro deste plano, destaca-se o Plano de Avenidas, cuja intenção era atender ao problema de escoamento das águas pluviais e defesas contra inundações, tendo em vista que muitas das avenidas projetadas se destinam a receber canais coletores das águas pluviais. 

Ao conceder a primeira entrevista à imprensa curitibana, em novembro de 1941, Agache atentou para a seguinte questão: 

Todo aquele que se interessa pela urbanização de Curitiba topará, de início, com um sério problema. Refiro-me aos rios que a banham como o Belém e o rio Ivo. São cursos d’água muito irregulares e sua retificação, portanto, redunda num pesado ônus aos cofres do Município. (...) O plano em vista é o do aproveitamento das grandes curvas dos rios para a construção de lagos. Assim, evitar-se-ia a retificação que aludi. (3)

 A proposta, no entanto, não se confirmou inteiramente. Os estudos levaram a outras soluções, que compreendiam canalizações através de tubulações, possibilitando a construção de avenidas-parques. Em 1942, o Plano de Avenidas foi aprovado e, com o intuito de facilitar o escoamento natural das águas, a cidade ganharia de um lado uma avenida-canal com 28 metros de largura que margearia o Rio Ivo e do outro uma avenida semelhante que coletaria as águas do Rio Belém desde o Passeio Público e as canalizariam até o encontro com o rio Ivo. 

Dessa forma, foi aberta a avenida-canal ao longo do rio Ivo e construída outra ao longo do Rio Belém desde o Passeio Público, um canal a céu aberto que seguia pela Rua Mariano Torres. Na década de 30 foram feitas obras de retificação do rio e na década seguinte o canal do Belém começou a ganhar os paredões com fundo acimentado. Os trabalhos eram penosos, artesanais, de colocação de pedra sobre pedra. 

Construção de muro de arrimo no Rio Belém, junto a Rua Felipe Camarão, em 1959. 
Foto: Arthur Wischral - Acervo: Casa da Memória/FCC 

Mesmo após a construção do canal na Rua Mariano Torres, o rio ainda constituía-se como um problema: 

(...) a permanência a céu aberto do rio Belém, no centro da cidade, obstacularizando o tráfego na zona central, constitui-se um problema que deve ser encarado com prioridade pelas autoridades municipais. (...) Há a questão sanitária, sempre agravada pela circunstância de ser aquele leito, natural despejo de águas servidas de dejetos de toda ordem, contribuindo para a poluição aérea, pela exalação do mau cheiro, para a poluição visual, pelo quadro nauseabundo que proporciona, diante da constante sujeira de suas águas. (4)

Em 1953, a pedido da Comissão Especial de Obras do Centenário da Emancipação Política do Paraná, o engenheiro Pedro Viriato Parigot de Souza analisava a canalização do Rio Belém. Em seu relatório, Parigot mostrou a importância da canalização, porque, segundo ele, 

As inundações frequentes e periódicas que se verificam na atualidade tenderão a aumentar grandemente em amplitude e frequência, em face de surto de edificações que o Centro Cívico determinará em seus arredores. Por outro lado, as condições higiênicas do curso d’água se tornam cada vez piores, com prejuízos à saúde pública. (5)

A necessidade de canalização era a única forma defendida pelos jornais como solução para o “problema Rio Belém”. O plano de canalização do Rio Belém foi colocado em prática na gestão do prefeito Saul Raiz. Proposto em 1975, alterou os planos anteriores de canalizar o rio pela Rua Mariano Torres. De acordo com o novo projeto, o rio passaria a ser canalizado pela Rua Tibagi, compreendendo 2.120 metros de extensão, e seria executado entre a Avenida Afonso Camargo e a Avenida Cândido de Abreu. 

Segundo o prefeito, o plano inicial de fazer o canal pela Rua Mariano Torres não seria possível por diversos motivos. Um deles seria a impossibilidade de fazer a ligação norte-sul que seria prioritária numa sequência da Avenida das Torres. E ainda havia o perigo de ser atingido o emissário principal do escoamento de esgoto de Curitiba, cujo rompimento traria consequências catastróficas. Por fim, ao ser notificado pela Sanepar de que em três ou quatro anos o emissário precisaria ser mexido para ampliação, o prefeito decidiu por construir junto com a canalização um novo emissário maior, tornando o existente obsoleto. (6)

 As obras de canalização iniciaram-se e foram executadas em etapas. Primeiramente, na Avenida Afonso Camargo até a Rua Tibagi, atravessando a Rua Sete de Setembro. Após a conclusão dessa fase, as obras iniciaram-se na Avenida João Gualberto, nas proximidades do Passeio Público, até a Avenida Cândido de Abreu. Por fim, deu-se a última etapa: da Avenida Sete de Setembro até o Passeio Público, sempre pela Rua Tibagi. (7)

Obras no Passeio Público, década de 1960
Acervo: SEEC/PR

Construção do edifício sede da FIEP, com Rio Belém nos fundos, década de 1960
Fonte: www.fiepr.org.br - Acervo: FIEP/PR
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A canalização foi assunto de muitas matérias jornalísticas, que buscaram na opinião pública uma posição favorável à canalização. O jornal Gazeta do Povo publicou, em 1975, mesmo ano da aprovação do projeto de canalização, uma matéria a respeito da opinião dos moradores da Rua Mariano Torres acerca da canalização do Rio Belém. Nas palavras do jornal: “ao menos em um ponto os moradores da Rua Mariano Torres concordam plenamente: o Rio Belém deve ser canalizado o mais rápido possível. (...) não importando se pela Tibagi ou pela Mariano Torres”. (8)

A mesma reportagem ainda chama a atenção pela forma de como rio é visto pelos comerciantes e pessoas que trabalhavam no comércio da Rua Mariano Torres: “um riacho poluído que atravessa a cidade, e onde todo mundo joga sujeira”. Para a população que trabalhava na Rua Mariano Torres dos anos 70, “o importante é que o rio desapareça de uma vez” e que a canalização fosse feita para mandar “esse cheiro ruim pra lá”. (8)

Apesar da opção feita pelo prefeito Saul Raiz em canalizar o Rio Belém pela Rua Tibagi, a Rua Mariano Torres também entrou no plano de obras. As obras na Rua Mariano Torres compreenderam a limpeza do canal do rio, a reconstrução dos muros nos trechos prejudicados pela erosão e fechamento do canal com placas de concreto pré-moldadas. A intenção da prefeitura era utilizar o canal como uma opção emergencial para casos em que ocorressem grandes enchentes em Curitiba. A quantidade de lixo encontrada nas galerias foi muito grande e retardou os trabalhos de asfaltamento. Após a retirada do lixo, as lajes pré-moldadas foram colocadas em cima das vigas, então o asfalto foi colocado. A Rua Mariano Torres tornou-se uma espaçosa avenida, integrando a Rua Cândido de Abreu à Avenida das Torres. Para ter-se uma ideia, o canal do Belém foi o maior canal urbano do país até então construído. 

Iniciadas as obras de canalização, é de supor que nem tudo ocorreu conforme o esperado, como nos conta a notícia: 

Fortes chuvas ocorreram em Curitiba, intermitentes, causando enchentes, alagando tudo. Nos primeiros dias de 1976, houve 14 inundações na bacia hidrográfica do Belém, no centro da cidade. Em fins de Janeiro, o rio subiu 4 metros e meio, rompendo uma adutora, derrubando pontes nos bairros e causando prejuízos de 35 mil cruzeiros por dia à canalização. (9)

Além disso, as escavações da obra também provocaram abalo na estrutura do antigo prédio do Colégio Santa Maria, que teve que ser demolido. Para a reurbanização da Rua Mariano Torres, 12 palmeiras teriam que ser derrubadas. Porém, o prefeito Saul Raiz foi ao local e mandou retirá-las com cuidado e transplantá-las no Parque Barigui. Também uma velha araucária localizada no Largo Bittencourt seria retirada, determinou-se, no entanto, que o traçado da rua fosse alterado. Essa alteração acabou por criar uma rua entre o Passeio Público e o Círculo Militar, em área pertencente anteriormente ao Círculo e comprada pelo município. 

No ano de 1977, as obras de canalização do Rio Belém foram concluídas até a Rua XV de Novembro. À medida que o canal foi sendo fechado e as obras complementares executadas, o departamento de Obras da Prefeitura foi repavimentando e refazendo os passeios. O calçamento em petit-pavê foi o tipo de calçada escolhida para pavimentar as ruas que receberam as obras de canalização. 

O jornal Correio de Notícias anuncia, em agosto de 1977, “o Rio Belém já tem novo percurso” (10) , pois o rio foi bloqueado em seu antigo leito e passou a correr pelo novo canal, no entroncamento entre o Passeio Público e o Círculo Militar do Paraná. Esse canal foi inaugurado pelo prefeito Saul Raiz no mesmo mês da publicação do jornal e compreendia a extensão de 1366 metros. As obras de canalização, iniciadas em 13 de junho de 1975, deram nova configuração ao Centro, tanto que o Jornal Gazeta do Povo noticia que “quem passar pelo cruzamento da rua XV de Novembro com a Mariano Torres nem dará conta do antigo canal a céu aberto existente até a pouco na região. Tudo foi fechado e o asfalto começa a cobrir o leito da rua” (11). A segunda etapa de canalização do rio, na Avenida Cândido de Abreu, ainda estava sendo acabada e, na sua conclusão, seria dado um percurso de 2160 metros ao rio. 

Em janeiro de 1978, todos os trabalhos relativos ao canal do trecho entre o Passeio Público e o Círculo Militar haviam sido concluídos. Em maio do mesmo ano, iniciou-se a concretagem dos últimos 21,65 metros do canal que daria condições de se construir o segundo braço da ligação, estando pronto cinco dias depois. Restava apenas a pavimentação final das ruas e o binário de ligação entre o Largo Bittencourt e o Centro Cívico, desembocando um dos braços ao lado do prédio da Federação das Indústrias e outro ao lado do prédio da Voupar, na Avenida Cândido de Abreu. Em junho a obra foi oficialmente entregue em um acontecimento marcado pela inauguração de um monumento em ferro e mármore e por uma exposição de toda a história da canalização no Largo Bittencourt. 

 O jornal Diário de Notícia, em 1978, anuncia: “daquele dia em diante, mesmo com fortes chuvas, as inundações do centro da cidade passaram a constituir apenas um capítulo no passado de Curitiba”. (12)

No entanto, um ano após o fim das obras de canalização e urbanização na Rua Mariano Torres, as reclamações a respeito do mau cheiro presente nessa rua recomeçaram a aparecer nos jornais. Embora a canalização tenha colocado fim ao lixo que era atirado em grande quantidade, ela não impediu a presença do mau cheiro. O jornal Correio de Notícias afirma: 

(...) como o escoamento é feito pela via, a ausência de água que carregue esses detritos tem encalhado toda a sujeira, vindo a deteriorar-se. A ocorrência do mau cheiro tem sido constatada principalmente ao anoitecer, deixando muitos moradores bastante preocupados com a situação, sem que nada possa ser feito. (13)

Outro jornal salientou que a canalização “chegou ao final como mais uma vitória da engenharia moderna e uma conclusão: é melhor salvar o rio, preservando suas margens, do que enfrentar penosas cirurgias urbanas, como a que foi submetida a cidade, rasgada de Centro a Sul em dois quilômetros.” (14)

Em 1979, na gestão do prefeito Jaime Lerner, o Rio Belém sofre um novo processo de canalização. Até o ano seguinte, as obras do então novo canal compreendiam uma extensão de 1.575 metros entre o Centro Cívico e a Rua Celesti Santi, no bairro Ahú. As obras foram desenvolvidas em três frentes de trabalho: o primeiro trecho inicia-se na Avenida Cândido de Abreu até o Pilarzinho, com 580 metros de canal; o segundo trecho até a Rua Heráclito de Araújo, com 495 metros e o último até a Rua Celesti Santi, com 500 metros. Com essas obras, intentou-se devolver o Rio Belém à população, com águas límpidas e despoluídas. O desafio dos arquitetos do IPPUC (Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba) era transformar uma região degradada por causa do rio poluído e das enchentes periódicas em uma região recuperada, que contasse com área de lazer e unidades culturais em estruturas arquitetônicas belíssimas. Para tanto, os quatro quilômetros de céu aberto do rio teriam em suas margens áreas livres e parques, ciclovias a fim de estimular o uso de bicicletas, passarelas que ligariam as duas margens, além de tanques para crianças em certos trechos, corrigindo as inundações provocadas pelas partes mais baixas do Belém. (15)

O projeto previa ainda a abertura de um sistema de esgotos, a Estação de Tratamento de Esgotos do Belém, a qual permitiria um grau de purificação das águas na ordem de 95% . A desativação de algumas indústrias, antigas fontes de poluição, também entrou em vigor. Além das obras realizadas no Rio Belém, seu afluente Rio Pilarzinho também sofreu com obras de canalização desde sua foz no rio Belém até a Rua Nilo Peçanha, trecho com 430 metros. Todo o canal foi construído em um novo leito, fechado, e com quatro metros de largura e três de profundidade. O objetivo das obras foi evitar as inundações periódicas que atingiam inúmeras residências no período de enchentes. Os trabalhos de canalização entre o Centro Cívico e a Rua Celesti Santi foram entregues nos prazos previstos, em julho de 1980. 

As obras de canalização realizadas no Centro Cívico foram apontadas como as responsáveis pelo fim dos problemas de enchentes e alagamentos verificados naquela região, pois permitiam que o rio atingisse até 20 vezes a sua vazão normal e evitavam seguidos desmoronamentos causados pela erosão (16). Concomitante às obras de canalização, as margens do Rio Belém receberam ciclovia em grande parte de sua extensão, desde a Rua Celesti Santi até a Av. Cândido de Abreu, passando pelo Bosque João Paulo II, bem como diversos equipamentos de lazer, dentre eles canchas esportivas, playgrounds e bancos de jardim. 

Outras obras de urbanização das margens do Rio Belém foram realizadas por Jaime Lerner no ano seguinte, em 1981. O projeto de urbanização fazia parte de um plano da prefeitura para a utilização de áreas de fundo de vale que oferecessem a possibilidade de serem transformadas em espaços de lazer, como foi o caso do trecho do rio que fica ao sul da cidade. As obras se localizaram entre a BR-116, junto ao Horto Municipal do Guabirotuba até a Vila Sofia, no bairro do Uberaba, e compreenderam quase seis quilômetros de extensão. 

Este projeto de urbanização determinou a construção de uma avenida paralela ao rio, que recebeu pavimentação de antipó e a implantação de uma linha de ônibus chamada Canal Belém. Previa ainda ações que acabaram não sendo executadas, como uma ciclovia com sete quilômetros de extensão que alcançaria o Parque Iguaçu e a construção de quadras esportivas, playgrounds e recantos nos bairros em que seriam realizadas as obras (17)

Embora as obras de canalização visassem o fim das enchentes e alagamentos, a ação preventiva não acompanhou o crescimento urbano, nem abrangeu todas as áreas de alagamento. No ano de 1982, moradores da Vila Sofia sofreram com o transbordamento do Rio Belém. Nessa área, onde o rio já havia sido retificado há 30 anos, a situação de alagamento foi ainda agravada devido a ocupação desordenada (18)

No ano de 1984 são instaladas mais duas comportas no Rio Belém. A comporta piloto, instalada um mês antes, localizava-se na Rua Antônio de Paula, enquanto a outra comporta localiza-se no bairro Boqueirão. Elas foram instaladas com o intuito de retardar o tempo de invasão das águas quando há chuvas intensas de curta duração, amenizando os problemas de alagamento nos bairros Boqueirão e Uberaba (19). Cinco anos depois, em 1989, engenheiros pesquisadores da Pontifícia Universidade Católica lançaram um artigo a respeito do projeto sobre previsão de enchentes da Bacia do Rio Belém. Segundo eles, 

(...) a importância do estudo reside no fato de que o Rio Belém atravessa zonas densamente povoadas (...). Com a crescente impermeabilização das áreas de drenagem de nossa cidade, povoada pelos processos de ocupação e desenvolvimento urbano, a ocorrência de enchentes com as suas consequências desagradáveis tem se tornado cada vez mais frequentes. (20)

O estudo objetivou identificar e avaliar as áreas inundáveis, visando a aplicação de uma política mais racional e adequada de ocupação e proteção das áreas sujeitas a inundações. Não somente nas proximidades da universidade e da Vila Torres foram encontradas áreas críticas, sujeitas a extravasamento junto às margens do rio, mas também em outros locais, como os bairros Boqueirão, Vila Hauer, Prado Velho e Rebouças, regiões frequentemente afetadas pela ocorrência de enchentes do Rio Belém (20)

As inundações eram apenas parte do problema. O crescimento urbano e o consequente aumento do nível de poluição do rio levou a Associação de Moradores da Vila São Paulo a denunciar a situação em que se encontrava o Rio Belém no ano de 1987. Os moradores cobravam providências imediatas para limpeza do local, deteriorado pela descarga de lixo e dejetos (21). Segundo o Presidente da entidade, “os responsáveis pela descarga não são apenas os moradores, mas também os órgãos públicos que ali deixam resíduos de serviços executados, sem qualquer preocupação com a qualidade de vida da região”(21). Em uma reportagem publicada pelo jornal Expresso, em 1991, nota-se quão comprometidas estavam as águas do Rio Belém: “Pawlowsky (22)explica que existe uma escala de classificação de rios variando de 1 a 4. O nível de poluição do Belém é tão alto que o deixa fora dessas classes” (23). Embora a cidade fosse conhecida e admirada por seus parques, o sistema de esgotos não atendia nem 25% da população. Essa situação contradizia o status de Curitiba como “Capital Ecológica”.


Enchente no Rio Ivo, afluente da margem direita do Rio Belém, em 1996
Fonte: Jornal Gazeta do Povo, 28/12/96, p. 20 - Acervo: IPPUC

O Rio Belém já foi alvo de diversos projetos de conscientização, como o que incentivou a criação de um centro de piscicultura, intentando desenvolver pesquisas sobre criação de peixes em estações de tratamento de efluentes industriais, o que auxiliaria no controle da poluição e qualidade das águas. 

Outro projeto de conscientização foi realizado pelo Programa de Despoluição Ambiental. Implantado pela Prefeitura Municipal em 1991com o objetivo de melhorar a qualidade de vida da população, o programa pretendia ligar corretamente as moradias à rede de esgoto. A ligação correta do esgoto evitaria uma série de doenças, já que na época o Rio Belém possuía 800 mil bactérias por 100 ml de água no trecho que vai até o Passeio Público. A bacia do Belém Norte foi a escolhida para receber a primeira parte do projeto, pois nesse trecho estavam três importantes áreas de lazer de Curitiba: o Parque São Lourenço, o Bosque do Papa e o Passeio Público. Para chamar a atenção da população à necessidade de preservação dos rios, a prefeitura e autoridades públicas estatais realizaram uma festa no Bosque do Papa, a qual contou com diversas atrações musicais. A limpeza do rio e a descoberta de ligações irregulares na área correspondente à Bacia Norte (24) foi prevista para ser concluída em dois anos. 

Desde os anos 80, a prefeitura, através de um projeto de reaproveitamento do material retirado do Rio Belém, como a areia e a argila, utilizou desses materiais para construir ruas nos bairros, como no caso do Jardim Acrópolis, onde as ruas foram construídas com material proveniente de obras de dragagem. Essas ações contribuíram na construção da imagem de cidade “recicladora”, que Curitiba recebeu e a tornou famosa. 

Os anos 90 foram marcados por muitas obras de dragagem. Em 1994, o prefeito Rafael Greca autorizou a construção do Canal Belém, para maior controle, manutenção e proteção do leito do rio. As obras beneficiariam os bairros Ahú, Bom Retiro e Centro Cívico (25). No ano de 1998, as obras de dragagem evitaram que o rio transbordasse nos trechos entre o bairro Boqueirão e o Prado Velho, embora em determinados pontos o rio estivesse em níveis críticos de assoreamento, com até dois metros de altura em material e entulhos. No mesmo ano, o jornal Gazeta do Povo lançou a manchete de que “saem do Belém 37 mil m3 de sujeira” (26), onde até sofás e geladeiras foram encontrados no leito do rio que passava pelo Uberaba e Boqueirão, trecho em que o rio foi dragado. Atribui-se à população ribeirinha a responsabilidade por grande parte do lixo despejado diretamente no rio, no entanto, isto não corresponde aos fatos, visto que o rio sofre com as ligações de esgotos irregulares em todos os bairros pelos quais passa, agravando-se na região central. 

 Em um estudo da relação entre a estratificação socioeconômica da população residente e a qualidade das águas da Bacia do Rio Belém, Bilbao demonstrou que a qualidade da água não está diretamente ligada à estratificação socioeconômica da população, mas sim à falta de interesse da população em geral com a causa do Rio Belém. Nesse sentido, a relação com a qualidade das águas é proporcional à convivência com o rio. Nos bairros mais ricos que recebem o Rio Belém canalizado, a população não desenvolve um sentimento de pertencimento para com o rio, gerando o descaso. Já nos bairros de menor renda per capita e onde a população ocupa as margens dos rios, esta tem a qualidade das águas como um fator determinante para sua saúde e convivência (27). Seguindo essa linha de raciocínio, Fábio Duarte defende a ideia que o rio, ao atravessar os conjuntos habitacionais populares, é percebido pela cidade. 

(...) de modo casual e preconceituoso, ou seja, ligam a poluição do rio à sua ocupação urbanística imediata (os conjuntos habitacionais populares e favelas), quando na verdade, ele emerge de sua passagem subterrânea pelo centro da cidade sem vida. (28)

No ano 2000, o resgate histórico e a necessidade de preservação e limpeza dos rios em geral ganha mais atenção. Novamente foram realizadas obras de dragagem no bairro Boqueirão, foi realizado o alargamento do rio, pois causava enchentes, nos bairros Hauer, Uberaba, Boqueirão e Guabirotuba. A necessidade de desassoreamento é frequente, pois o assoreamento do rio chega a um metro a cada ano, tendo levado a prefeitura a rebaixar seu leito em 1,5 metros e alargá-lo para 15 metros em determinados pontos. Também foi prevista a construção de duas áreas de escape para as águas das chuvas, cada uma contendo seis mil metros quadrados (29). É interessante notar a crítica dos jornais com relação à situação do Rio Belém no fim do século XX: 

O orgulho ecológico de Curitiba é ferido, todos os dias, por um curitibano velho, sujo, fedido e moribundo que insiste em correr pela Capital Ecológica sem dar nenhuma satisfação para ninguém. O velho costuma dar o ar de sua graça naquilo que é uma marca da cidade: os nossos parques. Diariamente, ele não pede licença aos frequentadores assíduos e aparece em alguns espaços de lazer mais tradicionais de Curitiba: o Parque São Lourenço, O Bosque do Papa e o Passeio Público.  (30)

Ao resgatar a história do Belém, os jornais colocam as possibilidades dos rios que não foram aproveitadas, como o uso para abastecimento. A Curitiba da virada para o século XXI já não possuía um rio próprio para o abastecimento. 

Não só de dragagens viveu o Rio Belém no início do século XXI. Sua nascente, no bairro Cachoeira, ganhou um parque de 15,2 mil metros quadrados, no ano de 2001. Além da nascente principal do rio, foram encontrados dois olhos d’água de afluentes, sendo um deles, inclusive, descoberto por moradores que entraram em contato com a Secretaria Municipal do Meio Ambiente. O Parque da nascente também recebeu uma unidade de Educação Ambiental para alunos de escolas do município e teve em sua implantação diversos projetos de educação ambiental. 

Nem todas as obras de dragagem idealizadas pela prefeitura tiveram um impacto positivo sobre a população que morava perto dos locais onde o rio precisava de limpeza. No ano de 2002, moradores do bairro Barreirinha impediram que máquinas da prefeitura iniciassem as obras para diminuir os riscos de enchentes na região, pois, de acordo com eles, o plano de prefeitura iria apenas amenizar a situação (31). Os moradores não queriam apenas obras paliativas para as enchentes, as quais representavam parte de um problema maior, mas sim que fosse realizado o saneamento completo da região. Os moradores reclamavam do mau cheiro constante, diferentemente das enchentes que não aconteciam todo ano. O padre local salientou a consciência dos direitos no jornal Gazeta do Povo: “As pessoas estão mais conscientes e estão dispostas a lutar pelos seus direitos”. (31)

Essa consciência ambiental se estende à comunidade acadêmica do Campus Politécnico da Universidade Federal do Paraná, como pode ser verificada na denúncia feita pelos estudantes do último ano do curso de Engenharia Florestal, em 2005, da poluição causada pelo esgoto da Universidade no campus Politécnico e Jardim Botânico às nascentes de água que cortam os dois campus. A manifestação de tratamento que filtrava os dejetos do bloco de saúde estava fechada há meses e o esgoto era despejado sem qualquer tratamento (32). Esse fato gerou calorosas discussões, pois um mês antes os estudantes de Engenharia Florestal tiveram um Congresso cuja pauta era justamente a qualidade da água do país e a importância da preservação das nascentes. “A universidade, que deveria estar dando o exemplo, é a responsável pela contaminação da água”(32), salienta um estudante. A reitoria, em contrapartida, prometeu resolver o problema, alegando que ainda não o havia feito por questões burocráticas envolvendo a Sanepar. 

No ano de 2005, um amplo projeto técnico de despoluição do rio entrou em pauta, principalmente na mídia, uma vez que a imagem do rio assimilada pelos curitibanos era péssima: “de um grande e vergonhoso canal de esgoto que não tem solução e que, por isso, merece ser escondido” (33). O projeto de despoluição e revitalização do rio consistia não em canalizar o rio e enterrá-lo, mas sim a descanalização de alguns trechos, reincorporando o rio à cidade (33). Inclusive, havia a previsão da construção de um espelho d’água na Rua Mariano Torres, para lembrar a população do rio que corre logo embaixo. O projeto, no entanto, era muito custoso à prefeitura na época e não tinha cronograma previsto para o seu início. 

A imprensa envolve-se com a questão de revitalização do rio, com a publicação de reportagem pelo Jornal Gazeta do Povo com sugestões de seis soluções para salvar o rio Belém (33). As soluções iam do combate às ligações de esgotos clandestinas e do tratamento da água dentro do leito do rio ao envolvimento da população no projeto de revitalização. 

Muito mais do que obrigar os moradores a ligarem legalmente seus esgotos e conscientizar a população a não jogar quaisquer tipos de lixo no rio, é preciso educar a população de maneira que esta reconheça a importância histórica do rio e o preserve como um patrimônio natural da cidade. 

Rio Belém retificado passando pelo bairro Uberaba
Foto: Maurílio Cheli - Acervo: IPPUC

Notas:
(1) GARCEZ, Luiz Amando. Curitiba: Evolução Urbana. Curitiba: Imprensa Universitária da Universidade Federal do Paraná, 2006. p. 69.
(2)  Alfred Agache prestava consultoria à empresa Coimbra Bueno, que conquistou os contratos de elaboração de planos diretores para diversas cidades brasileiras oferecendo soluções de desenho urbano e saneamento ambiental após diagnóstico e análises urbanas, conforme metodologia contemporânea.
(3) GARCEZ, Luiz Amando. Curitiba: Evolução Urbana. Curitiba: Imprensa Universitária da Universidade Federal do Paraná, 2006. p. 74.
(4) Jornal Gazeta do Povo, 06 de agosto de 1970. Acervo da Casa da Memória. (sem página) Esse jornal pode ser encontrado na Casa da Memória de Curitiba através da busca por PAHI, RIO. Curitiba, [s. n] 1 pasta.
(5)Jornal Correio de Notícias, 15 de julho de 1978. Acervo da Casa da Memória. (sem página) Esse jornal pode ser encontrado na Casa da Memória de Curitiba através da busca por PAHI, RIO. Curitiba, [s. n] 1 pasta.
(6) Jornal O Estado do Paraná, 23 de maio de 1975. Acervo da Casa da Memória. (sem página) Esse jornal pode ser encontrado na Casa da Memória de Curitiba através da busca por PAHI, RIO. Curitiba, [s. n] 1 pasta.
(7) Jornal Gazeta do Povo, 25 de setembro de 1975. Acervo da Casa da Memória. (sem página) Esse jornal pode ser encontrado na Casa da Memória de Curitiba através da busca por PAHI, RIO. Curitiba, [s. n] 1 pasta.
(8) Jornal Gazeta do Povo, 09 de maio de 1975. Acervo da Casa da Memória. (sem página) Esse jornal pode ser encontrado na Casa da Memória de Curitiba através da busca por PAHI, RIO. Curitiba, [s. n] 1 pasta.
(9) Jornal A Voz do Paraná, 19 de julho de 1978. Acervo da Casa da Memória. (sem página) Esse jornal pode ser encontrado na Casa da Memória de Curitiba através da busca por PAHI, RIO. Curitiba, [s. n] 1 pasta.
(10) Jornal Correio de Notícias, 06 de agosto de 1977. Acervo da Casa da Memória. (sem página) Esse jornal pode ser encontrado na Casa da Memória de Curitiba através da busca por PAHI, RIO. Curitiba, [s. n] 1 pasta.
(11) Jornal Gazeta do Povo, 26 de fevereiro de 1977. Acervo da Casa da Memória. (sem página) Esse jornal pode ser encontrado na Casa da Memória de Curitiba através da busca por PAHI, RIO. Curitiba, [s. n] 1 pasta.
(12) Jornal Diário do Paraná, 29 de dezembro de 1978. Acervo da Casa da Memória. (sem página) Esse jornal pode ser encontrado na Casa da Memória de Curitiba através da busca por PAHI, RIO. Curitiba, [s. n] 1 pasta.
(13) Jornal Correio de Notícias, 14 de março de 1979. Acervo da Casa da Memória. p. 16.
(14) Jornal Correio de Notícias, 15 de julho de 1978. Acervo da Casa da Memória. (sem página) Esse jornal pode ser encontrado na Casa da Memória de Curitiba através da busca por PAHI, RIO. Curitiba, [s. n] 1 pasta.
(15) Jornal Diário do Paraná, 18 de Janeiro de 1980. Acervo da Casa da Memória. (sem página) Esse jornal pode ser encontrado na Casa da Memória de Curitiba através da busca por PAHI, RIO. Curitiba, [s. n] 1 pasta.
(16) Jornal Gazeta do Povo, 16 de outubro de 1982. Acervo da Casa da Memória. (sem página) Esse jornal pode ser encontrado na Casa da Memória de Curitiba através da busca por PAHI, RIO. Curitiba, [s. n] 1 pasta.
(17) Jornal Diário do Paraná, 27 de novembro de 1981. Acervo da Casa da Memória. (sem página) Esse jornal pode ser encontrado na Casa da Memória de Curitiba através da busca por PAHI, RIO. Curitiba, [s. n] 1 pasta.
(18)  Jornal Gazeta do Povo, 10 de julho de 1982. Acervo da Casa da Memória. (sem página) Esse jornal pode ser encontrado na Casa da Memória de Curitiba através da busca por PAHI, RIO. Curitiba, [s. n] 1 pasta.
(19)   Jornal Gazeta do Povo, 25 de julho de 1984. Acervo da Casa da Memória. (sem página) Esse jornal pode ser encontrado na Casa da Memória de Curitiba através da busca por PAHI, RIO. Curitiba, [s. n] 1 pasta.
(20) Jornal do Estado, 25 de janeiro de 1989. Acervo da Casa da Memória. (sem página) Esse jornal pode ser encontrado na Casa da Memória de Curitiba através da busca por PAHI, RIO. Curitiba, [s. n] 1 pasta.
(21)Jornal do Estado, 21 de janeiro de 1987. Acervo da Casa da Memória. (sem página) Esse jornal pode ser encontrado na Casa da Memória de Curitiba através da busca por PAHI, RIO. Curitiba, [s. n] 1 pasta.
(22) Dr. Urivald Pawlowsky era o então assessor da Secretaria do Meio Ambiente.
(23) Jornal Expresso, 17 de julho de 1991. Acervo da Casa as Memória. (sem página) Esse jornal pode ser encontrado na Casa da Memória de Curitiba através da busca por PAHI, RIO. Curitiba, [s. n] 1 pasta.
(24) A Bacia Norte abrange os bairros: São Francisco, Mercês, Bom Retiro, Pilarzinho, Abranches, São Lourenço, Ahú, Centro Cívico e Alto da Glória, se estendendo até o Passeio Público.
(25) Jornal Correio de Notícias, 5 de setembro de 1994. Acervo da Casa da Memória. (sem página) Esse jornal pode ser encontrado na Casa da Memória de Curitiba através da busca por PAHI, RIO. Curitiba, [s. n] 1 pasta.
(26) Jornal Gazeta do Povo, 9 de setembro de 1998. Acervo da Casa da Memória. (sem página) Esse jornal pode ser encontrado na Casa da Memória de Curitiba através da busca por PAHI, RIO. Curitiba, [s. n] 1 pasta.
(27) BILBAO, D. B. Relação entre estratificação socioeconômica da população residente e qualidade das águas na bacia do Rio Belém. 2007. 103 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Engenharia Ambiental) – Pontifícia Universidade Católica do Paraná, Curitiba, 2007.
(28)  DUARTE, Fábio.  Rastros de um rio urbano: cidade comunicada, cidade percebida. Disponível neste link.
(29)  Jornal Indústria e Comércio, 24 de abril de 2000. Acervo da Casa da Memória. (sem página) Esse jornal pode ser encontrado na Casa da Memória de Curitiba através da busca por PAHI, RIO. Curitiba, [s. n] 1 pasta.
(30)  Jornal Gazeta do Povo, 27 de junho de 2000. Acervo da Casa da Memória. (sem página) Esse jornal pode ser encontrado na Casa da Memória de Curitiba através da busca por PAHI, RIO. Curitiba, [s. n] 1 pasta.
(31)Jornal Gazeta do Povo, 8 de março de 2002. Acervo da Casa da Memória. (sem página) Esse jornal pode ser encontrado na Casa da Memória de Curitiba através da busca por PAHI, RIO. Curitiba, [s. n] 1 pasta.
(32)Jornal Gazeta do Povo, 15 de agosto de 2005. Acervo da Casa da Memória. (sem página) Esse jornal pode ser encontrado na Casa da Memória de Curitiba através da busca por PAHI, RIO. Curitiba, [s. n] 1 pasta.
(33) Jornal Gazeta do Povo, 16 de outubro de 2005. Acervo da Casa da Memória. (sem página) Esse jornal pode ser encontrado na Casa da Memória de Curitiba através da busca por PAHI, RIO. Curitiba, [s. n] 1 pasta.