segunda-feira, 14 de setembro de 2020

SUBINDO A SERRA DO MAR .... QUANDO ?

SUBINDO A SERRA DO MAR .... QUANDO ?



" ... só os arredores de Curitiba já contam com 1.000 alemães, cuja maioria mudou-se da colônia para lá ..."
Do 20º Relatório da Direção da Sociedade Colonizadora de 1849 em Hamburgo em dezembro de 1871, onde fazia-se referência aos muitos colonos que saiam da colônia Dona Francisca (Joinville) e seguiam para Curitiba em busca de melhores oportunidades e clima mais ameno.


“Os resultados satisfatórios alcançados na colonização das cercanias de Curitiba, atrairam ainda maior afluência de reimigrantes de outras regiões do Paraná e mesmo de outras Províncias, os quais se dispersaram pelas colônias já existentes ou formaram colônias particulares ou ou ingressaram nas atividades artesanais e industriais da cidade".
Pilatti Balhana, Pinheiro Machado, Westphalen - História do Paraná, Grafipar, 1969, pg. 168

Johann Friedrich Gerber casou em Curitiba com Albertine Bunde em 1875. Ele e parte da família Bunde, de quem falaremos brevemente,  sairam de Joinville em Santa Catarina  e se estabeleceram em Curitiba no Paraná.

Dos 3 irmãos Gerber, o único que foi morar em Curitiba, foi Johann Friedrich Gerber. Dos outros dois irmãos não tenho notícias. Todos os Gerber documentados na Igreja Luterana de Curitiba são descendentes de Johann Friedrich.

Quanto aos Bunde, apenas  Ferdinand e Carl Bunde subiram a Serra do Mar em direção ao planalto curitibano, com as respectivas famílias.

Quando eles teriam subido a serra ? 

É mais difícil precisar quando Johann Friedrich Gerber subiu a Serra. Ele estaria na colônia Dona Francisca (Joinville) até 1863 aos 13 anos de idade, quando foi feita a confirmação de seu batismo. Casou em Curitiba em 1875, portanto foi entre esse período que mudou de cidade, entre 1863 e 1875. Teria ido sozinho, acompanhando alguma família, talvez a própria família Bunde ? Não tenho idéia ....

A família Bunde ainda estava na colônia Dona Francisca (Joinville) em 1872. Nesse ano, Albertine foi madrinha de batismo do filho de Heinrich Bunde. 

O filho mais velho de Ferdinand, Friedrich Bunde,  precedeu a todos na ida a Curitiba. Em seu casamento em Joinville em 1872 declarou ser residente em Curitiba.  No mesmo ano nasceu, ainda em Joinville, sua irmã caçula Emilie Auguste. Foi a partir de 1872 que a família inteira se mudou para a capital paranaense.


de João Leão Pallière, sem data,  daqui

Para ir de Joinville, no litoral catarinense, para Curitiba, no 1º planalto paranaense, sobe-se a Serra do Mar. Nesse periodo, existiam alguns caminhos possíveis. Mas por qual deles vieram os Bunde e Johann Friedrich ?

A FAMÍLIA DE FERDINAND BUNDE

A FAMÍLIA DE FERDINAND BUNDE



Ferdinand Bunde desembarcou em 1869 com a mulher Caroline Lilye e 6 crianças. Desembarcaram com o casal a filha Wilhelmine com 16 anos, Wilhelm com 14, Carl com 12, Franz com 9, Johanne com 6 e Albert com 3 anos de idade.

Sophie Bunde, que na época contava com 62 anos de idade, nascida portanto em 1807, acompanhou o filho nessa jornada.

Caroline Lilye nasceu aproximadamente em 1829 e era de Semerow, Schiefelbein, Köslin, Pomerânia. Ela faleceu em Curitiba dia 04 de novembro de 1885, veja aqui.
Ferdinand nasceu aproximadamente em 1825 em Koseeger, Kolberg-Körlin, Pomerânia. Faleceu após sua mulher Caroline.
  
Os filhos do casal:

1. Wilhelmine Justine Friedrike, nascida em 1853 na Pomerânia. Wilhelmine casou em Curitiba dia 19 de outubro de 1878 com Christian Friedrich Vosgerau também nascido em 1853 e filho de Carl Johann Friedrich e Margaretha Catharine Dorothee geb. Gotsch. Foram padrinhos no casamento, Johann Vosgerau e Wilhelm Bunde  (irmão da noiva), veja aqui. Aqui a mãe da noiva é Caroline Lilye.

Christian Vosgerau foi declarante do óbito da sogra, Caroline Lilye, onde declarou ser pedreiro de profissão, aqui.

2. Wilhelm Bunde, nascido aproximadamente em 1855. Saiu de Curitiba e foi para Botucatu-SP onde casou na Catedral Sant'Ana em 07 de dezembro de 1886 com Benedikta Sauer, veja aqui. Provavelmente saiu de Curitiba em busca de trabalho na ferrovia, é interessante observar que em Botucatu existiu uma colonia de alemães. O casal teve ao menos 4 filhos, João (27.9.1887), Helena (23.2.1890), Eduardo (24.5.1893) e August. Wilhelm faleceu aos 44 anos de idade em Botucatu dia 10 de fevereiro de 1899. 

Um dos filhos do casal era August Bunde, nascido em Botucatu em 1892 (aproximadamente), ferroviário, casado em Itatinga-SP na Igreja São João Batista dia 06 de maio de 1916 com Joanna Marson veja aqui, falecido em Ourinhos-SP.

(Informações fornecidas por Rubens Damião, trisneto de Wilhelm, muito obrigada Rubens).

3. Carl Bunde, nascido aproximadamente em 1857.

4. Franz (ou Hans) Bunde, nascido em 05 de setembro de 1861, fez a confirmação (nº28) na Igreja Luterana de Curitiba em 09 de abril de 1876, veja aqui.

5. Johanna Bunde, nascida em 1862. Johanna casou na Igreja Luterana de Curitiba dia 18 de setembro de 1880 com Johann D. (Dellef ?) Vosgerau, nascido em ~1857, irmão e padrinho de casamento do marido de Wilhelmine Justine. Leia aqui

Duas irmãs casadas com dois irmãos. Wilhelmine Bunde & Christian Vosgerau e Johanna Bunde & Johann Vosgerau.

6. O último filho do casal Ferdinand Bunde e Caroline Lilye nascido na Pomerânia foi Albert. Nascido em 06 de julho de 1866.

Casou com Matilde Sauer, dia 30 de dezembro de 1893 na Paróquia de Sant'Anna em Botucatu, veja aqui e nessa pagina do site Geni. Uma  filha de Albert e Matilde, Josephina, nasceu em Botucatu dia 17 de novembro de 1895, veja aqui.

Mais dois irmãos casados com duas irmâs. Wilhelm Bunde & Benedita Sauer e Albert Bunde & Matilde Sauer.

7. Depois da chegada ao Brasil e ainda em Joinville, o casal teve mais uma menina. Em 24 de maio de 1872 nasceu Emilie Auguste Wilhelmine, que foi batizada na Igreja Luterana de Pirabeiraba em Joinville dia 16 de junho do mesmo ano, foram seus padrinhos Friedrich Bibow, Emilie Bunde (provavelmente a irmã de Albertine) e Bertha Bunde (a mulher de Friedrich). Na ocasião a família declarou residência em Piraythal. Veja aqui, reg, 203. 

Emilie casou dia 08 de julho de 1890 em Curitiba com o jovem Alwin Hermann Bräscher, nascido no Rio Grande do Sul em 1866, filho de Michel e Maria geb. Roth, foram padrinhos do casamento Abraham Glaser e Julius Koch, veja aqui.


Ferdinand e família mudaram da colônia Dona Francisca (Joinville) para Curitiba, para saber quando e como, clique aqui e aqui.



Foi indispensável para a organização das famílias de Carl Bunde e Ferdinand Bunde, o acesso às fichas de pesquisa do professor da UFPR, Sérgio Odilon Nadalin. Muito obrigada !

A FAMÍLIA DE CARL CHRISTIAN BUNDE

A FAMÍLIA DE CARL CHRISTIAN BUNDE


Carl Bunde chegou ao Brasil junto com Ferdinand Bunde, em 1869.  Desembarcou com a mulher Auguste e mais seis crianças: Friedrich com 21 anos, Albertine com 16 anos, Julius com 14 anos, Emilie com 12 anos, Albert com 8 anos e Alwine com 5.


1. Wilhelm Friedrich Ferdinand Bunde nascido em 31 de dezembro de 1847, em Koseeger, Kolberg-Körlin, Pomerânia. 
Precisou de licença militar para imigrar, veja aqui (lado esq). Sorte dele ano seguinte (1870) começaria a Guerra Franco-Prussiana.

Em dezembro de 1872 na Igreja Luterana de Joinville-Centro casou com Bertha Lasanke, nessa ocasião declarou que já residia em Curitiba. Bertha Lasanke nasceu dia 07 de setembro de 1847 na Pomerânia, filha de Ludwig e Friedrike. Foram padrinhos do casamento Ferdinand (ilegível) e Auguste Langesmann, veja aqui (pg. 89).




O casal teve os filhos: 
- Luize (nascida em São Francisco do Sul em 17.3.1871 ? e casada em Curitiba dia 04 de maio de 1889 com Leopoldino de Oliveira Franco, com quem teve Francisca, Alberto, Leopoldino, Jovina, Walfrido, Ernestina - todos batizados na Catedral de Curitiba).
- Albert (nascido em Curitiba dia 14.3.1873 e casado com Rosaline Schulz), cunhado de Leonard Robert, veja aqui.
- Marie Theresia (nascida em Curitiba dia 06.4.1875 e casada com Emil Póplon),
- Franciska (nascida em Curitiba dia 20.5.1878), 
- Helene (nascida em Curitiba dia 14.2.1881 e falecida em 28.8.1954) , 
- Carl Friedrich (nascido em Curitiba dia 17.2.1885 e casado com Adelhaide Born) e
- Ernest Ewald (nascido em Curitiba, dia 15.06.1887 e falecido em 1891, aqui)

2. Albertine Auguste Caroline, minha trisavó, em seu casamento na Igreja Luterana de  Curitiba em 1875,  o pastor anotou ser filha de Christian Bunde e de Sophie Krüger. 



Para saber mais sobre Albertine, seu marido e seus filhos, clique aqui e leia também as postagens seguintes.

Albertine

3. Julius Johann Carl Bunde nascido em Koseeger em 15 de junho de 1855, casou com Margarida Chyla em Curitiba, no cartório do Bacacheri, dia 30 de janeiro de 1892, veja aquiNa ocasião afirmou que  era filho de Carlos Ludovico Bunde e de Henriqueta Ulrica Caroline. 

No casamento ele declarou ser oleiro. Até hoje no bairro do Bacacheri existe um indústria cerâmica centenária, a Colle SA, Cerâmica São Marcos de 1871, para ver fotos, clique aqui e aqui.


Julius casou na Catedral de Curitiba com Margarida, dia 25 de janeiro de 1892, veja aqui, num casamento misto, onde declarou ser filho de Carlos e Carolina Bunde. (Que confusão de nomes !!)


Com Margarida, Julius teve ao menos 3 filhos:

Augusto, nascido em 11 de março de 1893
Alvina, nascida em 4 de agosto de 1894
Anna, nascida em 23 de junho de 1896

Nascimento de Bernardo Bunde em ago 1909, aqui.


4. Caroline Emilie Wilhelmine, nasceu em 29 de janeiro de 1858. Hermann Bunde, nascido em 18 de outubro de 1880 e casado com Anna Weigert, é filho de Emílie Bunde, a confirmar.



5. Em 21 de março de 1875, na Igreja Luterana de Curitiba, Albert Friedrich Heinrich , nascido em 8 de junho de 1861, então com 14 anos de idade, fez a confirmação de seu batismo. Na ocasião o pastor registrou que era filho de Christian Bunde e Dorothee Sophie Krüger, os mesmos pais de Albertine, veja aqui.





Albert casou em Salto de Itú-SP pelas mãos do pastor Zink (itinerante) dia 26 de junho de 1885 com Anna Meta Auguste Kohlmann. Na ocasião declarou que era nascido em Koslin. Ele residia em Itú-SP na rua do Commércio ela em Salto-SP. O noivo declarou como pais Carl Bunde e Auguste Lilye. Veja o registro do casamento aqui (reg 317).


6. Alwine Auguste Henriette Bunde, nascida em 08 de maio de 1864.  Casou em Curitiba dia 21 de dezembro de 1884 com o tipógrafo Julius Koch. Julius era filho de Otto e Sophie geb. Schröder e nascido em 1865 na Bahia, veja aquiForam padrinhos do casamento, Leonardo da Silva Lopes e Georg Dechand. 

Ela faleceu em 16 de agosto de 1891 aos 27 anos de idade, veja aqui e aqui, de febre puerperal, deixando um filho, Otto (*14 de março de 1885, aqui). Julius faleceu em 26 de junho de 1926, veja aqui.



Os pais dos jovens acima faleceram em Curitiba. A mãe, Auguste (também Dorothee Sophie Henriette Ulrich Caroline !!) faleceu dia 30 de outubro de 1898, veja aqui, com 75 anos de idade, nascida portanto perte de 1823.

O nome da mulher de Carl Bunde é uma mistério. Em alguns documentos (da Igreja Luterana de Curitiba) aparece como Krüger, em outros (Casamento do filho Albert e na Permissão para Imigração, aqui ) aparece como Lilge. Parecido com Lilye, não ? Sobrenome da cunhada ... serão irmãs ?

Seu marido, Carl Christian Bunde  faleceu quase 6 anos depois, dia 29 de fevereiro de 1904, veja aqui e aqui, com 81 anos de idade, Carl era nascido em 2 de dezembro de 1823, veja aqui.

O filho mais velho de Carl Christian, Friedrich Bunde,  precedeu a todos na ida a Curitiba. Voltou para Joinville em 1872 a fim de celebrar seu casamento. A partir dessa data a família inteira se mudou para a capital paranaense, para saber quando e como, clique aqui e aqui.

Se você tiver fotos das famílias e quiser compartilhar, eu agradeço e muito ... :)

Foi indispensável para a organização das famílias de Carl Bunde e Ferdinand Bunde, o acesso às fichas de pesquisa do professor da UFPR, Sérgio Odilon Nadalin. Muito obrigada !

Obrigada Rubens, pelas fichas de Permissão de Imigração aqui.

OS ROBERT E A ESTRADA DE FERRO

OS ROBERT E A ESTRADA DE FERRO





Fenda da Garganta, a primeira foto do livro Rebouças o bairro da harmonia, a segunda daqui.

Como já vimos, a família de Jacques Robert chegou ao Brasil em 1873. Adquiriu um lote na Colônia Argelina, atual bairro Bacacheri em Curitiba, cuja finalidade principal era o abastecimento de horti-fruti da região metropolitana. De uma vida urbana na França, com trabalho em minas de carvão, a família passaria a trabalhar com agricultura no Brasil.
                      
Apenas 3 anos após a chegada da família ao Brasil, no relatório provincial de 15 de fevereiro de 1876, lemos que "os colonos em sua maior parte estranhos a lavoura e dados à vida ociosa, não podiam prosperar, principalmente estabelecidos em um terreno ingrato e limitadíssimo e só com insano trabalho para adubá-lo dificilmente produziria alguma coisa". (grifo meu, para ler o relatório na integra, clique aqui.)

Foi necessário a busca de novas alternativas de trabalho, o que pode ter acontecido pela improdutividade do terreno como visto acima ou pela não adaptação da família à vida rural.

Desde os anos 1870 começou a se pensar e articular a construção de uma estrada de ferro que ligasse o litoral à capital paranaense, para transporte de passageiros e escoamento da produção da erva-mate e da madeira. Depois de muitas idas e vindas, mudanças de construtores e traçado, em 1879 a "Compagnie Générale de Chemins de Fér Brésiliens” recebeu a concessão para a construção da primeira estrada de ferro do Paraná, a estrada de ferro Curitiba-Paranaguá.

Para saber mais clique aquiaqui e aqui.

Autores diferentes fornecem informações diferentes: Segundo Kroetz, a “Chemins de Fér” contratou a "Société Anonyme de travaux Dyle et Bacalan" para realizar as obras.

No ano seguinte, em 1880, começou o trabalho.



O prédio maior ao fundo é a estação ferroviária de Curitiba, em foto de 1883. Do livro de Eduardo Emílio Fenianos, Rebouças: o bairro da harmonia.

Abaixo, as oficinas em foto de 1905, da coleção da prof. Júlia Wanderley, daqui.


A Estação Ferroviária, sem data, provavelmente início do séc. XX, ao fundo o teto das oficinas, daqui.

Segundo a tradição familiar, o imigrante francês Jacques Robert (meu trisavô) trabalhou na construção do trecho Curitiba-Paranaguá. Continuando a construção da malha ferroviária do Paraná trabalharam também o filho mais velho Leonard Robert, o filho Antônio Robert (meu bisavô) e o neto Fernandes Robert (meu avô, nas oficinas).
Eles trabalharam na ferrovia em períodos diferentes:

Jacques de 1880 até seu falecimento em 1907, 
Leonard, provavelmente começou a trabalhar na estrada de ferro junto com o pai Jacques, já que na ocasião contava com 16 anos de idade, trabalhou até seu falecimento em 1907,
os filhos de Leonard: Leonardo, veja aqui,  Jorge Eugênio, veja aqui e aqui e também Luiz Robert, telegrafista, veja aqui.
Antônio por toda a vida, provavelmente de 1890 até 1923, 
meu avô Fernandes por algum tempo, provavelmente de 1913 até 1920,
provavelmente Geraldo Robert, o segundo filho de Antônio e irmão de Fernandes, mecânico em Guajuvira, veja aqui.


Estação de Guajuvira, no centro da foto, escura com placa branca, 1923, foto daqui

Também trabalharam na estrada de ferro:

Alberto Bunde, maquinista, cunhado de Leonard Robert, marido de Rosalina Schultz. Para saber um pouco mais sobre maquinistas e foguistas, leia aqui.
André Legat, marido de Claudine Robert, filha de Jacques, aqui.
Friedrich Gerber, irmão de Helene Gerber e cunhado de Antônio Robert, veja aqui
provavelmente Wilhelm Gerber (Guilherme), outro irmão de Helene também, já que declarou ser mecânico em seu casamento, veja aqui.

Em pesquisa à Inventariança da extinta RFFSA, que encampou todas as companhias ferroviárias anteriores, não encontrei nenhuma referência ao sobrenome Robert no acervo de pessoal em Curitiba. 
Provavelmente Jacques, Leonard, Antônio e Fernandes Robert foram empregados da "Société Anonyme de travaux Dyle et Bacalan" ou da própria "Compagnie Générale de Chemis de Fér Brésiliens”. Segundo informações obtidas essa documentação estaria no Arquivo Nacional, no Rio de Janeiro.


JACQUES NA ESTRADA DE FERRO CURITIBA-PARANAGUÁ

JACQUES NA ESTRADA DE FERRO CURITIBA-PARANAGUÁ


Segundo a tradição familiar, Jacques Robert teria trabalhado na construção da estrada de ferro Curitiba-Paranaguá, que liga o primeiro planalto ao litoral, cerca de 100 km. de distância.

Como já citado, não foram encontradas referências ao sobrenome Robert na Inventariança da RFFSA. Jacques Robert, filhos e netos, provavelmente foram empregados na "Société Anonyme de travaux Dyle et Bacalan", na "Compagnie Générale de Chemis de Fér Brésiliens”, em alguma empreiteira ou sub-empreiteira.

A construção da estrada foi dividida em três frentes de trabalho, iniciadas quase simultaneamente em 1880. Não se sabe em qual ou quais destes trechos Jacques Robert trabalhou.
Posso palpitar ? Pela atividade profissional de Jacques Robert na França, mineiro, acho grande a probabilidade dele ter trabalhado na abertura de túneis, já que esse profissional era bastante requisitado para esse trabalho também nas ferrovias. "A falta de mineiros, por exemplo, aparecia com frequência entre as queixas dos engenheiros". Lamounier, M.L. - Ferrovias e ..., pg. 187. Cabendo-lhe, então, o segundo trecho da obra. Palpite dado.
Mapa do segundo trecho - mapa completo e mais informações aqui

primeira frente com 42 km entre Paranaguá e Morretes era “alagadiça, insalubre e cheia de manguezais”, foi inaugurada em 17 de novembro de 1883.


cicatrizes na serra provocadas pela construção da estrada, a esquerda viaduto do Carvalho

segundo trecho com 38 km, entre Morretes e Roça Nova , a transposição da Serra do Mar, o trecho de construção mais difícil e desafiador, “maravilhosa obra, que sem dúvida, é a glória da engenharia brasileira”.


Foto daqui

Abertura do túnel 1 no Pico do Diabo, foto daqui

detalhe

Corte no Cadeado, essa foto e a anterior do blog de Paulo José da Costa

terceiro e último trecho, já no planalto curitibano.


Piraquara, no planalto curitibano

A construção da ferrovia teve início com o levantamento topográfico. A seguir pela abertura da picada pela mata atlântica, pelo desmatamento propriamente dito, destocamento, terraplanagem com cortes e aterros, transposição de bueiros, pontes e pontilhões. Por último a colocação de dormentes e trilhos.

Começou com 4.000 homens, mas logo foram contratados outros 5.000, num total de 9.000 homens. Pelas adversidades do clima e geografia, pelo calor e umidade, pelos pântanos e serras, pelas doenças endêmicas como febre amarela, tifo e malária, pelos acidentes, 1/3 desse total estava sempre  recuperando a saúde.

A maioria deles morava em Curitiba e eram lavradores, como Jacques Robert.

A estrada inteira foi entregue ao tráfego regular dia 05 de fevereiro de 1885, cinco anos após o início de sua construção.

Sua extensão  é de 110,915 km., possui várias obras de arte, entre elas 15 tuneis, 28 pontes metálicas e 4 viadutos, de onde se destaca a ponte São João, a mais conhecida com 4 vãos e altura de 55 metros, o Viaduto Carvalho, assentado sobre 5 pilares de alvenaria na própria rocha e com 5 vãos e o Túnel Roça Nova com 457 metros de comprimento.

Um pouco sobre a vida dos trabalhadores na construção, leia aqui.

Sobre as fotos: Em 1883, Marc Ferrez fotografou a ferrovia Curitiba-Paranaguá durante sua construção. Esse pequeno album com 14 fotos foi presenteado ao Imperador D. Pedro II e faz parte da Coleção Thereza Cristina da Biblioteca Nacional. Para ver essas lindas fotos clique aqui,  aqui e aqui.

Outras lindas fotos, do fotografo Artur Wischral, do ano de 1929, clique aqui.


Quatro álbuns fotográficos da estrada em épocas diferentes, Ferres, Kopf, Wischral e Hegenberg, clique aqui.

Site muito legal sobre a construção da estrada, com muitas informações e fotos, aqui.

Quer passear nessa ferrovia ? Atualmente a concessão é da ALL, a responsável pelo passeio turístico é a Serra Verde Express.

Viaduto do  Carvalho, daqui

ANTÔNIO ROBERT NA ESTRADA DE FERRO

ANTÔNIO ROBERT NA ESTRADA DE FERRO


Em 1880, quando teve inicio a construção da ferrovia Curitiba-Paranaguá, Antônio Robert estava com apenas 5 anos de idade. Os meninos começavam cedo a trabalhar na estrada (meu avô Fernandes começou com 13 anos), então provavelmente Antônio foi para a estrada de ferro aproximadamente em 1890.



Jornal A República, Curitiba, 13 de setembro de 1890, pg.4, ed. 213, aqui.

Em 1900, com certeza, Antônio Robert já estava trabalhando na ferrovia, veja no seu registro de casamento, aqui.

Em 1882 a "Compagnie Générale de Chemis de Fér Brésiliens” recebeu a concessão para construção de mais alguns trechos. Mas realizou apenas parte do que foi concedido, o prolongamento Curitiba-Ponta Grossa e mais os ramais de Rio Negro e Porto Amazonas.

Em 1887 começou a construção  do ramal entre Morretes e Antonina com 16 km., inaugurado em 1892, hoje dasativado.

Em 1890 foi inaugurado o trecho Curitiba-Serrinha

Em 1891 Serrinha-Lapa

Em 1892 Morretes-Antonina

Ainda em 1892 o trecho Serrinha-Restinga Seca


Ponte dos Arcos, sobre o rio dos Papagaios,
entre os trechos Serrinha-Tamanduá


Em 1894 Lapa-Rio Negro

Provavelmente na abertura desses trechos trabalhou Jacques Robert e em parte deles o filho Antônio.



O mapa acima é dos trechos ferroviários no Paraná em 1898, da Revista Brasileira de Geografia, n° 16, ano 1954. Para mais informações clique aqui e aqui.

A partir de 1893 começou a construção da segunda malha ferroviária, e a entrega dos trechos:

Em 1905 Ponta Grossa-União da Vitória (Estrada de Ferro São Paulo-Rio Grande).

Em 1908 Ponta Grossa-Itararé

Em 1909 Curitiba-Rio Branco

Jacques Robert trabalhou na ferrovia de 1880 até 1907, ano de seu falecimento.

Seu filho, Antônio Robert, trabalhou nas oficinas ferroviárias e talvez tenha trabalhado abrindo trechos, também. Não sei exatamente por quanto tempo trabalhou em cada uma dessas duas atividades especificamente. Sei apenas que em ~1915 ele estava nas oficinas.

IMPORTANTE: Existia uma foto na casa de minha avó Estela, mulher de Fernandes Robert, em que apareciam Jacques e outros Robert com pás e enxadas trabalhando na abertura de ferrovia. Não sei onde está essa foto, parece que ela deu para alguém. Se você souber, por favor, consegue arrumar uma cópia ?? ....


Estação Ferroviária - Curitiba - Pç Eufrásio Correa - 1907 - daqui