sexta-feira, 24 de maio de 2024

Servindo como parte da cavalaria de elite do Império Bizantino os catafractários eram a epítome da cavalaria pesada durante a Alta Idade Média

 Servindo como parte da cavalaria de elite do Império Bizantino os catafractários eram a epítome da cavalaria pesada durante a Alta Idade Média


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Servindo como parte da cavalaria de elite do Império Bizantino durante quase todo o seu longo tempo de emprego, os catafractários eram a epítome da cavalaria pesada durante a Alta Idade Média, mas também ultrapassaram o período para serem utilizados ao longo de grande parte da história bizantina.

Os catafractários bizantinos, dessa forma, fizeram parte da elite do exército imperial, atuando em diversas batalhas para estender os interesses do Império Bizantino, e possuindo um histórico de serviço ímpar durante toda a sua história

A palavra “catafractário” vem do grego “katafraktos”, que significa “completamente protegido” ou “usando armadura completa”.

Os catafractários bizantinos, em si, eram reminiscentes da cavalaria pesada do Império Romano tardio.
Essa estrutura de cavalaria, no entanto, não era algo nativo de Roma.

O uso da cavalaria como um dos ramos principais de combate surgiu, originalmente, na Pérsia, adaptado da cavalaria cita e sármata das estepes eurasianas.

O tipo de armadura usada pelos cavaleiros sármatas, de fato, lembra vagamente o estilo usado por persas e, futuramente, pelos bizantinos. Roma, dessa forma, entrou em contato com a cavalaria pesada persa em seus diversos conflitos contra os selêucidas, partas e sassânidas.

Desde então, os catafractários se misturaram com a classe de cavalaria romana, os equites,mas tomaram um novo contorno com a ascensão do Império Bizantino.

Já no fim do Império Romano, os catafractários estavam caindo em desuso, e no Império Bizantino eles não foram mencionados como uma unidade própria a partir do fim do século VI.

No entanto, entre os séculos IX e X, eles ressurgiram de acordo com a mudança de foco militar no Império Bizantino: de uma doutrina de guerra defensiva para uma doutrina ofensiva.

A partir disso, eles se tornaram uma das forças de cavalaria mais temidas e eficazes de seu tempo.

Uma das partes mais características dos catafractários bizantinos era sua armadura. Geralmente, eles utilizavam uma cota de malha seguida de uma armadura escamada ou lamelada de aço.

Em alguns outros casos, eles também poderiam utilizar uma armadura acolchoada por cima da cota de malha.
Os capacetes eram redondos e simples, e o pescoço dos cavaleiros geralmente era protegido pela cota de malha que se conectava ao seu capacete.

Nos antebraços e canelas, eles utilizavam placas de metal interconectadas.
Os cavalos também possuíam armadura, cobertos com placas lameladas de couro bovino.

Como armas, os catafractários geralmente utilizavam uma lança longa e uma espada ou maça. Ocasionalmente, eles também poderiam empregar escudos para proteção contra ataques, que poderiam ter um formato redondo ou em gota.

Apesar de serem a força de elite da cavalaria bizantina, os catafractários não eram utilizados no início do combate, mas esperavam na reserva o momento certo para atacarem.

Esses catafractários lutavam em conjunto com a cavalaria mercenária, normalmente vindo das estepes eurasianas, e que tradicionalmente lutavam como cavalaria arqueira.

Inicialmente, o combate se deflagraria com os avanços desses mercenários das estepes, que atirariam flechas contra o inimigo e retornariam para as suas formações

Ao contrário da prática comum da cavalaria europeia tardia, os catafractários não utilizavam cargas de cavalaria, mas avançavam contra as fileiras inimigas a médio trote, golpeando os já enfraquecidos adversários na batalha.

No entanto, devido à rigidez da formação desse tipo de cavalaria, e igualmente difícil manobrabilidade, essa carga deveria ser um momento único que serviria como o golpe final contra os inimigos.

Em algumas ocasiões, porém, essa estratégia poderia não concluir em uma vitória, e o exército do oponente poderia continuar em condições de luta.

Portanto, uma outra formação de catafractários era geralmente recomendada em manuais militares bizantinos, caso o primeiro ataque não servisse para concluir a batalha.

Os catafractários se organizavam em formação de cunha, que não possuía uma ponta. Invariavelmente, essa sempre era a formação da cavalaria pesada bizantina e, em alguns casos, os catafractários também poderiam servir para explorar brechas nas formações inimigas ou, até mesmo, ir diretamente contra um alvo de grande importância, como o rei ou general do exército adversário.

Esses ataques, seja contra um alvo específico ou para enfraquecer as forças de seu oponente no campo de batalha, geralmente eram conduzidos pelos flancos.

Existe uma controvérsia entre os catafractários e os clibanários no Império Bizantino, já que esses dois termos eram utilizados para designar cavalaria pesada.

Não se sabe ao certo se os clibanários eram uma unidade separada ou se eram exatamente os mesmos que os catafractários, somente com outra designação.
De qualquer forma, é provável que seu equipamento seja o mesmo, independente da possível diferença.

Entre algumas das batalhas que os catafractários bizantinos participaram, estão a Batalha de Lalakaon e a Batalha de Alexandretta.

A Batalha de Lalakaon ocorreu em 3 de setembro de 863, no Rio Lalakaon, na região da Paflagônia.
A batalha ocorreu durante os conflitos entre os emirados semi-independentes que se desvencilharam parcialmente do Califado Abássida, então em período de decadência, contra um Império Bizantino aparentemente vulnerável devido à expansão islâmica inicial.

O confronto ocorreu após uma incursão de saque promovida por Umar al-Aqta, emir de Melitene que, ao invés de cessar a sua ofensiva após ter conseguido o butim, insistiu em uma invasão contra o território bizantino na Anatólia.

O imperador Michael III confrontou essa força, mas não foi o suficiente para dispersá-los completamente.
Enquanto os árabes continuavam seus saques, o imperador mais uma vez reuniu suas forças com os generais Petronas, seu tio, e Nasar, líder do Tema da Bucelária.

Cada um desses generais comandava seu próprio contingente, e eles iriam emboscar o exército árabe em um ataque triplo.

Apesar da difícil coordenação do exército, a formação desejada foi alcançada.
Umar al-Aqta viu-se cercado, tentando tomar uma colina próxima de importância estratégica, mas fracassou.

Dessa forma, sua única chance de saída era tentar ultrapassar uma das formações que os cercavam, e ele coordenou um ataque em conjunto no flanco direito, comandado por Petronas.

Isso deixou as formações árabes vulneráveis, e o restante do exército bizantino atacou em conjunto para o flanco esquerdo e a retaguarda exposta de seu oponente.

Boa parte do contingente árabe morreu em batalha, incluindo o próprio Umar al-Aqta, e somente um pequeno contingente comandado pelo seu filho conseguiu escapar, mas ele foi futuramente capturado.

Aproveitando os frutos da vitória, os bizantinos lançaram uma expedição contra a Armênia e saíram como vencedores, iniciando um ressurgimento no poder ofensivo do Império Bizantino e abrindo o caminho para sua nova afirmação como potência regional, e iniciando um período de ofensivas bizantinas contra o oriente

A Batalha de Alexandretta ocorreu no fim da primavera de 971, sendo um embate que envolveu o Califado Fatímida e o Império Bizantino.

A batalha ocorreu durante uma tentativa dos fatímidas de recuperar a cidade de Antioquia, tomada pelos bizantinos em 969.

Naquele mesmo ano, o imperador Nikephoros II Phokas foi assassinado, anunciando um período de instabilidade, e possibilitando a ofensiva fatímida, que sitiou Antioquia pouco tempo depois.

O assassino e então imperador, Ioannes I Tzimiskes, foi incapaz de intervir pessoalmente no cerco devido à ameaça de Sviatoslav I de Kiev, que estava marchando com suas tropas contra Constantinopla.

Para solucionar o problema do cerco, o imperador então envia seus eunucos, comandado pelo patrício Nicholas.

No caminho para Antióquia, um destacamento de berberes à serviço dos fatímidas, comandado por Ibn az-Zayyat, foi em direção à Alexandretta, onde a força de alívio bizantino estava acampando.
Nicholas, dessa forma, esvaziou o seu acampamento e se preparou para uma emboscada.

Quando os berberes, desavisados, começaram a tomar o butim, foram atacados pelos bizantinos.
O ataque surpresa foi devastador, e muitos muçulmanos foram mortos, enquanto Ibn az-Zayyat escapou.

A vitória bizantina em Alexandretta foi fundamental para que a moral fatímida fosse abalada, o suficiente para que eles desistissem do cerco contra Antioquia, que permaneceu em poder bizantino.

Não se sabe exatamente quando o Império Bizantino deixou de usar os catafractários em suas fileiras.

Apesar disso, eles já estavam entrando em desuso entre os séculos XI e XII, com o último registro do termo catafractário ocorrendo em 1001, avisando que eles estavam cumprindo dever de guarnição.

No entanto, houve um novo ressurgimento dos catafractários ao longo do século XI, na Restauração Comnena, quando o imperador Aleixo I Comneno transformou novamente o Império Bizantino em uma potência militar em um poderio que emulava as reformas de Justiniano I.

Mesmo participando dessas reformas, o papel dos catafractários foi cada vez mais reduzido, tendo seu protagonismo substituído por outros tipos mais avançados de cavalaria pesada.

Isso, no entanto, não quer dizer que eles deixaram de servir completamente como uma unidade militar bizantina, e o período até onde eles foram utilizados ainda permanece incerto.

É possível, entretanto, que o último suspiro do catafractário bizantino tenha ocorrido juntamente com o fim próprio império, em 1453, durante a queda de Constantinopla, já que os defensores da cidade foram obrigados a se equipar com tecnologia arcaica.

Tradicionais cavaleiros que foram os últimos de um estilo que se remonta aos antigos persas, os catafractários bizantinos não só se estabeleceram como a cavalaria pesada mais eficaz de seu tempo, mas sua presença no campo de batalha era capaz de trazer a vitória com um último e potente golpe.

Mesmo tendo sido superados tecnologicamente por outros cavaleiros, os catafractários se mantiveram em uso, ainda que raros, tentando manter, ainda que sem considerável sucesso, a supremacia do Império Bizantino ao longo da sua decadência na história.

Autor:
✍🏽 Daniel Pradera
📚Fontes:
HEATH, I. Byzantine armies 886-1118. Reino Unido: Osprey Publishing, 1979. 48 p.
HALDON, J. F. The byzantine wars: battles and campaigns of the byzantine era. Reino Unido: The History Press, 2001. 240 p.
HALDON, J. F. Warfare, State and society in the byzantine world 565-1204. Reino Unido: Routledge, 1999. 389 p.
JENKINS, R. Byzantium: the imperial centuries, AD 610-1071. Canadá: University of Toronto Press, 1987. 400 p. 

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