Édith Piaf, ou se preferir... a menina do dedo podre!
Olá Curiosos, peguem os lenços, pois a história que vou contar agora é grandiosa nos fatos e também na tristeza. Uma das fases finais da vida dessa cantora ela canta: "Não, eu não me arrependo de nada" (Non, ne Je Regrette Rien) e não se arrependeu mesmo. Édith Giovanna Gassion, ou simplesmente Édith Piaf. Ela nasceu em 19 de dezembro de 1915. Sabe aquelas pessoas que a vida toda quer tirar uma sina do seu destino, mas o destino não deixa? Assim era a vida de Édith. Ser uma cantora mundialmente famosa era o improvável. Não pelo seu brilhantismo ou sua voz afinadíssima, mas pelo seu histórico de vida que a empurrava para outros caminhos. Sendo redundante como eu gosto de ser, vamos começar pelo começo?
Se alguém falar com você sobre boa música e quiser impressionar, basta falar sobre Piaf, pronto, não há crítico musical no mundo que a condenasse ou a desequilibrasse mesmo com a vida cheia de poréns.
Edith já nasceu morrendo, não sendo poética com essa afirmação. Foi uma criança que cresceu em um lar desestruturado, sua mãe era cantora também, filha de imigrantes, teve a filha nas calçadas da Rua Belleville em frente ao número 72, quando acompanhava o marido, que era acrobata de Circo Mambebe. Ela chegou a ser levada e encaminhada ao Hospital em Belleville, onde foi registrada, sem o Piaf, que só recebeu muitos anos depois, que é o nome de um pardal e o recebeu por simbolizar sua liberdade. Ela era mesmo um pássaro livre e apesar do estilo de música que lhe rendeu fama ser o "Chanson", que é um estilo mais interpretativo emocionalmente, vamos comparar ao tango argentino, para cantá-lo era preciso vir algo do âmago, um dom especial precisava ter. Você não vai na esquina come um açaí e volta cantando "Chamson", tem que ter algo revirado lá dentro, e em Piaf, estava tudo revirado.
Pra começar, seus pais brigavam muito. Os dois com alma boêmia, artistas com dificuldades financeiras em uma época que Maria da Penha, nem sonhava em nascer. Então após brigas e agressões, se separaram. Sua mãe decidiu ir para a prostituição e o pai decidiu levar Edith para morar na companhia da sua avó materna. Tem colinho melhor que o da vovó? Como toda regra tem exceções, nesse caso, qualquer lugar era melhor que a casa da vovó. Sua avó era dona de um prostíbulo, Piaf cresceu em meio aos quartos do bordel, sofrendo maus tratos, apanhando muito e sem estudar. Em algumas entrevistas depois ela agradeceu a avó por todas as cicatrizes que levava na alma, dizia que sem elas, não seria possível cantar a dor. (Olha que história de pegar o limão e esfregar no olho né? Pois não dá nem pra fazer limomada). Mas, calma, engole o choro que vem muito mais por aí.
Seu pai foi pra guerra e quando voltou ficou chocado com a situação da menina. Sem comer há vários dias, com hematomas pelo corpo devido às surras e visivelmente traumatizada, a avó a alimentava com vinho, dizia que era para matar os micróbios do corpo, seu pai a leva para outro lugar que poderia ser um plano B, mas, parecia que tudo conspirava pra dar errado na vida de Édith. Ele a levou para o bordel onde a mãe trabalhava e as prostitutas que estivessem livres a educavam enquanto a mãe ralava, inclusive havia uma dessas que ela tinha uma estima especial, que por ter tido poliomielite, tinha poucos clientes e era quem passava mais tempo com Édith. Seu nome era Titi e ela lembrava-se da Titi, como o rosto materno no final da vida. E ser criada em um bordel não devia ser nenhum 
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, mas as meretrizes ensinaram a Édith bons modos, idiomas, catolicismo, hábitos de leitura e a escrever. Ela chegou a ter uma meningite que gerou uma infecção muito grave nos olhos que a cegou por um tempo e as "meninas" fizeram até uma peregrinação à Igreja de Lisieux e uma novena por sua cura, deixando o prostíbulo fechado por nove dias.
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O pai ao saber disso, busca a menina, que vai contra sua vontade, pois apesar de não ser o lugar ideal para uma criança, ali sentia-se amada e segura.
Seu pai a leva para as ruas com ele, afinal, ele era um artista de rua. Ela acaba gostando da vida com o pai, mas não tinha nenhum talento acrobata como o do seu pai e acabava sendo só uma menina que cada noite dormia em um lugar, ou em um circo ou nas ruas mesmo. Mas, aos nove anos de idade, sua vida começa a mudar, é quando ela descobre seu dom musical. Ela passava o chapéu para o pai para receber as moedas, até que uma pessoa do público disse que ele usava a menina para desculpa para ganhar mais, pois a menina não sabia fazer nada, e Piaf canta em público pela primeira vez "La Marseillaise", que é o Hino Nacional Francês, estão vendo como a escola da vida ensina?
Pois bem, as "meninas" ensinaram e o público ficou maravilhado com a voz doce de Piaf. E seu pai ficou muito orgulhoso e acrescentou Édith em suas apresentações, mas, quando Édith começou a crescer, por volta dos quinze anos de idade, seu pai começou a perceber o quanto ela cantava parecido com a mãe e passou um filme em sua cabeça. Essa menina vai acabar na prostituição, como a mãe e a avó, se eu não fizer algo. Está no D.N.A dela. E o que o pai faz? Arruma um pretendente a marido pra Piaf, assim, ela seria socialmente aceita, dentro dos anais da sociedade francesa conservadora. Mas, Edith não era uma mulher comum, era um pardal como o apelido que ganhou depois, logo, livrou-se do pretendente e foi morar em Montmartre, famoso bairro Francês onde a arte fala em cada esquina, com uma amiga cantora chamada Simone. Mas, Piaf tinha um pezinho Marilía Mendonça na vida, gostava de uma sofrência e acreditava no amor verdadeiro (coisa de sagitariano, achar que tudo é pra sempre). Pois bem, aos dezesseis anos ela se apaixona por um boy magia, larga a Simone e vai viver esse amor, mas esse amor era abusivo, agressivo, mas ela estava tão acostumada com a falta de amor que qualquer migalha pra ela era legal e ela começa a ser a menina do dedo podre já na primeira relação que dura dois anos, ela chega a engravidar aos dezessete anos, tem uma filhinha chamada Marcelle, mas separa-se do marido, pois ela percebeu que o marido queria a mesma coisa que o pai dela queria, que ela não cantasse, não tivesse voz, que se cantasse na noite seria considerada prostituta e ele era um entregador de baguetes, acordava muito cedo e não podia acompanhá-la. Édith chuta o balde, deixa marido, baguete e até a filha pra trás, e depois de alguns meses tenta buscar a filha, sem sucesso. Quando volta um ano depois para buscá-la, a menina já havia morrido de uma meningite meningocócica repentina, com dois anos de idade. Essa notícia foi avassaladora na vida de Édith.
E nessa fase ela conhece Albert, um dos relacionamentos mais destruidores da sua vida.
A menina do dedo podre II - A vingança.
Albert era cafetão e toda grana que entrava nos bares Édith lhe dava, ele tinha um bar e ela fazia a renda do bar. Mas, o movimento do bar cai e Albert começa a apertar Édith.
- Gata, tu tá cantando mal, o povo não tá soltando a grana.
- Não, Albert, eu canto pra caramba, sou afinadíssima e te dou tudo o que eu ganho.
- É pouco!
- Pouca é a sua vergonha na cara de me dizer isso.
- É pouco sim, a partir de amanhã, vai começar a se prostituir ou vai partir.
- Vou partir sua cara, mas não vou me prostituir. Eu prefiro morrer que me prostituir.
-Vai ter volta hein? Ameaçou o cafetão.
E assim acaba o relacionamento nada amoroso de Piaf, mais uma escolha errada da menina do dedo podre, mas... quem nunca fez escolhas erradas que atire a primeira pedra.
Édith cresceu vendo todas as humilhações que as prostitutas passavam e dizia que a morte era melhor que aquela vida.
Ela reencontra a mãe, que já está em fim de carreira, mal tirando o do cigarro e essa também tenta incentivar Édith na prostituição ou na abertura de um novo bordel em Paris. Estão vendo como o "Temônio" atentava essa menina?
Foi quando o vento começou a soprar a seu favor.
Cantando nas Champs Elysée, principal rua de Paris, Édith conhece Louis Leplée, dono do cabaré Le Gerny's. Ele lhe entrega seu cartão de visitas, dão um Match e ela vai cantar no cabaré.
Na Bélle Époque, momento histórico antes da Segunda Guerra Mundial, os Cabarés eram os lugares tops, com música, dança e bebida, muita gente pensa que cabaré era prostíbulo, mas não era. Eram como teatros onde artistas se apresentavam, só que ao invés da plateia ficar toda sentadinha em silêncio, o povo bebia todas, fumava que era moda, engolia absyntho e aplaudia de pé novos nomes que surgiam... como um dia, surgiu Piaf. Diante da voz melodiosa e do olhar melancólico, era possível ouvir as goladas de bebida descendo pela garganta. A plateia suspirou e o dono do Cabaré foi à loucura. Leplée tornou-se um pai pra Edith e a levava a outros cabarés famosos para cantar, até que um dia, seu ex-namorado, aquele cafetão, mata Leplée em seu apartamento, aquilo foi um grande escândalo na época e o passado e origem de Piaf, circularam nos tablóides e nas apresentações, as pessoas passaram a xingá-la e a gritarem: "Culpada", "Assassina", "Prostituta".
Enfim, o Juiz a libertou, mas a sociedade não.
Nessa época, Édith começa a apresentar os primeiros sintomas que estava doente.
Ela estava sofrendo muito por causa da morte de Leplée e começou a se entregar ao álcool.
Quem a chamou de Piaf, foi o próprio Leplée.
No lugar de Leplée entrou um novo empresário chamado Raymond, que conhecia Leplée e ela, e sabia que ela não era culpada e Ray a ajudou. Ele a tirou de Paris para esperar a poeira baixar, levando-a para se apresentar nos Estados Unidos e no Japão, e ela começa a ter fama internacional. Ray corta seu uso de bebidas e começa a cobrar que Piaf procure um médico para cuidar de sua saúde. Aos trinta e cinco anos de idade, Piaf nunca tinha ido a um médico.
Ela seguiu à risca as normas de Ray e sua carreira decolou.
Em 1945, ano da Segunda Guerra, ela grava La Vie en Rose, que fica mundialmente conhecida.
Ela conhece um boxeador famoso chamado Marcell Cerdan, que era argelino e falava francês e eles se conhecem em New York, nessa época os Estados Unidos ainda estavam rindo à toa com a guerra, vendendo armamentos "à lá vontê".
Édith sai pra jantar com Marcell e se apaixona.
A menina do dedo podre III - O amor.
Marcell era um homem encantador. Sedutor, protetor, famoso, endinheirado, tudo que Édith precisava, mas... a vida dessa menina nunca vira um 
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, gente?
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C-A-S-A-D-O.
Édith se apaixona loucamente por Marcell.
Ele prometeu abandonar o casamento para ficar com Édith, pois realmente gostava dela.
Ele volta para Paris e Edith fica em Nova Iorque, mas Marcell chega em Paris e tem um baque. Como ele era "famosinho" e Édith também, todo mundo em Paris já sabia do affair dos dois. E quando ele entrava em algum estabelecimento ou ia conceder uma entrevista, eis que tocavam sua trilha sonora que não era a do Rock Balboa, mas... La vie en Rose. Tipo... cutucar a onça com vara curta? Enfim, o caso vem a público, uma mulher que já era chamada de perigueti, assassina, prostituta, bandida, sem ter um caso com um homem casado, mancha ainda mais sua reputação.
Mas, Marcell gostava dela e resolveu que ia pra dentro, separou-se e decidiu voltar pra Nova Iorque. Ele compra uma passagem de navio e liga pra Edith, que estava voltando, e que tudo ficaria bem, e que ele sabia que ela não era o que falavam, e eles venceriam essa juntos. Enfim, um homem de verdade! Mas... chegou a hora do 
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???? Nananinanão.
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Ela pede pra ele vir de avião, pois navio demorava muito, compra a passagem dele, pois a saudade era grande demais e???? Dole uma, dole duas, dole três... o 
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simplesmente cai. Marcell morre e Édith não se recupera emocionalmente de mais essa perda. (Oh fase!)
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Ela tinha fibromialgia e as dores em seu corpo a isolam socialmente, ela compõe com Vaucaire Mon Dieu, que canta toda sua dor daquele momento.
Mon Dieu!
Mon Dieu! Mon Dieu! Mon Dieu!
Laissez-le-moi
Encore un peu
Mon amoureux
Six mois, trois mois, deux
Mon Dieu (Tradução)
Meu Deus! Meu Deus! Meu Deus!
Deixe-o comigo
Mais um pouco
Meu namorado!
Um dia, dois dias, oito dias...
Deixe-o comigo
Mais um pouco
Para mim...
Ela desistiu? Não.
Ela entra na fase, vou ser feliz!
Ela saiu do isolamento e aproveitou um pouco de sua celebridade sem pensar em um novo amor.
Ela descobre nessa fase que está com câncer no fígado.
Ela sofre um acidente grave automobilístico e a morfina passa a ser seu elixir da vida. O álcool volta com toda força.
Ela contrata Charles Aznavour como seu choffer e assistente e descobre nele um grande artista. Suas festas viraram grandes saraus e grandes encontros culturais. Ela e Charles começam a ter uma amizade colorida e a exaltar a alegria de ser artista em Montmartre, mesmo que fosse em troca de um prato de comida, e falavam sobre a vida de ser artista e ser feliz como na canção La Boheme, imortalizada na voz de Charles. Ela virou um símbolo de resistência da arte e uma heroína entre seus amigos, que se comoviam com sua história de resiliência frente à vida. Charles ficou famoso mundialmente e Édith o apaludia de pé.
Ela se entopia de morfina pra aguentar a dor e com quarenta e sete anos, já aparentava ter setenta.
Mas, antes de "se retirar da vida", pois ela não morreu, ela fez o que os espíritas chamam de suicídio induzido.
Ela comprou uma linda mansão no Sul da França com vinte e cinco quartos, chamou todos os seus amigos e promoveu uma festa que durou quinze dias. Tipo... já que eu vou morrer mesmo, vou botar fogo nesse parquinho.
Nessa época ela explode com Ne, je Regrete Rien, que significa? Não, não me arrependo de nada.
(Um dia alguém que tá lendo isso, escreve uma bio minha e escreve isso no final, pleaseee, pode me chamar de A rainha do dedo podre 
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ou o dedo em pessoa), essa canção veio a fazer sucesso em um momento em que ela não esperava outro regresso nas paradas mundiais, internacionais, e Michel Valcaire escreve mais essa letra maravilhosa pra Piaf que é a mais famosa dela até hoje.
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Ela se reconhece na letra inteira e mesmo doente ela decide que iria gravar e encarar mais uma vez os estúdios e a letra dizia:
Os amores ficaram no passado, as dores, eu recomeço do zero.
E recomeçou mesmo.
A menina do dedo podre IV.
Dos altos dos seus 1,53 de altura, Édith foi uma mulher empoderadíssima e desejada por homens e mulheres. A atriz Marlene Dietrich chegou a lhe oferecer um grande diamante em troca de uma noite de amor.
Antes de morrer, aos quarenta e seis anos ela começou a namorar um grego, lindo, vinte anos mais novo que ela, chamado Théo Sarapo. Ela chutou o pau da barraca, casou-se com Théo com festa e tudo mais, e um ano depois, em sua casa na Boulevard Lannes, em 1963, aos quarenta e sete anos de idade, ela se despede dos palcos e se retira da vida, vítima de cirrose.
Théo foi seu companheiro e seu único herdeiro.
Todos o chamaram de oportunista e de gigolô, afirmando que havia se aproveitado de sua doença para enriquecer.
Théo aguentou tudo em absoluto silêncio. O que muitos não sabiam era que Édith não havia deixado nada. Torrou tudo o que havia ganho em vida e sobrou a Théo os direitos iconográficos pós morte. Ela tinha diversas dívidas, inclusive de medicamentos. Ele pagou todas as suas dívidas com os valores que ia recebendo e quando quitou a última delas, de um hospital, ele se mata com o dever cumprido de deixar Édith sem dever um centavo a ninguém, com uma carta que deixou na cabeceira informando que a vida sem ela não fazia qualquer sentido, durante os sete anos em que pagou suas dívidas, não foi visto com nenhuma outra mulher. Isso nos deixa uma lição de vida sobre preconceitos e julgamentos sobre a vida alheia, escolhas, amores e sobre o coração dos outros ser terra que ninguém pisa.
Ele foi enterrado no mesmo túmulo que ela.
E o pardal?
Continua solto, não arrependido, encantando gerações e gerações...
Que "La vie - seja sempre - en Rose".
Izabelle Valladares,
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