quarta-feira, 21 de maio de 2025

Os bandeirantes andavam esfarrapados?

 Os bandeirantes andavam esfarrapados?


Pode ser uma imagem de 2 pessoas

Vivendo numa vila pobre, com poucos recursos por causa da posição geográfica onde foi fundada, nem por isso os antigos paulistas deixavam de lado a elegância das roupas. A primeira impressão que se tem, ao entrar em contato com a vida dura e difícil do planalto, é que os moradores se vestem sem nenhuma preocupação com as exigências e caprichos da moda. Os homens estavam ocupados com as intermináveis entradas pelo sertão, e as mulheres, cuidando dos afazeres da casa, reclusas no lar à maneira mourisca. Essa impressão até faria sentido se, a todo momento, a vila não se agitasse com festas e procissões tantas que, como vimos em outro capítulo, o ouvidor Pedro de Castelo Branco precisou, em 1675, limitar a apenas três por ano.

A moda na Paulistânia, claro, não era igual à da Espanha, França, Inglaterra, Holanda ou mesmo Portugal. Talvez nem chegasse a ser como a da Bahia, onde os baianos, em contato mais direto com a Europa e sob influência holandesa por um tempo, conseguiam adotar certos luxos impensáveis para os paulistas. Mesmo assim, nos intervalos de suas longas jornadas pelo sertão, os paulistas se esforçavam para se apresentar como homens civilizados, e não como homens rudes.

Se examinarmos os inventários do século XVII, veremos que os paulistas se vestiam à moda da Península Ibérica, cujo prestígio mundial influenciava até mesmo a maneira de vestir (com exceção apenas da Inglaterra e da Holanda). A Inglaterra, mesmo assim, acabou adotando elementos ibéricos como as mantilhas, os "rouges" (blushes) feitos de papel vermelho, chamados por eles de “spanish paper”, além das golas e toucas com rendas ibéricas.

Mas não vamos nos perder em divagações desnecessárias, pois, se formos por esse caminho, vamos longe demais. Nosso objetivo aqui é simplesmente investigar a vida no planalto, numa viagem ao passado que deve ser leve e agradável, com o mínimo de erudição e de guias arrogantes, permitidos apenas os indispensáveis, que ofereçam testemunhos confiáveis.

Vejamos, por exemplo, aquela senhora que se aproxima. É Dona Catarina de Siqueira, ao lado do marido, João Barroso. Estão voltando da missa e, como podemos ver, ela está vestida com muito charme: usa uma saia chamada “vasquinha”, junto com um saiote de veludo roxo e amarelo. O saiote com dois e a saia com quinze enfeites de fita. Por cima do colete, um tecido brilhante com bordados de ouro, sobre uma blusa de cor levemente alaranjada. No braço, um manto de tafetá. No pescoço, dois colares de coral. Nos pés, calça tamancos de Valença, decorados com placas de prata. Já o marido também está elegante, com seu traje de perpetuana verde, forrado de tafetá, o bernéu (poncho) pardo ou azul, um chapéu largo de Segóvia na cabeça e, a tiracolo, sua espada.

Uma das poucas mantilhas citadas nos inventários é a do espólio de João Tenório, já mencionada em outro trecho: “uma mantilha de penas coloridas com seu adorno de penas”. Isso mostra que, em vez de apenas os índios copiarem os costumes dos brancos, muitas vezes eram os brancos que se inspiravam na indumentária dos índios. As mulheres usavam chapéus de veludo enfeitados com fitas, rendas ou passamanarias (bordados em fita); alguns com fivelas de prata, outros com véu.

Quanto aos homens, não pense que os duros sertanistas não tinham também certo gosto por se vestir bem. O século é bruto, mas também é elegante. Foi nesse século que Dumas colocou seus mosqueteiros, Gautier o Capitão Fracasse, Rostand o Cyrano e Le Sage o Gil Blas de Santillana. Claro que não vamos sugerir que os paulistas do século XVII rivalizavam com D'Artagnan. Mas a verdade é que, fora o gibão rústico de guerra que usavam nas batalhas contra os índios, e a roupa simples de algodão para o trabalho na lavoura, os paulistas se vestiam de maneira comparável a lusitanos ou castelhanos.

Com o fim do século XVI, desapareceram os longos tabardos, os gibões com mangas bufantes, as calças largas, os chapéus de cabelo e os chinelos. Passou-se a usar roupas mais ajustadas, com casacos que iam até os joelhos e jaquetas com mangas destacáveis. Usavam-se também a roupeta (tipo de casaco), o manto, meias longas chamadas de calças, que foram encurtadas e passaram a se chamar meias-calças. A bota alta durou grande parte do século XVII, depois baixou até abaixo dos joelhos e passou a ter o cano virado. Apareceram capas curtas. Os chapéus eram de feltro, com copa alta e abas que, ao longo do século, foram crescendo até ficarem largas demais.

Com o passar dos anos, surgem gibões, roupetas, casacos curtos, capas, camisas com punhos e mantos, botas de couro cru, botas de vaqueta e de couro fino, sapatos de couro de porco, capotes, coletes, calções, bombachas, chapéus da Espanha, de Segóvia ou feitos na própria terra, meias simples e de crochê, punhos finos de tecido francês, capas de dormir e gorros. Como complemento, o poncho longo e forrado. Como adereço, as espadas e adagas de prata, com seus cintos, alças e correias.

Com tanto pano nos inventários, fica claro que seria difícil, em São Paulo do Campo, aparecer algum panfletário, como havia em outras regiões, dizendo que as mulheres andavam nuas como vadias. Se os moradores da vila do planalto chegaram a ter problemas com as autoridades, foi justamente por se vestirem demais, cobrindo-se exageradamente e quase sumindo dentro das suas mantas.

O exagero das roupas:

Essa tendência ao exagero nas vestimentas femininas aparece de forma clara em diversos documentos da época. O governador Martim de Vasconcelos, por exemplo, achava que as mulheres de São Paulo se cobriam tanto que parecia que queriam esconder a si mesmas do mundo, e não apenas o corpo, como recomendava a moral cristã. O próprio governador reclamou disso ao rei, em carta enviada de Taubaté, dizendo que as mulheres da vila usavam mantas tão grandes que pareciam tendas, escondendo o rosto e o corpo de forma exagerada.

Na prática, o uso dessas roupas não era só uma questão de moda, mas também um reflexo do isolamento e da cultura local. As mulheres paulistas, como já dissemos, viviam muito fechadas em casa, sob forte influência dos costumes ibéricos, em especial dos mouros. A ideia de pudor extremo e o hábito de sair sempre coberta estavam profundamente enraizados.

Mesmo assim, havia certo luxo nos detalhes. Não faltavam camisas finas com punhos de rendas, meias bordadas, coletes com enfeites e gorros bem trabalhados. Os materiais vinham das mais diversas partes: tafetás, veludos, tecidos da terra e importados, botas feitas com couro de vaqueta ou de porco, algumas decoradas com prata.

É interessante notar como tudo isso revela um contraste marcante: os mesmos homens que se embrenhavam nas matas, lutando com índios e feras, ao voltar para casa vestiam-se com todo o cuidado, e suas mulheres, mesmo no interior do Brasil, usavam peças luxuosas e se cobriam com mantos imponentes. Não era uma vila de bárbaros. Era uma sociedade rústica, sim, mas com noção clara de civilidade.

Fonte e livro: No tempo dos Bandeirantes, Belmonte.

https://curitibaeparanaemfotosantigas.blogspot.com/

https://www.facebook.com/groups/1689260331291617

https://www.facebook.com/groups/916042165152650

https://estudoumbandaespiritismoecandomble.blogspot.com/

https://caminhoesdomundotododetodososmodelos.blogspot.com/

https://famososefamosasdetodososramos.blogspot.com/

https://veiculosearmamentosmilitares.blogspot.com/2020/02/

https://jipeseforasdeestrada.blogspot.com/2018/06/

https://plantascultivosecuidadosdomundotodo.blogspot.com/2020/11/

CIGANOS NA UMBANDA

https://simpatiasmagias.blogspot.com/

HISTORIAS DE TERREIROS DE UMBANDA E ENTIDADES

AMADOS EXUS DE UMBANDA

CAMINHOES CARRETAS E TRANSPORTES

https://curitibaeparanaemfotosantigas.blogspot.com/2025/05/computador-desktop-completo-intel-core.html

https://curitibaeparanaemfotosantigas.blogspot.com/2025/05/computador-pc-slim-branco-i3-4gb-ram.html

https://curitibaeparanaemfotosantigas.blogspot.com/2025/05/bomba-combustivel-eletrica-original_21.html

https://curitibaeparanaemfotosantigas.blogspot.com/2025/05/bomba-de-agua-duster-clio-megane-trafic.html

https://curitibaeparanaemfotosantigas.blogspot.com/2025/05/nascido-agenor-de-miranda-araujo-neto-o.html

https://curitibaeparanaemfotosantigas.blogspot.com/2025/05/infante-dom-henrique-e-escola-de-sagres.html

https://curitibaeparanaemfotosantigas.blogspot.com/2025/05/fabrica-do-cafe-globo-1915.html

https://curitibaeparanaemfotosantigas.blogspot.com/2025/05/sede-do-museu-paranaense.html

 

https://curitibaeparanaemfotosantigas.blogspot.com/2022/12/quem-foi-paulo-leminski.html

https://curitibaeparanaemfotosantigas.blogspot.com/2022/12/a-casa-da-nona.html

https://curitibaeparanaemfotosantigas.blogspot.com/2022/12/a-villa-sophia.html

https://curitibaeparanaemfotosantigas.blogspot.com/2022/12/capela-sao-judas-tadeu.html

https://curitibaeparanaemfotosantigas.blogspot.com/2022/12/a-residencia-grabowski.html

https://curitibaeparanaemfotosantigas.blogspot.com/2022/12/o-edificio-pedro-demeterco.html

https://curitibaeparanaemfotosantigas.blogspot.com/2022/12/um-pouco-da-historia-da-villa-campo.html

https://curitibaeparanaemfotosantigas.blogspot.com/2022/12/colonia-faria-e-paroquia-nossa-senhora.html

https://curitibaeparanaemfotosantigas.blogspot.com/2022/12/a-historia-do-bar-casa-velha.html

https://curitibaeparanaemfotosantigas.blogspot.com/2022/12/stodole.html

https://curitibaeparanaemfotosantigas.blogspot.com/2022/12/colegio-vicentino-sao-jose.html

https://curitibaeparanaemfotosantigas.blogspot.com/2022/12/a-casa-de-wilhelm-seiler.html

https://curitibaeparanaemfotosantigas.blogspot.com/2022/12/por-dentro-do-hotel-johnscher.html

https://curitibaeparanaemfotosantigas.blogspot.com/2022/12/casa-eugenio-mottin-em-colombo.html

https://curitibaeparanaemfotosantigas.blogspot.com/2022/12/edificio-rosa-angela-perrone.html

https://curitibaeparanaemfotosantigas.blogspot.com/2022/12/o-casarao-scandelari.html

https://curitibaeparanaemfotosantigas.blogspot.com/2022/12/a-casinha-do-seu-niquinho-e-dona-julia.html

https://curitibaeparanaemfotosantigas.blogspot.com/2022/12/a-padaria-america.html

https://curitibaeparanaemfotosantigas.blogspot.com/2022/12/o-parque-lago-azul-no-umbara.html

https://curitibaeparanaemfotosantigas.blogspot.com/2022/12/historias-de-curitiba-chico-linguica.html

https://curitibaeparanaemfotosantigas.blogspot.com/2022/12/historias-de-curitiba-as-polonesas-do.html

https://curitibaeparanaemfotosantigas.blogspot.com/2022/12/historias-de-curitiba-o-mito-maria.html

https://curitibaeparanaemfotosantigas.blogspot.com/2022/12/historias-de-curitiba-o-mito-maria-bueno.html

https://curitibaeparanaemfotosantigas.blogspot.com/2022/12/historias-de-curitiba-29-de-marco-1930.html

https://curitibaeparanaemfotosantigas.blogspot.com/2022/12/abatia.html

https://curitibaeparanaemfotosantigas.blogspot.com/2022/12/quatigua.html

https://curitibaeparanaemfotosantigas.blogspot.com/2022/12/guaraquecaba.html

https://curitibaeparanaemfotosantigas.blogspot.com/2022/12/figueira.html

https://curitibaeparanaemfotosantigas.blogspot.com/2022/12/ao-centro-praca-rui-barbosa-e.html

https://curitibaeparanaemfotosantigas.blogspot.com/2022/12/praca-tiradentes-com-vista-ao-fundo.html

https://curitibaeparanaemfotosantigas.blogspot.com/2022/12/o-templo-evangelico-luterano-da-inacio.html

https://curitibaeparanaemfotosantigas.blogspot.com/2022/12/casa-lerner-nao-se-sabe-ao-certo-quando.html

Nenhum comentário:

Postar um comentário