CONHECENDO MELHOR O ANTIGO S.A.P.S.
Em Curitiba, os mais velhos, lembram-se dos diversos armazéns que foram criados pelo SAPS - Serviço de Alimentação da Previdência Social, abertos no centro da cidade e adjacências, onde eram vendidos alimentos e outros gêneros de primeira necessidade para os trabalhadores em geral, cujos preços praticados eram quase os mesmos dos fornecedores.
Entre outros, os armazéns do SAPS que ficaram na memória foram: o da Av. Visconde do Rio Branco, próximo da Júlia da Costa; o da Rua Bento Viana esquina com a Sete de setembro; o da Av. Manoel Ribas, em frente à Sociedade das Mercês; o do Batel; o da Rua Manoel Eufrásio, quase esquina com Nicolau Maeder; o da Rua Pedro Ivo e o da Rua Major França Gomes.
O SAPS foi uma instituição pioneira, que desenvolveu programas de assistência alimentar aos trabalhadores e seus familiares através de postos de subsistência e restaurantes populares, bem como pela prática de atividades de propaganda e educação alimentar junto à comunidade.
O SAPS tratava-se de uma central de abastecimento, criada em 1940 pelo Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio. O modelo padrão de armazém se estendia em rede nacional, vendendo alimentos bem mais em conta à população, quase nos moldes do sortimento das cestas básicas de nossos dias. Nos grandes centros, mais completo em seus serviços, o mesmo SAPS funcionou, inclusive, com instalações equipadas de restaurantes, salas de leitura, bibliotecas e até de uma agência central de empregos, algo perto dos traços do Sistema Nacional de Empregos (Sine) de agora.
O SAPS tinha a cooperação dos institutos e caixas de aposentadoria e pensões. Pretendia promover a instalação e o funcionamento nas grandes empresas de restaurantes destinados aos trabalhadores, fornecer refeições nas empresas menores e providenciar a venda de alimentos a preço reduzido aos trabalhadores e suas famílias. Sua missão incluía também a organização de uma rede de restaurantes populares nas principais cidades do país. O SAPS funcionou até 1967, quando foi substituído pela Cobal, uma forma sutil de apagar da memória do povo bons programas desenvolvidos por governos do passado.
O programa previa ações em quatro setores: a assistência alimentar, a educação alimentar, a pesquiza científica no campo da nutrição e a formação de técnicos em alimentação. Na maioria das cidades, o programa ficou apenas na "assistência alimentar".
A assistência alimentar ocorria, em geral, por meio dos Postos de Subsistência (PS) e dos Restaurantes Populares (RP). Nos PS, eram vendidos no varejo e a preço baixo gêneros alimentícios de primeira necessidade. Nos RP, disponibilizavam-se refeições a preços baixos, cujo cardápio era elaborado a partir dos princípios do nutricionismo, a “moderna ciência da nutrição” que começava a ser praticada no país.
O trabalho educativo pretendido pelo SAPS acontecia também no âmbito dos RP, diretamente com os trabalhadores nos restaurantes e através do serviço de visitação alimentar.
Entre seus objetivos, o programa pretendia dar educação alimentar à população, que ocorria pela observação dos cardápios que eram constituídos pelos alimentos mais adequados por seus valores nutricionais: grãos, carnes, leite, frutas, verduras e sucos ou, paralelamente, pelo ensinamento dos preceitos da alimentação através de cartazes fixados nos restaurantes; impressos de leitura, cartilhas e boletins; palestras sobre a correta nutrição e valor dos alimentos, transmitidas durante o período das refeições por filmes e/ou peças de teatro sobre o assunto.
Buscando alimentar mente e espírito dos trabalhadores, cada RP possuía uma biblioteca, dotada de um vasto e diverso acervo de livros, que poderiam ser lidos na sala de leitura ou tomados de empréstimo para leitura em casa.
No campo técnico-científico, a Instituição SAPS mantinha laboratórios e biotérios onde os técnicos em alimentação (médicos, lotados no SAPS), desenvolviam diversas pesquisas sobre alimentos brasileiros, tanto na avaliação do teor vitamínico como no aumento da sua produção, utilização e conservação, que posteriormente eram publicadas no suplemento científico dos Boletins informativos do Programa.
Possuía ainda uma primeira cozinha escola, onde eram ministradas as aulas práticas para os diversos cursos criados, localizada no restaurante central do SAPS, sito à Praça da Bandeira, no Rio de Janeiro, cujo local tornou-se ponto de multiplicação do programa, recebendo diariamente alunos do Brasil inteiro, além de personalidades ilustres da política e da ciência, assim como estudiosos dos problemas sociais e assistenciais para constatarem in loco a execução dessa obra.
(Fotos: internet)
Paulo Grani.
Interior de um dos armazéns do SAPS em Curitiba, com longa fila de espera no caixa para fechamento das compras. Era um tempo em que grande parte dos produtos eram servidos à granel e os compradores tinham que levar de casa suas sacolas ou carrinhos para acondicionamento.