GLADIADOR 2: A VERDADEIRA HISTÓRIA POR TRÁS DO NOVO FILME ÉPICO

Lucius (Paul Mescal) em Gladiador 2 - Divulgação/Paramount Pictures

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POR FABIO PREVIDELLI

Na vida real, o imperador Commodus reinou por 12 anos (entre 180 até 192); essa fase da história serve como pano de fundo para o enredo do clássico épico Gladiador (2000) — estrelado por Russell Crowe e Joaquin Phoenix.

E demorou o dobro do tempo do reinado de Commodus para o longa de Ridley Scott ganhar uma continuação. Após 24 anos, Gladiador 2 ganhou seu primeiro trailer oficial na última terça-feira, 9. O longa está previsto para estrear no Brasil em 14 de novembro.

O filme clássico de 2000 se tornou um sucesso de bilheteria, arrecadando 460 milhões de dólares em todo o mundo. O épico ainda abocanhou cinco estatuetas do Oscar — incluindo Melhor Filme e Melhor Ator (para Crowe).

Mas além do que foi mostrado nos pouco mais de 3 minutos do trailer, pouco se sabe sobre o enredo do novo filme. Além do elenco com grandes nomes, como Pedro Pascal, Paul Mescal, Denzel Washington e Connie Nielsen; sabemos que a história se passa cerca de duas décadas depois dos acontecimentos do longa original.

A história seguirá a trajetória de Lucius (Mescal) — o garoto angelical do primeiro filme — enquanto ele se transforma em um gladiador implacável. Agora adulto, Lucius trocou sua vida na mesa principal (junto com sua mãe) por uma nos campos da Numídia, no norte da África —, junto de sua esposa e filhos, parecendo ter finalmente encontrado a paz interior.

No entanto, quando os exércitos dos co-imperadores Caracalla (Fred Hechinger) e Geta (Joseph Quinn) invadem a Numídia, liderados pelo general Marcus Acacius (Pascal),Lucius é capturado e se encontra nas algemas do próprio império que ele deveria governar.

Já o personagem de Washington (Mercius) é completamente novo: um ex-escravo que virou um rico mercador e nutre seu próprio rancor contra os imperadores. Mas o que esperar de Gladiador 2?

Enquanto a estreia de Gladiador 2 não chega, nada melhor do que a própria história para ajudar a conhecer um pouco mais sobre o contexto daquela época. Saiba quem foram os romanos da vida real que inspiraram esse épico!

Caracalla e Geta

Os personagens de Fred Hechinger e Joseph Quinn, respectivamente, tratam-se de irmãos em uma história de poder e traição — sendo que Caracalla é reconhecido como um dos tiranos mais sanguinários da história romana.

Durante seu leito de morte, no ano de 211, Septímio Severo, o pai de Caracalla e Geta, fez dos filhos coimperadores; o que se provou ser um dos maiores erros cometidos da era romana. Afinal, conforme aponta matéria da Esquire, Severo não estabeleceu uma divisão de governo para os irmãos — que se envolveram em um cabo de guerra pelas melhores partes do império.

Geta (Joseph Quinn) em Gladiador 2 - Divulgação/Paramount Pictures

Mas, por dois anos, eles governaram juntos e é justamente esse recorte de tempo mostrado em Gladiador 2. No entanto, o final da história de poder dos irmãos acabou por conta do ego frágil e ciúmes de Caracalla.

Em 26 de dezembro de 211, a mãe dos coimperadores organizou uma reunião para que eles se reconciliassem. No entanto, Geta acabou sendo assassinado por membros da Guarda Pretoriana, que eram leiais a Caracalla. Geta morreu nos braços de sua matriarca.

Segundo explica Adrian Keith Goldsworthy em 'How Rome Fell: Death of a Superpower', a versão mais amplamente aceita dos fatos é que Caracalla ordenou o assassinato do irmão; visto que os dois nunca tiveram relações favoráveis um com o outro, muito menos depois de sucederem seu pai. Assim, Caracalla ainda teria removido a imagem de Geta de todas as pinturas à vista e ordenado a morte em massa de seus apoiadores.

Descrito como uma pessoa de rosto tão feio quanto sua alma, Caracalla recebeu o apelido de 'Tarautas' — em homenagem a um dos gladiadores mais famosos da época; que também tinha a reputação de ser feio e violento.

Mas nem tudo foi cruel e brutal em seu governo, afinal, Caracalla concedeu cidadania romana a todos os homens livres em todo o Império Romano. Com isso, do dia para noite, sua decisão revolucionária eliminou as diferenças legais entre governantes e governados, fazendo da determinação um dos maiores atos isolados de concessão de cidadania da história da humanidade, segundo Mary Beard aponta em 'SPQR: Uma História da Roma Antiga' (Editora Planeta).

Caracalla (Fred Hechinger) em Gladiador 2 - Divulgação/Paramount Pictures

Caracalla também ordenou a construção de grandes banhos públicos em Roma, mas suas benfeitorias foram ofuscadas por seu rastro de morte e destruição. Como recorda a Esquire, após ver uma peça satírica em Alexandria, no Egito, zombando de sua figura, o imperador ordenou o massacre indiscriminado de milhares de cidadãos alexandrinos como vingança.

Além do mais, ele também ordenou o assassinato de senadores e massacrou populações inteiras das cidades que conquistou. Isso sem contar que deixou a economia do império em frangalhos.

Embora acredita-se que Caracalla tenha estudado grego e até mesmo conseguia citar longas passagens do dramaturgo Eurípides, o tirano, por outro lado, desprezava profundamente a educação e as pessoas educadas.

Seu fim aconteceu em uma viagem à Turquia, no início do ano de 217. Enquanto viajava pelo sul do país, para visitar um templo, Caracalla parou para urinar brevemente na beira da estrada. Nesse momento de vulnerabilidade, um soldado descontente chamado Justin Martialis o esfaqueou até a morte. Caracalla tinha 29 anos.

Lucilla

No primeiro filme, de 2000, Connie Nielsen viveu Lucilla, a mãe de Lucius. Na trama, ela se envolveu em triângulo amoroso entre seu irmão (Commodus) e seu antigo amante (Maximus). Um ponto a ser considerado, porém, é que embora Lucilla apareça na nova produção, na história real ela morreu seis anos antes de Caracalla nascer, recorda a Esquire.

Nascida em 7 de março de 148 (ou 150), Lucila foi a segunda filha do imperador romano Marco Aurélio e da imperatriz romana Faustina, a Jovem. Portanto, jamais esteve aquém do poder e privilégio; sendo que, desde pequena, foi preparada para uma vida de significado político.

Quando completou 11 anos, Lucilla se tornou esposa do co-governante e irmão adotivo de seu pai, Lucius Verus, então com 29. A aliança foi projetada para consolidar a aliança entre os dois. Juntos, eles tiveram três filhos, sendo que dois morreram ainda jovens.

Lucilla (Connie Nielsen) em Gladiador 2 - Divulgação/Paramount Pictures

No entanto, a morte prematura de Verus fez com que Lucilla perdesse seu status de imperatriz e, portanto, ficou enfraquecida de poder e influência. Ansiando pelo poder, ela se casou novamente em uma união arranjada por seu pai.

Mas quando Commodus ascendeu ao poder, a mudança acabou com qualquer esperança de Lucilla se tornar imperatriz. Motivada pela ambição, ela se envolveu em uma conspiração para matar o irmão e substituí-lo por seu marido, conforme recordam Marjorie Lightman e Benjamin Lightman em 'A to Z of Ancient Greek and Roman Women'.

Com o plano frustrado, Lucilla acabou sendo exilada para a ilha de Capri. Isolada, ela foi assassinada em 180, depois que Commodus enviou um de seus homens para por um ponto final em sua vida.

Lucius

Se a real história de Lucilla já não tem tanta ligação assim com o reinado de Caracalla, Lucius possui uma liberdade criativa ainda maior, visto que o filho de Lucilla morreu antes mesmo de Commodus se tornar imperador. Seu nome completo era Lucius Verus II.

Ele e sua irmã Aurelia Lucilla morreram ainda na infância, provavelmente de doença, algo comum para as crianças da época, aponta a Esquire. Porém, seu irmão Pompeianus, filho do segundo casamento de sua mãe, sobreviveu à infância e se tornou um soldado e, mais tarde, um senador. Pompeianus tinha cerca de cinco anos quando Lucilla foi executada e estava com pouco mais de 30 quando foi morto sob as ordens do imperador Caracalla.

domingo, 14 de julho de 2024