PERSÉFONE E O REI DOS INFERNOS
A original reclusão de Kore e a fria indiferença de Hades, soturno senhor dos Infernos representavam um desafio para Afrodite
PERSÉFONE E O REI DOS INFERNOS
A original reclusão de Kore e a fria indiferença de Hades, soturno senhor dos Infernos representavam um desafio para Afrodite.
Sem mais paciência para esperar que criaturas por si mesmas se apaixonassem, a bela deusa do amor chamou seu filho Cupido, dono das setas encantadas, que a todos conquistavam, e mandou unir para sempre os dois solitários.
O menino escolheu em sua aljava a flecha mais aguda, com precisão mirou o alvo e certeiramente atingiu o largo peito de Hades .
A primeira pessoa que viu depois de ferido pelo amor foi Kore.
A meiga filha de Deméter e Zeus brincava com as amigas no meio de um campo florido quando se tornou a escolhida pelo coração de Hades.
O rei da escuridão aproximou-se das jovens e aos pés de Core declarou-lhe amor.
Por sua própria vontade, a donzela nada disse, mas transferiu a decisão para Deméter, que, não desejando perder a companhia da filha muito amada, recusou a Hades permissão para esposá-la.
O pretendente nem assim recuou de seus propósitos.
Subiu ao Olimpo e pediu a Zeus que pessoalmente intercedesse em seu favor junto a Deméter.
Ora, o senhor do Olimpo não tencionava indispor-se com nenhum dos irmãos, e evasivamente aconselhou Hades a aguardar uma oportunidade mais favorável.
Entendeu o outro que teria de realizar sozinho seu intento.
E não conhecia maneiras muito brandas de agir.
Todavia, suspendeu o assédio, enquanto arquitetava um plano.
Na terra, Core e suas amigas passeavam no florido vale de Ena, lugar siciliano de constantes primaveras e águas cristalinas.
Colhia flores - lírios, violetas, quando percebeu um magnífico narciso solitário à beira do lago. Debruçou-se para apanhá-lo.
Nesse instante, abre-se a terra sobre seus pés. Do abismo escuro surge por encanto um carro de ouro, puxado por vários cavalos, que Hades conduz.
Antes de entender a razão e o fito de acontecimento tão espantoso, a moça é arrebatada pelo robusto senhor dos Infernos, que em seu coche dourado velozmente a transporta para o sombrio Tártaro.
Enquanto vê a luz do dia, as verdes florestas, os campos fecundos, a donzela conserva a esperança de ser salva por Deméter, talvez, ou mesmo por seu poderoso pai. E clama por socorro.
De repente o céu se esconde.
A escuridão se insinua, cresce e prepondera. A carruagem mergulha no seio da terra, e ganha rapidamente às profundezas dos Infernos.
Core ainda grita, afligida pelo pavor. E dessa vez é ouvida por Deméter. A deusa corre para o local do som.
E apenas chega a tempo de ver a terra fechar-se sobre o rastro da filha.
Core pertence agora ao mundo dos mortos. Nem seu primitivo nome pode preservar.
Pois ao transpor as fronteiras das sombras, tornou-se esposa de Hades e passou a chamar-se no submundo, Perséfone.
Deméter desespera-se.
Dias e noites vaga pelos campos, à procura da filha.
Sobe ao Olimpo, interroga seus pares. Ninguém sabe dar-lhe notícias.
Cansada de tantas buscas inúteis, a deusa, aflita, procura o Sol, que tudo vê, e pede-lhe que revele o nome do raptor.
O próprio Zeus, responde o Sol, dera a donzela a Hades, que a arrebatara no vale de Ena.
Se o próprio senhor do Olimpo favorecera o rapto, então nenhuma esperança podia restar para Deméter.
Indignada contra os dois irmãos, que tão profundamente a feriam, recusou a companhia dos deuses, abandonou o monte sagrado e passou a conviver com os homens.
Recusou-se, todavia, a continuar protegendo as plantações e as colheitas. A fome teria devastada a Grécia inteira, não fosse Zeus intervir na sorte dos homens.
Decidiu, portanto, o rei dos deuses enviar Íris, a de asas de ouro, à procura de Deméter.
A ágil mensageira foi ter a Elêusis, onde a deusa entristecida, se refugiara.
Suplicou-lhe que voltasse a frutificar os campos e retomasse seu lugar entre os olimpianos.
A tudo Deméter prometeu ceder, desde que lhe fosse devolvida a amada Core.
Com a resposta nos lábios, Íris retornou à presença de Zeus.
Não havia modo de persuadir Deméter, pensou o senhor do Olimpo. Mas talvez conseguisse convencer Hades. E com tal missão enviou Hermes ao Tártaro.
'Príncipe da humanidade defunta, Hades de negros cabelos, Zeus te ordena soltar Perséfone do Tártaro e mandá-la de volta para casa, a fim de que sua mãe, contente de vê-la, deixe de lado a cólera e o ressentimento que ela tem contra os deuses, pois retém o fruto da terra e não pensa, quando torna famintos os homens, em nada menos que secar a fonte das honras que estes rendem aos imortais.'
Sendo ordem de Zeus, Hades tinha que cumpri-la. Contrariado e tramando ardis, chamou a esposa e disse para preparar-se: ia retornar a luz da terra e ao convívio da mãe.
Perséfone pôs-se a enfeitar-se para a sonhada viagem.
No momento de partir, o soturno marido, como se estivesse homenageando-a com um ato de gentileza, ofereceu-lhe uma fruta, que a jovem aceitou e comeu. Depois deixou o mundo das sombras.
Não sabia da regra: quem comesse qualquer coisa do Tártaro, devia sempre retornar.
O carro de Hermes parou diante do templo, em Elêusis.
Deméter lançou-se saudosa aos braços da filha. Chorou afagando lhe os cabelos.
Então, lembrou-se de perguntar, com receio, se havia comido algo nos Infernos. Um bago de romã, respondeu Perséfone.
Uma expressão de desalento ensombrou o belo rosto da deusa: 'Deverás voltar todos os anos embaixo da terra para aí passares um terço de seus dias, enquanto as outras duas partes pertencerão a mim e a corte dos deuses'.
Por um tempo, mãe e filha conversam, tranquilas, no templo de Elêusis. Até que Zeus as manda chamar para partilhar o néctar do Olimpo.
Antes de atendê-lo, Deméter cumpre sua parte no acordo que fizera. Altivamente, abandona o refúgio e, com Core, dirige-se para a morada dos deuses.
A seus passos, os campos ressecados umedecem-se e fertilizam-se. As flores voltam a desabrochar. As folhas amarelas enverdecem. A primavera retorna e depois o outono. A fome termina.
No fim do prazo, Perséfone despede-se da luz e da mãe, e retoma o caminho do Tártaro. Então, Deméter recolhe-se à sua saudade.
E os campos esvaziam-se de plantas. As flores desaparecem dos galhos. As folhas secam e tombam. O inverno, com ventos e neves desola a terra.
A primavera voltará - é a única esperança - quando Perséfone de novo regressar ao convívio dos homens e alegrar o coração de Deméter, que, em paz com o mundo, repartirá outra vez seus benefícios sobre os campos."
:"Hades and Persephone" inspired photoshoot with Teresa Yeh
#mitologiagrega
A original reclusão de Kore e a fria indiferença de Hades, soturno senhor dos Infernos representavam um desafio para Afrodite.
Sem mais paciência para esperar que criaturas por si mesmas se apaixonassem, a bela deusa do amor chamou seu filho Cupido, dono das setas encantadas, que a todos conquistavam, e mandou unir para sempre os dois solitários.
O menino escolheu em sua aljava a flecha mais aguda, com precisão mirou o alvo e certeiramente atingiu o largo peito de Hades .
A primeira pessoa que viu depois de ferido pelo amor foi Kore.
A meiga filha de Deméter e Zeus brincava com as amigas no meio de um campo florido quando se tornou a escolhida pelo coração de Hades.
O rei da escuridão aproximou-se das jovens e aos pés de Core declarou-lhe amor.
Por sua própria vontade, a donzela nada disse, mas transferiu a decisão para Deméter, que, não desejando perder a companhia da filha muito amada, recusou a Hades permissão para esposá-la.
O pretendente nem assim recuou de seus propósitos.
Subiu ao Olimpo e pediu a Zeus que pessoalmente intercedesse em seu favor junto a Deméter.
Ora, o senhor do Olimpo não tencionava indispor-se com nenhum dos irmãos, e evasivamente aconselhou Hades a aguardar uma oportunidade mais favorável.
Entendeu o outro que teria de realizar sozinho seu intento.
E não conhecia maneiras muito brandas de agir.
Todavia, suspendeu o assédio, enquanto arquitetava um plano.
Na terra, Core e suas amigas passeavam no florido vale de Ena, lugar siciliano de constantes primaveras e águas cristalinas.
Colhia flores - lírios, violetas, quando percebeu um magnífico narciso solitário à beira do lago. Debruçou-se para apanhá-lo.
Nesse instante, abre-se a terra sobre seus pés. Do abismo escuro surge por encanto um carro de ouro, puxado por vários cavalos, que Hades conduz.
Antes de entender a razão e o fito de acontecimento tão espantoso, a moça é arrebatada pelo robusto senhor dos Infernos, que em seu coche dourado velozmente a transporta para o sombrio Tártaro.
Enquanto vê a luz do dia, as verdes florestas, os campos fecundos, a donzela conserva a esperança de ser salva por Deméter, talvez, ou mesmo por seu poderoso pai. E clama por socorro.
De repente o céu se esconde.
A escuridão se insinua, cresce e prepondera. A carruagem mergulha no seio da terra, e ganha rapidamente às profundezas dos Infernos.
Core ainda grita, afligida pelo pavor. E dessa vez é ouvida por Deméter. A deusa corre para o local do som.
E apenas chega a tempo de ver a terra fechar-se sobre o rastro da filha.
Core pertence agora ao mundo dos mortos. Nem seu primitivo nome pode preservar.
Pois ao transpor as fronteiras das sombras, tornou-se esposa de Hades e passou a chamar-se no submundo, Perséfone.
Deméter desespera-se.
Dias e noites vaga pelos campos, à procura da filha.
Sobe ao Olimpo, interroga seus pares. Ninguém sabe dar-lhe notícias.
Cansada de tantas buscas inúteis, a deusa, aflita, procura o Sol, que tudo vê, e pede-lhe que revele o nome do raptor.
O próprio Zeus, responde o Sol, dera a donzela a Hades, que a arrebatara no vale de Ena.
Se o próprio senhor do Olimpo favorecera o rapto, então nenhuma esperança podia restar para Deméter.
Indignada contra os dois irmãos, que tão profundamente a feriam, recusou a companhia dos deuses, abandonou o monte sagrado e passou a conviver com os homens.
Recusou-se, todavia, a continuar protegendo as plantações e as colheitas. A fome teria devastada a Grécia inteira, não fosse Zeus intervir na sorte dos homens.
Decidiu, portanto, o rei dos deuses enviar Íris, a de asas de ouro, à procura de Deméter.
A ágil mensageira foi ter a Elêusis, onde a deusa entristecida, se refugiara.
Suplicou-lhe que voltasse a frutificar os campos e retomasse seu lugar entre os olimpianos.
A tudo Deméter prometeu ceder, desde que lhe fosse devolvida a amada Core.
Com a resposta nos lábios, Íris retornou à presença de Zeus.
Não havia modo de persuadir Deméter, pensou o senhor do Olimpo. Mas talvez conseguisse convencer Hades. E com tal missão enviou Hermes ao Tártaro.
'Príncipe da humanidade defunta, Hades de negros cabelos, Zeus te ordena soltar Perséfone do Tártaro e mandá-la de volta para casa, a fim de que sua mãe, contente de vê-la, deixe de lado a cólera e o ressentimento que ela tem contra os deuses, pois retém o fruto da terra e não pensa, quando torna famintos os homens, em nada menos que secar a fonte das honras que estes rendem aos imortais.'
Sendo ordem de Zeus, Hades tinha que cumpri-la. Contrariado e tramando ardis, chamou a esposa e disse para preparar-se: ia retornar a luz da terra e ao convívio da mãe.
Perséfone pôs-se a enfeitar-se para a sonhada viagem.
No momento de partir, o soturno marido, como se estivesse homenageando-a com um ato de gentileza, ofereceu-lhe uma fruta, que a jovem aceitou e comeu. Depois deixou o mundo das sombras.
Não sabia da regra: quem comesse qualquer coisa do Tártaro, devia sempre retornar.
O carro de Hermes parou diante do templo, em Elêusis.
Deméter lançou-se saudosa aos braços da filha. Chorou afagando lhe os cabelos.
Então, lembrou-se de perguntar, com receio, se havia comido algo nos Infernos. Um bago de romã, respondeu Perséfone.
Uma expressão de desalento ensombrou o belo rosto da deusa: 'Deverás voltar todos os anos embaixo da terra para aí passares um terço de seus dias, enquanto as outras duas partes pertencerão a mim e a corte dos deuses'.
Por um tempo, mãe e filha conversam, tranquilas, no templo de Elêusis. Até que Zeus as manda chamar para partilhar o néctar do Olimpo.
Antes de atendê-lo, Deméter cumpre sua parte no acordo que fizera. Altivamente, abandona o refúgio e, com Core, dirige-se para a morada dos deuses.
A seus passos, os campos ressecados umedecem-se e fertilizam-se. As flores voltam a desabrochar. As folhas amarelas enverdecem. A primavera retorna e depois o outono. A fome termina.
No fim do prazo, Perséfone despede-se da luz e da mãe, e retoma o caminho do Tártaro. Então, Deméter recolhe-se à sua saudade.
E os campos esvaziam-se de plantas. As flores desaparecem dos galhos. As folhas secam e tombam. O inverno, com ventos e neves desola a terra.
A primavera voltará - é a única esperança - quando Perséfone de novo regressar ao convívio dos homens e alegrar o coração de Deméter, que, em paz com o mundo, repartirá outra vez seus benefícios sobre os campos."
:"Hades and Persephone" inspired photoshoot with Teresa Yeh
#mitologiagrega