12 de novembro de 1028 dC

UMA IMPERATRIZ VIRGEM DE 50 ANOS, UM MARIDO DE 64 E UM BELO RAPAZ DE 24,O QUE PODERIA DAR ERRADO?

1º. Basílio II, embora tenha transformado o Império Romano do Oriente na grande potência do Mediterrâneo, não providenciou um sucessor digno e, ao morrer (1025), seu irmão mais novo e co-imperador, Constantino VIII, que sempre foi preguiçoso, ficou como único governante.

Ele tinha apenas duas filhas solteiras de 50 e 48 anos: Zoe e Teodora, a quem seu tio não permitiu que se casassem para que seus maridos não se tornassem rivais ao trono. Mas, com a dinastia se extinguindo, o pai se apressou e procurou um marido para Zoe; seus conselheiros, para manterem seu poder, convenceram-no a escolher alguém fácil de manipular: um parente distante de 64 anos, Romano III Argiro, que era casado, mas não tinha filhos.

Argiro recusou-se a separar-se de sua esposa, mas Constantino VIII lhe deu duas opções: ou se separava... ou ambos seriam cegados, e foi a própria esposa que entrou para um convento, deixando o marido livre: Argiro e Zoe se casaram em 12 de novembro de 1028, e no dia 15 o imperador morreu.

2º. Zoe tentou desesperadamente engravidar aos 50 anos para continuar a dinastia, a mais longeva de todo o Império: ela tomou todo tipo de medidas (poções, amuletos, etc.), e Argiro “usava ele mesmo ungüentos e fricções que também eram prescritos para sua esposa”; mas, aos 64 anos, ele provavelmente não tinha mais disposição para tanta atividade e logo “desistiu de tudo isso”, uma vez que seu desejo “foi diminuindo” e “começou a prestar menos atenção à imperatriz”, recusando-se a compartilhar o leito e focando-se em governar.

Admirando Marco Aurélio e Trajano, tentou imitá-los... falhando.
Suas expedições na Síria não terminaram em desastres porque os generais experientes de Basílio II conseguiram restaurar a situação.
Na política interna, ele quebrou a linha de proteção aos pequenos camponeses contra os abusos da aristocracia, em vigor há um século, reduzindo os impostos dos nobres, o que o obrigou a cortar outros gastos e cancelar dívidas fiscais.

Mas seus fracassos militares pessoais o tornaram fraco, e vários parentes tentaram destroná-lo.

3º. E o que acontecia enquanto isso com Zoe? Bem, após 50 anos virgem, ela pareceu gostar do sexo e quis recuperar o tempo perdido, não aceitando voltar forçadamente à castidade.
Ela procurou vários amantes, que o imperador tolerou contanto que a deixassem em paz.
Tudo funcionou até que, como de costume nesses casos, um eunuco interveio, embora, desta vez, sem má intenção.

O eunuco João, querendo conseguir um “cargo” para seu jovem irmão Miguel, o apresentou aos imperadores.
O cronista Psellos, conselheiro imperial na época, diz de Miguel que “embora todo seu corpo tivesse belas proporções, era a beleza de seu rosto que beirava a perfeição, pois tinha uma fragrância especial, um olhar brilhante e bochechas de um vermelho intenso”.

E Zoe, aos 55 anos, “seus olhos se acenderam com uma chama tão intensa quanto a beleza que ele irradiava”, e ela se apaixonou como a adolescente que não era pelo jovem de 23 anos.

4º. Zoe o nomeou “cubiculário” ou servo do “cubículo imperial”, e enquanto dava massagens em seu velho marido, olhava para Miguel com lascívia e piscava para ele. Miguel se mostrou muito tímido, e a imperatriz foi se insinuando cada vez mais... até que o jovem ficou seduzido, não “por uma mulher tão envelhecida, mas (…) pelo esplendor do império”.

A relação, que começou com beijos, se intensificou, até que os criados fofoqueiros do palácio os descobriram “dormindo no mesmo leito”.
O jovem, sendo uma boa pessoa no fundo, sentia-se culpado e envergonhado, e suas bochechas ficavam ainda mais vermelhas, mas a imperatriz “não recuava, ao contrário, beijava-o na frente de todos e se vangloriava de poder desfrutar dos serviços do jovem frequentemente”.

5º. A questão chegou aos ouvidos de Argiro, que não deu importância porque Miguel sofria do “mal dos deuses”, a epilepsia, o que ajudou a dissipar as suspeitas do velho imperador.

Quando os rumores cresceram, ele interrogou o jovem: o rubor de suas bochechas o convenceu de que tudo não passava de calúnias, embora o tenha feito jurar sobre as escrituras sagradas, e Miguel jurou falso.

Finalmente, Argiro percebeu a verdade, mas achou melhor que sua esposa, em vez de ter vários amantes, se contentasse com aquele rapaz tímido de bochechas vermelhas que não representava uma ameaça... apesar das advertências de sua irmã Pulquéria e outros conselheiros.

6º. Pulquéria morreu logo depois, assim como um conselheiro; outro foi expulso, e o restante, juntando as peças, manteve a boca fechada, e os rumores cessaram.
Então, o velho imperador de 68 anos adoeceu repentinamente, seu corpo inchou e ulcerou: Psellos diz que “quase não se distinguia de um cadáver (…) com o rosto inchado e a cor (..) de um morto de três dias” e ele perdeu o cabelo.

Psellos duvida que tenha sido envenenado, mas aponta que muitos acreditavam nisso.
O imperador foi para a banheira, e Psellos relata que alguns dizem que ele foi encontrado inerte flutuando, enquanto outros afirmam que sua cabeça foi mantida submersa por muito tempo.

Ele foi retirado, levado para o leito imperial, onde, incapaz de falar, com respiração entrecortada, vomitou uma substância espessa e escura, e morreu. Pelo seu estado de deterioração, parece mais um câncer fulminante.

7º. O costume era que as viúvas esperassem 9 meses para se casar novamente, para evitar dúvidas sobre a paternidade de qualquer filho.
Mas como ninguém, nem mesmo ela, esperava que Zoe, com 56 anos, estivesse grávida, a imperatriz não guardou luto: no dia seguinte, ela se casou com seu amante Miguel e o tornou imperador.

Mas alguém deveria ter dito a ela que um amante não é necessariamente um bom marido.
E Miguel IV, sentindo-se culpado pelas coisas que fez, esforçou-se para ser um bom imperador... mas não um bom marido.

terça-feira, 26 de novembro de 2024

UMA IMPERATRIZ VIRGEM DE 50 ANOS, UM MARIDO DE 64 E UM BELO RAPAZ DE 24,O QUE PODERIA DAR ERRADO?

12 de novembro de 1028 dC

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