domingo, 22 de maio de 2022

"A primeira rota regular dos campos sulinos às demais regiões do Brasil Colônia foi o caminho aberto, no final do século 17, ligando as vilas de Sorocaba e Curitiba, pertencentes à então Capitania de São Paulo. Dos currais curitibanos vieram as primeiras manadas de gado bovino e cavalar, conduzidas pelos próprios fazendeiros. Era o embrião do tropeirismo.

 "A primeira rota regular dos campos sulinos às demais regiões do Brasil Colônia foi o caminho aberto, no final do século 17, ligando as vilas de Sorocaba e Curitiba, pertencentes à então Capitania de São Paulo. Dos currais curitibanos vieram as primeiras manadas de gado bovino e cavalar, conduzidas pelos próprios fazendeiros. Era o embrião do tropeirismo.


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Tropeiros acampados para passar a noite. No tripé, o feijão enriquecido com carne seca e torresmo, era o prato costumeiro para repor as energias. Ao fundo, o muro de pedras que delimitava o potreiro que abrigava os animais.
Foto: pinterest

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CONHECENDO O EMBRIÃO DO TROPEIRISMO
"A primeira rota regular dos campos sulinos às demais regiões do Brasil Colônia foi o caminho aberto, no final do século 17, ligando as vilas de Sorocaba e Curitiba, pertencentes à então Capitania de São Paulo. Dos currais curitibanos vieram as primeiras manadas de gado bovino e cavalar, conduzidas pelos próprios fazendeiros. Era o embrião do tropeirismo.
O volume de animais não supria a elevada demanda por carne e transporte, decorrente da exploração de ouro na região das Minas Gerais. O olhar voltou-se mais para o Sul, para a chamada Vacaria do Mar (Leste dos atuais Estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul, entre a Lagoa dos Patos e o rio Negro), onde jesuítas espanhóis criavam animais para manutenção das reduções (aldeamentos jesuítas de índios pacificados, que serviam como mão-de-obra).
Nas muitas vezes em que as reduções foram arrasadas pelos bandeirantes paulistas, sobraram apenas bois, cavalos e mulas abandonados, que se multiplicaram desenfreadamente e se espalharam pelos campos sulinos, ficando conhecidos como gado alçado ou chimarrão.
Para alcançar esses animais os tropeiros abriam picadas ou seguiam por antigas trilhas indígenas. O percurso era genericamente chamado de "Caminho das Tropas" e se dividiu em três vias principais: o "Caminho do Viamão", o "Caminho Novo da Vacaria" e o "Caminho das Missões".
O primeiro caminho foi o do Viamão, aberto em 1730 numa expedição oficial, comandada pelo sargento-mor Francisco de Souza e Faria. Em 1732, Cristóvão Pereira de Abreu, um rico negociante, reuniu diversos homens para fazer a retificação da rota de Souza e Faria, além de construir dezenas de pontes para facilitar o trânsito dos animais.
A comitiva inaugural do Caminho do Viamão contou com 130 homens e conduziu 1.300 cabeças de mulas e cavalos, a maioria proveniente da captura de animais soltos ou da pilhagem de criatórios dos jesuítas. A tropa tinha diversos destinos e, quando passou por Sorocaba, já cumpridos 1.500 quilômetros, estava reduzida a 800 cabeças que seguiram para São Paulo. Foi assim que Pereira de Abreu entrou para a história como o pioneiro do tropeirismo.
O trajeto permaneceu em uso por mais de 200 anos e incluía os seguintes locais, que depois originaram municípios.
- Em São Paulo: Sorocaba, Araçoiaba da Serra (antigo Campo Largo), Capela do Alto, Alambari, Itapetininga, Aracaçu (incorporado ao atual município de Buri), Buri, Itapeva (antigo sítio da Faxina e, mais tarde, vila de Itapeva da Faxina) e Itararé (antiga Fazenda de São Pedro do Itararé);
- No Paraná: Sengés, Jaguariaíva, Piraí do Sul (antiga Fazenda Piraí), Castro (antigo pouso de Santana do Iapó dos Campos), Carambeí (antiga Fazenda Carambeí), Ponta Grossa, Palmeira, Lapa, Campo do Tenente e Rio Negro;
- É m Santa Catarina: Mafra, Canoinhas (antigo Passo de Canoinhas), Timbó Grande, Santa Cecília (chamado campo do Corisco, no roteiro de 1745), Marombas, Ponte Alta do Norte, Curitibanos, Ponte Alta, Canoas e Lages;
- No Rio Grande do Sul: Bom Jesus, São Francisco de Paula, Rolante, Santo Antônio da Patrulha (Patrulha ou Guarda Velha do Viamão), Tramandaí e Viamão.
No início do século 19, os muares escassearam na região da Vacaria do Mar, o que motivou o deslocamento da rota em direção aos Sete Povos das Missões (Sudoeste do atual RS), onde os jesuítas mantinham criatórios. Essa variante do Caminho do Viamão foi denominada "Caminho Novo da Vacaria". Na altura de Lages/SC seguia para o Rio Grande do Sul pelas seguintes localidades: Vacaria, Lagoa Vermelha, Passo Fundo, Carazinho, Cruz Alta, Tupanciretã, Santiago e São Borja.
No final da década de 1840, para encurtar a jornada até Sete Povos das Missões, foi consolidada a Estrada das Missões ou de Palmas, como um ramal do eixo tradicional, que foi chamado "Caminho das Missões".
Saía de Ponta Grossa, no Paraná, e enveredava por Imbituva, Prudentópolis, Relógio, Guarapuava, Pinhão, Reserva do Iguaçu, Mangueirinha, Covó e Palmas; em Santa Catarina passava por: Xanxerê, Xaxim, Chapecó, Marechal Bormann e Goio-en (os últimos hoje distritos do município de Chapecó); e no Rio Grande do Sul: Nonoai, Palmeira das Missões, Santo Ângelo, São Luís Gonzaga, São Borja, Itaqui e Uruguaiana.
O tropeiro era o dono do negócio e comandante da viagem; o capataz era seu homem de confiança o substituía em sua ausência; os peões faziam todo o restante. A atividade econômica era muito lucrativa para o tropeiro e escorchante para a peonada, a quem cabia as tarefas mais árduas, como conservação dos animais, arreios e bagagem.
O pintor francês Jean-Baptiste Debret registrou, em 1820, a indumentária e os objetos da época. Todos usavam poncho e chapéu. O poncho, que também cobria parcialmente o animal, protegia do frio e da chuva. Debaixo dele guardavam armas como a clavina (carabina), a garrucha (uma espécie de revólver) e a lapiana, uma faca curta e de ponta fina, a preferida pelos tropeiros.
O chapéu era de feltro, de copa baixa e abas largas e flexíveis. O tropeiro e o capataz, com algumas variantes, usavam camisa de algodão com um colete por cima e ceroula (espécie de calça folgada) do mesmo pano, guaiaca (pequena bolsa de couro) na cintura e botas de cano longo.
Já a vestimenta dos peões era muito simples: camisa e calça de algodão grosseiro, complementada pelo chiripá (retângulo de tecido, geralmente de lã, passado entre as coxas e preso à cintura) que os protegia do frio.
A alimentação era à base de toucinho, feijão, farinha e carne seca, transportados junto com os utensílios de cozinha nas bruacas (caixas) de couro. Bebidas alcoólicas eram usadas em picadas de insetos e permitidas apenas em dias muitos frios, quando tomavam um pouco de cachaça para evitar resfriado.
A condução dos animais só era difícil durante a travessia dos sertões, no cruzo de rios caudalosos e nas regiões pantanosas ou íngremes. De resto, a marcha era monótona, com as mulas a passo desanimado a acompanhar o tilintar do cincerro (sino) da égua madrinha na solidão das vastas campinas, pequenas vilas e povoados do caminho das tropas." - (Autora: Rose Ferrari / publicação: campoecidade.com)
Paulo Grani

ESTÁDIO DO JUNAK DA COLÔNIA POLONESA Foto de 1936, do antigo estádio do Clube Junak, do Bigorrilho, de Curitiba. O nome do estádio foi mudado no começo da década de 1930 para Franklin Roosevelt, por motivos políticos da época.

 ESTÁDIO DO JUNAK DA COLÔNIA POLONESA
Foto de 1936, do antigo estádio do Clube Junak, do Bigorrilho, de Curitiba. O nome do estádio foi mudado no começo da década de 1930 para Franklin Roosevelt, por motivos políticos da época.

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ESTÁDIO DO JUNAK DA COLÔNIA POLONESA
Foto de 1936, do antigo estádio do Clube Junak, do Bigorrilho, de Curitiba. O nome do estádio foi mudado no começo da década de 1930 para Franklin Roosevelt, por motivos políticos da época.
Fundado em 10 de abril de 1922 com o nome Strzelec (em polonês significa atirador ou arqueiro), em pouco tempo mudou para Towarzystwo Wychowania Fizycznego Junak (em português Sociedade de Educação Física Junak).
Na década de 1920 disputou o futebol amador de Curitiba e em 1935 disputou o futebol profissional paranaense. Em função de disputas políticas internas e da colonia polonesa, o Junak (em polonês significa jovem destemido e pronuncia-se iunaque) foi substituído por Juventus, em homenagem ao clube de Turim, pois no clube também havia muitos imigrantes italianos. As cores do Junak eram o vermelho e o branco e com a mudança para Juventus, adotou o tricolor: vermelho, preto e branco.
O clube mandava seus jogos no Estádio Franklin Delano Roosevelt, localizado no Bigorrilho, onde localizava-se até o início do século 21 a sede da Sociedade União Juventus que, após um incêndio, o terreno foi vendido e instalou-se o hipermercado Angeloni.
O campeonato paranaense de 1949 foi o último como profissional, pois a colônia polonesa, que administrava o clube, no início do ano de 1950, dispensou toda a equipe técnica e os jogadores. Durante as décadas de 1950 e 1960 o Juventus voltou a participar de torneios amadores.
(Foto: Acervo Mauro Sniecikowski)
Paulo Grani.

O INESQUECÍVEL QUEBRA-QUEIXO "Quebra-queixo… Ô quebra-queixo… Ô quebra-queixo…”. É assim que os vendedores dessa cocada muito especial avisam, em alto e bom tom, a sua chegada a quem estiver por perto.

 O INESQUECÍVEL QUEBRA-QUEIXO


"Quebra-queixo… Ô quebra-queixo… Ô quebra-queixo…”.
É assim que os vendedores dessa cocada muito especial avisam, em alto e bom tom, a sua chegada a quem estiver por perto.


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O INESQUECÍVEL QUEBRA-QUEIXO

"Quebra-queixo… Ô quebra-queixo… Ô quebra-queixo…”.

É assim que os vendedores dessa cocada muito especial avisam, em alto e bom tom, a sua chegada a quem estiver por perto. Eles perambulam pelas ruas empurrando carrinhos com tabuleiros de alumínio ou madeira cheios de uma cocada dourada escura e caramelizada, doce, mas com um azedinho de limão que faz a diferença. Além desses itinerantes, há os que escolhem pontos fixos em esquinas, praças, mercados, circos e parques de diversões pelo Brasil afora.

O ofício de cocadeiro inclui fazer o doce em casa e sair pra vender, muitas vezes passa de pai pra filho e alguns ganham tanta fama que atraem freguesias imensas, que esvaziam as assadeiras em pouco tempo.

Uns pedem a porção pequena de R$ 2,00, outros querem a mais caprichada de R$ 3,00 e os “formigas gulosos” compram a bem grande de R$ 5,00 e depois tomam vários copos d’água. Feito o pedido, o cocadeiro levanta o plástico que cobre a cocada e, com uma espátula, rasga uma fatia fina da cocada puxa-puxa, coloca a porção num pedaço de papel e entrega ao freguês.

Quando guri, lembro-me de ter feito, junto com minha mãe, uma façanha de produzirmos cocadas e eu saía com o tabuleiro a vendê-las. Eu ia ao mercado municipal, comprava meia dúzia de côcos e raláva-os. Minha mãe dava o comando no fogo, até produzirmos três tipos de cocada: A branca, a cinza e a marron. Tudo era uma questão do ponto de cozimento da mistura do açúcar e o côco. Porém, não tenho a menor idéia de qual é a diferença de como fazer o tão saboroso, singular e saudoso "quebra-queixo".

Fica a dúvida: Até quando esses confeiteiros/vendedores subsistirão com essa manufatura pelas ruas, diante da grande mudança dos costumes da sociedade?

(Foto: pinterest)

Paulo Grani.

AS CARRETEIRAS DE CURITIBA ANTIGAMENTE - PARTE 8 Entrevista dada pelo sr Celestino Buso, irmão de Paulo Buso, ao site Nobres do Grid sobre os anos dourados das corridas de carreteiras que marcaram o automobilismo feito com amor e dedicação, com estes maravilhosos personagens da história sobre rodas do Brasil.

 AS CARRETEIRAS DE CURITIBA ANTIGAMENTE - PARTE 8
Entrevista dada pelo sr Celestino Buso, irmão de Paulo Buso, ao site Nobres do Grid sobre os anos dourados das corridas de carreteiras que marcaram o automobilismo feito com amor e dedicação, com estes maravilhosos personagens da história sobre rodas do Brasil.


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Paulo Buso em foto da década de 1950.

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A última carreteira nº 10, guardada como relíquia pela família Buso.
AS CARRETEIRAS DE CURITIBA ANTIGAMENTE - PARTE 8
Entrevista dada pelo sr Celestino Buso, irmão de Paulo Buso, ao site Nobres do Grid sobre os anos dourados das corridas de carreteiras que marcaram o automobilismo feito com amor e dedicação, com estes maravilhosos personagens da história sobre rodas do Brasil.
Ao invés de uma entrevista, deixaram o ‘seu’ Celestino bem à vontade para falar:
"Nós somos de um tempo em que se corria por amor ao automobilismo mesmo. Éramos todos jovens, entusiasmados e fazíamos umas loucuras que só vendo.
As carreteras que vimos correr primeiro eram as dos gaúchos, como os Andreata (Catharino e Julio), o Breno Fornari e outros tantos... A primeira carretera do Paraná não foi nossa. Foi do o Euclides Bastos, o “Perereca”. Ele que foi ao Rio Grande, comprou umas peças e montou a carretera dele. Os gaúchos foram os que iniciaram com essa coisa de corrida em estradas e eles tinham um intercâmbio com os argentinos e uruguaios.
Antes mesmo de nós montarmos a nossa o Perereca já andava com uns prospectos embaixo do braço dizendo que ia fazer e tal... e ele acabou fazendo e ia disputar corridas com os gaúchos. Mas a carretera foi feita na nossa oficina, lá na Comendador Araújo.O Perereca chegou um dia com umas revistas, e uns desenhos e foi mostrando para o gordo (tratamento do irmão para com o Paulo Buso) como era, o que tinha que fazer e tal e fomos fazendo aquilo que nunca tínhamos feito antes.
Nossa oficina era um barracão de madeira, não tinha luxo em nada, mas tinha um bom espaço e o Perereca comprou uma pickup Ford, 1939, para montarmos a carretera. Ele queria montar a carretera a tempo de disputar a prova Getúlio Vargas, que era corrida em 4 etapas. O Perereca não tinha muito dinheiro, mas era um entusiasta e nós fomos fazendo. Conseguimos fazer a carretera a tempo de se disputar a etapa entre o Rio e São Paulo, que seria a inauguração da Rodovia Presidente Dutra e o Paulo foi como assistente e co-piloto do Euclides, disputar a prova.
E foi aí que o Paulo se entusiasmou pela coisa e quando voltou dessa corrida começou a pensar em como preparar a nossa carretera. Pensou e preparou essa carretera aí que está nas fotos. O interessante desta corrida que foi a primeira que o Paulo disputou é que ele abandonou a prova e o Perereca no meio da competição! Numa noite de intervalo, chegou a notícia de que a Miriam, a primeira filha dele havia nascido... O gordo largou a mulher, grávida de 8 meses para disputar uma corrida de carretera, vê se pode! Mas aí a Mirian veio prematura e ele quase enlouqueceu. No final, a colocação deles na etapa Rio-São Paulo do Grande Prêmio Getúlio Vargas foi um 4° lugar."
"Bom, depois desse Grande Prêmio Getúlio Vargas, o Paulo se empolgou todo para montar uma carretera pra ele e ficava falando que ia ser bom correr e tal... e ele montou a primeira carretera dele. Depois que o Paulo montou a carretera dele eu montei a minha também e por último o João montou a dele também... mas ele só se meteu nisso no final dos anos 50.
O equipamento das nossas carreteras nós fomos comprar na Argentina e a coisa era meio complicada no tempo do Perón (Juan Perón, presidente argentino na época). O Nosso “guardalivros” (nome dado ao contador na época) era um argentino, o José Delli, e ele tinha umas facilidades, umas amizades por lá, além de que o irmão, a mãe e outros parentes moravam em Buenos Aires e então o Paulo foi lá para a Argentina com ele para comprar os equipamentos."
"O Zé Delli era casado com uma judia, mas tudo que era dinheiro que ele pegava era pra gastar no jogo! Ele ia lá umas quantas vezes para a Argentina só para poder jogar e de uma feita o Paulo foi com ele para comprar as peças para o motor, e outras coisas. Nós tínhamos uma bodega velha e vendemos ele para poder comprar as coisas que precisávamos (Cobertura do motor de alumínio, uns pistões novos mais leves, um sistema de dupla carburação... e tal). Só que na hora de vir embora, a alfândega pegou tudo! Não se podia tirar nada da Argentina naquela época. Era considerado contrabando. O Paulo inclusive foi fichado e só não ficou preso porque o Zé Delli tinha um irmão que era agente da aduana e chegado nos caras lá. Daí conseguiu liberar os dois... mas o material ficou todo lá.
O gordo ficou possesso. Queria o material, mas não tinha nem como entrar mais por ali. Daí que o irmão do Zé Delli passou o serviço: “Olha, tem que fazer a coisa muito bem feita, com todas as notas e tal. Se vocês fizerem isso eu dou um jeito de liberar vocês. O material ta todo aqui, apreendido, e tem um cara que é o responsável pelo controle que a gente pode dar uma grana para ele, mas toda a parte de notas tem que estar certinha. Se der algum problema, eu nem conheço vocês.” (para quem acha que só existe “jeitinho brasileiro”, eis aí um típico exemplo do “jeitinho argentino”).
Daí eu é que fui no lugar do Paulo. Fomos por Santana do Livramento e ficamos uns 3 dias no Uruguai porque o Zé queria jogar nos cassinos. Preparamos tudo e seguimos as dicas do irmão do Zé Deu para nós. “No dia tal, na hora tal, eu vou estar lá fazendo a fiscalização daí vocês coloquem as peças no meio das malas, nas mudas de roupa e não se mostrem apavorados.” Ele fez questão de lembrar que, caso desse algum problema, ele nem nos conhecia. Fomos pegar o vôo da Real, às 5 horas da manhã, para Porto Alegre. E chegando lá, tinha pouca gente. A aduana tinha um balcão baixo e daí começaram a chamar as pessoas para a vistoria de bagagem e nada do irmão do Zé aparecer. Foi me dando um frio na espinha e eu só pensava que dessa vez eu ia preso.
Todos os passageiros foram colocando as malas sobre o balcão e nós ficando para trás até que nos chamaram: “Vocês dois aí, estão indo para Porto Alegre? Venham até aqui para a revista de bagagem.” Quando o outro sujeito da aduana falou isso, o irmão do Zé saiu lá de uma sala e chegando, disse: “Pode deixar que eu olho essas aqui.” E assim ele deu um jeito e liberou a gente para seguir viagem. Em Porto Alegre foi mais fácil, demos uma grana para o cara daqui e saímos com o material. Aí as nossas carreteras ficaram em condições de competir de igual para igual."
"Na época tinha uma associação (era o Automóvel Clube do Paraná) cujo o presidente era um tal de Anfrisio Siqueira. E foram sendo criadas umas corridas. A mais famosa foi a corrida que ia de Curitiba a Ponta Grossa e retornava de Ponta Grossa a Curitiba, em duas etapas (Era o Grande Prêmio Paraná Esportivo). Isso no meio dos anos 50. Daí o Paulo se inscreveu... ah, mas não teve pra ninguém. Correram também o Perereca, o Germaninho (Germano Schlogl), o Haroldo Vaz Lobo... O Paulo ganhou a primeira! Na segunda, eu já tinha a minha carreteira, mas meus equipamentos eram o que sobrava da carreteira do Paulo. Meu assistente era um “polacão”, o Evaldo Chipanski (a grafia pode estar incorreta). Esse era entusiasta mesmo... ele sempre falava: “Hoje nós vamos ‘papar’ essa, não vai ter pra ninguém.”
Nessa segunda corrida, o carro tava preparado, o do Paulo também... e, se não dava pra ganhar, dava pelo menos pra brigar. Daí que no dia da corrida o carro, pela manhã, quando viramos o motor, o carro tava rateando. Eu falei que daquele jeito nós não íamos nem acompanhar os carros da categoria turismo, quanto mais as carreteiras. O Polaco se enfezou e começou a esbravejar “se tu não for, eu vou sozinho!” A gente saia da oficina ali na comendador e para ir para Ponta Grossa, tomava a Av. Batel e lá embaixo pegava o seminário até chegar na BR, que era de terra batida. Na subida o motor rateava que era uma barbaridade e aí nas descidas eu tinha que dar pau mesmo.
Eu tinha uma foto, não sei onde foi parar, que um sujeito lá de Palmeira tirou. Na entrada de Palmeira tinha uma estrada de ferro que cruzava a BR e tinha um mourão de pedra do lado e um posto da polícia rodoviária. O carro vinha e você tinha que trazer e dar uma puxadinha para contornar... fazia “isso assim” (ele faz um movimento com a mão em que descreve uma espécie de chicane rápida) E esse cidadão tirou uma foto minha, com a carretera a coisa de meio metro do chão. Quando eu passei por ali, vindo de uma descida de quase 1 Km, embalado e não dava mais pra segurar. Eu calculei que tinha que entrar ali, junto do mourão para cair no meio da pista e fui... e deu certo. Ele foi, uns dois meses depois, me levar esta foto lá na oficina, mas eu não sei onde foi parar (uma pena... mas, para quem achar que “carretera não voa”, Em breve mostraremos duas fotos que provarão o contrário).
E chegou falando que tinha tirado uma foto que ele estava do lado do mourão e pegou a carretera por baixo... era a número 54 – a minha. O gordo passou por lá primeiro e também voou longe, mas ele disse que eu tinha voado mais alto, que eu tinha feito uma loucura e que ele não sabia como é que eu tinha segurado o carro na pista depois (deixa que eu estava sem força para fazer as subidas e tinha que compensar nas descidas). O Germaninho passou em segundo e também voou no mesmo lugar. Essa corrida eu cheguei em 4° ou 5°, não lembro agora. Eu cheguei atrás até do “Galalau”(Waldomiro), que era jogador, acho que ponta esquerda, do Atlético-PR e que também ainda é vivo. Ele tinha um Citroen, ele tinha uma oficina que só mexia com Citroen, mas o motorzinho do Citroen fundia sempre, não aguentava a corrida.
Na terceira corrida, que o Paulo também ganhou, teve uma passagem boa foi que, na volta, nós conversamos e ele falou que estava com um problema (a biela estava batendo) e precisava de uma ajuda: “Eu estou com um rapaz aqui, o Nestor, goleiro do Atlético-PR, que tem que jogar as 4 horas... e eu não sei se eu vou conseguir chegar a tempo ou mesmo chegar com essa biela desse jeito”. E me pediu para levar o tal do Nestor porque o Nestor não podia ficar fora da partida, caso eu o visse parado. Eu disse que não tinha problema e tal... bom, lá na descida do Tibagi, eu vi o Waldomiro parado fazendo sinal. Eu encostei, o Nestor pulou pra dentro do carro e fomos... e o Nestor foi de carona (numa corrida) para Curitiba, sentado em cima do tanque de combustível(!!!), que era instalado atrás dos bancos meu e do Chipanski. Olha que loucura! Naquela época não tinha cinto de segurança nem nos bancos. Nessa corrida o Germaninho foi segundo e eu fui terceiro... mas o Perereca quebrou.
Naquele tempo, correndo em estrada de terra, os carros tinham que ser reforçados, se não quebrava mesmo. Tipo: Onde haviam 4 amortecedores, colocávamos 8! No final da prova tinham dois ou três estourados. Tinha mola partida... era buraco e solavanco o tempo todo... e tinha que dar pau mesmo!
Depois disso deixei a oficina pois queria fazer faculdade de Medicina... mas depois de hum ano começou a faltar grana. O pai já tinha ido e éramos só nós e eu acabei voltando para a oficina.
Eu lembro que o pai desses meninos (ele estava se referindo ao Emerson e ao Wilsinho), o Wilson Fittipaldi (O barão), criou as Mil Milhas Brasileiras nos anos 50 e nós fomos lá umas duas ou três vezes. Os Gaúchos, Os Andreata (Cathatino e Julio), o Bertuol (Aristides), o Fornari (Breno)... eles todos subiam para ir disputar essa corrida. Iam lá e venciam! Só pararam de ganhar quando começaram a importar uns carros da Europa, que eram de última linha, para ganhar deles."
A primeira vez que nós fomos lá não foi com a carretera do Paulo, foi com o outro irmão, o João Augusto Buso que correu em parceria com o Alemãozinho, o Germano (Schlogl), que era um braço fenomenal. Eu fui como mecânico e o Paulo, “dinheirista” como ele só, alugou a carretera para um outro piloto correr.
Nós ficamos num hotelzinho em Santo Amaro, que não era muito longe do autódromo mas também tinha um porão, lá para os lados da rua Augusta que a Sonervig (não sei se a grafia está correta) emprestou para o pessoal que estava correndo com Ford. Era lá que nós guardávamos os carros mas era muito fechado e aquele monte de motor virando, eu peguei uma intoxicação... pensei que fosse morrer!
Nessa corrida aconteceu um fato importante: Durante a madrugada, o Catharino Andreata veio até os nossos boxes e perguntou:
- Quem é que está na carretera 52?
Eu falei: É o Germaninho lá de São José dos Pinhais.
- Olha, eu vou te contar... ele é braço! Passou por mim que mais parecia que eu estava parado. Achei que ele fosse se arrebentar na próxima curva mas, que nada!
E quem estava falando aquilo era um dos maiores pilotos brasileiros da época.
"Quando o Alemão entregou o carro para o João, eles estavam em 4° lugar, mas o João não tinha o atrevimento do Germaninho. Ele era bom, mas não era tão rápido. No final terminamos em 10°.
No ano seguinte eles voltaram lá. Eu não fui, mas eles não conseguiram terminar a prova. Na madrugada, novamente sob cerração, eles chegaram a liderar a corrida, mas acabaram quebrando e abandonando.
O Paulo ainda voltou lá uns anos depois, mas também não conseguiu fazer muita coisa. Os carros esporte já estavam dominando a prova.
Além do tricampeonato do Paraná esportivo, teve uma outra corrida muito boa que foi a do centenário... centenário de alguma coisa aqui do Paraná e que eu não lembro do que era... e o circuito ia pela Marechal Floriano até a BR 116... mas só tinha asfalto até a estrada de ferro.
Apareceu nesta época outro piloto muito bom, o Haroldo Vaz Lobo. Ele era bom, mas moia os carros e costumava não terminar as corridas. Nessa corrida, inclusive, ele estava na frente, mas numa das passagens ali pela linha de trem ele passou muito forte e abriu o diferencial traseiro. Ali tinha um flexível que ligava o freio para as rodas e esse flexível abriu e ele ficou sem freio. E na curva para entrar na BR tinha uma pá de gente e ia ser uma tragédia porque ele estava sem freio. Quando ele viu que não tinha freio pediu para o mecânico fazer sinal e gritar para o público sair da frente... o cara fez o que pode, gritou, acenou... Eu lembro bem disso porque eu corri com o Ford 39, na categoria turismo, onde largaram 13 carros. Nessa prova e capotei naquela curva. Eu vinha com um tal de Reginatto na minha frente com um Ford 51 e eu em segundo. Daí
Que eu não conseguia passar o Reginatto de jeito nenhum.
Lá na entrada da curva eu tentei dar um bote nele, mas não deu e eu vi que ia dar no meio dele. Daí tirei para o lado e com aquela pista de areia e pedrisco eu fui, fui, fui... e acabei saindo da pista e capotando. Bom, daí eu tava lá na curva quando o Vaz Lobo veio e eu também comecei a gritar e o povo abriu um buraco no meio e lá ele passou. O Gordo ganhou essa prova e recebeu uma taça bonita que só vendo (a mais alta, junto ao carro).
Aquela corrida tem uma outra estória. Nós penamos muito tentando arrumar o motor da carretera que não se acertava. Daí que estava lá na oficina outro que era um entusiasta também – e que ainda está vivo – era o Marcos Corsan, estudante de engenharia. Já passavam de umas 11 da noite e o gordo tinha mandado fundir uma tampa de centro pra três carburadores... mas não estava dando certo de jeito nenhum. A tampa não fechava, não encaixava e tirava e colocava e nada.
Daí ele resmungou um monte, italianão brabo, e falou que não ia correr. Bateu a tampa do motor e foi embora. Eu fiquei na oficina com o Corsan e mais o rapazinho que corria com ele, o “Tchitchauba”. Eu falava: “Puxa vida... pegamos pneu, combustível e não correr... vamos mexer nesse negócio aí que a gente vai descobrir o que é”. E ficamos vendo o que podia ser feito e tal e achamos que o problema era de abertura, que não tava indo combustível suficiente e eu falei que precisávamos dar um jeito de fechar a tampa e eu ia arranjar uma agulha para abrir os giclês dos carburadores. Na primeira tentativa já tinha dado uma melhorada. Tínhamos o contagiros e íamos vendo quanto dava sem o motor ratear. Tiramos e colocamos 3 vezes a carburação. E lá pelas 4 da manhã, colocamos a terceira vez. Demos 5000 giros sem ratear no motor da “maritaca veia”... Dar 5000 giros num motor daqueles não era fácil, não. Daí ficamos satisfeitos.
O Corsan tinha uma moto e eu pedi que ele fosse até a esquina do Asilo e eu vou atrás só pra escutar e sentir o motor na retona até lá. Eu dei sinal e ele arrancou e eu fui em primeira até os 80, o giro lá em cima e eu meti a segunda... fui pra 135! Aí acabou a reta mas já dava pra ver que estava bom. O Paulo morava ali naquela casa onde hoje é a confecção (a Rafa,s, na 24 de maio) e o ronco do motor acordou o gordo. Quando eu vim pra entregar o carro, ele já estava no portão, junto com a mulher dele e ficou todo assim... “ué, vocês deram jeito mesmo, né... agora ta bom!” E ele correu e ganhou aquela prova. Eu fui pra casa, que eu morava ali mais para o alto para tentar dormir um pouco porque eu ia correr na categoria turismo, mas as seis e meia o “Tchitchauba” já estava lá gritando no portão.
Depois nós paramos de correr, o Paulo vendeu a oficina e nós não mexemos mais com isso por um bom tempo. Só depois do autódromo ali em Pinhais é que nós voltamos a acompanhar alguma coisa. Tinha um piloto que apareceu correndo de carreteira depois, o Altair Barranco. Ele ganhou algumas corridas, mas os autódromos não eram mais o lugar para as carreteras."
"No final dos anos 90 foi feita uma homenagem para eles todos, os pilotos, e ficou registrado isso e nós estávamos lá.
Foi uma época muito boa e eu era gurizão... eu me diverti muito."
(Texto extraído de: Nobres do Grid)
Paulo Grani

AS CARRETEIRAS DE CURITIBA ANTIGAMENTE - PARTE 7 "Entre curitibanos apaixonados pelo automobilismo de competição de antigamente, sobretudo da década de 1950, tempo das famosas carreteiras, há dúvida e até polêmica sobre quantos carros de corrida o piloto Euclides Bastos – o popular e pioneiro Pereréca – possuiu e que fim os veículos tiveram.

 AS CARRETEIRAS DE CURITIBA ANTIGAMENTE - PARTE 7
"Entre curitibanos apaixonados pelo automobilismo de competição de antigamente, sobretudo da década de 1950, tempo das famosas carreteiras, há dúvida e até polêmica sobre quantos carros de corrida o piloto Euclides Bastos – o popular e pioneiro Pereréca – possuiu e que fim os veículos tiveram.

AS CARRETEIRAS DE CURITIBA ANTIGAMENTE - PARTE 7
"Entre curitibanos apaixonados pelo automobilismo de competição de antigamente, sobretudo da década de 1950, tempo das famosas carreteiras, há dúvida e até polêmica sobre quantos carros de corrida o piloto Euclides Bastos – o popular e pioneiro Pereréca – possuiu e que fim os veículos tiveram.
Muito bem. Pesquisando e ouvindo relatos de Edson Vercesi, neto e fan incondicional de Pereréca, colhemos informações esclarecedoras, as quais repassamos aos leitores. Pereréca nasceu em agosto de 1907, na cidade de Guajuvira/PR, à beira do rio Iguaçu e faleceu em julho de 1988, tendo vindo a Curitiba a fim de trabalhar como tratador de cavalos no Jockey Clube mas, acabou sendo um dos motoristas de taxi mais conhecidos da capital, exercendo este ofício até 1978.
Começou a participar de corridas de carros já em 1948 e chegou até a usar o seu taxi (na época “carro de praça”) para tanto. Incentivado pela sua esposa Maria José Bastos – dona Nenê – construiu, na oficina “Leão” de Paulo e Celestino Buso, a sua primeira carreteira, um Ford cupê 1940, motor V8 do caminhão F-600, com equipamento Edelbrock.
Depois de disputar uma corrida na cidade de Porto Alegre/RS, vendeu essa carreteira a um piloto gaúcho, não se tendo mais notícia dela. Logo depois, construiu a sua segunda carreteira, desta feita na oficina Rasera, situada no bairro Campina do Siqueira, em Curitiba também.
Tratava-se de um Ford cupê 1937, equipado com motor V8 Rocket (foguetão) com equipamento especial Edelbrock. Esta carreteira foi vendida a Nilton Osternaque, que transformou-a em carro normal de rua novamente e vendeu-o a Altair Manoel, ambos curitibanos. Pelo que se sabe, o carro está até hoje com este último, mas, em Florianópolis/SC.
Com a primeira carreteira, Pereréca disputou, entre outras provas, três vezes as Mil Milhas Brasileiras, desde a primeira edição, em 1956.
Com a Segunda, já na sua fase final como piloto de carros de corrida, esteve por duas vezes nas Mil Milhas também.
Numa das fotos de hoje, operada no bairro Atuba/Curitiba (acervo de Edson Vercesi), flagrante da recepção dada aos pilotos Euclides Bastos (à direita, com uma das mãos segurando um dos troféus ganhos e com a outra pousada no ombro do seu neto Edson) e Germano Schlögl (à esquerda, de camisa e calça escuras, mão na cintura), ao lado da carreteira Ford 1940, após regressarem de São Paulo onde obtiveram o quarto lugar na I Mil Milhas Brasileiras, em 1956. Na outra, a carreteira Ford 1937 no box, em plena Mil Milhas Brasileiras/Interlagos/São Paulo, no final da década de 1950."
(Extraído de: tribunapr.com.br)
Paulo Grani

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Foto tirada no bairro Atuba/Curitiba, flagrante da recepção dada aos pilotos Euclides Bastos (à direita, com uma das mãos segurando um dos troféus ganhos e com a outra pousada no ombro do seu neto Edson) e Germano Schlögl (à esquerda, de camisa e calça escuras, mão na cintura), ao lado da carreteira Ford 1940, após regressarem de São Paulo onde obtiveram o quarto lugar na I Mil Milhas Brasileiras, em 1956.
Foto: Acervo Edson Vercesi

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Carreteira nº 86, Ford 1937 no box, em plena Mil Milhas Brasileiras/Interlagos/São Paulo, no final da década de 1950.
Foto: Acervo Edson Vercesi

AS CARRETEIRAS DE CURITIBA ANTIGAMENTE - PARTE 6 Paulo José Buso ou simplesmente Paulo Buso. Este foi um dos mais destacados senão o mais importante dos pilotos de carreteira paranaenses, cuja carreira chegou ao auge na década de 1950.

 AS CARRETEIRAS DE CURITIBA ANTIGAMENTE - PARTE 6
Paulo José Buso ou simplesmente Paulo Buso. Este foi um dos mais destacados senão o mais importante dos pilotos de carreteira paranaenses, cuja carreira chegou ao auge na década de 1950.


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AS CARRETEIRAS DE CURITIBA ANTIGAMENTE - PARTE 6
Paulo José Buso ou simplesmente Paulo Buso. Este foi um dos mais destacados senão o mais importante dos pilotos de carreteira paranaenses, cuja carreira chegou ao auge na década de 1950.
Tri-campeão da prova Curitiba-Ponta Grossa-Curitiba pela antiga estrada pavimentada com saibro, entre outros feitos. Faleceu a 25 de fevereiro de 2002. Não é necessário dizer mais nada.
Simplesmente vamos transcrever crônica que fizemos logo após o seu falecimento: “Senhores, desliguem seus motores. Desliguem todos, por favor, apenas por algum tempo, os de 4, os de 6, principalmente os de 8 em V e, se houver, os de 12 cilindros também. Que se faça silêncio. Que os pistões fiquem quietos, as bielas e os virabrequins descansem em seus mancais e bronzinas.
Deixem que o combustível, como se sangue fosse, permaneça sereno em seu depósito e não circule pelas veias do carro, como de um corpo, levando o alimento que faz pulsar o motor, o coração. Que as bobinas as velas não emitam a centelha que dá vida à máquina.
E que os escapes não cuspam fogo nem fumaça, apenas esperando. Isto porque, as rodas dianteiras da carreteira Ford número 10 não terão mais que acertar, em alta velocidade, os dois pranchões colocados sobre as precárias pontes de madeira de rios como o Barigui, o Passaúna, o Verde e outros, na estrada Curitiba-Ponta Grossa. O combustível preparado com benzol não terá mais que passar pelos três carburadores e derreter as velas do motor Mercury 51, comprimido contra os cabeçotes de alumínio Edelbrock.
O comando de válvulas artesanal, confeccionado com muito trabalho nas altas horas da noite, não será ais acionado. A engrenagem da segunda marcha não terá mais que aguentar todo o esforço do motor para que o carro vença a subida da Serra de São Luiz do Purunã.
Ali, as pedras do chão de macadame permanecerão inertes agora, pois, não serão arremessadas para longe pelas rodas traseiras da carreteira. Nem mais a poeira do saibro será levantada, para depois pousar suavemente, levada pelo vento frio, sobre as folhas verdes das árvores, tingindo-as de branco.
Na verdade, nem mais a água das chuvas terá o trabalho de retirar essa poeira, devolvendo o verde à mata. Mas, se apurarmos o ouvido, talvez ainda seja possível detectarmos o eco refletido pelos paredões rochosos, nas profundezas das grotas, do som grave saído dos escapes do motor.
Mais acima, já nos Campos Gerais, no caminho de Porto Amazonas, as pombas rolas não levantarão vôo e se perderão no horizonte, aos bandos, assustadas pelo barulho de um motor a mais de 6.000 giros.
Saindo das casas à margem da estrada, a gurizada curiosa não subirá mais nos barrancos, para ver passar aquele carro esquisito e barulhento. As touceiras de capim, as paineiras, não se curvarão, como num cumprimento, empurradas pelo ar deslocado pelo carro. Na ponte do Rio dos Papagaios só haverá silêncio, sem derrapagens.
Em Palmeira, ninguém estará esperando para ver quem vem na frente e, dali a Ponta Grossa, nas grandes retas, ninguém mais baterá o recorde de 12 minutos. Aliás, ninguém mais acenará com o boné branco para o público, na pista de Interlagos, nem passará voando sobre os trilhos do trem da rua Marechal Floriano Peixoto, não haverá mais comemoração na chegada, na praça General Osório.
Morreu Paulo Buso, Paulo José Buso, o “gentleman”, o tricampeão. Serenamente, como ele demonstrava ser sereno ao segurar um copo de água com uma das mãos, sem fazer o líquido tremer e dizia: “Piloto de carro de corrida tem que ser assim”.
O Leão da Estrada, como era chamado pelo jornal Paraná Esportivo, não rugirá mais. Calaram-se para sempre, ele e sua carreteira com a imagem do leão pintada nas portas. Disse o seu amigo e companheiro de corridas Paulo Silva: “Parece que Buso não morreu e sim recebeu a bandeirada final”. (Por Ari Moro)
Paulo Grani