domingo, 22 de maio de 2022

"A primeira rota regular dos campos sulinos às demais regiões do Brasil Colônia foi o caminho aberto, no final do século 17, ligando as vilas de Sorocaba e Curitiba, pertencentes à então Capitania de São Paulo. Dos currais curitibanos vieram as primeiras manadas de gado bovino e cavalar, conduzidas pelos próprios fazendeiros. Era o embrião do tropeirismo.

 "A primeira rota regular dos campos sulinos às demais regiões do Brasil Colônia foi o caminho aberto, no final do século 17, ligando as vilas de Sorocaba e Curitiba, pertencentes à então Capitania de São Paulo. Dos currais curitibanos vieram as primeiras manadas de gado bovino e cavalar, conduzidas pelos próprios fazendeiros. Era o embrião do tropeirismo.


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Tropeiros acampados para passar a noite. No tripé, o feijão enriquecido com carne seca e torresmo, era o prato costumeiro para repor as energias. Ao fundo, o muro de pedras que delimitava o potreiro que abrigava os animais.
Foto: pinterest

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CONHECENDO O EMBRIÃO DO TROPEIRISMO
"A primeira rota regular dos campos sulinos às demais regiões do Brasil Colônia foi o caminho aberto, no final do século 17, ligando as vilas de Sorocaba e Curitiba, pertencentes à então Capitania de São Paulo. Dos currais curitibanos vieram as primeiras manadas de gado bovino e cavalar, conduzidas pelos próprios fazendeiros. Era o embrião do tropeirismo.
O volume de animais não supria a elevada demanda por carne e transporte, decorrente da exploração de ouro na região das Minas Gerais. O olhar voltou-se mais para o Sul, para a chamada Vacaria do Mar (Leste dos atuais Estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul, entre a Lagoa dos Patos e o rio Negro), onde jesuítas espanhóis criavam animais para manutenção das reduções (aldeamentos jesuítas de índios pacificados, que serviam como mão-de-obra).
Nas muitas vezes em que as reduções foram arrasadas pelos bandeirantes paulistas, sobraram apenas bois, cavalos e mulas abandonados, que se multiplicaram desenfreadamente e se espalharam pelos campos sulinos, ficando conhecidos como gado alçado ou chimarrão.
Para alcançar esses animais os tropeiros abriam picadas ou seguiam por antigas trilhas indígenas. O percurso era genericamente chamado de "Caminho das Tropas" e se dividiu em três vias principais: o "Caminho do Viamão", o "Caminho Novo da Vacaria" e o "Caminho das Missões".
O primeiro caminho foi o do Viamão, aberto em 1730 numa expedição oficial, comandada pelo sargento-mor Francisco de Souza e Faria. Em 1732, Cristóvão Pereira de Abreu, um rico negociante, reuniu diversos homens para fazer a retificação da rota de Souza e Faria, além de construir dezenas de pontes para facilitar o trânsito dos animais.
A comitiva inaugural do Caminho do Viamão contou com 130 homens e conduziu 1.300 cabeças de mulas e cavalos, a maioria proveniente da captura de animais soltos ou da pilhagem de criatórios dos jesuítas. A tropa tinha diversos destinos e, quando passou por Sorocaba, já cumpridos 1.500 quilômetros, estava reduzida a 800 cabeças que seguiram para São Paulo. Foi assim que Pereira de Abreu entrou para a história como o pioneiro do tropeirismo.
O trajeto permaneceu em uso por mais de 200 anos e incluía os seguintes locais, que depois originaram municípios.
- Em São Paulo: Sorocaba, Araçoiaba da Serra (antigo Campo Largo), Capela do Alto, Alambari, Itapetininga, Aracaçu (incorporado ao atual município de Buri), Buri, Itapeva (antigo sítio da Faxina e, mais tarde, vila de Itapeva da Faxina) e Itararé (antiga Fazenda de São Pedro do Itararé);
- No Paraná: Sengés, Jaguariaíva, Piraí do Sul (antiga Fazenda Piraí), Castro (antigo pouso de Santana do Iapó dos Campos), Carambeí (antiga Fazenda Carambeí), Ponta Grossa, Palmeira, Lapa, Campo do Tenente e Rio Negro;
- É m Santa Catarina: Mafra, Canoinhas (antigo Passo de Canoinhas), Timbó Grande, Santa Cecília (chamado campo do Corisco, no roteiro de 1745), Marombas, Ponte Alta do Norte, Curitibanos, Ponte Alta, Canoas e Lages;
- No Rio Grande do Sul: Bom Jesus, São Francisco de Paula, Rolante, Santo Antônio da Patrulha (Patrulha ou Guarda Velha do Viamão), Tramandaí e Viamão.
No início do século 19, os muares escassearam na região da Vacaria do Mar, o que motivou o deslocamento da rota em direção aos Sete Povos das Missões (Sudoeste do atual RS), onde os jesuítas mantinham criatórios. Essa variante do Caminho do Viamão foi denominada "Caminho Novo da Vacaria". Na altura de Lages/SC seguia para o Rio Grande do Sul pelas seguintes localidades: Vacaria, Lagoa Vermelha, Passo Fundo, Carazinho, Cruz Alta, Tupanciretã, Santiago e São Borja.
No final da década de 1840, para encurtar a jornada até Sete Povos das Missões, foi consolidada a Estrada das Missões ou de Palmas, como um ramal do eixo tradicional, que foi chamado "Caminho das Missões".
Saía de Ponta Grossa, no Paraná, e enveredava por Imbituva, Prudentópolis, Relógio, Guarapuava, Pinhão, Reserva do Iguaçu, Mangueirinha, Covó e Palmas; em Santa Catarina passava por: Xanxerê, Xaxim, Chapecó, Marechal Bormann e Goio-en (os últimos hoje distritos do município de Chapecó); e no Rio Grande do Sul: Nonoai, Palmeira das Missões, Santo Ângelo, São Luís Gonzaga, São Borja, Itaqui e Uruguaiana.
O tropeiro era o dono do negócio e comandante da viagem; o capataz era seu homem de confiança o substituía em sua ausência; os peões faziam todo o restante. A atividade econômica era muito lucrativa para o tropeiro e escorchante para a peonada, a quem cabia as tarefas mais árduas, como conservação dos animais, arreios e bagagem.
O pintor francês Jean-Baptiste Debret registrou, em 1820, a indumentária e os objetos da época. Todos usavam poncho e chapéu. O poncho, que também cobria parcialmente o animal, protegia do frio e da chuva. Debaixo dele guardavam armas como a clavina (carabina), a garrucha (uma espécie de revólver) e a lapiana, uma faca curta e de ponta fina, a preferida pelos tropeiros.
O chapéu era de feltro, de copa baixa e abas largas e flexíveis. O tropeiro e o capataz, com algumas variantes, usavam camisa de algodão com um colete por cima e ceroula (espécie de calça folgada) do mesmo pano, guaiaca (pequena bolsa de couro) na cintura e botas de cano longo.
Já a vestimenta dos peões era muito simples: camisa e calça de algodão grosseiro, complementada pelo chiripá (retângulo de tecido, geralmente de lã, passado entre as coxas e preso à cintura) que os protegia do frio.
A alimentação era à base de toucinho, feijão, farinha e carne seca, transportados junto com os utensílios de cozinha nas bruacas (caixas) de couro. Bebidas alcoólicas eram usadas em picadas de insetos e permitidas apenas em dias muitos frios, quando tomavam um pouco de cachaça para evitar resfriado.
A condução dos animais só era difícil durante a travessia dos sertões, no cruzo de rios caudalosos e nas regiões pantanosas ou íngremes. De resto, a marcha era monótona, com as mulas a passo desanimado a acompanhar o tilintar do cincerro (sino) da égua madrinha na solidão das vastas campinas, pequenas vilas e povoados do caminho das tropas." - (Autora: Rose Ferrari / publicação: campoecidade.com)
Paulo Grani

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