quarta-feira, 17 de dezembro de 2025

Miroslau Florecki e sua Casa Econômica: Um Retrato da Modéstia e da Dignidade na Curitiba dos Anos 1930

 Denominação inicial: Projéto para casa e muro para o Snr. Miroslau Floreki

Denominação atual:

Categoria (Uso): Residência
Subcategoria: Residência Econômica

Endereço: Lote 79 da Planta Flavio Macedo

Número de pavimentos: 1
Área do pavimento: 90,00 m²
Área Total: 90,00 m²

Técnica/Material Construtivo: Alvenaria de Tijolos

Data do Projeto Arquitetônico: 14/02/1935

Alvará de Construção: Nº 1011/1935

Descrição: Projeto Arquitetônico para construção de residência e muro, Alvará de Construção e fotografia do imóvel.

Situação em 2012: Existente


Imagens

1 - Projeto Arquitetônico.
2 - Alvará de Construção.
3 - Fotografia da residência em 2012.

Referências: 

1 – CHAVES, Eduardo Fernando. Projéto para uma casa e muro. Planta do pavimento térreo e de implantação; corte, fachada frontal e lateral, plantas de muro e fossa séptica apresentados em uma prancha. Projeto Arquitetônico. Microfilme digitalizado.
2 – Alvará n.º 1011
3 – Fotografia de Elizabeth Amorim de Castro (2012)

Acervo: Arquivo Público Municipal de Curitiba; Prefeitura Municipal de Curitiba.

Miroslau Florecki e sua Casa Econômica: Um Retrato da Modéstia e da Dignidade na Curitiba dos Anos 1930

Enquanto os palacetes se erguiam nas colinas nobres de Curitiba, nas ruas planas dos novos loteamentos brotavam casas simples — mas cheias de esperança. Entre elas, a residência projetada para Miroslau Florecki, em 1935, representa com singeleza o sonho de milhares de famílias paranaenses: ter um teto próprio, feito de tijolos e aspirações.


Um Projeto para a Vida Comum

Em 14 de fevereiro de 1935, data que curiosamente coincide com o Dia dos Namorados, foi assinado o Projéto para casa e muro para o Snr. Miroslau Florecki, elaborado pelo arquiteto Eduardo Fernando Chaves. O projeto, apresentado em uma única prancha detalhada, reunia:

  • Planta do pavimento térreo e implantação;
  • Corte arquitetônico;
  • Fachadas frontal e lateral;
  • Plantas do muro e da fossa séptica — sinal de um olhar atento à infraestrutura básica, algo ainda inovador para residências econômicas da época.

Localizada no Lote 79 da Planta Flávio Macedo, uma das subdivisões urbanas que expandiam Curitiba além do centro histórico, a casa de Florecki era o retrato da arquitetura residencial acessível no período entre-guerras. Com apenas um pavimento e 90,00 m² de área construída, sua planta era eficiente: sala de estar integrada à sala de jantar, dois quartos, cozinha, banheiro e área de serviço — tudo disposto com racionalidade e respeito ao clima subtropical úmido da região.

Construída em alvenaria de tijolos, técnica tradicional e confiável, a residência combinava durabilidade com economia. As janelas amplas permitiam ventilação cruzada, e o telhado inclinado — embora não descrito em detalhe nas fontes — seguia o padrão curitibano de cobertura cerâmica, ideal para as chuvas frequentes.


Miroslau Florecki: Um Homem do Povo

Pouco se sabe sobre a vida de Miroslau Florecki — seu nome sugere origem eslava, talvez polonesa, ucraniana ou tcheca, comum entre os imigrantes que se estabeleceram no Paraná no início do século XX. Muitos desses homens chegaram com pouco mais que as mãos e a vontade de construir uma nova vida. Comprar um lote na Planta Flávio Macedo e encomendar um projeto arquitetônico — ainda que modesto — era um ato de afirmação social e planejamento familiar.

O Alvará de Construção nº 1011/1935 (referência 2) confirma que o projeto foi aprovado pelas autoridades municipais, demonstrando que mesmo residências econômicas passavam por rigorosa fiscalização — sinal de uma cidade que, mesmo em tempos de crise econômica pós-1929, mantinha padrões urbanísticos.


A Casa que Sobreviveu ao Tempo

Em 2012, quase oitenta anos após sua construção, a casa de Miroslau Florecki ainda estava existente, conforme registrado na fotografia de Elizabeth Amorim de Castro (referência 3). Embora possivelmente alterada por reformas — como pinturas, troca de esquadrias ou acréscimos —, sua estrutura original permanecia reconhecível. O muro baixo, também projetado por Chaves, ainda delimitava o terreno com discrição, mantendo a integração visual com a rua, característica típica dos bairros operários e de classe média da época.

Essa persistência é um testemunho silencioso da qualidade do projeto original e do cuidado de gerações que habitaram o imóvel. Enquanto muitas construções efêmeras desapareceram, essa casa modesta resistiu — não por grandiosidade, mas por utilidade, solidez e afeto.


Um Símbolo da Arquitetura Social

A residência de Miroslau Florecki não aspirava ao luxo. Sua beleza residia na funcionalidade, no equilíbrio entre forma e necessidade, e na dignidade do habitar. Projetos como este, muitas vezes esquecidos nas narrativas históricas dominadas por palacetes e monumentos, são essenciais para compreendermos a verdadeira paisagem urbana de Curitiba.

Eduardo Fernando Chaves, ao desenhar essa casa, não apenas cumpria um contrato: contribuía para a democratização da arquitetura — provando que bom projeto não é privilégio dos ricos, mas direito de todos.


Epílogo: A Casa como Herança

Hoje, o Lote 79 da Planta Flávio Macedo pode não figurar nos roteiros turísticos. Mas para quem caminha por ali, há uma lição nas paredes de tijolos da casa de Florecki: a história de uma cidade também se escreve nas casas simples, nos muros baixos, nos quintais onde crianças brincaram e árvores cresceram.

Miroslau Florecki talvez nunca tenha imaginado que seu nome sobreviveria em arquivos técnicos e registros históricos. Mas graças a essa casa — pequena, sólida e honesta —, sua memória permanece viva.


“Nem toda grandeza precisa de torres. Às vezes, basta um teto que abrigue sonhos.”

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O Palacete de Julio Garmatter: Um Monumento da Elegância e da Memória em Curitiba

 Denominação inicial: Projecto do Palacete para o Snr. Julio Garmatter

Denominação atual: Museu Paranaense

Categoria (Uso): Residência
Subcategoria: Residência de Grande Porte

Endereço: Rua Dr. Kellers (Alto São Francisco)

Número de pavimentos: 2 (mais sótão e porão)
Área do pavimento: 1.145,31 m²
Área Total: 1.145,31 m²

Técnica/Material Construtivo: Concreto Armado

Data do Projeto Arquitetônico: 1928

Alvará de Construção: 

Descrição: Projeto Arquitetônico para a construção do Palacete Garmatter e fotografia do imóvel.

Situação em 2012: Existente


Imagens

1 - Projeto da Fachada Principal.
2 - Projeto da Fachada Lateral para a Rua Ébano Pereira.
3 - Corte transversal e implantação.
4 - Planta baixa do terraço e primeiro pavimento.
5 - Planta baixa do pavimento térreo e subsolo.
6 - Projeto do muro na Rua Dr. Kellers.
7 - Fotografia do Palacete na década de 1930.
8 - Fotografia do Palacete em 2008.

Referências: 

1, 2, 3, 4, 5 e 6 - PARANÁ. DEPARTAMENTO DE OBRAS E VIAÇÃO. Secção Técnica. Projecto do Palacete para o Snr. Julio Garmatter à Rua Dr. Kellers (Alto São Francisco). Curitiba, 14 de outubro de 1937. Plantas, cortes e fachadas apresentadas em seis pranchas. Cópia autentica executada pela Secção Técnica do Departamento de Obras e Viação. Levantamento arquitetônico, em cópia heliográfica.
7 - Coleção Palacete Garmatter.
8 - Fotografia de Elizabeth Amorim de Castro (2008).

Acervo: Secretaria de Estado da Cultura do Paraná; Denise G. Rupollo.

O Palacete de Julio Garmatter: Um Monumento da Elegância e da Memória em Curitiba

Na colina do Alto São Francisco, onde o horizonte se abre entre pinheirais e telhados coloniais, ergueu-se nos anos 1930 uma das mais sofisticadas residências da capital paranaense. Concebido para abrigar o empresário Julio Garmatter, o palacete que hoje abriga o Museu Paranaense é muito mais do que um edifício: é um testemunho arquitetônico de uma era de prestígio, inovação e gosto pela grandiosidade europeia adaptada à alma curitibana.


Um Projeto de Sonho: A Visão Arquitetônica de 1928

Em 1928, em meio ao florescimento urbano de Curitiba, foi concebido o Projeto do Palacete para o Snr. Julio Garmatter, encomendado por um dos nomes mais respeitados da sociedade local. Julio Garmatter — cujos negócios ligavam-se ao comércio e à indústria emergente do Paraná — desejava uma residência que refletisse seu status, mas também sua visão cosmopolita.

Assinado por arquitetos ainda não identificados nos registros oficiais (embora possivelmente ligados aos escritórios que moldavam o novo rosto de Curitiba na Primeira República), o projeto foi formalmente apresentado ao Departamento de Obras e Viação do Estado do Paraná em 14 de outubro de 1937, contendo seis pranchas detalhadas com:

  1. Fachada principal — imponente, com simetria clássica, janelas altas, balaustradas de concreto e um frontão central que evocava os palacetes parisienses;
  2. Fachada lateral voltada à Rua Ébano Pereira — mais discreta, porém harmoniosa;
  3. Corte transversal e implantação — revelando o diálogo cuidadoso entre o edifício e o terreno acidentado do Alto São Francisco;
  4. Planta do terraço e primeiro pavimento — com salões de recepção, varandas panorâmicas e quartos de hóspedes;
  5. Planta do térreo e subsolo — onde se localizavam a cozinha, dependências de serviço, porão técnico e áreas de convívio íntimo;
  6. Projeto do muro na Rua Dr. Kellers — um elemento de delimitação e elegância, integrando o palacete ao entorno urbano sem perder sua privacidade.

Construído em concreto armado, técnica moderna para a época, o palacete rompia com as estruturas de alvenaria tradicional e demonstrava o avanço técnico da engenharia paranaense. Com dois pavimentos principais, mais sótão e porão, distribuía 1.145,31 m² de área construída em um único bloco de planta generosa, pensada para o conforto e a representação social.


Julio Garmatter: O Morador Ilustre

Embora poucos detalhes biográficos sobre Julio Garmatter tenham sobrevivido aos arquivos públicos, seu nome está indissociavelmente ligado a essa residência monumental. Empresário de visão, provavelmente de origem germânica ou italiana (como muitos imigrantes que moldaram a economia paranaense), Garmatter escolheu o Alto São Francisco — bairro nobre desde o final do século XIX — como endereço de prestígio.

Sua casa não era apenas um lar: era um salão de encontros, um símbolo de estabilidade econômica e um gesto de pertencimento à elite cultural da cidade. Nas fotografias da década de 1930 (referência 7), vê-se o palacete em todo seu esplendor: jardins bem cuidados, automóveis estacionados na frente, cortinas pesadas nas janelas — tudo a indicar uma vida de requinte e disciplina burguesa.


Da Residência ao Museu: A Transformação de um Patrimônio

Com o passar das décadas, o palacete passou por diferentes destinos. Após o período em que foi residência particular, foi incorporado ao patrimônio público e, desde então, abriga o Museu Paranaense — instituição fundada em 1876, mas que encontrou neste edifício um lar à altura de sua importância histórica.

A fotografia de Elizabeth Amorim de Castro (2008) (referência 8) mostra o edifício ainda bem conservado, com suas linhas arquitetônicas intactas, embora adaptado às exigências museológicas modernas. Janelas que antes iluminavam salas de jantar hoje iluminam vitrines com relíquias da história do Paraná: roupas de índios Kaingang, móveis do século XIX, documentos da Colônia, e artefatos da Revolução Federalista.

A transição de residência de grande porte para espaço cultural foi natural: o palacete, por sua própria natureza, sempre foi um guardião de histórias.


Patrimônio Vivo: O Palacete em 2012 e Além

Em 2012, o edifício estava existente, funcional e protegido — não apenas por leis de preservação, mas pelo afeto da cidade. Embora os muros tenham sofrido pequenas alterações e o jardim tenha sido adaptado para acessibilidade, a essência arquitetônica permanece fiel ao projeto original de 1928.

O Museu Paranaense, hoje vinculado à Secretaria de Estado da Cultura do Paraná, continua a cumprir sua missão: contar a história do estado através de objetos, imagens e narrativas — muitas delas agora ecoando pelos mesmos corredores por onde um dia caminhou Julio Garmatter.


Conclusão: Entre o Passado e o Futuro

O Palacete Garmatter é um marco de transição — entre o privado e o público, entre a arquitetura doméstica e a institucional, entre a memória familiar e a memória coletiva. Ele representa um momento em que Curitiba, ainda tímida diante das metrópoles do Sudeste, ousava erguer palácios para seus cidadãos comuns — homens que, com trabalho e visão, ajudaram a transformar uma capital interiorana em um centro de cultura e inovação.

Que este edifício continue a resistir ao tempo, não apenas como estrutura de concreto, mas como templo da memória paranaense — onde cada degrau, cada janela, cada parede sussurra: “Aqui, viveram sonhos. Aqui, nasceu a história.”


“Os edifícios não guardam só pessoas. Guardam épocas.”
— Anônimo

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