A conquista do Monte Everest
Em 29 de Maio de 1953 o neozelandês Sir. Edmund Hillary e Tenzing Norgay do Nepal foram os primeiros alpinistas do mundo a conseguir completar a façanha de escalar até o pico da montanha mais alta da Terra, o Monte Everest com seus impressionantes 8848 metros de altitude.
E como em 2013 se comemorou o 60o aniversário desta incrível façanha e eu ainda estava morando na Nova Zelândia e fui convidado para a abertura de uma exposição comemorativa especialmente preparada pelo Auckland Museum sobre os 60 anos da conquista do Everest. Resolvi migrar este post que originalmente foi publicado lá no www.mauoscar.com exatamente no dia dos 60 anos da conquista do Mt. Everest.
Como parte das comemorações dos 60 anos da conquista do cume do Mt. Everest, esta semana fui convidado pelo Auckland Museum para uma série de eventos relacionados ao tema. Apesar disto de certa forma fugir um pouco da temática desse blog, achei interessante compartilhar essa experiência e alguns fatos e curiosidades que aprendi nesta semana com vocês.
O evento no museu começou com um documentário sobre a expedição de escalada ao Mt. Everest e sobre a vida do Sir Edmund Hillary. O documentário foi feito com entrevistas realizadas no Himalaia e com os próprios personagens dessa história e algumas outras pessoas mencionadas ao longo deste post e antes do falecimento do protagonista principal dessa história, o próprio Sir Edmund Hillary em 11 de Janeiro de 2008 aos 88 anos de idade.
Além de ser o primeiro homem a escalar até o topo da montanha mais alta da terra, Hilllary também fez parte da primeira expedição a chegar ao Polo Sul em veículo mecanizado. Além disso, foi também o primeiro homem a visitar tanto o pólo sul quanto o pólo norte.
Antes e depois de conquistar o Everest, Hillary escalou pelo menos mais de 10 diferentes montanhas na cordilheira do Himalaia. E como era neozelandês, provavelmente quase todos os picos mais importantes dos Alpes do Sul e os principais vulcões da Nova Zelândia. Locais estes onde aprendeu a escalar ainda jovem e onde adquiriu todo o know-how para conquistar o mundo do alpinismo.
Vale lembrar que na época em que Hillary realizou alguns de seus maiores feitos (50-60 anos atrás), não existiam Satélites, GPS e várias outras parafernalhas tecnológicas que de certa forma facilitam e muito a vida de quem faz este tipo de atividade nos dias de hoje.
Nascido em 20 de Julho de 1919 em Tuakau nos arredores de Auckland, Sir Edmund Percival Hillary é provavelmente um dos neozelandeses mais famosos, respeitados e admirados mundo afora. Tanto que hoje, ele tem seu rosto estampado na nota de 5 dólares da Nova Zelândia. Por sinal o único a ter o privilégio de ver isso em vida.
No Nepal além de conquistar o Everest, Sir Edmund Hillary também conquistou o coração dos locais, sendo até mesmo condecorado como o primeiro cidadão honorário de origem ocidental do país. E esse título, foi mais que merecido. Afinal de contas, depois de conquistar o Mt. Everest, Hillary devotou anos de sua vida e boa parte do dinheiro que conseguiu amealhar procurando melhorar as condições de vida do povo Sherpa com a criação de escolas, hospitais, pontes e afins para o povo nepalês.
No Nepal, Hillary viveu também uma das suas maiores tragédias pessoais, quando o avião em que sua esposa Louise e sua filha Belinda viajavam caiu próximo ao aeroporto de Kathmandu matando-as instantaneamente. Falando em acidentes aéreos, o Próprio Edmund Hillary escapou por muito pouco de dois acidentes aéreos ao longo de sua vida. O primeiro deles em 1960 nos EUA e a segunda vez em 1979 quando ele costumava comentar os vôos panorâmicos sobre a Antactica oferecidos até então pela Air New Zeland. Neste último acidente, que é até hoje o pior desastre aeronáutico da Nova Zelândia, ele só acabou escapando pelo fato de não poder participar daquele vôo por conta de um compromisso nos EUA.
Apesar de não estar mais entre nós, o espírito aventureiro e destemido de Hillary deixou um legado marcante que certamente inspirou e continua a inspirar novas gerações de neozelandeses e pessoas de outras partes do mundo.
Tanto que eu até arriscaria dizer que: Se hoje, a Nova Zelândia é considerada “O país dos esportes radicais” e das atividades ao ar livre, muito disso se deve ao pioneirismo e coragem do Sir. Edmund Hillary que de forma direta ou indireta influenciou e influencia até hoje o estilo determinado e destemido Kiwi de ser.
Embora a participação de Hillary na expedição de conquista do Mt. Everest de 1953 fosse o desdobramento de uma tentativa frustrada de escalar a montanha em 1951 com outros 3 neozelandeses. Foi ele que acabou fazendo história.
Em 1953, outra expedição, desta vez oficialmente patrocinada e comandada pelos britânicos, contava com outros 11 alpinistas sob o comando do coronel John Hunt. Além de Sir. Edmund Hillary, no grupo havia também outro alpinista neozelandês chamado George Lowe, que assim como Hillary também havia participado da tentativa em 1951.
Além dos 12 alpinistas, a expedição de 1953 contava também com 20 Sherpas, como são conhecidos os nepaleses locais responsáveis pelo “apoio logístico” da expedição britânica. Estes por sua vez, estavam sob a liderança de Tenzing Norgay, outro protagonista desta história.
Apesar de todos alpinistas do grupo serem extremamente experientes, apenas Hillary e Norgay chegaram ao cume. O grupo deixou a capital do Nepal, Kathmandu, em 10 de Março de 1953 e teve cerca de 12 semanas para concluir a escalada antes que as chuvas de monções impossibilitassem a escalada.
Exposição comemorativa de conquista do Mt. Everest
Em comemoração aos 60 anos da conquista do Everest, o Auckland Museum, está com uma exposição super interessante abordando o assunto e o legado de Hillary para o alpinismo mundial. Assim como a importância dos trabalhos de Hillary para o povo Sherpa no Nepal com a crição de um fundo que construiu inúmeras escolas, hospitais, pontes e outras obras de infra estrutura no Nepal. Obras estas em grande parte, financiadas com recursos próprios ou com fundos do governo da Nova Zelândia.
Na exposição além de inúmeras fotografias originais da expedição, a grande maioria delas tiradas por Alfred Gregory (fotografo oficial da expedição). A exposição do Auckland Museum apresenta uma série de preciosidades, como o diário de bordo do Hillary durante a expedição, o ice axe (picareta) utilizados por Hillary na escalada ao cume Everest, além de uma série de condecorações recebidas por ele após a realização deste feito histórico.
Por sinal, a notícia de sucesso da conquista do Everest, chegou em Londres no dia 2 de Junho de 1953, cerca de algumas horas antes da coroação da Rainha Elisabeth II. E graças a este feito, em 16 de Julho do mesmo ano Hillary e todos os outros alpinistas membros da expedição receberiam da rainha a mais alta comanda civil do império britânico.
Além destes objetos históricos, a exposição conta com uma réplica do Everest com uma narração das diferentes etapas e desafios encontrados pelo caminho ao longo da expedição. Estrategicamente localizada no centro da exposição, este diorama 3D faz você entender de maneira bastante didática e simples os desafios e obstáculos encontrados ao longo do caminho pela expedição de 53 até a chegada do topo do cume mais alto mundo.
Fiz questão de anotar algumas destas etapas para colocar em ordem cronológica aqui no Post:
Cronologia da conquista do Mt. Everest
Saída da Expedição em Kathmandu
Base Camp
Cerca de um mês após deixar Kathmandu, caminhando pela impressionante paisagem aos pés do Himalaya, Sir Edmund Hillary e os outros integrantes da expedição de conquista do Mt. Everest finalmente chegam ao acampamento base do Everest. Localizado aos pés do Khumbu Glacier, uma gigantesca geleira entre o Mt. Everest, Lhotse e Nuptse.
O Base Camp é até hoje a principal entrada para a montanha mais alta do mundo. Com quase 2000 metros a mais que que o ponto mais alto da Nova Zelândia (Mt. Cook/Aoraki), este inóspito ponto no termino do Khumbu Glacier foi, e é até hoje, o local de partida para a mais importante expedição na vida de qualquer alpinista.
Khumbu Icefall
A Khumbu Icefall foi o primeiro dos grandes desafios da expedição de conquista do Mt. Everest por Sir. Edmund Hillary em 53. Extendendo-se por mais de 600 metros, esta seção da escalada apresenta uma série de perigos em função da lenta e constante movimentação da geleira que transforma a caminhada num caótico labirinto de fendas e torres de gelo, muitas delas do tamanho de um ônibus – ou mesmo uma casa e que podem desabar a qualquer momento e engolindo tudo o que encontrar pela frente.
Trabalhando como pequenas formigas, os integrantes da expedição levaram 9 dias para gradualmente estabelecer uma rota segura através deste labirinto de gelo. Eles usaram troncos de árvores trazidas das porções mais baixas do vale, assim como seções de escadas de alumínio para atravessar as fendas maiores. E com o auxílio de cordas e centenas de degraus cavados no gelo a equipe conseguiu realizar o transporte das tendas, alimentos, fogões, combustível, equipamentos pesados de oxigênio e equipamento de escalada até o Camp III no Western Cwm.
Western Cwm
Cwm é uma palavra de origem britânica (pronuncia-se “coom”) e significa vale. O Vale ocidental (Western Cwm) foi batizado pelo topógrafo George Mallory em 1921. Este enorme e inclinado campo de gelo se extende por quase 4,5 km de extensão e termina em Lhotse Face e é também conhecido como o pé do Mount Everest.
O terceiro acampamento por sua vez foi estabelecido bem no início do Western Cwn com uma fenda gigante imediatamente acima dele. Uma vez que esta fenda foi superada, a expedição caminhou por mais de uma semana pelo vale coberto por uma densa camada de neve fofa, passando também por inúmeras cravassas. Tudo isso, com muito sol, que ao bater na neve branca refletia ainda mais luz a ponto de queimar ou deixar qualquer um sem proteção nos olhos quase cego.
Quase no final desta etapa, a expedição de 53 enfrentou muito mau tempo até chegarem à marca de 6.462 metros, onde Hillary e sua expedição montaram o acampamento IV, que seria também conhecido como Advance Base Camp.
Lhotse Face
A Lhotse face é um penhasco quase vertical 1.220 metros de gelo, localizado à cerca de 1,5 km após Camp IV. Encontrar uma rota segura para levar o equipamento e a expedição adiante levou quase duas semanas em função do deterioramento das condições atmosféricas.
Ao longo do caminho, de forma bastante precária, foram instalados os Camps V, VI e VII. E, apesar do trabalho de equipe, vários outros alpinistas foram superados pela altitude e terminaram a expedição por alí mesmo e começaram o caminho de volta para o Advance Base Camp.
Neste momento a expedição parecia quase perdida e o tempo estava se esgotando. Mas finalmente, depois de um esforço extra dos alpinistas e dos sherpas, em 21 de Maio um pequeno grupo chegou ao South Col com apenas o equipamento vital para a puxada final para o cume do Everest.
South Col
O South Col é um estéril e gelado planalto entre Everest e Lhotse salpicado por escombros de rochas em um ambiente inóspito que oferece muitos poucos pontos de abrigo. Segundo o diário de Hillary, o vento gelado literalmente congelava as lágrimas.
Lá em cima, os cinco homens que persistiam na luta para chegar ao topo do mundo levavam cerca de uma hora para armar duas tendas que levariam alguns poucos minutos mais abaixo na montanha.
Como a expedição era britânica, Hillary era digamos o reserva na história e em 26 de Maio de 1953 Charles Evans e Tom Bourdillon deixaram o South Col em direção ao cume do Everest. Eles quase chegaram lá, ms o tempo virou e eles alcançaram apenas a marca dos 8300 m de altitude e foram forçados à voltar para o South Col. Onde chegaram exaustos.
No dia seguinte, o mau tempo impediu Ed. Hillary e Tenzing Norgay de tentar chegar ao cume. Mas no dia 28 de maio, com a ajuda de Alf Gregory, George Lowe e Ang Nyima ajudando a transportar seus suprimentos, eles conseguiram chegar ao South Summit, o camp/ponto mais alto até então visitado pelo homem.
South Summit
Depois de 6 longas horas de lenta caminhada e faltando menos de 350 metros para o cume do Everest, Alf Gregory, George Lowe e Ang Nyima abandonaram a subida e começam a descida de volta para o South Col. Sem a ajuda deles Hillary e Norgay tiveram que carregar 28kg de equipamento cada um (o que não é brincadeira para esta altitude).
Nesta noite, as tendas de Hillary e Norgay foram precariamente presas com cordas amarradas nas garrafas de oxigênio enterrados na neve. Durante toda a noite, os ventos congelantes fustigaram o pequeno acampamento. Lá em cima Hillary e Norgay estavam absolutamente sozinhos e a partir dali tudo, incluindo a sua sobrevivência dependia única e exclusivamente deles.
Summit – Pico do Everest
Às 04:00 com uma temperatura de -32o C e um dia claro sem nuvens. Hillary descogelou sua bota em cima do fogão portátil improvisado e às 06:30 horas da manhã, depois de 2 copos de bebida quente e sua última lata de sardinha que tinham. Hillary e Tenzing colocaram seus tanques de oxigênio e partiram rumo ao cume do Everest.
Revezando-se para cortar o caminho no gelo, eles alcançaram o topo sul do Everest as 09:00 da manhã. Adiante, o cume final era separado por uma rocha quase vertical de 12 metros de altura.
Espremendo-se entre a rocha e uma ponta saliente de gelo, Hillary liderou o caminho para o cume sendo seguido de perto por Tenzing.
Exautos, eles continuaram até o atingir o cume congelado do Everest,onde chegaram por volta das 11h30 da manhã. Abaixo deles, em todas as direções, outros majestosos picos do Himalaia, um feito que nenhum outro ser humano tinha conseguido fazer antes.
Ao todo, depois de todo este esforço e superação, eles ficaram lá em cima por aproximadamente 15 minutos. Tempo suficiente para eles tiraram meia dúzia de fotos e compartilhar um Kendall Mint Cake. E a partir dalí iniciar a descida até encontrar com os outros membros da expedição no South Col para compartilhar a notícia do sucesso ao alcançar o topo do ponto mais alto do mundo.
Informações Úteis:
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