A História de Zé Pomada 《

Na primeira década do Século XX, nasceu, no Pari Velho, região de Capitólio, José Vaz de Oliveira, o Zé Pomada, filho de Maria Justina dos Santos (Tia Cota) uma senhora, clara, magra e de estatura mediana e Salvador Vaz de Araújo conhecido por Dozinho, e tiveram os filhos: Ireno Vaz, João Vaz, Miquelina, Antônia, Arlindo e José (Zé Pomada).
Ainda criança, seus pais já notavam o comportamento um tanto anormal do filho. Muito nervoso, arredio, e não se relacionava com as outras crianças: – Batia em todo mundo! Já moço, começou fazer suas estripulias.
Era alto, de pele e olhos claros – tais quais os da mãe. Vestia-se com elegância, chapéu muito fino e lenço requintado no pescoço, daí o epíteto Zé Pomada.
Nessa época, o termo “pomada” se associava à elegância e ao bem vestir das pessoas.
Assim era o Zé Pomada, galã e sedutor... Até sua montaria, um muar (mula) que obedecia muito bem aos seus comandos, tinha arreamentos refinados e adornos em profusão, desde a cela às esporas...
Contando com todos esses atributos, em vez de usá-los para o bem, Zé Pomada fez exatamente o contrário: transformou-se no maior arruaceiro da história de Capitólio. Não respeitava ninguém! Seduzia mulheres casadas, jovens solteiras...
Adentrava casas de fazenda sem bater à porta, e amolestava donas de casa e suas filhas... Ordenava-lhes prestar o tipo de serviço que bem lhe conviesse: comida, banho, e outros...
Foi um verdadeiro desagregador de famílias. Tanto é que, quando corria a notícia de que Zé Pomada se encontrava na região, era um alvoroço. Todos tratavam logo de trancar suas casas a sete chaves e taramelar as janelas.

Zé Pomada era muito nervoso, bravo mesmo, e sempre andava armado.

Os que o conheceram diziam ter sido ele um exímio atirador...
Era temido por todos, mas não há nenhum registro de que ele tenha tirado a vida de alguém!
Chegou a se casar, porém o casamento durou pouco tempo.
Sua ex-mulher, então, contraiu segundas núpcias com o Sr. José Passarinho, também residente no Pari Velho, e não tiveram filho.
Com o passar do tempo e o exagero na bebida, o comportamento de Zé Pomada piorava sensivelmente.
As ameaças às pessoas e a prática de furtos ficavam cada vez mais intensas. Conta-se que, certa vez, usando máscaras do tipo das de carnaval, Zé Pomada e o companheiro Ernesto, outro arruaceiro de Capitólio, rumaram para a fazenda do Quinca Manoel, um abastado fazendeiro da região da Paciência, em Capitólio, e obrigaram-no, com o cano da espingarda, a abrir seu cofre (“burra” – como era chamado), e levaram todo o seu dinheiro.
Conta-se que este fazendeiro, vítima do assalto, teria contratado um jagunço de nome Gerson Macedo, filho do comerciante Modesto Macedo, da Serrinha – entre Capitólio e Piumhi, para dar fim ao Zé Pomada.
Zé Pomada nunca trabalhou!
E como vivia de roubos, o dinheiro lhe era fácil, sem valor. Tanto é que nas farras e nos bordéis da região, especialmente na vizinha Piumhi, ele gostava de se gabar esbanjando “seu dinheiro”... Pagava todas as despesas... E oferecia generosas gorjetas aos funcionários.
O mesmo acontecia quando ele estava em sua casa no Pari Velho. Era o herói da meninada, pela “chuva” de dinheiro que caía de suas mãos.
Os menos avisados, no entanto, alheios à origem criminosa do dinheiro, chegavam a compará-lo ao lendário herói Inglês, Robin Hood, que “Roubava os ricos para doar aos pobres”, mas se esqueciam, todavia, de que Robin Hood, segundo a lenda, era um nobre que trabalhava por causas nobres, e não, um ladrão errante!
É fato que Zé Pomada não perdia a ocasião para dar entrada com sua montaria em vendas, botequins, e bares da cidade, tanto em Capitólio quanto em Piumhi.
Como não havia cadeia em Capitólio, Zé Pomada era recolhido em Piumhi, para cumprir penas de menor gravidade, mas sempre fugia da prisão.
Certa vez, por um delito mais grave, os policiais de Piumhi se alinharam e lhe deram voz de prisão. Qual foi a surpresa? – Zé Pomada, no dorso de sua montaria, apertou-lhe as esporas e, ralhando com o muar, partiu pra cima dos policiais, que foram ao chão – conseguindo se safar mais uma vez.
Nos casos de perseguição policial, ele se escondia por meses nas matas da região de Capitólio. As prisões e fugas da cadeia de Piumhi foram tantas que, por fim, a ordem dada aos policiais não era mais a de prisão, mas sim, a execução! Tempos depois, visto em Piumhi, os policiais obedeceram à ordem dada e abriram fogo contra ele! Por sua sorte, passava pelo local o Dr. Avelino de Queiróz – (sempre prestou serviços médicos à população de Capitólio). Zé Pomada, então, agarrou-se ao médico, que lhe serviu de escudo, e pediu-lhe que poupasse sua vida... Atendendo ao pedido do Dr. Avelino, Zé Pomada foi reconduzido à prisão.
Ao cumprir a pena, veio seu martírio. Pressentindo que seria eliminado, ou pelo policiamento de Piumhi ou pelo jagunço de Quinca Manoel, do qual já tivera conhecimento, não voltou mais a Piumhi, e se recolheu nas matas do Pari Velho e região.
Eventualmente deixava o refúgio em visitas à sua família, até mesmo para se alimentar melhor. Outras vezes, rumava para bares de Capitólio usando trajes femininos, no afã de ludibriar os policiais da cidade. Dava certo! – E todos caiam em gargalhadas...
O fim de Zé Pomada se deu em 1928, quando foi assassinado ao voltar para seu refúgio na “selva”, resolveu tomar um gole na venda de João Juvenal, no Pari Velho. Enquanto sorvia uma caninha, foi informado de que policiais já estavam a caminho da venda e, na tentativa de uma última fuga, foi alvejado na cabeça nas proximidades daquela venda. Tinha cerca de 30 anos de idade.
Consternados com o triste fim de Zé Pomada, e tendo no imaginário o quanto ele deve ter sofrido, embrenhado nas matas..., moradores da região resolveram, em sua homenagem, erguer uma capela no local onde foi morto. De vilão a mártir!...
Muitos crédulos da região dizem ter alcançado graças por intermédio de sua alma..

sábado, 1 de março de 2025

A História de Zé Pomada

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