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quarta-feira, 31 de maio de 2023

"FAMÍLIA DAS VIOLAS BRASILEIRAS"

 "FAMÍLIA DAS VIOLAS BRASILEIRAS"

Pode ser uma imagem de texto que diz "FAMÍLIA DAS VIOLAS BRASILEIRAS Postulação: JOÃO ARAUJO 12x6 7x5 7x5 10x5 12 CORDAS BRANCA Caiçara Fandangueira BURITI CABAÇA CAIPIRA CÔCHO MACHÊTE NORDESTINA ("Dinâmica")"

A NATUREZA RETOMANDO SEU CURSO

"FAMÍLIA DAS VIOLAS BRASILEIRAS" é uma visão inédita registrada oficialmente por João Araújo no requerimento pela Viola como Patrimônio Imaterial junto ao IPHAN, em 2017 - e contextualizada cientificamente em sua monografia "Linha do Tempo da Viola no Brasil" (2021) e seu livro "A Chave do Baú" (2022).

A monografia, embasada a partir da Metodologia Dialética e com uma base de dados e registros históricos suficiente para contextualizar as violas brasileiras segundo a História Ocidental dos Cordofones, teve orientação do Dr. Luiz Antônio Barbosa Guerra Marques e revisão final do Dr. Paulo Castagna - além de uma centena de colaboradores acadêmicos e práticos de execução, história, musicologia, antropologia, sociologia, geografia, sociologia e outras áreas.

A postulação vai ao contrário da visão comercial e entendimento coletivo de prevalência de apenas um dos modelos, ligado ao caipirismo - ou de que daquele teriam sido gerados os demais - e ainda não tem grande reconhecimento e eco público, principalmente por ser desprezada ou até negada pelos principais formadores de opinião do meio da viola, por seus inegáveis méritos e talentos: os Drs. Roberto Corrêa e Ivan Vilela. Pelo menos, histórica e cientificamente, estes dois nomes são os mais citados e secundados no Brasil, desde a década de 2010.

Acredita-se, entretanto, que a postura geral deverá mudar aos poucos: a evidência de similaridade ao acontecido em Portugal - onde também há uma Família de Violas Dedilhadas registradas, cuja geração / surgimento aponta para a virada dos séculos XVIII e XIX -, além de inúmeros outros apontamentos científico-históricos levantados por João Araújo, não deixam dúvida a quem os quiser conferir. E estes dados são apontados e disponibilizados, sistemática e gratuitamente, inclusive via redes sociais virtuais.

O modelo "Viola Caipira", embora tenha começado a ser desenvolvido a partir de 1900 (curiosamente, não "na interior", mas como iniciativa comercial na capital de São Paulo), só veio a ter esta nomenclatura consolidada a partir de meados da década de 1970, sendo que sequer na época de Cornélio Pires era chamado assim, muito menos antes do grande empresário paulista, quando não há registro de nenhuma "cultura" chamada "caipira".

Já o modelo com registros mais remotos no Brasil seria o "Viola Machete": ainda chamada "machinho", apareceu em documentos de alfândega do Rio de Janeiro em 1744, mas já com citação, no mesmo documento, também de "violas grandes e ordinárias" e de outras "violas pequeninas" - ou seja, já haveria diversos modelos.
Equivocam-se os que imaginem (ou temam) que a constatação da verdade histórica venha a atrapalhar o mercado caipira, ou a fé que guia tantos afetivamente a ele ligados, sejam letrados acadêmicos ou os que não tem hábito de leitura: a função da Ciência sempre foi de tentar apontar fatos o mais claramente possível, por meio de dados comprováveis, dando credibilidade aos entendimentos públicos. Se a Ciência atrapalhasse faturamentos, o Natal não seria comemorado no mundo todo como é, vez que não há prova científica que Jesus tenha nascido em 25 de dezembro.

A maior resistência quando aos modelos da Família (elencados, a princípio, por critérios de existência de estudos e utilização em vários Estados do Brasil além das suas regiões consideradas de origem) é contra o modelo "Viola 12 Cordas", atestado cientificamente primeiro por Júnior da Violla - professor e violeiro paulista. Curiosamente, há provas de que o modelo foi utilizado exatamente por uma dupla caipira, na década de 1930 - Mandy & Sorocabinha - além de constar de catálogos da fábrica Gianini na década de 1950.

A dificuldade (que entendemos, em fase de ser superada) na aceitação de modelos de formatos e armação de cordas variados vem da falta de contextualização de que somos um país de grande diversidade cultural, num vastíssimo território - sendo, por isso, diferente aqui o que aconteceu em Portugal, muito menor em extensão e população. Além, naturalmente, do interesse comercial e afetividade ao caipirismo, que não quer a princípio abrir mão da primazia, imaginada e defendida como "divina", do modelo caipira, de 10 cordas em 5 pares. Historicamente, esta armação "10x5" tem origem nas guitarras espanholas, desde o século XVII e nem era a mais utilizada nas violas portuguesas no século XVIII, só vindo a se consolidar nelas depois da ascensão do violão. Violas portuguesas que são as inspiradoras de nossas violas brasileiras, embora o entendimento coletivo, sem argumento científico, às vezes parece querer sugerir que poderiam ter surgido independente e milagrosamente aqui

Atualmente, o próprio Dr. Roberto Corrêa vem apresentando espetáculos e palestras onde demonstra vários modelos de violas (excluindo o modelo de 12 cordas) - mas a primeira vez que toda a Família das Violas Brasileiras foi demonstrada junta, em um mesmo palco, se deve à recente iniciativa dos violeiros e professores paulistas André Moraes e Cesar Petená. Um marco histórico, que provavelmente será também negado e desprezado, por um período - mas que no futuro deverá ser apontado por estudiosos sérios, que não tenham ligação comercial nem afetiva com o fato.

Acredita-se que em breve Ivan Vilela, Roberto Corrêa e outros passem também a aceitar e divulgar a verdade científica (ou que a descomprovem, com argumentos embasados em registros históricos e não apenas teorias sociológicas), levando assim a população brasileira gradualmente a se interessar mais pela leitura e reflexão sobre dados históricos comprovados. E que se encerrem as hostilidades e desprezos a João Araújo, que nada mais faz do que defender a verdade histórica dos fatos (mesmo dizendo o que a maioria não quer que seja dita, nem da maneira como gostam que seja dita). Similar (mas não com o mesmo valor científico, naturalmente) ao que foi feito, por exemplo, com Copérnico e Galileu ao defenderem que o Sol é o centro do universo, e não a Terra, como era o entendimento coletivo na época deles.

É só Ciência, naturalmente ajudando a levar os entendimentos para seus caminhos mais provavelmente corretos, mesmo que demorem séculos de resistência por outros motivações.

(João Araújo é músico, produtor, gestor cultural, pesquisador e escritor. Tem carreira ligada às violas desde 2005, com 14 CDs, 5 DVDs, 6 EPs e 3 livros lançados. Atualmente, dá continuidade às pesquisas e descobertas na Coluna semanal "Viola Brasileira em Pesquisa", dos portais web VIOLA VIVA e CASA DOS VIOLEIROS).