Denominação inicial: Projéto para Casa de Madeira com frente de Alvenaria para o Sr. Fioravanti Simão
Denominação atual:
Categoria (Uso): Residência
Subcategoria: Residência de Pequeno Porte
Endereço: Rua Francisco Nunes (Planta Villa José Pinto; Lote 183)
Número de pavimentos: 1
Área do pavimento: 105,00 m²
Área Total: 105,00 m²
Técnica/Material Construtivo: Madeira com frente de alvenaria
Data do Projeto Arquitetônico: 15/01/1941
Alvará de Construção: Nº 5089/1941
Descrição: Projeto Arquitetônico para construção de casa de madeira com frente de alvenaria e Alvará de Construção.
Situação em 2012: Demolido
Imagens
1 - Projeto Arquitetônico.
2 - Alvará de Construção.
Referências:
1 – CHAVES, Eduardo Fernando. Projéto para Casa de Madeira com frente de Alvenaria para o Sr. Fioravanti Simão. Planta do pavimento térreo e implantação; fachada frontal e cortes apresentados em uma prancha. Microfilme digitalizado.
2 - Alvará n.º 5089
1 - Projeto Arquitetônico.
2 - Alvará de Construção.
2 - Alvará de Construção.
2 - Alvará de Construção.
Acervo: Arquivo Público Municipal de Curitiba; Prefeitura Municipal de Curitiba.
A Casa de Fioravanti Simão: Um Retrato Efêmero da Arquitetura Residencial Paranaense dos Anos 1940
Curitiba, 1941 — uma cidade em transformação, entre tradições rurais e os primeiros sinais de urbanização moderna. Nesse cenário, ergueu-se, modesta porém simbólica, a residência projetada para Fioravanti Simão: uma casa de madeira com frente de alvenaria, fruto de uma época em que o saber fazer artesanal dialogava com as primeiras normas urbanísticas da capital paranaense. Embora hoje já não exista — demolida até 2012 —, sua memória permanece viva nos traços de um projeto arquitetônico cuidadosamente elaborado e em um alvará que, mais do que autorização, é testemunho de uma era.
O Morador: Fioravanti Simão
Fioravanti Simão — cujo nome revela raízes italianas, tão comuns na formação cultural e demográfica de Curitiba — era, provavelmente, um homem comum de seu tempo: trabalhador, familiar, talvez ligado ao comércio, à agricultura urbana ou a pequenos ofícios. Não há registros biográficos detalhados sobre ele, mas sua existência está eternizada não em grandes feitos, mas no simples ato de construir um lar.
Ao encomendar, em janeiro de 1941, uma residência própria na Rua Francisco Nunes, no lote 183 da Planta Villa José Pinto, Fioravanti não apenas investiu em tijolos e tábuas — ele investiu no futuro de sua família. E nesse gesto cotidiano, há dignidade, há história.
A Casa: Simplicidade com Identidade Construtiva
Projetada como residência de pequeno porte, a casa de Fioravanti Simão ocupava uma área total de apenas 105,00 m², em um único pavimento. Sua planta, implantação, fachada frontal e cortes foram reunidos em uma única prancha — prática comum na época para projetos residenciais modestos, mas que revela um cuidado técnico notável.
O sistema construtivo escolhido — estrutura de madeira com frente de alvenaria — era típico do período. A madeira, abundante no Paraná graças à floresta com araucária, era o material principal para paredes, pisos e coberturas. Já a fachada em alvenaria (provavelmente tijolos aparentes ou rebocados) conferia maior resistência às intempéries e um aspecto mais “urbano” e duradouro à residência, alinhando-se às expectativas estéticas e normativas emergentes da cidade.
Esse híbrido construtivo — tradicional e funcional — representava uma transição. Era a arquitetura popular adaptando-se às exigências de regularização urbana, sem perder sua identidade local. A casa não era luxuosa, mas era sólida, bem planejada e humana — feita para viver, não para impressionar.
O Projeto e o Alvará: Quando a Cidade Começa a Organizar seus Sonhos
Em 15 de janeiro de 1941, o projeto arquitetônico foi registrado. Pouco tempo depois, em 1941, foi emitido o Alvará de Construção nº 5089, documento oficial que autorizava a edificação. Esse alvará é mais do que burocracia: é a primeira vez que o Estado reconhece formalmente aquele espaço como um lar legítimo. É o momento em que um sonho privado se alinha à ordem pública.
O projeto, atribuído ao arquiteto ou desenhista Eduardo Fernando Chaves, apresenta clareza funcional: cômodos bem distribuídos (provavelmente sala, dois ou três quartos, cozinha e banheiro), circulações diretas e atenção à orientação solar — elementos essenciais para o conforto em uma época sem ar-condicionado ou aquecimento central.
A fachada, embora simples, trazia equilíbrio: aberturas simétricas, telhado de duas águas coberto por telhas cerâmicas, talvez um pequeno alpendre ou varanda — espaços de convívio típicos da sociabilidade curitibana.
O Bairro: Villa José Pinto e a Expansão Urbana
A Rua Francisco Nunes, no loteamento Villa José Pinto, situa-se em uma região que, nos anos 1940, ainda era periférica, mas em franca expansão. Loteamentos como esse surgiam para acomodar famílias de classe média e trabalhadora que migravam do centro ou do interior, buscando moradia acessível com acesso a ruas pavimentadas, água encanada e, posteriormente, energia elétrica.
Construir ali era um ato de esperança — a crença de que Curitiba cresceria, e que aquele terreno se tornaria parte de um bairro próspero. Fioravanti Simão acreditou nisso. E, por décadas, sua casa foi parte do tecido urbano dessa promessa.
O Desaparecimento: Um Silêncio no Lugar da Memória
Em 2012, a casa já não existia mais. Demolida, provavelmente para dar lugar a uma nova construção — mais alta, mais densa, mais alinhada aos tempos atuais. Nada restou das tábuas de pinho, dos batentes das janelas, do cheiro de madeira envernizada, do som da chuva no telhado.
Mas sua ausência fala. Fala da velocidade com que apagamos o passado em nome do progresso. Fala da fragilidade das construções de madeira diante do tempo e da especulação imobiliária. E fala, sobretudo, da necessidade urgente de preservar não apenas os monumentos, mas também as moradias comuns — aquelas que contam a história real da cidade.
Legado: Mais que uma Casa, um Fragmento de Identidade
A residência de Fioravanti Simão talvez nunca tenha sido considerada “patrimônio histórico” em vida. Mas hoje, em retrospectiva, é um documento arquitetônico precioso. Representa:
- A transição técnica entre a construção vernácula e a arquitetura regulada;
- A presença italiana na formação residencial de Curitiba;
- A modéstia com dignidade que caracterizou gerações de moradores;
- E o direito à casa própria como aspiração central da classe média emergente nos anos 1940.
Seus traços, guardados em microfilme digitalizado, e seu alvará, arquivado nos registros municipais, são os últimos vestígios físicos dessa história. Mas eles bastam para lembrar: toda casa tem uma alma. E toda alma merece ser lembrada.
Em homenagem a Fioravanti Simão — e a todos os anônimos que construíram Curitiba tábua por tábua, tijolo por tijolo.
“As cidades não são feitas só de concreto, mas de memórias. E onde uma casa foi amada, o chão nunca esquece.”



