A GUERRA DO CONTESTADO E A QUESTÃO DE LIMITES ENTRE PR E SC. Parte I
Em muitos momentos, o Movimento do Contestado, confundiu-se com essa questão de limites territoriais, devido ao fato, principalmente, de muitas pessoas envolvidas na guerra também estarem, de alguma forma, vinculadas a esses interesses.
Segundo Paulo Pinheiro Machado, apesar da maioria dos lavradores e sitiantes da fronteira entre o Paraná e Santa Catarina serem de origem paranaense, eles simpatizavam com o pleito catarinense, uma vez que poderiam se distanciar do poder dos coronéis. Para o autor, “a questão de limites foi decisiva para a adesão de comunidades inteiras a vida das ‘Cidades Santas’ e a solução institucional deste problema foi decisiva para impedir um
ressurgimento do levante sertanejo.” (MACHADO, 201, p. 107 e 124).
Os documentos do período, divergem quanto à relevância da questão de limites para o conflito. Segundo Herculano Teixeira D’Assumpção, militar que lutou em uma das colunas de ataque: "As intrigas sobre o litígio do território contestado foram as principaes causadoras da anormalidade dos sertões, nos primórdios do seu movimento armado." (D’ASSUMPÇÃO, 1917, p. 213).
Para, o General Setembrino de Carvalho, que esteve no território contestado de setembro de 1914 a maio de 1915, o litígio foi um aspecto importante. Em correspondência dirigida a Felippe Schmidt, então governador de Santa Catarina, enfatizou a "imperiosa necessidade de por um têrmo á antiga questão de limites que o estado de Santa Catarina mantém com o Paraná. Estou convicto que ella tem concorrido bastante para esse estado de anarchia, que ha alguns annos vem se manifestando no território contestado" (CARVALHO, 1916, p. 334, anexo 31).
O militar concluiu que apesar da "religiosidade primitiva" e da questão dos limites entre os dois estados, "o verdadeiro pretexto está na politicagem, que separa por interesses oppostos, os cabos eleitoraes de taes sertões" (1916, p. 3). Portanto, mesmo apontando para a importância do litígio para o Movimento do Contestado, em sua opinião o verdadeiro motivo residia na política local, questões que se confundem e se completam no contexto da disputa territorial.
Em seu relatório, Setembrino de Carvalho publicou depoimentos de alguns participantes do Movimento, para os quais o lítigio teve importância crucial. Um deles foi Henrique Wolland, conhecido na região como "Alemãozinho", um dos comandantes de redutos: "E como commandante brigou sempre pela execução da sentença de limites entre os dois estados. O fanatismo era apenas um meio para a consecução daquelle objectivo." (1916, p. 90).