A importância histórica da imigração alemã para o desenvolvimento da cidade de Araucária
A população de Araucária configura-se como uma bela mistura étnica formada por diversos povos que aqui foram se estabelecendo ao longo do tempo. Ao final do século XIX muitos imigrantes europeus chegaram ao Paraná atraídos pela política imigratória empreendida pelo governo brasileiro para assentar colônias de produção agrícola. No caso dos primeiros alemães que chegaram à Araucária, esses vieram a partir das colônias criadas nos estados de Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Em Araucária não havia uma colônia alemã constituída pela política imigratória, e, dessa forma, os alemães aqui se estabeleceram por conta própria, de forma espontânea. Grandes empreendedores, eles se dedicaram especialmente a atividades urbanas e logo se integraram à sociedade local.
Em 1870 já havia registro de uma serraria do alemão Pedro Hey nas proximidades do rio Barigui, que foi responsável pelo bom desenvolvimento da colônia polonesa de Thomaz Coelho, assentada na região anos depois. Os colonos comercializavam madeira que retiravam de suas propriedades ao torná-las habitáveis e agricultáveis. Dessa forma, com a madeira da serraria de Pedro Hey foram construídas as primeiras casas dos imigrantes poloneses de Thomaz Coelho, demonstrando logo a integração entre etnias que povoaram Araucária.
No ano de 1896 também já consta o registro de que o alemão Rudolfo Hasselmann adquiriu terras em Araucária, compradas do Capitão José Ricardo Taborda Ribas, que, por sua vez, as havia recebido do imperador Dom Pedro II. Seu filho Carlos Hasselmann foi um importante agrimensor e agricultor, que fez vários levantamentos topográficos em Araucária e em outras cidades. Também realizou importante trabalho para a comunidade, atendendo pessoas que procuravam sua ajuda quando eram vítimas de picadas de cobras e outros animais venenosos. Hasselmann enviava ao Instituto Butantã, em São Paulo, cobras venenosas capturadas na região por ele e por outros moradores, sendo que a primeira remessa foi no ano de 1927. Em troca, o Instituto lhe fornecia soro antiofídico para o tratamento. Destacou-se como o mais conhecido caçador de cobras do estado do Paraná, e recebeu por seus trabalhos homenagens do Instituto Butantã.
Hasselmann também foi um dos proprietários do primeiro cinema de Araucária, que foi um marco do lazer araucariense da primeira metade do século XX. As sessões ocorriam sempre aos domingos e durante a época do cinema mudo, uma orquestra acompanhava a exibição, se apresentando ao vivo.
No ano de 1902, na região de Guajuvira, o alemão Carl Gustav Koehler construiu a primeira fábrica de palhões do Paraná com o nome Koehler-Asseburg. A fábrica utilizava matéria prima abundante na época, que era a palha de trigo e centeio cultivados nas colônias de Araucária, para produzir um invólucro que visava acondicionar garrafas de vidro para serem transportadas com o menor dano possível. Ele também foi o responsável pela fábrica de fósforos, inaugurada poucos anos mais tarde, que eram comercializados com as marcas Aurora, Campos Gerais, entre outras. Em 1939 a fábrica de palhões foi adquirida por Bogdan Wagner, e funcionou até 1978, quando passou a produzir esteira de palha para transportar bananas. Também havia uma fábrica de palhões na região de Ipiranga, que pertencia ao alemão Waldomiro Kuhn e um moinho que pertencia à família Druker.
Outras famílias de alemães povoaram Araucária, como as famílias Krüger, Luder, Bucholtz, Voss, Stag e Suckow, esses últimos foram os proprietários de um dos mais importantes pontos turísticos de Araucária, a Casa do Cavalo Baio. Construída em 1870, trata-se do mais antigo imóvel em alvenaria preservado do município, que por muito tempo foi um estabelecimento comercial da família Suckow, onde se trocavam mercadorias que vinham em carroças e nas bagagens dos tropeiros. Na década de 1940 a casa foi vendida para uma família de imigrantes franceses, que possuíam um belo cavalo baio, de onde surgiu o apelido carinhoso. Até hoje, por sua arquitetura em estilo centro-europeu e telhas alemãs, a casa chama a atenção por sua beleza, e, por conta de sua importância para o município, foi tombada em 1978 pela Secretaria de Estado da Cultura e segue sendo um marco histórico e referencial, como ponto turístico para os visitantes e como parte da identidade do município de Araucária e seus habitantes.
A participação alemã na constituição do município de Araucária e sua fácil integração a outros grupos étnicos que a povoaram, bem como sua contribuição para o desenvolvimento econômico da região, traz a esse povo um lugar especial na história de Araucária, e na formação desse belo povo miscigenado que vive nessas terras.
(Texto escrito por Luciane Czelusniak Obrzut Ono - historiadora)
(Legendas das fotografias:
1 - Familiares em frente à casa do Sr. Carlos Hasselmann, 01/01/1953.
Acervo do Arquivo Histórico Archelau de Almeida Torres.
2 - Membros da família Voss descansando ao lado de barco a vapor, no rio Iguaçu.
Acervo do Arquivo Histórico Archelau de Almeida Torres.
3 - Casamento de Augusto Müller com Macrena Deppa (alemão e ucraniana), 1912, coleção de Antonia Romanos.
Acervo do Arquivo Histórico Archelau de Almeida Torres.
4 - Família Hasselmann em churrasco com amigos, 1937.
Acervo do Arquivo Histórico Archelau de Almeida Torres.
5 - Lidia Voss, déc. de 1930.
Acervo do Arquivo Histórico Archelau de Almeida Torres.)
Familiares em frente à casa do Sr. Carlos Hasselmann, 01/01/1953.
Acervo do Arquivo Histórico Archelau de Almeida Torres.
Acervo do Arquivo Histórico Archelau de Almeida Torres.
Membros da família Voss descansando ao lado de barco a vapor, no rio Iguaçu.
Acervo do Arquivo Histórico Archelau de Almeida Torres.
Acervo do Arquivo Histórico Archelau de Almeida Torres.
Casamento de Augusto Müller com Macrena Deppa (alemão e ucraniana), 1912, coleção de Antonia Romanos.
Acervo do Arquivo Histórico Archelau de Almeida Torres.
Acervo do Arquivo Histórico Archelau de Almeida Torres.
Família Hasselmann em churrasco com amigos, 1937.
Acervo do Arquivo Histórico Archelau de Almeida Torres.
Acervo do Arquivo Histórico Archelau de Almeida Torres.
Lidia Voss, déc. de 1930.
Acervo do Arquivo Histórico Archelau de Almeida Torres.
Acervo do Arquivo Histórico Archelau de Almeida Torres.