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domingo, 27 de novembro de 2022

ANTONINA EM 1854 (parte 2)

 

ANTONINA EM 1854 (parte 2)



"Bazar eleitoral”, charge de Ângelo Agostini, publicada em “O Cabrião”, 1867 (ver aqui).
A morte em Antonina, como na maior parte do Brasil, era um evento. E um evento público, que poderia e deveria ser assistido por todos. Não era raro que o quarto do moribundo fosse tomado por uma multidão. Em 1855 os irmãos Francisco Antônio, José Candido e Ignacio José de Souza publicam uma nota no jornal (ver aqui) onde agradecem aos que acompanharam o funeral de seu pai. Os irmãos também agradecem aos que “acompanharão os acima em seus desgostos”, ou seja, na hora da morte.
Nos funerais deste período o prestigio e a salvação do morto eram garantidos com funerais numerosos. Quanto mais gente e mais barulho, o funeral tinha tudo para ser bem-sucedido. Segundo as crenças da época, garantia a salvação da alma. Embora já estivesse em desuso, era comum a presença de muitos padres para acompanhar o funeral. Bento Soares da Costa e dona Maria Joaquina Soares da Rocha, além de agradecer as pessoas que acompanharam os funerais de sua filha Anna Bernardina, agradecem também aos padres Antônio Machado Lima e Jordão Homem Pedroso (ver aqui).
Os defuntos eram enterrados com roupas de suas irmandades. No caso de oficiais da Guarda Nacional, eram enterrados com seus uniformes de gala. Crianças eram enterradas com roupas de anjos, os “anjinhos”.
Os funerais, assim como os de hoje, eram feitos imediatamente após a morte, no máximo no dia seguinte. Em setembro de 1856, Joaquim Antônio dos santos Souza publicou matéria no jornal dezenove de dezembro em que reclama do vigário de antonina. O padre João Homem Pedroso, por “capricho indiscreto”, havia retardado o translado do corpo de sua mãe. A senhora fora enterrada no cemitério de Morretes, quarenta horas após seu falecimento (ver aqui).
As igrejas, neste tempo também eram importantes por que ali é que se realizavam as eleições. Afinal, os distritos eleitorais eram divididos em Paróquias. Pode parecer estranho ao leitor de hoje, mas, num regime em que a Igreja era atrelada ao Estado tem uma certa lógica. Em geral, as igrejas eram os maiores e os mais bem construídos prédios de uma cidade ou vila. Era natural que o Estado usasse deste fato para ali fazer as votações e a apuração dos votos.
Só podia votar neste tempo a população masculina livre que podia comprovar uma certa renda anual de 100 mil réis. Não era uma renda alta, mas já excluía muita gente. Cada distrito, pelo número de pessoas aptas a votar, os eleitores de paróquia, elegia um certo número de “eleitores de província” para o colégio eleitoral. Era este Colégio Eleitoral que escolhia os deputados provinciais e os deputados que iam a corte.
Com a emancipação do Paraná a Província, inúmeras modificações estavam sendo feitas. Em 1855 foram criados os colégios eleitorais de Antonina Morretes e Porto de Cima, independentes de Paranaguá (ver aqui). Em 1856 Antonina tinha 8 eleitores (ver aqui), contra os 3 eleitores de Porto de Cima, os 7 de Morretes e os 26 de Paranaguá.
Para ser candidato a eleitor, ou seja, para participar do colégio eleitoral, o cidadão tinha que comprovar uma renda mínima de 200 mil reis. Candidatos a Deputado deveriam ter uma renda mínima de 400 mil reis e para senador essa quantia chegava a 800 mil reis. Eleições no Brasil imperial era um assunto da elite.Não é de estranhar que as listas de eleitores eram geralmente encabeçadas pelos comerciantes e fazendeiros mais ricos de uma determinada localidade. A lista de eleitores de Paranaguá em 1856 era liderada por Manuel Antônio Guimarães, o Visconde de Nácar. Em Antonina e Morretes as listas eram preenchidas com nomes de pequenos comerciantes e agricultores.
As eleições se realizavam no dia 31 de dezembro. Os trabalhos se iniciavam com uma missa solene na igreja. Não raro, as pessoas iam a esta missa com seus melhores trajes. Era comum que os integrantes da Guarda Nacional de cada localidade fossem nestas missas com seus melhores uniformes, cheios de galonas e medalhas.  Depois, a comissão eleitoral tomava posse do edifício e a eleição era feita.
(continua)