BASÍLICA DE SANTA EFIGÊNIA – SÃO PAULO, SP
Nas primeiras décadas do século XVIII, negros alforriados pertencentes à Irmandade de Santa Ifigênia e Santo Elesbão, construíram uma capelinha dedicada a Santa Ifigenia perto das margens do Rio Anhangabaú.
Essa primeira capela durou quase toda aquela centúria, e foi reformada a partir de 1794. Alguns anos depois (1809), foi criada a freguesia de Nossa Senhora da Conceição e Santa Ifigênia, e em 1817 iniciou-se a construção de uma igreja maior.
Consta que um certo Padre Antonio Joaquim da Silva cuidou da igreja durante muitos anos, e conciliava a atividade de pároco com a de visitar hospitais quase diariamente. Em 1841 ele escreveu relatando que o estado de conservação daquela igreja ‘não era dos piores’, mas necessitava de reparos. Ao que consta, fez solicitações de ajuda para a reforma, mas não foi atendido.
Nos registros da Câmara Municipal foram feitas várias menções ao longo do século XIX, dando conta de que os sinos dessa igreja eram utilizados a todo momento, às vezes de forma insistente, o que chegou inclusive a gerar uma representação junto ao bispo, no sentido de ‘domar’ os sineiros. Vale lembrar que naquela época havia um verdadeiro código de conduta para os sinos, que eram de interesse público, e que deveriam, por força de lei, tocar sempre em grandes acontecimentos nacionais, e também em casos de incêndio, inundações, mortes. Como um exemplo, o historiador Leonardo Arroyo descreve que “em caso de incêndio, sob ameaça de multa, todas as igrejas deveriam bater os sinos; em caso de morte as pancadas deviam ser lentas, como convinha aos instantes dramáticos em que o homem volta à sua condição de pó.”
A ultima reforma da edificação setecentista ocorreu somente décadas depois, em 1899. Nessa mesma época houve uma briga da irmandade com o vigário de então, no que resultou na dissolução da mesma.
A igreja setecentista foi demolida em 1911, para dar lugar a um projeto elaborado pelo arquiteto austríaco Johann Lorenz Madein. A construção dessa nova igreja já havia se iniciado em 1904, e as obras terminaram por volta de 1913.
Esse novo templo, que perdura até os nossos dias, se destaca por seu estilo inspirado em igrejas românicas alemãs, e é um perfeito exemplar em terras brasileiras do revival da Idade Média, que surgiu na Europa do século XIX em decorrência do movimento cultural do romantismo.
Embora o estilo românico tenha sido difundido por toda a Europa durante o período medieval, a vertente na qual provavelmente se inspirou o arquiteto Johann Lorenz Madein foi a alemã, que tinha como características a conjugação de grandes torres centrais octogonais com torres secundárias menores, e rosáceas. Um exemplo típico dessa arquitetura foi a igreja do Kaiser Wilhelm I, construída em Berlim em 1890 e posteriormente destruída na Segunda Guerra Mundial.
A igreja possui um interior muito bonito, inteiramente revestido de pinturas com os mais diversos motivos, contendo desde símbolos católicos até elementos da fauna e flora. Os dois púlpitos nas laterais da nave foram esculpidos na França, em 1920, e na sua parte posterior representam os apóstolos São Pedro e São Paulo.
O grande órgão foi fabricado na Walcker Orgelbau, em Ludwigsburg, Alemanha, e foi inaugurado em 1924, sendo considerado um dos melhores do país, muito embora esteja funcionando apenas parcialmente.
Quanto às pinturas decorativas, consta que foram realizadas por Benedito Calixto, Carlos Oswald e Gino Catani.
Outro destaque que chama a atenção são os belíssimos vitrais (rosáceas e lancetas), que foram fabricados em Veneza, Itália,e que espalham uma luz diáfana e suave pelo interior do templo.
As pinturas abaixo das rosáceas da nave representam a Visitação dos Reis Magos e as Bodas de Caná, e são de autoria do pintor francês Henri Bernard.
Na época em que a catedral da Sé estava em construção, a Igreja de Santa Efigênia serviu como sede arquiepiscopal da cidade, e ali eram realizadas todas as cerimônias solenes pelos arcebispos. No ano de 1958, o papa Pio XII concedeu o título de basílica, ocasião em que instituiu-se adoração perpétua do Santíssimo Sacramento no local.
Muito embora seja de uma beleza tão notória, infelizmente essa igreja encontra-se em uma região atualmente degradada da capital paulistana, e por isso vem sido relegada a uma situação de quase esquecimento pela população, justamente numa cidade que se gaba de ser das que mais valorizam a cultura. Mas apesar disso, recentemente houve a aprovação de um projeto de restauro, com incentivo fiscal pela lei Rouanet, e, embora a região do entorno deva continuar sombria, espera-se que a riqueza dessa basílica seja revitalizada para o presente e futuro.
REFERÊNCIAS:
– Arroyo, Leonardo, Igrejas de São Paulo. São Paulo: Livraria José Olympio Editora, 1954
– Arquidiocese de São Paulo – Paróquia Santa Efigênia
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