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terça-feira, 11 de julho de 2023

CONHECENDO O LAZARETO DA ILHA DAS COBRAS

 CONHECENDO O LAZARETO DA ILHA DAS COBRAS


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Instalações do Lazareto da Ilha do Mel, década de 1960, após reforma para abrigar a Escola de Menores Pescadores.
Foto: IHGP


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Foto aérea da ilha das Cobras, tendo as instalações do antigo Lazareto ao centro.

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Vista frontal das instalações do antigo Lazareto, década de 1970.
Foto: Arquivo Prof. Wistuba.

Em 10/06/1855, quando uma epidemia de cólera assolava algumas Províncias do país, o vice-presidente da Província do Paraná, Theófilo Ribeiro de Resende, como principal medida de impacto decidiu construir um Lazareto na Ilha das Cobras, que fica distante três léguas de Paranaguá.
Em 11/08/1855, nomeou uma comissão composta pelo delegado de Polícia de Paranaguá, pelo provedor de Saúde do porto e por um engenheiro civil para demarcar, na ilha, o local onde seria construído o hospital, que contaria ainda com uma casa para quarentena de passageiros e para alojar mercadorias. Ambos os prédios ficariam em uma parte da ilha denominada “Ponta do Corvo”.
Menos de quatro meses depois, Francisco José Pinheiro, membro da comissão, informou ao governo da Província que as obras estavam concluídas, restando fazer apenas alguns aterramentos e a caiação das paredes. O Lazareto foi construído com área total de 135,5m2, dos quais, 96,8m2 foram destinados à enfermaria, com capacidade para até trinta enfermos, distribuídos em quatro quartos.
O lazareto era propriedade do governo nacional, mas a Ilha das Cobras pertencia a José Pereira Malheiros, que foi “indenizado” para que a mesma passasse a pertencer ao Império brasileiro. A compra da Ilha foi consumada somente em 1859, após muita insistência do provedor de Saúde do Porto de Paranaguá, Alexandre Bousquet, que temia uma epidemia de febre amarela na Comarca de Paranaguá.
O lazareto da Ilha das Cobras, então subordinado à Inspetoria de Saúde do Porto de Paranaguá, tornou-se o local para onde eram enviadas as pessoas suspeitas de portar ou já estarem acometidas por doenças pestilenciais, sobretudo, cólera, varíola e febre amarela, para que lá fossem isoladas e colocadas em quarentena, para tratamento e observação.
Quase dois anos após o término da construção do lazareto, ele foi alvo de uma inspeção minuciosa solicitada pelo governo da Província ao engenheiro civil do Paraná, Carlos Stoppani, em cuja conclusão ele elogiava o local escolhido, distante do contato humano, em terreno seco e arenoso, às margens do oceano, portanto exposto aos ventos que impediam a concentração de miasmas e afirmava que não bastava uma sólida e elegante construção para o bom funcionamento de um lazareto; seriam necessários também bons funcionários e administradores.
Quando Stoppani chegou à Ilha das Cobras, deparou-se com um edifício sem assoalho, sem forro, com portas sem fechaduras, janelas sem vidraças e telhado muito frágil. Ficou impressionado também, com o quadro caótico formado pelas camas, colchões, cobertores, roupas de cama, mesas, macas, penicos, pratos, tigelas, canecas, talheres e copos. A botica estava em igual desordem, com medicamentos acondicionados em copos e vidros destampados, alguns quebrados e espalhados pelo chão. Stoppani declarou-se inconformado com o desperdício de dinheiro público e com o fato de o presidente da Província ter sido ludibriado quanto ao real estado de conservação do lazareto.
O lazareto da Ilha das Cobras atendia gratuitamente apenas os indigentes. Oficiais do exército, por exemplo, enviados à ilha para internação ou tratamento, tinham suas despesas pagas pelo Ministério da Guerra. Em relação aos imigrantes, tudo indica que os custos eram pagos pelo Ministério do Império. Foi o caso da imigrante Eugenia Guglielmi Antoni, que após contrair varíola ficou em tratamento no lazareto junto com a família no decorrer do ano de 1889. As despesas foram custeadas pela Inspetoria de Saúde e totalizaram 442$980 mil réis.
Quando nenhum surto epidêmico ameaçava a população de Paranaguá o lazareto permanecia desativado, sem dúvida por razões econômicas. Nesses períodos de fechamento o edifício do lazareto ficava sem manutenção. Então, quando havia um surto de alguma doença contagiosa as autoridades corriam preparar orçamentos para recuperação de seus telhados, assoalhos, janelas, portas e outras partes, além da compra de novas instalações para o adequado atendimento dos novos doentes.
As reformas foram constantes no lazareto da Ilha das Cobras em Paranaguá, mas não para adequá-lo a novos conhecimentos científicos, e sim para evitar a completa ruína do edifício. Assim, o edifício do Lazareto permaneceu sendo abandonado e reaberto, por quase oitenta anos.
Em 1937, no Estado Novo de Getúlio Vargas, as instalações do Lazareto serviram de prisão de comunistas que eram contra a ditadura.
Em 1963, as instalações do Lazareto foram recuperadas e transformadas em escola de pescadores para meninos infratores, tendo pouca duração devido a problemas de indisciplina.
Durante as décadas de 1970 a 2010, as instalações foram usadas como residência de verão de alguns governadores do Estado do Paraná.
Em 2006, através do Contrato de Cessão de Uso Gratuito entre a União e o Estado do Paraná, as instalações foram usadas como base de apoio aos portos de Paranaguá e Antonina.
Em 2018, a ilha foi transformada em Parque Estadual e as instalações vão receber uma reforma para abrigar uma grande escola profissionalizante de gastronomia e hotelaria.
Paulo Grani