Erva “matte”: o ciclo econômico que mudou Curitiba
por Michelle Stival da Rocha
Tela “sapeco da erva mate”, pintura de Alfredo Andersen. Localizada no Museu Oscar Niemeyer. (Foto - Divulgação)
Em 23 de julho de 1849, há 164 anos, a Câmara Municipal de Curitiba recebia a incumbência, do presidente da província de São Paulo, de cobrar o imposto sobre a erva “matte”. Seriam coletados “dez réis por arroba de 'matte' na razão de seis arrobas por cargueiro” que descesse “dos municípios de serra 'assima' para os da marinha”. A Casa encaminhou aos produtores cópias da lei provincial que criou o imposto e da portaria do presidente. Conforme a ata arquivada na Biblioteca do Legislativo municipal, a Câmara também deveria comunicar outras câmaras, “a fim de que façam saber a esta se aprovam a dita resolução ou encarregarão a outrem a arrecadação das partes que lhes pertencem no dito imposto”.
No contexto desta medida, fortalecia-se um ciclo que revolucionaria Curitiba e todo o estado. O da erva-mate. Sua produção chegou a representar 85% da economia paranaense e trouxe o progresso necessário para a emancipação do estado (em 1853), que era província de São Paulo.
A extração já ocorria no Paraná desde o início do século XVIII, quando o governo português demonstrou interesse por essa atividade econômica. Mas foi quando passou a ser beneficiada no estado, nos chamados engenhos, e principalmente em Curitiba, que aconteceu a verdadeira mudança.
Diversas áreas prosperaram. Os barões do mate construíram ricos casarões em Curitiba, que até hoje adornam bairros como Batel e o Alto da Glória. As famílias mais abastadas queriam entretenimento e ansiavam pelo desenvolvimento cultural, o que tornou possível a expansão das artes. No Boletim Informativo da Casa Romário Martins “A arte Paranaense antes de Andersen”, Newton Carneiro descreve o cenário da cidade neste período. “Num jornal da década de 1860, portanto 20 anos antes da chegada do imperador a Curitiba, nós vamos assistir uma série de fatos que vão alterando o quadro, que vão promovendo a cidade de Curitiba. O primeiro deles talvez tenha sido a fixação da indústria do mate aqui no Planalto e, sobretudo, já na cidade de Curitiba”.
O cultivo ervateiro foi o responsável, inclusive, pela fundação, em 1912, da Universidade do Paraná, hoje Universidade Federal do Paraná (UFPR), que o historiador Ruy Wachowicz chamou de “A Universidade do Mate”. “Foi o dinheiro da exportação da erva-mate que fez a beleza da Curitiba tradicional. Os grandes túmulos do Cemitério Municipal, nossa universidade, conhecida como Universidade do Mate, a bela Catedral Basílica, o antigo Clube Curitibano, a Associação Comercial do Paraná – fundada pelo Barão do Serro Azul - a Capela de Nossa Senhora da Glória, mansões do Batel e do Alto da Glória”, cita Rafael Greca em uma palestra que analisou o ciclo.
Da mula ao trem
Houve ainda a necessidade de melhorar o transporte. Na época do tropeirismo, o carregamento da produção, do planalto para o litoral, era feito no lombo de mulas. Posteriormente, imigrantes poloneses, ucranianos e alemães trouxeram as carroças. Em 1882 foi inaugurada a navegação a vapor no Rio Iguaçu, por iniciativa de Amazonas de Araújo Marcondes. Os maiores vapores transportavam oitocentos sacos de erva-mate, em média.
Em 1885 foi inaugurada a ferrovia que liga Curitiba a Paranaguá. O trem tornou-se então o principal veículo para o escoamento da erva-mate destinada à exportação.
O período de ouro da erva-mate estendeu-se até 1929, quando houve a queda da bolsa de Nova Iorque. A recessão atingiu o mundo todo. Mas a partir daí, Curitiba já havia alcançado expressivo desenvolvimento e outras atividades econômicas prosperavam.
*Há cinco anos a Assessoria de Comunicação da Câmara publica textos sobre pessoas, lugares e eventos que marcaram a história de Curitiba.
No contexto desta medida, fortalecia-se um ciclo que revolucionaria Curitiba e todo o estado. O da erva-mate. Sua produção chegou a representar 85% da economia paranaense e trouxe o progresso necessário para a emancipação do estado (em 1853), que era província de São Paulo.
A extração já ocorria no Paraná desde o início do século XVIII, quando o governo português demonstrou interesse por essa atividade econômica. Mas foi quando passou a ser beneficiada no estado, nos chamados engenhos, e principalmente em Curitiba, que aconteceu a verdadeira mudança.
Diversas áreas prosperaram. Os barões do mate construíram ricos casarões em Curitiba, que até hoje adornam bairros como Batel e o Alto da Glória. As famílias mais abastadas queriam entretenimento e ansiavam pelo desenvolvimento cultural, o que tornou possível a expansão das artes. No Boletim Informativo da Casa Romário Martins “A arte Paranaense antes de Andersen”, Newton Carneiro descreve o cenário da cidade neste período. “Num jornal da década de 1860, portanto 20 anos antes da chegada do imperador a Curitiba, nós vamos assistir uma série de fatos que vão alterando o quadro, que vão promovendo a cidade de Curitiba. O primeiro deles talvez tenha sido a fixação da indústria do mate aqui no Planalto e, sobretudo, já na cidade de Curitiba”.
O cultivo ervateiro foi o responsável, inclusive, pela fundação, em 1912, da Universidade do Paraná, hoje Universidade Federal do Paraná (UFPR), que o historiador Ruy Wachowicz chamou de “A Universidade do Mate”. “Foi o dinheiro da exportação da erva-mate que fez a beleza da Curitiba tradicional. Os grandes túmulos do Cemitério Municipal, nossa universidade, conhecida como Universidade do Mate, a bela Catedral Basílica, o antigo Clube Curitibano, a Associação Comercial do Paraná – fundada pelo Barão do Serro Azul - a Capela de Nossa Senhora da Glória, mansões do Batel e do Alto da Glória”, cita Rafael Greca em uma palestra que analisou o ciclo.
Da mula ao trem
Houve ainda a necessidade de melhorar o transporte. Na época do tropeirismo, o carregamento da produção, do planalto para o litoral, era feito no lombo de mulas. Posteriormente, imigrantes poloneses, ucranianos e alemães trouxeram as carroças. Em 1882 foi inaugurada a navegação a vapor no Rio Iguaçu, por iniciativa de Amazonas de Araújo Marcondes. Os maiores vapores transportavam oitocentos sacos de erva-mate, em média.
Em 1885 foi inaugurada a ferrovia que liga Curitiba a Paranaguá. O trem tornou-se então o principal veículo para o escoamento da erva-mate destinada à exportação.
O período de ouro da erva-mate estendeu-se até 1929, quando houve a queda da bolsa de Nova Iorque. A recessão atingiu o mundo todo. Mas a partir daí, Curitiba já havia alcançado expressivo desenvolvimento e outras atividades econômicas prosperavam.
*Há cinco anos a Assessoria de Comunicação da Câmara publica textos sobre pessoas, lugares e eventos que marcaram a história de Curitiba.
Referências Bibliográficas
Aspectos econômicos e históricos da Erva-mate na sociedade paranaense.
Aspectos econômicos e históricos da Erva-mate na sociedade paranaense.
Museu Paranaense – Parque histórico do mate.
Discurso de Rafael Greca.
A Erva-mate na economia do Paraná.
Carneiro, Newton. A Arte Paranaense antes de Andersen, Boletim Informativo da Casa Romário Martins – Ano VII – nº 43 – Setembro de 1980.
WACHOWICZ, Ruy Christovam. A Universidade do Mate: História da UFPR, Editora da UFPR, Curitiba, 1983.
Reprodução do texto autorizada mediante citação da Câmara Municipal de Curitiba