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segunda-feira, 26 de dezembro de 2022

Histórias de Curitiba - Férias nos anos 30-40

 

Histórias de Curitiba - Férias nos anos 30-40

Férias nos anos 30-40
Guido Weber

Vamos comentar as férias de minha geração nos anos 30 e 40, época em que o recesso escolar de meio de ano era apenas 2 semanas: de 15 a 30 de junho.
Era quando os pais levavam os filhos a veranear no nosso litoral.
No verão jamais, porque a possibilidade de se apanhar maleita era muito grande. Férias no verão apenas após os primeiros anos da década de 40, quando 60% do mangue sobre o qual está hoje assentado o balneário de Matinhos começou a ser aterrado por um dos veranistas da época, o Sr. Max Roesner, considerado um arrojado empreendedor imobiliário.
Comecemos pelo inicio da aventura, que era viajar para o nosso litoral.
No início dos anos 30, 90% das viagens eram feitas de trem até Paranaguá. O mesmo partia de Curitiba às 7 horas e chegava às 1 1 horas.
Primeira providência: atravessar em diagonal o largo fronteiriço à estação, e na esquina comprar as passagens pela "deligência"que partia as 13 horas para as praias.
Estas jardineiras eram veículos totalmente abertos nas laterais, e bancos mais ou menos duros colocados transversalmente. O percurso se fazia por 3 retas numa distância de 24 km, diretamente até a Praia de Leste, que na época era conhecida por "Vila Balneária". Era um vilarejo de banhistas composto de casas de madeira, de proprietários oriundos principalmente de Paranaguá.
Normalmente levava-se de
1 a 2 horas para fazer este percurso num leito aberto e aterrado sobre o mangue, onde os veículos andavam quase sempre em 1a e 2a marcha.
Daqui para frente iniciava-se a verdadeira maratona.
Se a maré estava baixa, tudo corria bem, e em 1 hora no máximo estava-se em Matinhos. Aí era uma festa; todos banhistas reunidos para receber as "deligências".
Ocasiões havia em que a maré de lua estava "empanturra-da", e não restava outra alternativa senão aguardar que ela baixasse, e então chegava-se em Matinhos à noite, após 12 horas de viagem.
Quantos veículos chegaram a ser perdidos por alguns motoristas inexperientes ou mais afoitos, principalmente na chegada em Matinhos onde havia o famoso rio a atravessar.
Na época, apenas 10% dos veranistas viajava para Matinhos com carro próprio.
De Matinhos, os veículos continuavam pela praia até Caiobá, que então era constituído por apenas algumas poucas casas.
Daí, seguiam até o "Porto de Passagem", onde com canoas se fazia a travessia para Guaratuba.
Aliás, quanta rivalidade havia entre os balneários de Matinhos e Guaratuba - este um balneário sonolento na época - ou entre matinhos e Ilha do Mel, que era igualmente freqüentada por estrangeiros e com igual desenvolvimento de Matinhos.
As noites de Matinhos eram de uma escuridão total.
Após o jantar, por volta das 19 horas, os veranistas vestiam seus pijamas e, com lâmpadas Petromax, iam fazer seu footing-digestão pela praia.
Urna hora após estavam iodos dormindo.
Os 15 dias de férias corriam, tranqüilos, e os únicos fatos fora
da rotina eram: o sobrevôo do dirigível Graf Zepelin em 1o de julho de 1936 ou então a aterrisagem de alguns aviões do Aero Clube pelos pilotos Prof.
Ewaldo Schiebler ou Winnie Gomm.
Veio a 2a Guerra Mundial.
Proibição total para os súditos do Eixo freqüentar nosso litoral.
Black-out à noite.
Em Caiobá embrionária, havia linha de tiro com metralhadoras instaladas na Praia Brava, e alvo móvel na Praia Mansa.
Balas verdadeiras ao longo da rua principal, onde hoje é o prédio do Parque Balneário.
Terminada a Guerra, foi feita a estrada interna ligando Praia de Leste a Matinhos, e mais tarde a Caiobá, quando começou o desenvolvimento de nosso litoral.
Mas esta já é outra história.

Guido Weber é engenheiro civil.