Histórias de Curitiba - Plantão do Samdu
Plantão do Samdu
Vera Maria Pereira Pimenta
De longe podia-se ouvir o silvo agudo da sirene, e num relance ver passar voando a ambulância do pronto-socorro do SAMDU a madrugada de inverno.
Na noite gelada de céu repleto de estrelas não se encontram viva alma.
Sob a claridade intensa de uma enorme lua cor de opala, Curitiba dormia.
Aloisio, o motorista de pantão, agarrado na direção e com o pé grudado no acelerador, levanta vôo como de hábito, cruzando com um raio as ruas desertas com a sirene uivando escandalosamente.
Do lado, o jovem doutror de plantão.
O chamado viera de um lugarejo pobre, a vila Feliz.
De feliz, ironicamente, só o nome.
Esta noite, pelas graças do destino, outro Feliz adentra a vilinha. O bom doutor Félix. Félix de Almeida.
Uma feliz coincidência.
Ao chegarem na casa humilde, o médico some no quartinho acanhado do doente, enquanto Aloisio como de hábito se aboleta num banco da cozinha pronto para dar um dedo de prosa com os familiares do enfermo e bisbilhotar tudo.
Poucas vezes o doutor saira do quarto dos pacientes sem encontrar o folgado tomando café e fazendo uma boquinha ou ainda seu próprio diagnóstico.
Hoje não havia sido exceção. O chofer saboreia um café ralo mas quentinho na cozinha aquecida pelo fogão à lenha.
Ao Dr. também é oferecida uma caneca da bebida.
Doutor Félix recusa gentilmente, agradece e se despede.
Saem os dois quebrando geada, caminhando lado a lado sob a luz clara da lua cheia que lhes ilumina o caminho.
Aloisio me-tralha o médico com veladas ad-moestações:
- Puxa doutor, que custava o senhor tomar um café!
- Não me deu vontade. A Nely me preparou um lanche que comi antes de sairmos.
- E com este frio! Que custava! Até parece que o senhor é orgulhoso!
- Engano seu, não sou orgulhoso - responde pacientemente o doutor.
Em primeiro lugar essas pessoas são pobres, tem muito pouco para dividir com quem não precisa e em segundo lugar esta família é de leprosos -finalizou o médico.
Aloisio estaca paralizado. O choque é tanto que dá um uivo e começa a estrebuchar ao mesmo tempo que arranca a maleta de primeiros socorros do Dr. Félix, agarra o vidro de álcool, abre e despeja grandes goles pela goela abaixo paracendo um louco, enquanto gemia desesperado:
- Ai meu Deus, doutor! - e vá álcool pela tubulação - Ai Deus, me acuda! - tudo em meio a an-gustiosos gargarejos, gemidos e cusparadas.
- Doutor! Doutor! Meu Deus socorro! - e blergt, blergt no meio dos canteiros.
A aflição do chofer era tanta que nem percebeu o sorriso do Doutor entrando na ambulância.
Obs: SAMDU-Serviço de Assistênda Médica Domiciliar Urgente.
Vera Maria Pereira Pimenta é cronista.
Vera Maria Pereira Pimenta
De longe podia-se ouvir o silvo agudo da sirene, e num relance ver passar voando a ambulância do pronto-socorro do SAMDU a madrugada de inverno.
Na noite gelada de céu repleto de estrelas não se encontram viva alma.
Sob a claridade intensa de uma enorme lua cor de opala, Curitiba dormia.
Aloisio, o motorista de pantão, agarrado na direção e com o pé grudado no acelerador, levanta vôo como de hábito, cruzando com um raio as ruas desertas com a sirene uivando escandalosamente.
Do lado, o jovem doutror de plantão.
O chamado viera de um lugarejo pobre, a vila Feliz.
De feliz, ironicamente, só o nome.
Esta noite, pelas graças do destino, outro Feliz adentra a vilinha. O bom doutor Félix. Félix de Almeida.
Uma feliz coincidência.
Ao chegarem na casa humilde, o médico some no quartinho acanhado do doente, enquanto Aloisio como de hábito se aboleta num banco da cozinha pronto para dar um dedo de prosa com os familiares do enfermo e bisbilhotar tudo.
Poucas vezes o doutor saira do quarto dos pacientes sem encontrar o folgado tomando café e fazendo uma boquinha ou ainda seu próprio diagnóstico.
Hoje não havia sido exceção. O chofer saboreia um café ralo mas quentinho na cozinha aquecida pelo fogão à lenha.
Ao Dr. também é oferecida uma caneca da bebida.
Doutor Félix recusa gentilmente, agradece e se despede.
Saem os dois quebrando geada, caminhando lado a lado sob a luz clara da lua cheia que lhes ilumina o caminho.
Aloisio me-tralha o médico com veladas ad-moestações:
- Puxa doutor, que custava o senhor tomar um café!
- Não me deu vontade. A Nely me preparou um lanche que comi antes de sairmos.
- E com este frio! Que custava! Até parece que o senhor é orgulhoso!
- Engano seu, não sou orgulhoso - responde pacientemente o doutor.
Em primeiro lugar essas pessoas são pobres, tem muito pouco para dividir com quem não precisa e em segundo lugar esta família é de leprosos -finalizou o médico.
Aloisio estaca paralizado. O choque é tanto que dá um uivo e começa a estrebuchar ao mesmo tempo que arranca a maleta de primeiros socorros do Dr. Félix, agarra o vidro de álcool, abre e despeja grandes goles pela goela abaixo paracendo um louco, enquanto gemia desesperado:
- Ai meu Deus, doutor! - e vá álcool pela tubulação - Ai Deus, me acuda! - tudo em meio a an-gustiosos gargarejos, gemidos e cusparadas.
- Doutor! Doutor! Meu Deus socorro! - e blergt, blergt no meio dos canteiros.
A aflição do chofer era tanta que nem percebeu o sorriso do Doutor entrando na ambulância.
Obs: SAMDU-Serviço de Assistênda Médica Domiciliar Urgente.
Vera Maria Pereira Pimenta é cronista.