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quinta-feira, 20 de novembro de 2025

José Nunes Bellegard: O Homem por Trás do Bangalô que Desapareceu — Uma História de Arquitetura, Memória e Perda em Curitiba

 

José Nunes Bellegard: O Homem por Trás do Bangalô que Desapareceu — Uma História de Arquitetura, Memória e Perda em Curitiba

Por aqueles que ainda ouvem o eco dos passos no corredor de uma casa que já não existe — mas que vive na memória da cidade.


O Projeto que Nasceu em 9 de Setembro de 1924

Em um dia comum de setembro, sob o céu claro de Curitiba, um desenho foi traçado — não apenas com régua e compasso, mas com sonho, funcionalidade e elegância. Era o projeto arquitetônico para a residência de José Nunes Bellegard, localizada na Rua Iguassú, assinado pelo talentoso projetista Eduardo Fernando Chaves.

Naquela época, Curitiba ainda se moldava — ruas estreitas, casas de madeira e alvenaria, e uma elite emergente que buscava conforto, modernidade e estilo. O bangalô projetado para José Bellegard era mais do que uma casa: era um símbolo de status, de bom gosto, de pertencimento a uma nova era urbana.


A Casa que Foi Mais do que Tijolos — Um Bangalô de 210 m²

O projeto, registrado no Alvará de Construção nº 2666/1924 (Talão nº 2156), previa uma residência de médio porte, com dois pavimentos, construída em alvenaria de tijolos — material nobre, durável, e que conferia solidez à estrutura.

As plantas, cuidadosamente elaboradas por Eduardo Fernando Chaves, incluíam:

🔹 Pavimento térreo e superior — com distribuição inteligente dos ambientes;
🔹 Corte longitudinal e transversal — revelando a estrutura interna e a altura dos cômodos;
🔹 Fachadas frontal e lateral — que combinavam simplicidade com requinte, típico do estilo residencial da década de 1920.

O bangalô, com seus 210 m², era um espaço generoso — ideal para uma família de classe média-alta, que valorizava privacidade, conforto e beleza arquitetônica.


José Nunes Bellegard — Quem Era Ele?

Embora os registros históricos sejam escassos, podemos imaginar José Nunes Bellegard como um homem de negócios, talvez comerciante, funcionário público ou até mesmo um profissional liberal — alguém que, em meados da década de 1920, tinha condições de encomendar um projeto arquitetônico personalizado.

Ele escolheu Eduardo Fernando Chaves — um nome respeitado na cidade — para transformar seu sonho em realidade. E isso diz muito: não era apenas uma construção, era uma declaração de identidade.

José provavelmente caminhava pela Rua Iguassú com orgulho, imaginando sua família reunida na sala, as crianças brincando no quintal, os jantares à luz de velas nas noites de verão. Sua casa era seu refúgio, seu legado, sua marca na paisagem urbana de Curitiba.


Eduardo Fernando Chaves — O Projetista que Deixou Sua Assinatura na Cidade

Não há muitas informações sobre a vida pessoal de Eduardo Fernando Chaves, mas seu trabalho fala por ele. Em 1924, ele já era reconhecido como um projetista competente — capaz de entender as necessidades de seus clientes e traduzi-las em planos práticos, estéticos e funcionais.

Seu projeto para José Bellegard é um exemplo raro de arquitetura residencial da época — documentado, detalhado, preservado em microfilme no Arquivo Público Municipal de Curitiba. É uma janela para o passado, uma prova de que Curitiba já pensava em design, em qualidade de vida, em beleza urbana — mesmo antes de se tornar a “cidade-jardim”.


O Que Aconteceu com a Casa? — Demolida em 2012

Infelizmente, a história dessa residência termina com uma nota triste: em 2012, a casa foi demolida. Não há registro oficial do motivo — talvez tenha sido substituída por um prédio comercial, por um edifício residencial, ou simplesmente por negligência. Mas o fato permanece: uma peça importante da memória arquitetônica de Curitiba desapareceu.

Hoje, onde estava o bangalô de José Bellegard, pode haver um estacionamento, um supermercado, ou um prédio sem alma. Mas quem conhece a história sabe que ali, um dia, existiu algo belo — algo humano.


Por Que Isso Importa? — A Memória que Constrói Nossa Cidade

Casas como a de José Nunes Bellegard não são apenas estruturas de tijolo e cimento. Elas são testemunhas silenciosas da vida cotidiana, do crescimento das famílias, das mudanças sociais, da evolução urbana.

Quando demolidas sem registro, sem valorização, sem memória — perdemos mais do que paredes. Perdemos histórias. Perdemos rostos. Perdemos a identidade da cidade.

O projeto de Eduardo Fernando Chaves, preservado no arquivo municipal, é um tesouro. Ele nos permite reconstituir, mesmo que parcialmente, o que foi perdido. Ele nos lembra que Curitiba não começou ontem — ela tem raízes, nomes, vidas, sonhos.


Para Sempre na Memória da Cidade

“Uma casa pode ser demolida. Mas o sonho que a construiu, o amor que a habitou, e a arte que a projetou — esses jamais serão apagados.”

José Nunes Bellegard, mesmo sem biografia completa, merece ser lembrado — não apenas como proprietário de uma casa, mas como parte da história viva de Curitiba.

Eduardo Fernando Chaves, embora pouco conhecido, deixou sua marca — e essa marca é a prova de que a arquitetura não é apenas técnica, mas também poesia.


Com respeito, por aqueles que construíram, sonharam e viveram em Curitiba — mesmo que suas casas já não existam.
Curitiba, 21 de novembro de 2025


🏡 “Nem todas as casas precisam estar de pé para serem importantes. Algumas vivem apenas nos desenhos, nas memórias, nas histórias — e são eternas por isso.”

Eduardo Fernando Chaves: Projetista

Denominação inicial: Projecto de casa para o Snr. José Bellegard

Denominação atual:

Categoria (Uso): Residência
Subcategoria: Residência de Médio Porte

Endereço: Rua Iguassú

Número de pavimentos: 2
Área do pavimento: 210,00 m²
Área Total: 210,00 m²

Técnica/Material Construtivo: Alvenaria de Tijolos

Data do Projeto Arquitetônico: 09/09/1924

Alvará de Construção: Talão Nº 2156; N° 2666/1924

Descrição: Projeto Arquitetônico para construção de um bangalô.

Situação em 2012: Demolido


Imagens

1 - Projeto Arquitetônico.

Referências: 

CHAVES, Eduardo Fernando. Projecto de casa para o Snr. José Bellegard à Rua Iguassú. Plantas dos pavimentos térreo e superior e de implantação, corte e fachadas frontal e lateral apresentados em uma prancha. Microfilme digitalizado.

Acervo: Arquivo Público Municipal de Curitiba.