Militar do Exército em Curitiba é a única mulher em missões no Sudão e na Amazônia
* Por Francine Lopes, especial para a Tribuna do Paraná
Tenente-Coronel da 5ª Divisão de Exército, Luciana Paiva, 56 anos, é a única mulher do Estado-Maior da corporação, que sai de Curitiba junto com militares do Paraná e de Santa Catarina, nesta quinta-feira (1º), para participar da Operação Acolhida em Roraima e no Amazonas, na região Norte do Brasil.Moradora de Curitiba há sete anos, Luciana é carioca e está no Exército desde 1997. Ela foi a única brasileira em missão no Sudão – país do centro-norte do continente africano – entre 2018 e 2019, e vai agora para sua segunda Operação Acolhida. Formada em telecomunicações e pós-graduada em análise de sistemas, a TC Paiva traz o seu olhar feminino dentro do Exército Brasileiro.
“A mulher tem demonstrado ao longo do tempo, que é capaz de ter funções similares (aos homens), a gente é mais crítica, a gente tem um olhar mais detalhista, então isso permite que a gente assuma funções mais sensíveis. E a mulher tem demonstrado que pode desempenhar diferentes funções independente do local e do que vai fazer”, diz.
Operação Acolhida
A Operação Acolhida “dá suporte para venezuelanos, que chegam ao Brasil, com apoio para comunicação com os familiares, acesso à saúde com exames básicos e atualização de vacinas e, principalmente documentos, além de ajudar com qualificação para procura de emprego”, conta a Tenente Coronel. Além do Exército, segundo a TC algumas ONGs também ajudam no trabalho e nelas a presença feminina é significativa.“Uma das principais coisas que acontecem quando chegam ao Brasil é dar assistência de saúde, com verificação de vacinas, fazem exames, tiram os documentos. é um trabalho muito grande, envolve vários setores e neles tem muitas mulheres envolvidas”.
Única no Sudão
Mãe de um casal de filhos, hoje com 20 e 35 anos, Paiva foi a única brasileira a participar de uma missão no Sudão entre 2018 e 2019, onde era gerente da área de banco de dados, e conta sobre os desafios da maternidade na realidade de quem serve ao Exército.“ O que tem que estar bem posto nisso é a família. Muitas vezes a família não está preparada frente à distância. Uma das coisas que fiz quando fui, principalmente para o exterior, foi preparar minha família para eu estar longe. Se acontecer algo, até chegar de volta vai levar tempo”.
A missão Unamid foi na Região de Darfur, no Sudão, na cidade de El Fasher e tinha como objetivo apaziguar guerras civis de grupo da região e enviar relatórios para a ONU. No período em que estava lá, Paiva se programou para tirar folga e vir para o Brasil no casamento do filho, mas quase não pôde chegar.
“No dia que ia pegar o voo para sair do Sudão estourou um conflito e o espaço aéreo ficou fechado, esperei quatro dias sem saber se conseguiria seguir viagem”, lembra Luciana que chegou a tempo para a cerimônia.
Luciana começou a carreira na Polícia Militar do Rio de Janeiro, depois passou pela Marinha Brasileira e há 25 anos entrou para o Exército. Ao longo dos anos, viu a evolução da presença feminina na corporação.“Daqui a pouco tem mulheres chegando a General do Exército, isso a gente não perde mais, são as conquistas que fizemos ao longo do tempo. A mudança de cultura é muito difícil, mas a gente conquista aos poucos, e o respeito pelo nosso trabalho e resultados”.
Missão no Norte
Militares dos estados do Paraná e Santa Catarina embarcam do aeroporto Afonso Pena, para a região norte do país. Eles integram o 15º Contingente da Operação Acolhida – a primeira missão de ajuda humanitária das Forças Armadas em território nacional.
São 78 militares oriundos de quartéis do Paraná e 196 de Santa Catarina que vão atuar em Manaus (Amazonas) e nas cidades de Pacaraima e Boa Vista (Roraima) de dezembro de 2022 a maio de 2023. Mais de 90% do efetivo é composto por profissionais oriundos da região Sul, totalizando 357 militares em atuação na força-tarefa humanitária no 15º Contingente.