Muito mais que o Cerco – parte 1
“Terra mais bela que esta não há”, já diz o hino da Lapa. Conhecida nacionalmente pelo episódio do Cerco, berço de personalidades importantíssimas na cultura e política nacional, a Lapa é uma das cidades mais bonitas e que melhor representa o Paraná e o Brasil.
O município vivenciou o período do Brasil colônia, presenciou de perto os tempos de escravidão, teve participação ativa nos ciclos de riqueza do Paraná com a erva-mate e a madeira e viu a valorização da história do país ser contemplada por meio do tombamento de patrimônios.
Tudo isso teve início há muito tempo, mais tempo inclusive que os 248 anos que o município completa oficialmente em 2017.
Antes da chegada do homem branco nessa região, segundo o que a história indica, a Lapa era habitada por índios guaranis. Entre o legado desses índios está a descoberta da erva-mate. Os guaranis já a conheciam e utilizavam, e posteriormente ensinaram aos europeus sobre a planta que hoje é uma das mais fortes tradições culturais do sul do Brasil.
Mais tarde, já no século XVI, pouco depois da descoberta do Brasil pelos portugueses, há o primeiro registro de passagem de um homem branco na Lapa. “A primeira passagem aqui foi em 1541. Um espanhol, a serviço do Rei da Espanha, passou pela região em uma expedição de reconhecimento do território português. Entre outras coisas, descreveu o local dando destaque para as muitas pedras que encontrou aqui”, conta a doutora em História Marilia do Valle.
Mas, é somente no século XVIII, a partir dos anos de 1700 que essa região volta a ter visitantes e, mais tarde, moradores. O Brasil vivia o ciclo do ouro e a economia da então colônia girava em torno disso. Na época, as mulas eram utilizadas para carregar o ouro extraído da região de Minas Gerais. O comércio dessas mulas era algo bastante lucrativo, já que não existiam muitas mulas na região sudeste do Brasil. Então, os gaúchos saiam da cidade de Viamão com tropas de mulas e seguiam até Sorocaba, cidade paulista onde a venda desses animais era feita. Por conta das tropas conduzidas por esses homens eles receberam o apelido de tropeiros. “A viagem entre viamão e Sorocaba durava aproximadamente 13 meses, e a Lapa fica em ponto estratégico, mais ou menos na metade desse caminho. Então esses tropeiros costumavam ficar acampados aqui nessa região durante a viagem. Nesse tempo as mulas engordavam, porque aqui tinha muito pasto, e os homens descansavam para seguir viagem”, conta o lapeano Hildebrando Cesar.
A partir disso, surgiu também o primeiro comércio nessa região, atendendo a necessidade de vender produtos para esses homens que descansavam aqui durante a viagem. “Muitas famílias de Curitiba começaram a comprar fazendas aqui na região da Lapa quando perceberam que podia ser lucrativo o comércio com os tropeiros que passavam por aqui. Em 1750 havia cerca de seis fazendas. Depois, quando a Lapa foi fundada em 1769, o número de fazendas passou para 36”, conta Marilia do Valle.
A fundação oficial da Lapa acontece quando em 1768, moradores solicitaram uma sesmaria (concessão de terras no Brasil pelo governo português) para a construção de uma igreja na cidade. No dia 13 de junho de 1769, o Padre João da Silva Reis, recebeu essa autorização. A partir daí a Lapa passou a se chamar: Freguesia de Santo Antônio de Lisboa. A igreja que deu origem a cidade é a Matriz de Santo Antônio. Localizada no centro da Lapa, a sua construção foi finalizada no ano de 1784 e hoje é um dos patrimônios mais importantes do Paraná.
Depois da primeira denominação, a Lapa ainda teve outros dois nomes antes de chegar no atual. A cidade foi chamada, a partir de 1797, de Freguesia de Santo Antônio da Lapa, e a partir de 1806 de Vila Nova do Príncipe. Até que, no dia 7 de março de 1872, a Vila Nova do Príncipe teve seu território desmembrado de Curitiba e foi emancipada como município, passando a se chamar Lapa.
Na próxima edição vamos falar da Lapa a partir do século XIX. Período de imigração europeia no município, ciclo da erva-mate, personalidades importantes que nasceram aqui e muito mais…