Mostrando postagens com marcador Os encantos do cinema: os primeiros passos da sétima arte em Araucária. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Os encantos do cinema: os primeiros passos da sétima arte em Araucária. Mostrar todas as postagens

quinta-feira, 19 de janeiro de 2023

Os encantos do cinema: os primeiros passos da sétima arte em Araucária

 Os encantos do cinema: os primeiros passos da sétima arte em
Araucária

Muita coisa mudou desde a primeira sessão pública de cinema promovida em 1895 na França pelos Irmãos Lumiére, e também depois da primeira sessão que teria ocorrido em Araucária em 1912. Aos poucos, a sétima arte assumiu seu papel na indústria cultural e hoje em dia a exibição de filmes nas modernas salas das grandes redes se traduz prioritariamente em um ato de consumo no contexto de convívio dos shoppings centers.
No Brasil os antigos empreendedores de cinemas de rua foram perdendo espaço na maioria das cidades. Poucos resistem ao tempo mantendo salas de cinema em prédios que nos dão alguma referência dos grandes e suntuosos cines-teatro das primeiras décadas do século 20.
Em Araucária, apesar de nos dias atuais a cidade não comportar nenhuma sala de cinema, as referências históricas dão conta que a partir da década de 1910 muitos cidadãos estiveram envolvidos na atividade cinematográfica. Nascido na então Freguesia do Iguaçu em 1887, o precursor de tudo teria sido o Sr. Carlos Hasselmann, primeiro proprietário do Cinema Smart Araucária, denominado posteriormente Cine Theatro Araucária.
Sobre o cinema do Sr. Carlos, dona Cecília Grabowski Voss, em entrevista, relatou que:
"Cinema era [do] seu Carlos Hasselmann. Pagava quinhentos réis de entrada. Era cinema mudo. Tinha a orquestra do Voss, (...) que tocava de tudo (...) Lotavam as sessões de cinema. (...) Tinha a galeria, tinha os camarotes." (Voss, Cecília Grabowski. Memória... In: Araucária, Prefeitura Municipal. Os espaços de lazer em Araucária : [s.n], 2ª edição. 2001.)
Entre 1912 e 1913 foi projetado e construído o charmoso prédio do Cine-Theatro Smart. Sua fachada ostentava a data de 1927, quando provavelmente tenha passado por reforma. A partir de 1922 passou a se chamar Cine Theatro Araucária. Em 1993, infelizmente, o prédio foi demolido para dar lugar à uma nova construção para desempenhar outra função. Até a data de hoje funciona no mesmo local do antigo cinema, em novo prédio, o Banco Bradesco, localizado atrás da Igreja Matriz Nossa Senhora dos Remédios.
Outro documento que também ajuda a revelar sobre como foram os primeiros passos da atividade cinematográfica em Araucária é o livro contábil da firma Zdaniak e Cia (1923-1927). Segundo suas páginas amareladas pelo tempo, contava a sociedade com a participação de Bruno Trauczynski, Pedro Schilnas, Bento Luiz de França e Elvira França Buschmann. O movimento de caixa durante esse tempo revela um negócio aparentemente lucrativo e que nos leva a imaginar um verdadeiro ritual que envolvia a projeção dos filmes. No livro encontramos a relação de pagamentos de muitos serviços como o de mestre de música, orquestra, operador, fornecimento de luz, fornecimento de fitas, condução das fitas (frete), fornecimento de foguetes, papel para os programas e cartazes, compra de livros e de selos para a coletoria estadual.
Dos relatos sobre o cinema, um dos aspectos que mais chama a atenção é a relação amistosa do público com essa nova forma de diversão e lazer. São relatos que reafirmam o sentimento de que a população de Araucária adentrava a modernidade nesse novo espaço de convivência e diversão que acolhia pessoas de todas as faixas etárias e classes sociais. Novos ídolos, novas realidades e um novo mundo de possibilidades estavam à disposição de quem se rendesse aos encantos da sétima arte.
"Todas as famílias iam. Levavam crianças, tudo. Aí o seu Carlos Hasselmann, cena que estavam passando ele ia lá em cima, que tinha galeria em volta, assim, então ele jogava punhados de bala (...), quando terminava aquela parte acendia a luz, era só gente a catar bala no meio das cadeiras. As crianças principalmente (...) . Naquele tempo tinha muito operário que trabalhava nas serrarias, então sábado à noite e domingo fazia matinê (...) [passava] muito faroeste e os filmes do Carlitos. Do faroeste eu me lembro do Tom Mix e do Buck Jones. Ah! Eu chorava para o papai me dar duzentos réis para eu ir à matinê ver meus ídolos (...)" PINTO, Reinaldo Alves. In : Araucária, Prefeitura Municipal. Os espaços de lazer em Araucária : [s.n], 2ª edição. 2001.
Nesse ritmo, o cinema foi crescendo e se adaptando à realidade local. Na década de 1940, quando o Sr. Otávio Galize assumiu o negócio, as sessões ocorriam tanto no prédio atrás da igreja como em outras localidades, para onde os filmes eram levados.
"No aparelho de 16 mm, o meu sogro o Seu Otávio Galize, ele exibia filme em Contenda, em Guajuvira e na então Coudelaria Tindiquera, que hoje é área da Petrobras. Então isso era uma vez por semana. Se locomovia com o carrinho dele. Ia lá, passava os filmes porque a máquina era portátil, 16 mm, podia exibir em qualquer lugar." (ABUD, Jorge. In : Entrevista concedida à TV Araucária, 2011).
No final da década de 1950, Otávio Galize construiu um prédio novo na área central em terreno comprado da Companhia São Patrício. As novas instalações eram modernas contando com cinemascope, tela panorâmica e aparelho importado de 35 mm. Para a época a iniciativa foi considerada arrojada, tendo o novo Cine Líder capacidade de público aumentada para 500 lugares. O primeiro filme exibido no novo prédio foi “Da Terra Nascem os Homens”, em dezembro de 1959. As sessões de início ocorriam aos sábados e domingos, sendo depois ampliadas para as quintas- feiras. Excepcionalmente aos sábados se passava filmes reservando o espaço para a colônia japonesa.
“A única solução que nós tínhamos era que nós tínhamos um trator, sabe? Então, para começar, nós juntávamos assim cinco, seis rapaziada e as moças também junto, inclusive, e nós íamos para a cidade assistir cinema.”(...) (NAMIKATA, Toshio. Entrevista concedida a Roseli Boschilia, 1990).
Nas sextas-feiras da Paixão também era de costume exibir o filme “Paixão de Cristo”. A propaganda do cinema era feita com cartazes, folhetos e também com carro de som.
Em 1978 Otávio Galize passou a direção para seu neto George,
que manteve o cinema funcionando até 12 de agosto de 1986, quando ocorreu a redução de público, principalmente devido ao aumento de acesso aos aparelhos de televisão nos lares.
(Texto escrito por Cristiane Perretto e Luciane Czelusniak Obrzut Ono - historiadoras)
(Legendas das fotografias:
1 - Família Hasselman. Pioneiros da atividade cinematográfica em Araucária, 1912.
Acervo: Arquivo Histórico Archelau de Almeida de Torres.
2 - Cartão de felicitações da Empresa Carlos Hasselman.
Acervo Arquivo Histórico Archelau de Almeida Torres.
3 - Planta assinada por engenheiro civil de nome João e sobrenome ilegível, sem data.
Acervo: Arquivo Histórico Archelau de Almeida Torres.
4 - Fachada do Cine Líder de Otávio Galize, 04.02.1974
Acervo do Arquivo Histórico Archelau de Almeida Torres.
5 - Prédio do antigo Cine-teatro, 1977.
Acervo: COMEC.)

Nenhuma descrição de foto disponível.
Família Hasselman. Pioneiros da atividade cinematográfica em Araucária, 1912.
Acervo: Arquivo Histórico Archelau de Almeida de Torres.

Nenhuma descrição de foto disponível.
Cartão de felicitações da Empresa Carlos Hasselman.
Acervo Arquivo Histórico Archelau de Almeida Torres.

Nenhuma descrição de foto disponível.
Planta assinada por engenheiro civil de nome João e sobrenome ilegível, sem data.
Acervo: Arquivo Histórico Archelau de Almeida Torres.

Nenhuma descrição de foto disponível.
Fachada do Cine Líder de Otávio Galize, 04.02.1974
Acervo do Arquivo Histórico Archelau de Almeida Torres.

Nenhuma descrição de foto disponível.
Prédio do antigo Cine-teatro, 1977.
Acervo: COMEC.