Predinho da antiga Cervejaria e Churrascaria Cruzeiro, na antiga Av. Siqueira Campos, hoje Av. batel.
Foto: Arquivo Gazeta do Povo.
Público da Churrascaria Cruzeiro sentado em mesas ao meio das árvores do bosque.
Foto: Arquivo Gazeta do Povo
Público frequentador da Churrascaria Cruzeiro, em dia comemorativo.
Foto: Gazeta do Povo
Apresentação da banda da PMEPR em dia comemorativo.
Foto: Arquivo Gazeta do Povo
Bondinho da Cervejaria e Churrascaria Cruzeiro, saía pelas imediações passeando com a clientela.
Foto: Arquivo Gazeta do Povo
Atrás do balcão o sr. Luiz kundy, neto do sr Germano e, ao lado, o sr. Boleslau Mareck, o Boles, um dos garçons mais velhos da casa.
SAUDADES DA ANTIGA CHURRASCARIA CRUZEIRO
No conhecido Parque Cruzeiro, que ficava na avenida Batel, num casarão construído em 1880 e rodeado de centenárias
árvores, o imigrante alemão Germano Kundy dirigiu uma das mais tradicionais churrascarias de Curitiba, a Churrascaria Cruzeiro.
Era o ano de 1937, quando o sr. Kundy começou as suas atividades nesse local, explorando um pequeno bar para aperitivos, cujos móveis bastante originais foram destaque, principalmente o guarda-louça, com madeira entalhada entre balcões de mármore. Nos fundos, construiu um barracão de madeira, rústico, a princípio, e que foi sendo aprimorado com o passar do tempo. Nesse barracão é que funcionava a churrascaria, considerada a primeira churrascaria do Paraná. Nos dias ensolarados, as pessoas que sentavam nas mesas colocadas embaixo das árvores, também podiam degustar dos grelhados feitos na Cruzeiro.
As carnes servidas eram basicamente o filé simples, que tem o contra-filé e o mignon juntos, a alcatra, a costela, assada inteira e depois retalhada. Usava-se tempero feito de sal. vinagre, água, pimenta do reino e, com um chumaço de palha de milho, molhavam-se as carnes com esse tempero enquanto a carne estava sendo assada. Maionese, salada de cebola, tomate, farinha e pão acompanhavam a carne.
No período de 50-60, a Churrascaria Cruzeiro passou a oferecer feijoada aos sábados, servida nas cumbucas de barro e acompanhada de couve, arroz e laranja. E para os clientes mais próximos, a esposa do sr. Germano, a sra. Hulda, elaborava pratos da cozinha alemã, como eisbein e salsicha especial, com os devidos acompanhamentos.
Também nessa época, passou a ser tradição na Churrascaria, os jornalistas se reunirem para saborear um prato típico do litoral paranaense, o barreado. A sra. Hulda é quem fazia, sempre no dia Io de maio.
As comidas eram cozidas no fogão à lenha e nas panelas de ferro, e os grelhados na enorme churrasqueira ativada com carvão, que funcionava nos fundos do barracão.
A Churrascaria Cruzeiro funcionou na avenida Batel até 1986, quando, por problemas com o proprietário do imóvel - que se recusou a vendê-lo à família Kundy, locatária, exigiu na Justiça que ele fosse desocupado. Assim, a Churrascaria Cruzeiro foi transferida para a rua Vital Brasil, no bairro Portão, onde permanece até hoje, mantendo a sua tradicional qualidade de atendimento.
Até que se concretizasse essa transferência, houve um apelo muito grande por parte de inúmeras pessoas para que a Churrascaria Cruzeiro não fechasse suas portas e principalmente não saísse do Batel. A vereadora Marlene Zanin iniciou o movimento pró-Cruzeiro, em julho de 1985, com um almoço que reuniu freqüentadores da churrascaria e do qual resultou um abaixo-assinado à disposição de todos aqueles interessados em preservar a Churrascaria como local obrigatório na agenda curitibana. Nesse almoço que reuniu vários políticos, o então vereador Rafael Greca de Macedo manifestou a sua indignação:
"O Parque Cruzeiro já foi pousada, cervejaria e um marco na inauguração da primeira linha de bonde da cidade - foi lá que as autoridades engravatadas, da primeira viagem João Gualberto-Batel aliviaram sua sede. [...] O Cruzeiro merece a mesma mobilização que em nosso tempo dedicamos a Leiteria Schaffer. A atual administração municipal não pode permitir que desapareça um referencial da cidade."
Ainda no mesmo almoço, um outro político, Jaime Lerner, também manifestou a sua opinião: "Ela [Churrascaria Cruzeiro] faz parte de um retrato de família que não deve ser rasgado. Sempre esteve em um caminho histórico tradicional e não pode desaparecer. O curitibano não precisa olhar pro céu para se orientar, olha para este Cruzeiro, que até tem mais estrelas."
Cícero Bley, na época, diretor da Surhema, foi um dos que aderiram ao abaixo-assinado, e o jornal Correio de Notícias publicou a sua opinião: "Para o diretor da Surhema, brigar pela herança do Cruzeiro é muitas coisas, nenhuma delas elitista, é principalmente, brigar pelo direito de continuar curitibano, dono da história afetiva de seu pedaço. Ele quer a preservação do espaço físico, pelo qual passaram e se formaram várias gerações, local onde as famílias deixaram rolar muitas conversas e os meninos ensaiavam traquinagens. Pelo valor arquitetônico do prédio; pela preservação do bosque, e pela churrascaria em si, que já se tornou fundamental para seus freqüentadores tão antigos na casa quanto os garçons, que disputam o título de maior permanência. Se não se preservar as raízes, estas que nascem da vontade da população que determina seus usos e costumes no dia-a-dia, não se tem identidade enquanto cidade, e o que se vê é o cidadão sozinho, assistindo a deterioração do seu tecido social."
(Extraído de: Teses.ufpr.gov.br / Bares e Restaurantes de Curitiba, Anos 50-60, de Maria do Carmo MarcondesBrandão Rolim)