COLÔNIA E NOLASCO –
Do livro “Um toque de Saudade”, de Elmira Nascimento Barroso, para a Revista "O Itiberê" - 1997
COLÔNIA E NOLASCO –
Do livro “Um toque de Saudade”, de Elmira Nascimento Barroso, para a Revista "O Itiberê" - 1997
Quando criança, indo várias vezes ao cemitério com meu pai, Vicente Nascimento Júnior, e olhando os insólitos nas lápides dos túmulos, vi gravado em mármore um canhãozinho. Perguntei-lhe o que significava e ele respondeu-me tratar-se de uma homenagem póstuma do Governo aos oficiais Colônia e Nolasco, mortos por fuzilamento no paredão lateral do cemitério, vítima da Revolução Federalista em 1894, pelos mesmos algozes que assassinaram o Barão do Serro Azul e seus companheiros no quilômetro 65 da Estrada de Ferro Curitiba Paranaguá.
Após tantos anos, revendo velhos escritos de papai, alguns até inéditos, e mais alguns recortes de revistas e jornais, encontrei a verdade sobre este bárbaro e sangrento fato que abalou nosso Estado do Paraná.
Nosso historiador Davi Carneiro elucida este fato, inocentando-os da culpa de traição, que aqui transcrevo, relatando o real feito dos nossos heróis parnanguaras que com denodo e valentia, souberam defender nossa cidade, com risco da própria vida.
O tenente Pedro Nolasco Alves Ferreira e o Major José Antônio Colônia, ambos conhecidos por ato de bravura e dedicação ao movimento Republicano, prestavam serviços no Regimento de Segurança do Paraná.
O 2º Batalhão de Polícia Paulista estava sitiado em Paranaguá com a missão de guardar os presos políticos, que eram vários, entre eles o Major Colônia e o Tenente Nolasco. Ambos, acusados "sob palavra", na pensão da viúva Grothe, situada na rua Direita, hoje rua Marechal Deodoro. O Comandante da praça de Paranaguá recebeu do Quartel General das Forças do 5º Distrito Militar, o Ofício Nº 64 com ordens para remover os prisioneiros
escoltados e, ainda, prender com urgência e segurança os seguintes cidadãos: Matias Bohn, José da Cruz, Nicolau Mader, Juvenal Arantes, Joaquim Cândido de Oliveira, Francisco de Oliveira, Joaquim Leite, João de Oliveira Pombo e outros que, na ocasião, estavam fora da cidade, incluindo-se meu avô Vicente Montepoliciano do Nascimento.
As 2 horas da madrugada do dia 24 de maio de 1894, a pensão fora invadida pelo pelotão de fuzilamento que clamava aos gritos a prisão do major e do tenente, ao qual se entregaram sem resistência. Foram ambos levados ao cemitério e executados ao amanhecer.
Antes da ordem de fuzilamento, o Alferes João Leite de Albuquerque, encarregado do comando desta bárbara execução, perguntou ao Major Colônia qual seria sua última vontade, ao qual respondeu: "morrer como cristão."
Permitiram-lhe que fizeste suas orações e em seguida foi fuzilado sem manifestação de revolta.
A mesma pergunta foi feita ao Tenente Nolasco, que responde: "Quero comandar a escolta para o meu fuzilamento."
O comandante redarguiu: "Traidores não podem comandar a soldados fiéis."
" A voz é livre", retrucou Nolasco, repetindo a ordem de "fogo", e mais, " Viva a Republica!". E caiu sobre o corpo já inanimado do seu companheiro de infortúnio.
Da Ordem do Dia No.638 de 1896 vem a notícia do falecimento de Nolasco: " Do Tenente do 8º Regimento de Cavalaria Pedro Nolasco Alves Ferreira, que se achava na 2ª Classe do Exército, por ter sido qualificado desertor em 13 de junho do ano próximo passado, no Estado do Paraná, conforme consta de um Conselho de Investigação emitida pelo Comando do 5o . Distrito em Ofício No. 334 de 21 de agosto de 1894.
As datas são curiosas e denotam ação má. Nolasco foi considerado desertor em 13 de junho, justificando-se a medida por um Conselho de Investigação realizado depois, isto é, em 21 de agosto de 1894. ambas as medidas são posteriores ao seu fuzilamento, tomadas com o intuito visível de acobertar o crime e de justificá-lo com aparência de legalidade.
Bibliografia:
Histórias, Crônicas e Lendas - de Vicente Nascimento Júnior
A Revolução Federalista em Paranaguá - Dr. Davi Carneiro
Recordação dos anos de 1893-1894 - General Agostinho Pereira Alves.
Foto: Almir SS (Acervo do IHGP) Lapide do tumulo, no Cemitério Nossa Sra. do Carmo, em Paranaguá.
Do livro “Um toque de Saudade”, de Elmira Nascimento Barroso, para a Revista "O Itiberê" - 1997
Quando criança, indo várias vezes ao cemitério com meu pai, Vicente Nascimento Júnior, e olhando os insólitos nas lápides dos túmulos, vi gravado em mármore um canhãozinho. Perguntei-lhe o que significava e ele respondeu-me tratar-se de uma homenagem póstuma do Governo aos oficiais Colônia e Nolasco, mortos por fuzilamento no paredão lateral do cemitério, vítima da Revolução Federalista em 1894, pelos mesmos algozes que assassinaram o Barão do Serro Azul e seus companheiros no quilômetro 65 da Estrada de Ferro Curitiba Paranaguá.
Após tantos anos, revendo velhos escritos de papai, alguns até inéditos, e mais alguns recortes de revistas e jornais, encontrei a verdade sobre este bárbaro e sangrento fato que abalou nosso Estado do Paraná.
Nosso historiador Davi Carneiro elucida este fato, inocentando-os da culpa de traição, que aqui transcrevo, relatando o real feito dos nossos heróis parnanguaras que com denodo e valentia, souberam defender nossa cidade, com risco da própria vida.
O tenente Pedro Nolasco Alves Ferreira e o Major José Antônio Colônia, ambos conhecidos por ato de bravura e dedicação ao movimento Republicano, prestavam serviços no Regimento de Segurança do Paraná.
O 2º Batalhão de Polícia Paulista estava sitiado em Paranaguá com a missão de guardar os presos políticos, que eram vários, entre eles o Major Colônia e o Tenente Nolasco. Ambos, acusados "sob palavra", na pensão da viúva Grothe, situada na rua Direita, hoje rua Marechal Deodoro. O Comandante da praça de Paranaguá recebeu do Quartel General das Forças do 5º Distrito Militar, o Ofício Nº 64 com ordens para remover os prisioneiros
escoltados e, ainda, prender com urgência e segurança os seguintes cidadãos: Matias Bohn, José da Cruz, Nicolau Mader, Juvenal Arantes, Joaquim Cândido de Oliveira, Francisco de Oliveira, Joaquim Leite, João de Oliveira Pombo e outros que, na ocasião, estavam fora da cidade, incluindo-se meu avô Vicente Montepoliciano do Nascimento.
As 2 horas da madrugada do dia 24 de maio de 1894, a pensão fora invadida pelo pelotão de fuzilamento que clamava aos gritos a prisão do major e do tenente, ao qual se entregaram sem resistência. Foram ambos levados ao cemitério e executados ao amanhecer.
Antes da ordem de fuzilamento, o Alferes João Leite de Albuquerque, encarregado do comando desta bárbara execução, perguntou ao Major Colônia qual seria sua última vontade, ao qual respondeu: "morrer como cristão."
Permitiram-lhe que fizeste suas orações e em seguida foi fuzilado sem manifestação de revolta.
A mesma pergunta foi feita ao Tenente Nolasco, que responde: "Quero comandar a escolta para o meu fuzilamento."
O comandante redarguiu: "Traidores não podem comandar a soldados fiéis."
" A voz é livre", retrucou Nolasco, repetindo a ordem de "fogo", e mais, " Viva a Republica!". E caiu sobre o corpo já inanimado do seu companheiro de infortúnio.
Da Ordem do Dia No.638 de 1896 vem a notícia do falecimento de Nolasco: " Do Tenente do 8º Regimento de Cavalaria Pedro Nolasco Alves Ferreira, que se achava na 2ª Classe do Exército, por ter sido qualificado desertor em 13 de junho do ano próximo passado, no Estado do Paraná, conforme consta de um Conselho de Investigação emitida pelo Comando do 5o . Distrito em Ofício No. 334 de 21 de agosto de 1894.
As datas são curiosas e denotam ação má. Nolasco foi considerado desertor em 13 de junho, justificando-se a medida por um Conselho de Investigação realizado depois, isto é, em 21 de agosto de 1894. ambas as medidas são posteriores ao seu fuzilamento, tomadas com o intuito visível de acobertar o crime e de justificá-lo com aparência de legalidade.
Bibliografia:
Histórias, Crônicas e Lendas - de Vicente Nascimento Júnior
A Revolução Federalista em Paranaguá - Dr. Davi Carneiro
Recordação dos anos de 1893-1894 - General Agostinho Pereira Alves.
Foto: Almir SS (Acervo do IHGP) Lapide do tumulo, no Cemitério Nossa Sra. do Carmo, em Paranaguá.