quarta-feira, 1 de fevereiro de 2023

Tiradentes: o herói fabricado que é nome de praça

 Tiradentes: o herói fabricado que é nome de praça

https://www.turistoria.com.br/tiradentes-o-heroi-fabricado-que-e-nome-de-praca

A Proclamação da República em 1889 significou, para a história do Brasil, uma ruptura de boa parte do que foi construído durante a época imperial. Surgiram novos políticos, novas legislações e novas prioridades econômicas, entre outros aspectos. No plano simbólico, mudaram também aqueles considerados heróis da história, e os acontecimentos que marcaram o país passaram a ser narrados de outra forma. Ou seja, a história passou a ser contada e glorificada a partir do ponto de vista dos republicanos

 

Os republicanos estabeleceram pelo Brasil monumentos, nomes de ruas, museus, livros, etc., que contavam a história através de uma perspectiva própria, claro, e não dos monarquistas. Um dos heróis nacionais escolhidos foi Tiradentes, alferes mineiro que, no final do século XVIII, fez parte da chamada Conjuração Mineira, movimento que propunha a independência de Minas Gerais em relação ao Reino de Portugal. Considerado pelos republicanos como um herói da luta contra o domínio português e defensor da instalação de um regime republicano naquela época, Tiradentes, além de ganhar um feriado nacional em sua homenagem, passou a ser nome de importantes logradouros públicos do país.


A Inconfidência chega ao Paraná


No Paraná, atualmente Tiradentes é nome de colégios públicos, avenidas e da mais antiga praça da capital do estado, Curitiba. Localizada em frente à Catedral Basílica, a praça surgiu entre as décadas de 1640 e 1650. De acordo com mapas de época, em 1654 já havia uma capela de pau a pique, que homenageava Nossa Senhora da Luz dos Pinhais, ao redor da qual existia um espaço aberto de chão batido, chamado de Largo (a hoje nomeada Praça Tiradentes).

 

Em volta daquele largo, os habitantes começaram a construir pequenas casas, também de taipa, e aos poucos os Campos de Queretyba foram povoados. Já em 1659, o local era reconhecido como Vila de Nossa Senhora da Luz dos Pinhais. Por isso, a Praça Tiradentes é considerada o marco zero da cidade

 

Ao longo dos séculos, com o crescimento de Curitiba, o Largo continuou central para os curitibanos, sendo, por isso, a região mais valorizada. Tanto que, durante a vida da corte imperial para Curitiba, em 1880, o nome do largo passou a ser Largo Dom Pedro II — tanto pela sua importância quanto pelo fato de Dom Pedro II ter se hospedado em frente à praça. 

Eis, então, que os fios da história se enlaçam. Com a Proclamação da República e a fuga de Dom Pedro II, considerado inimigo da pátria, o Largo Dom Pedro II teve o seu nome alterado. Não só o largo, como também vários nomes de ruas e monumentos que faziam alusão a personagens importantes dos tempos monárquicos. Rapidamente, a administração municipal tratou de alterá-los, dando destaque especial ao seu mais importante logradouro. A mudança de “Largo Dom Pedro II” para “Praça Tiradentes” não foi apenas com intuito de homenagear um herói dos republicanos, mas para demarcar que uma história deveria ser apagada para a reescrita de outra. O fato de ter sido escolhido o marco zero da capital, e não outro local, foi simbólico para demonstrar, a nós e aos habitantes daquela época, a afirmação de superioridade pelos republicanos.

 

Tão logo foi alterado o nome para Praça Tiradentes, o município de Curitiba instalou monumentos em alusão à República naquele local. Em 1904, foi colocada uma estátua, no centro da Praça, do presidente Marechal Floriano Peixoto. Anos mais tarde, em 21 de abril de 1927, foi inaugurada a estátua de Tiradentes, esculpida por João Turin. E, finalmente em 1940, nos fundos da praça foi instalado um grande monumento em homenagem à República, no dia 1º de abril. Ainda há outra estátua, que homenageia Getúlio Vargas, erigida em 1957.

 
 
 
 
 

Com isso, podemos afirmar, sem dúvida alguma, que este é o local de Curitiba com mais monumentos e é, também, o local que mais concentra símbolos políticos em alusão à República, tudo isso ao redor do marco zero e da catedral, para que a ênfase seja nítida. 

 

Dito isso, cabe dizer: como todo bom leitor do Turistória, você sabe que a história é fabricada e constantemente refabricada de acordo com o surgimento de novos interesses e objetivos. Você também sabe que, ao fim de toda narrativa fabricada, alguns aspectos são exaltados em detrimento de outros, que são negligenciados ou até ocultados.

 

Acontece que, nesse ímpeto de valorizar os heróis da República, esqueceu-se de: 1 - contar que Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, foi o único inconfidente que sofreu consequências porque era o mais pobre entre todos eles; 2 - que a Inconfidência ou Conjuração Mineira não pretendia a construção de uma República nacional e igualitária; 3 - que Marechal Floriano Peixoto governou com punhos de ferro; 4 - que Getúlio Vargas foi um ditador; 5 - e que a Praça Tiradentes, muito mais do que um símbolo nacional, é um local que diz respeito à história da cidade, às raízes indígenas, tanto desvalorizadas, que Curitiba possui (faria mais sentido, talvez, chamá-la de Praça Tupi).


Por todos esses aspectos, vemos que a Praça Tiradentes foi e continua sendo um
 
artifício, muito particular e eficaz, para a escrita de uma história única.

Quando da Proclamação da República, houve a necessidade de definir qual seria o héroi nacional.


"Inicialmente, tentou-se alçar à posição de herói republicano os principais participantes do 15 de novembro, entre eles, Marechal Deodoro, Benjamin Constant e Joaquim Floriano. Não deu certo. Tiradentes, o único executado na Conjuração Mineira, atendia às exigências da mitificação. Seu nome estava nos clubes republicanos e ele era o herói exaltado pelos setores republicanos mais radicais por sua origem humilde e popular em contraste com a elite econômica e política.


Em um contexto de tensões políticas e crise econômico-financeira, Tiradentes inaugura o panteão republicano como elemento integrador, o mártir que deu sua vida à causa republicana e, portanto, o herói cívico, por excelência. Tiradentes tornou-se assim símbolo da República e, em 1890, a data de sua morte, 21 de abril foi declarada feriado nacional.


[Entretanto], quase nada se sabe sobre a aparência física de Tiradentes. Não há retratos do século XVIII e as poucas descrições são imprecisas. Não se sabe se era branco ou mulato, rico ou pobre e mesmo seu verdadeiro papel na Conjuração não é plenamente conhecido e ainda gera muito debate entre os historiadores. Transformou-se em um mito sem ter sido plenamente conhecido como personagem histórico.


Mesmo de aparência física desconhecida, sabe-se que Tiradentes, sendo militar, usava barba raspada e bigodes fartos como todos os militares da época. Quando foi enforcado, vestia um camisolão branco e estava com o cabelo e a barba totalmente raspados, como era costume para os condenados. Contudo, essa não foi a imagem dada ao herói.


A representação de Tiradentes ganhou contornos religiosos: o mártir foi associado a Cristo e recebeu a aparência consagrada pela iconografia cristã. A barba crescida, o rosto sereno e o olhar elevado aos céus reforçavam a associação de Tiradentes com a imagem de Cristo.


Representar Tiradentes despedaçado, o herói da República, pode sugerir uma crítica ao regime republicano e não uma exaltação a ele. O país estava, então, sob grande instabilidade com os efeitos da crise financeira do Encilhamento e da queda dos preços do café, e também dividido com revoltas militares no Rio de Janeiro e no Rio Grande do Sul que deixaram cerca de 10 mil mortos.


Por outro lado, mostrar o corpo dilacerado de Tiradentes não seria uma exaltação da pátria nem do mártir, mas sim a representação da violência do sistema colonial, a constatação do fracasso da Conjuração e da solidão da morte de um inocente. A forca, colocada em um local alto, a cabeça decepada e o crucifixo na parte superior do cadafalso evocam um altar e o suplício de Cristo.


Estabelece-se assim, a morte violenta do herói que deu seu sangue à causa da liberdade."


Trecho retirado do artigo  "“Tiradentes esquartejado”, de Pedro Américo: uma leitura crítica", escrito por Joelza Ester Domingues, do blog Ensinar História. Para acessá-lo, basta clicar neste link: https://ensinarhistoria.com.br/tiradentes-esquartejado-uma-leitura-critica/

Texto e pesquisa: Gustavo Pitz


Fontes de pesquisa:


https://www.turistoria.com.br/pra%C3%A7a-tiradentes


https://www.fotografandocuritiba.com.br/search?q=pra%C3%A7a+tiradentes


https://ensinarhistoria.com.br/tiradentes-esquartejado-uma-leitura-critica/

O Bosque do Trabalhador e a história do trabalho em Curitiba

 O Bosque do Trabalhador e a história do trabalho em Curitiba

https://www.turistoria.com.br/o-bosque-do-trabalhador-e-a-historia-do-trabalho-em-curitiba

Situado na Cidade Industrial de Curitiba (CIC) - o maior e mais populoso bairro de Curitiba -, o Bosque Municipal do Trabalhador é uma homenagem à classe trabalhadora de Curitiba e principalmente aos trabalhadores que, desde a década de 1960, contribuem com sua força de trabalho para o desenvolvimento daquela região e da cidade de Curitiba. 


Popularmente chamado de Parque do Trabalhador, o local tem quase 200 mil m² de área verde, e conta com 2 bosques preservados de mata de araucária, um portal de entrada, canchas de vôlei e de futebol, e trilhas para prática de exercícios aeróbicos. Inaugurado em 1996, foi a maior área verde criada pela prefeitura na CIC, bairro que necessitava (e ainda necessita) de espaços de lazer em contato com a natureza.


Origem da CIC


A Cidade Industrial de Curitiba foi inaugurada em 1973, para substituir o bairro Rebouças como o Distrito Industrial da cidade. Até os anos de 1960, no Rebouças se situavam a maioria das fábricas de Curitiba. Entretanto, com o crescimento da urbano e populacional da capital, tornou-se inviável manter o complexo fabril na parte central da cidade.


Por isso, após a aprovação do Plano Diretor, em 1966 — que redefiniu o uso do solo, a organização dos bairros em setores, o transporte coletivo e a circulação de pessoas na cidade —, ficou definido que o Distrito Industrial do Rebouças seria desativado para a implantação de outro, na periferia de Curitiba, para desafogar e despoluir o centro. 


A escolha da região oeste de Curitiba para a implantação da Cidade Industrial de Curitiba foi bastante discutida. Na época, tratava-se do local menos povoado da cidade, embora fosse plano e relativamente próximo aos bairros centrais, e também aquele que ficava a favor do vento — com isso, a poluição seria deslocada para fora de Curitiba.


Então, por meio da atuação da Urbanização de Curitiba S/A (URBS), a área recebeu saneamento, energia elétrica, estrutura viária, tudo bancado pela prefeitura, e depois foi loteada para grandes empresas, incluindo multinacionais, que se estabeleceram ali. Junto às empresas, vieram os trabalhadores, tanto de Curitiba como de outras cidades do país, que, empregados na CIC, passaram a morar no bairro ou em seus arredores.



Vila Nossa Senhora da Luz


Ainda na década de 1960, antes mesmo da criação da CIC, já começavam a aparecer iniciativas com o fim de preparar a região para a chegada das indústrias. Uma delas foi a criação da Vila Nossa Senhora da Luz - na região que viria a ser a CIC.


Inaugurada em novembro de 1966, foi o primeiro conjunto habitacional de Curitiba e um dos primeiros do Brasil. Pretendia realocar moradores das cerca de 25 ocupações irregulares da capital, além de povoar uma região onde em seguida se instalariam diversas indústrias - de modo que os habitantes da vila fossem mão de obra em potencial.


Inicialmente foram construídas 2150 casas, de dois modelos: um com 22m² e outro com 50m². Além das casas, a vila contava com uma estrutura para atender sua população: centros de atendimento social e de saúde, escolas de ensino e profissionalizante, mercado e igrejas. Ao longo dos anos, as famílias foram remodelando as casas e também a paisagem da Vila, que hoje é muito maior do que em seus anos iniciais.



Com a chegada de novas indústrias e trabalhadores ao longo do tempo, a CIC cresceu vertiginosamente. Segundo dados do Ippuc, de 2016, vivem na Cidade Industrial 186.083 moradores, números que a tornam mais populosa do que as cidades de Guarapuava, Paranaguá e Araucária. Se fosse uma cidade autônoma, a CIC seria a 9ª mais populosa do Paraná.


Por ser o bairro mais populoso e o que concentra o maior número de trabalhadores, a CIC também é reconhecida por ser um local de greves: desde a década de 80 e até hoje, recorrentemente os sindicatos fazem paralisações e passeatas perto das indústrias, com destaque para o Sindicato do Metalúrgicos da Grande Curitiba. 


Situação precária


Esse histórico da CIC, intimamente ligado com os trabalhadores de Curitiba, foi o principal argumento para a inauguração do Bosque do Trabalhador, ao lado da Vila Nossa Senhora da Luz. 


Entretanto, nem tudo que reluz é ouro. Atualmente, o Bosque do Trabalhador não está bem conservado: faltam lixeiras, bancos e espaços de lazer, ciclovias, placas informativas sobre o local, iluminação, segurança e, sobretudo, espaços de memória. Apesar do nome fazer referência aos trabalhadores, não há um só monumento que valorize a memória da classe trabalhadora de Curitiba — e, ironicamente, a rua que passa em frente ao Bosque não homenageia um líder grevista, mas um integrante de uma poderosa família política do Paraná.


Embora o bosque lembre os trabalhadores em seu nome, a não existência de outras referências aos trabalhadores e a suas lutas - através de estátuas, monumentos, exposições - contribui para o esvaziamento de seu significado enquanto homenagem à classe trabalhadora.


Para uma cidade que preza pela valorização dos parques e áreas verdes da região central e arredores, como é Curitiba, é contraditório que o Bosque do Trabalhador se encontre nesse estado. O interesse da prefeitura não pode ser somente pelas regiões consideradas turísticas, mas também deve ser pelas periferias, que tanto necessitam de áreas de lazer e de preservação histórica. 



Cervejaria Cruzeiro (ou Parque Cruzeiro)

 

Cervejaria Cruzeiro (ou Parque Cruzeiro)


Casa que fazia parte da antiga Cervejaria Cruzeiro

Casa que fazia parte da antiga Cervejaria Cruzeiro

Esta casa é uma Unidade de Interesse de Preservação.

Neste local, na Avenida do Batel, originalmente estava instalada a fábrica de cervejas Johnscher & Irmão, que faliu em abril de 1902. As foram adquiridas irmãos Julio e Luiz Leitner em 27 de maio daquele mesmo ano.
Depois reformarem e equiparem a fábrica com máquinas vindas da Alemanha. Reabriram a cervejaria em abril de 1904, com a razão social de “Julio Leitner & Irmão” e o nome de fantasia de “Fábrica de Cervejas Tivoli”. A fábrica era no Batel e o escritório e depósito na Rua Marechal Deodoro, esquina com a Rua da Liberdade (atual Rua Barão do Rio Branco), local da antiga fábrica dos Leitner, que continua em funcionamento por mais algum tempo (não consegui apurar até quando ).
Pouco tempo depois, alteraram o nome de fantasia para “Cruzeiro” e foi publicado no dia 18 de junho de 1904, no jornal “A República”, o seguinte comunicado:

“Comunicam-nos os srs. Leitner
& Irmãos, proprietários da fábrica
de cerveja do Batel, resolveram
mudar a denominação da sua
afamada marca «Tivoly», que d'
ora em diante, chamar-se-á «
Cruzeiro».

No dia 24 de outubro de 1904 o mesmo jornal publicou a seguinte reportagem:

“Dentre as diversas fábricas de cerveja existentes n'esta capital, destaca-se, pela sua importância e magnifica construção, a grande fábrica «Cruzeiro», de propriedade dos srs. Júlio Leitner & Irmão.
Esta fabrica, fundada há cerca de 4 anos pelos srs. Francisco Ioncher & Filhos, que empregaram n'ella a maior parte de suas economias, elevaram a cerca de duzentos contos de reis, não ponderam infelizmente corresponder aos esforços e sacrifícios de seus iniciados, vindo mais tarde a pertencer aos atuantes proprietários, que a adquiriram por compra.
Afim de dar desenvolvimento relativo á importância do estabelecimento, seguio para a Eurpa um dos sócios, o sr. Luiz Leitner, que pode então fazer aquisição dos mais aperfeiçoados vestuáriohos e accessorios indispensaveis, afim de collocal-a no alto gráo em que se acha.
Hontem tivemos ocasião de fazer uma visita geral á fabrica, onde fomos gentilmente acompanhados pelo sr. Luiz Leitner, que nos ministrou as informações mais completas.
Entrando pela casa de máquinas, podemos ver já a funcionar a nova caldeira ha pouco recebida da Europa, a qual contem uma forla de 60 cavallos vapor; a sua acçãi é transmitida aos diversos maquinismos de fabricação de gelo, dínamo para gerar a electricidade e outros diversos mistéres da industria. Fomos ás câmaras frigoríficas, onde a temperatura se mantinha a 1½ gráos abaixo de zero, lugares estes destinados á fermentação de grande quantidade de cerveja que se encontrava em mais de 30 tons.
Impossibilitados de nos demorarmos n'este local, em vista da baixa temperatura, sahimos logo e nos dirigimos aos demais compartimentos, onde pudemos admirar a boa ordem e o irrepreensível asseio geral. Disse-nos o sr. Leitner, que a fabrica acha-se habilitada a produzir 30.000 litros de cerveja por dia.
Visitamos depois o «restaurante» Cruzeiro, anexo ao depósito, onde nos foi oferecido um magnífico «chopps». Este «restaurante», assim como um bem montado «jogo de bolas», propriedade dos proprietários do importante estabelecimento.
E' este hoje um ponto de diversão, onde grande parte de nossa população vae se recrear aos domingos, debaixo das frondosas arvores que formam o bellissimo parque de um refrigerante jardim”.

Quanto a casa mostrada na foto onde, imagino, funcionava o tal “restaurante”, não sei dizer exatamente quando foi construída, mais imagino que isso ocorreu ainda com os antigos proprietários da cervejaria, ou seja, por volta de 1900.

O Sr. Julio Leitner faleceu em abril de 1909, por um tempo a sua viúva, Sra, Adelina, contínua na sociedade, mas retirou-se em novembro de 1911.

Após o falecimento do Sr. Luiz Leitner, que era casado com Anna Hauer Leitner, a empresa trocou o nome para “Viuva Luiz Leitner & Filhos” e passou a ser dirigida pelo filho deles, Frederico Leitner (1901-1988).

Em 1940 a Cervejaria Cruzeiro foi vendida para a Cervejaria Brahama e o Sr. Frederico assumiu uma diretoria técnica da empresa. Trabalhou nela por mais uns trinta anos.

Uma pequena confusão?


Encontrei em algumas publicações a menção de que Thomas Plantagenet Bigg-Whitters (1845-1890), naturalista e viajante inglês, teria ficado hospedado nessa casa durante sua viagem ao Brasil entre 1872 e 1875. Acredito que haja alguma confusão aí, pois naquela época a casa provavelmente nem existiu.

O que acontece é que o Sr. João Leitner, imigrante austríaco, pai dos Srs. Julio e Luiz Leitner, chegaram com aproximadamente trinta anos de idade na Colônia Dona Francisca (Santa Catarina) em 1866. Aproximadamente dois anos depois, depois de casar com Marie Lenkt, mudaram-se para Curitiba. Aqui conseguiu construir a sua casa, em 1870. Junto funcionava uma pensão e uma cervejaria e fábrica de vinagre. Isso tudo na atual Rua XV de Novembro, esquina com a Rua Barão do Rio Branco, que na época era bem pouco movimentada, pois a cidade era muito pequena.
A pensão evolui para “Hotel Leitner”. Lendo em alguns jornais antigos fiquei com a impressão que foi um dos mais importantes da cidade.
O hotel foi vendido para Mostaert & Cª em agosto de 1882 e passou a chamar-se “Grande Hotel”. No comunicado do negócio publicado no jornal “Dezenove de Dezembro” no dia 12 de agosto de 1882, o parágrafo final diz o seguinte:

“No mesmo estabelecimento que é hoje a Estação das Diligências alugada-se carros de luxo para casamentos, batizados, visitas e viagens para todos os pontos da provincia onde se possa transitar, bem como grande cocheira para animaes.”

Na primeira noite em Curitiba o Sr. Bigg-Whitters ficou hospedado em um hotel de propriedade de Herr Louis, em suas próprias palavras:

“… Mas todas as coisas têm um fim, e cerca de duas horas depois do anoitecer chegamos a Curitiba, e cavalgamos pela rua mal iluminada até o hotel solitário do lugar, cansados ​​demais para notar qualquer coisa no caminho. Encontramos Edwards, que havia nos precedido alguns dias de Antonina, lá para nos receber, e raramente ficamos mais felizes em nos livrar de uma montaria do que agora. O jantar logo nos deu um pouco de vida novamente; Herr Louis, o alegre proprietário alemão, mostrando-se tudo o que um anfitrião deve ser, proporcionando o conforto de seus convidados. …”

Mais adiante ele menciona o hotel do Sr. Leitner:

“… Todas as noites, após o fim do dia de trabalho com as lojas, nos reuníamos em um novo hotel alemão que estava sendo construído na parte inferior da cidade, que possuía a modesta atração de uma cervejaria própria anexada a ele. Essas noites eram geralmente dedicadas a conversar sobre os planos e arranjos para a realização do trabalho de exploração diante de nós e para discutir o país em geral. Ocasionalmente apareciam homens que haviam viajado para o interior e viviam vidas selvagens na floresta. Herr Leitner (o proprietário) traria sua melhor cerveja e, quando solicitado, aumentaria a diversão da noite tocando sua cítara, na qual ele era um artista muito habilidoso. …”.

Depois ele foi para o interior do estado e quando sofreu para Curitiba, onde, com certeza ficou no hotel do Sr. Leitner, escreveu o seguinte:

“…Curitiba perdera toda a memória no intervalo de quatorze meses que se passaram desde a última vez que a vira. À direita e à esquerda da nova estrada que leva ao Palmeiras, longas fileiras de casas surgiram onde antes ondulava a campina. À direita, um edifício gigantesco, mais no estilo moderno de hotel londrino do que qualquer outro que eu já tivesse visto no próprio Rio, estava em construção, e por todos os lados sinais inconfundíveis de progresso eram manifestos.
O elemento alemão parecia ter se multiplicado extraordinariamente naquele lugar, e as peles escuras e os cabelos pretos de meus dois companheiros brasileiros pareciam totalmente deslocados na "cidade" capital. As pessoas se viraram para olhar para nós enquanto caminhávamos pelas ruas, imaginando, sem dúvida, de que parte do globo havíamos vindo, pois nossos trajes do interior e aparência manchada de viagens indicavam estranhos.
Nesse momento, dois sujeitos negros de uniforme, carregando espadas curtas, apareceram e nos pararam; e então, pela primeira vez, lembramos que estávamos armados até os dentes, com pistolas, revólveres e facas compridas enfiadas na cintura. Não é à toa que o povo ficou olhando para nós, pois o porte de armas é proibido em Curitiba. O erro logo foi explicado, mas os negros não nos deixaram até que chegássemos à porta do hotel de Leitner, onde eu pretendia me hospedar, evidentemente com medo de que no último momento nos tornássemos bandidos desesperados empenhados em atacar algum ultraje assassino.
Herr Leitner nos recebeu de braços estendidos e foi bom não nos encontrarmos totalmente esquecidos em meio às muitas mudanças que ocorreram na cidade.

Levando em conta os dados, acredito que o Sr. Thomas Bigg-Whitters hospedou-se no Hotel Leitner (que na época deveria estar mais para pensão) na Rua XV de Novembro.

O Sr. João Leitner faleceu em 10 de abril de 1894.

A Churrascaria Cruzeiro


A primeira sede da Churrascaria Cruzeiro foi no “Parque Inglês”, localizada na Estrada da Graciosa (na atual Avenida Prefeito Erasto Gaertner).
O seu proprietário, o imigrante alemão Germano Kundy (1896-1972), transferiu-a em 1937 para um barracão que existia no bosque ao lado da casa retratada.
A Churrascaria Cruzeiro foi uma das famosas da cidade, tanto pelo churrasco como pelo local, que também era conhecido no Parque Cruzeiro. Quando o tempo permitia, o churrasco era servido em mesas instaladas na sobra das grandes árvores que não existiam no local. A churrascaria funcionou no local até 1986.

Referências:

Rodovia BR 116 em péssimas condições - Viaduto da Victor Ferreira do Amaral Foto tirada em 03 de fevereiro de 2004 © SMCS/Carlos Ruggi.

 Rodovia BR 116 em péssimas condições - Viaduto da Victor Ferreira do Amaral
Foto tirada em 03 de fevereiro de 2004
© SMCS/Carlos Ruggi.


Pode ser uma imagem de 1 pessoa, céu e estrada

Viaduto do Capanema - Região central de Curitiba Foto tirada em 28 de setembro de 1997 © SMCS/Carlos Ruggi.

 Viaduto do Capanema - Região central de Curitiba
Foto tirada em 28 de setembro de 1997
© SMCS/Carlos Ruggi.


Pode ser uma imagem de arranha-céu e céu

Bairro Umbará - Trecho na Rua Nicola Pellanda, ao fundo a Igreja São Pedro Foto tirada em 01 de julho de 1997 © SMCS/Luiz Costa.

 Bairro Umbará - Trecho na Rua Nicola Pellanda, ao fundo a Igreja São Pedro
Foto tirada em 01 de julho de 1997
© SMCS/Luiz Costa.


Pode ser uma imagem de estrada

As 3 ESCOLAS NORMAL construídas na década de 20. CURITIBA (1922), PONTA GROSSA (1925) e PARANAGUÁ (1927).

 As 3 ESCOLAS NORMAL construídas na década de 20. CURITIBA (1922), PONTA GROSSA (1925) e PARANAGUÁ (1927).


Pode ser uma imagem de texto que diz "Curitiba *含 Ponta Grossa m ×! Paranaguá"

GRUPO ESCOLAR DO CRISTO REI, na Av. SOUZA NAVES. Concluído em 1952.

 GRUPO ESCOLAR DO CRISTO REI, na Av. SOUZA NAVES. Concluído em 1952.


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1946. ALTO SÃO FRANCISCO. As ruínas, o belvedere, e o PALACIO DO GOVERNO (à esquerda).

 1946. ALTO SÃO FRANCISCO. As ruínas, o belvedere, e o PALACIO DO GOVERNO (à esquerda).


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Escola/Colégio PROFESSOR BRANDÃO. A edificação antiga existiu de 1911 a 1965. O da foto inferior foi inaugurado em 1968.

 Escola/Colégio PROFESSOR BRANDÃO. A edificação antiga existiu de 1911 a 1965. O da foto inferior foi inaugurado em 1968.


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