A Revolta das Barcas: Quando o Povo de Niterói Disse “Basta!”
Em 1º de abril de 1959, Niterói não celebrou o Dia da Mentira — viveu uma verdade dura, crua e explosiva.
O que começou como um protesto contra o aumento abusivo das tarifas das barcas que ligavam a cidade ao Rio de Janeiro transformou-se em uma das maiores revoltas populares da história do estado do Rio de Janeiro — um grito coletivo contra a exploração, a negligência e a impunidade.
Naquele dia, o Grupo Carreteiro, empresa privada que detinha o monopólio do transporte hidroviário, anunciou um aumento de 50% nas passagens — em pleno contexto de inflação galopante e salários congelados. Para os milhares de trabalhadores que dependiam das barcas para ir ao trabalho, estudar ou cuidar da família, aquilo era um golpe direto na sobrevivência.
A reação foi imediata.
Na manhã seguinte, 2 de abril, uma multidão se reuniu no Terminal Hidroviário de Charitas, em Niterói. O que era um ato pacífico logo se transformou em revolta generalizada.
Os manifestantes, entre operários, estudantes, donas de casa e comerciantes, invadiram as embarcações, depredaram guichês, queimaram bilheterias e, em ato simbólico de justiça popular, incendiaram a residência da família Carreteiro — símbolo do poder que, segundo a população, tratava o transporte público como fonte de lucro, não como direito.
O fogo se alastrou.
As barcas “Icaraí”, “Guarani” e outras foram destruídas pelas chamas.
O caos tomou conta da cidade.
A violência, infelizmente, também.
Seis pessoas morreram — entre elas, civis inocentes e manifestantes.
118 ficaram feridos, muitos por balas da polícia, que tentou conter a multidão com força desproporcional.
Diante da gravidade da situação, o governo federal interveio.
O presidente Juscelino Kubitschek, inicialmente hesitante, reconheceu que a revolta não era um ato de vandalismo, mas um clamor social legítimo.
Em maio de 1959, apenas um mês após os confrontos, o governo estatizou o sistema hidroviário, criando a Companhia Estadual de Barcas — colocando o transporte sob controle público e anulando o aumento abusivo.
Mais que um Protesto: Um Marco de Consciência Popular
A Revolta das Barcas não foi um surto de violência — foi a explosão de décadas de insatisfação.
As embarcações estavam superlotadas, mal conservadas, com horários irregulares.
Enquanto isso, a família Carreteiro vivia em luxo, com mansões em pontos nobres da cidade.
O povo de Niterói, conhecido por sua resiliência e espírito combativo, mostrou que não aceitaria ser tratado como mercadoria.
E, mesmo com o alto custo humano, venceu.
A estatização das barcas durou por décadas — até os anos 2000 — e, apesar de seus problemas, manteve o transporte como serviço público, não como negócio privado.
Lembrar para Não Repetir
Hoje, mais de 60 anos depois, a Revolta das Barcas permanece como um alerta e um exemplo:
Quando o povo é esmagado pela injustiça, ele se levanta — mesmo que precise queimar o que o oprime.
As seis vidas perdidas não devem ser esquecidas.
Elas são o preço que a sociedade paga quando a desigualdade e a ganância substituem o direito à dignidade.
E a lição permanece atual:
Transporte público de qualidade não é favor — é direito.
E quem tenta transformá-lo em fonte de lucro, sem olhar para quem depende dele, corre o risco de enfrentar não só a ira do povo — mas a história.
Em memória das vítimas da Revolta das Barcas —
e em defesa de um transporte público justo, acessível e humano.
#RevoltaDasBarcas #Niterói1959 #HistóriaDoRioDeJaneiro #TransportePúblico #JustiçaSocial #PovoNaRua #ResistênciaPopular #GrupoCarreteiro #Estatização #MemóriaHistórica #LutaPorDireitos #BrasilNaDécadaDe50 #JK #CompanhiaDeBarcas #Charitas #HistóriaQueEnsina #Niterói #DireitoÀCidade #HistóriaSocial #RevoltaPopular #NuncaEsqueceremos #EducaçãoHistórica #TransporteComoDireito
A Revolta das Barcas, um levante popular contra o sistema hidroviário da cidade de Niterói em 1959.
Nenhum comentário:
Postar um comentário