ALBERTO GOMES VEIGA
Alberto Gomes Veiga, nasceu em Paranaguá a 3 de Fevereiro de 1858. Foram seus pais Miguel José Gomes Veiga, portugues, e dona Arminda Amalia Moreira Veiga, natural desta cidade. Sua infoncia transcorreu dentro do ambiente que emoldura os lares bem formados e, por certo, envolvida pelos folguedos e traquinices naturais de uma infancia vivida nesta longínqua Paranaguá de ha cem anos, calma, bucólica, com seus magníficos arvoredos, seus amenos e sombrios caminhos, suas pacatas e tortuosas ruas. Fêz seus estudos primários na escola do saudoso professor Honorio Décio da Costa Lobo, onde, no dia 15 de Janeiro de 1869, após exames realisados perante banca examinadora compósta do citado professor e do inesquecível professor José Cleto da Silva e presidida pelo sub-inspetor escolar Ignácio José Caetano da Silva, e nos quais foi aprovado com nota plenamente, recebeu certificado de conclusão de curso primario.Por essa altura e terminando aí o currículo escolar que, na época, se poderia oferecer a um jovem em Paranaguá, iniciou-se, menino ainda, na vida comercial. Podemos dize-lo, que fêz toda a sua adolescencia e juventude atrás do balcão do estabelecimento comercial de seu pai, onde, de inicio aos onze anos, o seu tamanho não utrapassaria por certo a altura do balcão. A 30 de Junho de 1881, já então com 23 anos, com o espirito amadurecido na disciplina férrea dos estabelecimentos comerciais da época, mas com o coração ainda bem jovem e voltado para os encantos da mocidade, perde o seu pai. E agora, sob o impacto de uma situação definitiva, compreende bem a sua condição de primogenito, com apenas vinte e poucos anos, responsável daí em deante por uma família compósta de mãe e oito irmãos menores.Assume a tutela de seus irmãos e para poder levar a frente a educação dos mesmos e restaurar o nome de seu velho pai, não tem medo de jogar-se á empreitada com toda a força do seu idealismo, do seu carater e do seu coração, nem que para tanto necessario fôsse hipotecar seus bens. Mas, idealista, acreditando na força do futuro e vendo bem longe, mas segura, a grandeza futura da sua terra, hipotéca não só seus bens presentes, mos também os futuros, em documento assinado em 19 de Agosto de 1882, e que pela originalidade trancrevemos: "Extracto para inscripção do Hypotheca legal que faz Alberto Gomes Veiga, de seus bens prezentes e fucturos, na forma da Art. 213 da Lei Hypothecaria. § 1.°) Nome do responsavel: ALBERTO GOMES VEIGA. § 2.°) Seo domicilio: Paranaguá. § 3.°) Sua profissão: negociante. § 4.°) Nomes dos orphãos: Minelvina, Carmen, Silfredo, Randolpho, Weimar, Manoel, Maria e José. § 5.°) Seos domicilios: Paranaguá. § 6.°) Sua filiação: Filhos de Miguel José Gomes Veiga (falecido) e Arminda Moreira Veiga. § 7.°) A razão do responsabilidade: Por ser tutor dativo. § 8.°) Data da responsabilidade: 30 de Junho de 1881. Assim Hypoteca seus bens prezentes e fucturos para garantir os legitimos de seus tutelados. Assinado sobre uma estampilha do Imperio, de 200 réis. Paranaguá, 19 de Agosto de 1882. ALBERTO GOMES VEIGA Hoje tal atitude seria uma temeridade, por certo o seria maior ainda em 1882. Porém a certeza da vitoria, certeza que lhe era garantida pela nobreza do compromisso moral para com os seus e pelo acrisólado sentimento de honra que impunha as suas decisões comerciais, fizéram-no não vacilar diante ao aparente fantasma da hipotéca. Isto porque, como já se vai observando, no instante exato em que morria seu pai, a situação comercial da firma da qual era titular, não era nada lisongeira. O ultimo balanço apresentara um passivo superior ao ativo e os credores eram em grande número.Tanto que, na ocasião da abertura do seu inventario, quando se procurava arrecadar bens para partilhar, os credores nele se habilitaram. E verificou-se então que, dentre esses, aparecia um jovem empregado do balcão da firma que era o próprio Alberto Gomes Veiga com um credito de 4.060$000 (quatro contos e sessenta mil réis), referente a ordenados atrazados e não recebidos.Liquidada a firma do seu pai, em cujo inventario lhe coube apenas partes nos sobrados 19 e 21 da Rua General Carneiro, 540$500 em dinheiro e um escravo de nome Ezequiel que fora avaliado em 117$800, inicia ele uma nova vida. Bem pequeno capital para quem tinha responsabilidades tão grandes. Agora, sob a razão individual do seu nome, continua com o mesmo ramo de negocio, no mesmo logar e na mesma casa a honrar a tradição do seu querido e honrado progenitor. Inspirando aos credores do seu poe aquela confiança que só os homens de bem e que têm uma determinação nobre são capazes de o fazer, e encontrando em seu dileto amigo Afonso de Camargo Penteado um sustentaculo para a batalha que surgia, isto porque na ocasião este lhe fez emprestimos em dinheiro, inicia a verdadeira jornada de sua existencia. E começa a lutar. O organismo comercial embora combalido ainda tem forças para reagir. Esperava apenas um sangue novo que lhe imprimisse novos rumos e que lhe désse novos destinos.Passam-se alguns anos, saldam-se os credores, liquida- se a conta do seu velho amigo. Mas então o jovem Alberto em 1896 está com 38 anos de idade.Verifica que teve toda a sua mocidade dedicada aos seus, ao seu negocio e á restauração comercial de uma firma que já contava então com mais de cinquenta anos. Nesse momento, resolveu pensar um pouco em si mesmo e, destarte, na cidade de Montevideo, contrai matrimonio a 4 de junho desse ano, com a Snra. Dolores Varese, doma de grandes predicados morais e pertencente á destacada família daquela cidade. Começava assim, com seu casamento, a construir a sua propria vida, iniciava a gosar dos encantos maviosos que o lar que formamos a nós proprio oferece. Consolida então um grande património constituído de onze filhos: Silfredo, Luiz, Maria Estér, Elviro, Alberto (falecido em S. Paulo), Alba (falecida em Curitiba), Raul, Laura, Rosina, Maria Helena e Amalia, que hoje continuam em nossos dias a honrar e dignificar o respeitavel nome que trouxeram do berço.Com uma visão magnifica do futuro e uma rigidez incontestavel na execução dos atos comerciais, faz com que sua firma progrida. Saía do caos em que se iniciou, levanta-se da situação difícil em que se encontrava e alcança os pinaculos da solidez. Ora associado. a seus irmãos Randolpho e Henrique, ora formando sociedade com Herculano Alves da Rocha e, por último, em 1917,criando nova razão social, agora com seus filhos Silfredo e Luiz, formados também na ardua escola do trabalho e dotados da pratica natural que a luta pela vida a todos determina, fez com que a firma Alberto Veiga & Cia. subisse pelos contrafortes do sucésso até atingir os paramos da vitoria. Ainda temos lembrança do velho casarão da rua 15, de portas altas, cinzento escuro, verdadeira fornalha de trabalho, fôrma de homens dignos, situado onde hoje se encontra o novo salão crediario da firma. No entretanto, era preciso evoluir porque a organização expandia-se cada vêz mais e então veiu-lhe a visão do magnifico predio da rua 15.Em Junho de 1928, já setuagenario, adquire por quarenta contos de réis o velho predio da esquina contiguo á sua casa. E sonha ainda com um grande estabelecimento. Do sonho passa á realidade, da demolição da velha casa para a execução da nova obra. E em Dezembro de 1930 inaugura solenemente a nova lója onde hoje se situa. Quanta confiança no futuro da sua terra, para que, nos idos de 1928 a 1930, quando o Brasil se debatia numa dos mais graves crises financeiras do sua história, crise que teve aliás a sua repercussão até aos nossos pagos, pensasse ele em erguer aquele austéro predio. Era preciso coragem e sobretudo era necessário crer na capacidade de sua gente e nos dias de Paranaguá de hoje, para que, em 1929, erguesse esse monumento de granito e ferro da rua 15. Logo após ter usufruido a satisfação de ver concretisado um velho sonho e um ideal antigo, é acometido de grave enfermidade que o obriga em Outubro de 1930 a retirar-se da firma, passando o seu capital para a nova sócia sua Exma. esposa Dona Dolores Varese Veiga. Em 13 de Novembro de 1931, com setenta e três anos, vem a falecer, cercado do carinho, do respeito e da admiração de sua esposa, de seus filhos, de seus amigos, de seus empregados e de seus admiradores. Temos ainda bem viva em nossa rotina a recordacão de um lutador, trajando roupa escura e trazendo a cabeça coberta com um bonézinho preto, sentado em uma cadeira de rodas porque insidiosa moléstia o obrigara a amputar uma das pernas, com as vistas como que voltadas para o Infinito contemplando o eufórico e convicto da vitória que alcançara, o bulício que sua nova casa despertava no gente de sua terra. Ao lado de sua intensa atividade comercial, atividade que fê-lo transformar-se em vanguardeiro do comercio de Paranaguá, dedicou-se também em certo periodo de sua existencia á atividades políticas. Filiado ao velho Partido Republicano foi eleito camarista, hoje vereador, no ano de 1908, cargo do qual tomou pósse a 21 de Setembro desse ano. Em 1912 reeleito para o mesmo cargo, foi também, nessa oportunidade, eleito por seus pares Presidente da Câmara. Nesse cargo permaneceu até 7 de Dezembro de 1914 data em que se exonerou. Cidadão afeito intimamente á atividades comerciais e espiritualmente por índole e por necessidade preparado para a rigidez do mundo, do comercio, nunca pode amoldarse aos entreveros da política, jamais pode acomodar-se aos impactos que a politica muitas vêzes determina em nossos espiritos, fazendo-os retroceder, tergiversar, para alcançar mais adiante o caminho primitivo. Por isso, da politica afastou-se definitivamente em 1914. Eviden- temente só quem nasceu com vocações políticas pode suportar os desenganos, as desilusões e os desesperos que, muitas vêzes, o político é obrigado a sofre-los para que assim possa atingir o obietivo visado. O Coronel Alberto Gomes Veiga, pela sua formação, pelo muito que dele exigiram os seus no instante em que praticamente surgia para a vida, não poderia mesmo se empolgar com os sucéssos da politica. Sua trabalhosa vida, pois, foi sempre cheia de exemplos magnificos da dedicação ao trabalho, de honestidade intransigente aos compromissos assumidos, de firmesa de carater do homem probo, dedicado inteiramente aos seus e empolgado pelas vibrações apaixonantes dos episodios comerciais. E no instante em que Paranaguá comemora o centenario do seu nascimento, justo é que reverenciemos o seu nome prestando-lhe a homenagem que de nós exigem todos aqueles que, por qualquer circunstancia, no sociedade, na politica, no comercio, na Igreja, no função pública, nas funções liberais, tudo fizeram para elevar o nosso passado, legando ás gerações presentes exemplos de dignidade, de honra e de amor a nossa gente, á nossa Terra e ás nossas mais caras tradições. ALBERTO GOMES VEIGA -Nasceu em 3-2-1858 e Faleceu em 13-11-1931
Texto Na íntegra do DR. JOAQUIM TRAMUJAS