artigo e foto de Karin Romanó Santos
ANTES DO PORTO DE PARANAGUA SER PORTO
O pai da tia Lena se chamava Ildefonso Munhoz da Rocha. Foi um grande exportador de erva-mate.
Ainda não existia o Porto de Paranaguá, mas já havia alguns trapiches.
Era o tempo do Império e D Pedro II achou importante construir no local um ancoradouro para carregar e descarregar erva mate, madeira e outros produtos para exportação.
E deu a alguns empresários a concessão de construir os trapiches e explorar o local (1872).
Porem, quando acabou o império, acabou a concessão.
Mas aqueles trapiches se mantiveram como propriedade de homens muito ricos. E foi nessa época que o Sr Ildefonso os utilizou para exportar e importar mercadorias junto com os barracões de sua propriedade.
Os trapiches eram estruturas simples, construídos com engenharia ancestral, feitos de troncos de madeiras bem duros, como os do ipê e aroeira. Não existia o concreto.
A casca grossa do tronco era retirada e a madeira ficava quase impermeável à água.
As vigas principais eram enterradas no fundo do mar - no lodo -
O restante da estrutura era construída como uma treliça, com as estacas entrelaçadas.
Essa construção aguentava a força das correntes marítimas e segurava os barcos carregados que atracavam.
E como aquela madeira do trapiche não apodrecia dentro da água?
Diferente do que muitos imaginam, a água conserva as madeiras porque no fundo do mar, não tem oxigênio. O problema que causa apodrecimento na madeira é a combinação oxigênio mais a água.
(Há vermes marítimos que atacam as madeiras mas os troncos bem duros aguentam).
A parte das madeiras que ficava acima do nível do mar ficava sujeita às marés e, portanto, em contato com água e oxigênio, e podia apodrecer. Para resistir, passavam piche e alcatrão.
E assim tudo funcionou de forma simples até que a área foi estatizada (pelo estado) em 1917 e a partir daí houve melhorias e ampliação.
Mas somente na década de 1930 é que foi criado o porto mesmo.
Para virar um porto e poder receber cargueiros grandes, tiveram que tirar muita areia do fundo do mar, sedimentos, rochas imensas, de toda aquela área onde ficavam os trapiches...
e assim, aumentaram o calado.
Fizeram um cais de verdade, com uma parede de concreto e que ia até o fundo do mar, para os navios grandes encostarem - de lado.
Colocaram guindastes no cais para descarregar as cargas, e esteiras para os grãos.
Recebeu o nome de Porto D Pedro II e hoje é o Porto de Paranaguá.
Informações introduzidas pela conversa com o neto do Sr Ildefonso - Rodolpho Bettega, meu primo de 2 grau - filho da tia Lena.
A casa do Sr Ildefonso era onde é hoje o Hospital Santa Cruz, em frente à Pracinha do Batel, que depois foi vendida para os Leprevost. Acho que ainda tem vestígios da casa no local (acho).
Foto: Carregamento do navio com as barricas de erva mate que estavam estocadas no barracão.