Histórias de Curitiba - A Curitibana que não falava português
A Curitibana que não falava português
Eno Teodoro Wanke (in memorían)
É possível alguém nascer numa cidade brasileira, crescer, estudar, fazer vida social, ler jornais e livros, ir a reuniões, teatros, conversar com amigos, viver, enfim, sem saber dizer uma só palavra em português?
Na primeira metade do século XX isto era possível em Curitiba.
Foi o caso de Gabriela VVòlf Schaffer, nascida em Curitiba a 24 de março de 1875 e falecida em 1950, avó de minha mulher. A vida toda, só falou alemão!
E vejam bem: não se trata de uma obscura alemoazinha humilde, uma colona ilhada em algum recanto distante, sem contato com ninguém.
Durante toda sua vida teve muita representati-vidade social.
Para começar, ela era filha de Fredolin Wolf, industrial proprietário de uma serraria e de uma olaria no Barigüi, imigrado de Rõmmerstadt no Império Austríaco, na década de 1850, cujo nome está hoje perpetuado numa das avenidas da cidade.
Casou-se com Francisco Schaffer (1866-1954), cuja contribuição à cidade de Curitiba e ao Estado do Paraná na pecuária e na agricultura jamais será por demais exaltada.
Ele, igualmente nascido em Curitiba, recebeu de seu pai, o imigrante Johann Schaffer (também oriundo de Rõmmerstadt), em sociedade com seus irmãos João Schaffer Júnior e Ana (que depois se casou com Robert Weigert), um negócio à beira da estrada e um grande terreno no Pilarzinho . Em 1905, por afastamento de seus irmãos, estava sozinho na firma.
Em, 1910, encerrou o negócio e se dedicou à agropecuária.
Viajou com sua mulher Gabriela para a Argentina e depois para a Europa em busca de novas técnicas.
Fez experiências, como por exemplo o cultivo de parrei-rais para a produção de vinho -tendo chegado à conclusão de que o clima instável de Curitiba não se prestava a isso.
Cultivou trigo e produziu muita laranja para venda.
Foi apicultor.
Dedicou-se principalmente à produção de leite.
Introduziu no Brasil o gado Frísia Holandês.
Fundou, no centro da cidade, na Rua das Flores, a Leiteria Schaffer - até hoje tão conhecida, embora há muito tenha deixado de ser propriedade da família.
Enfim, transformou a Chácara Schaffer num estabelecimento modelar.
Embora amigo pessoal de diversos governadores, inclusive Afonso Camargo e Manoel Ribas, jamais recebeu auxílio do Estado para seu desenvolvimento.
Recebia e hospedava gratuitamente agrônomos e estudantes de agronomia de todo o Brasil para os quais, de bom grado, transmitia conhecimentos e técnicas.
Durante uma de suas visitas à Europa, ele e sua mulher Gabriela foram recebidos pelo Imperador da Áustria, Francisco José, do qual mereceu honrarias devido a sua colaboração prestada no intercâmbio Brasil-Áustria através do consulado de Curitiba.
Quando Odete Grohs, minha sogra, se enamorou do filho de Gabriela, Francisco Schaffer filho, a jovem Odete se viu obrigada a estudar alemão para poder se comunicar com sua sogra...
Não cheguei a conhecer dona Gabriela, a curitibana que morreu com 75 anos de idade sem falar uma única palavra em português.
Foi no dia de seu enterro que, pela primeira vez, estive na casa daquela que viria a ser minha namorada, Irma Schaffer, com quem sou casado há 41 anos.
Mas essa já é outra história...
Eno Teodoro Wanke foi engenheiro e escritor.
Eno Teodoro Wanke (in memorían)
É possível alguém nascer numa cidade brasileira, crescer, estudar, fazer vida social, ler jornais e livros, ir a reuniões, teatros, conversar com amigos, viver, enfim, sem saber dizer uma só palavra em português?
Na primeira metade do século XX isto era possível em Curitiba.
Foi o caso de Gabriela VVòlf Schaffer, nascida em Curitiba a 24 de março de 1875 e falecida em 1950, avó de minha mulher. A vida toda, só falou alemão!
E vejam bem: não se trata de uma obscura alemoazinha humilde, uma colona ilhada em algum recanto distante, sem contato com ninguém.
Durante toda sua vida teve muita representati-vidade social.
Para começar, ela era filha de Fredolin Wolf, industrial proprietário de uma serraria e de uma olaria no Barigüi, imigrado de Rõmmerstadt no Império Austríaco, na década de 1850, cujo nome está hoje perpetuado numa das avenidas da cidade.
Casou-se com Francisco Schaffer (1866-1954), cuja contribuição à cidade de Curitiba e ao Estado do Paraná na pecuária e na agricultura jamais será por demais exaltada.
Ele, igualmente nascido em Curitiba, recebeu de seu pai, o imigrante Johann Schaffer (também oriundo de Rõmmerstadt), em sociedade com seus irmãos João Schaffer Júnior e Ana (que depois se casou com Robert Weigert), um negócio à beira da estrada e um grande terreno no Pilarzinho . Em 1905, por afastamento de seus irmãos, estava sozinho na firma.
Em, 1910, encerrou o negócio e se dedicou à agropecuária.
Viajou com sua mulher Gabriela para a Argentina e depois para a Europa em busca de novas técnicas.
Fez experiências, como por exemplo o cultivo de parrei-rais para a produção de vinho -tendo chegado à conclusão de que o clima instável de Curitiba não se prestava a isso.
Cultivou trigo e produziu muita laranja para venda.
Foi apicultor.
Dedicou-se principalmente à produção de leite.
Introduziu no Brasil o gado Frísia Holandês.
Fundou, no centro da cidade, na Rua das Flores, a Leiteria Schaffer - até hoje tão conhecida, embora há muito tenha deixado de ser propriedade da família.
Enfim, transformou a Chácara Schaffer num estabelecimento modelar.
Embora amigo pessoal de diversos governadores, inclusive Afonso Camargo e Manoel Ribas, jamais recebeu auxílio do Estado para seu desenvolvimento.
Recebia e hospedava gratuitamente agrônomos e estudantes de agronomia de todo o Brasil para os quais, de bom grado, transmitia conhecimentos e técnicas.
Durante uma de suas visitas à Europa, ele e sua mulher Gabriela foram recebidos pelo Imperador da Áustria, Francisco José, do qual mereceu honrarias devido a sua colaboração prestada no intercâmbio Brasil-Áustria através do consulado de Curitiba.
Quando Odete Grohs, minha sogra, se enamorou do filho de Gabriela, Francisco Schaffer filho, a jovem Odete se viu obrigada a estudar alemão para poder se comunicar com sua sogra...
Não cheguei a conhecer dona Gabriela, a curitibana que morreu com 75 anos de idade sem falar uma única palavra em português.
Foi no dia de seu enterro que, pela primeira vez, estive na casa daquela que viria a ser minha namorada, Irma Schaffer, com quem sou casado há 41 anos.
Mas essa já é outra história...
Eno Teodoro Wanke foi engenheiro e escritor.