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segunda-feira, 15 de dezembro de 2025

A Casa de Henrique Roberto Michelis: Entre Tijolos, Memórias e Bolos Holandeses

 Denominação inicial: Projeto de residência para o Snr. Henrique Roberto Michelis

Denominação atual: Comercial - Confeitaria Holandesa

Categoria (Uso): Residência
Subcategoria: Residência de Médio Porte

Endereço: Rua 7 de Setembro esquina com as Ruas Cândido Xavier e Castro Alves

Número de pavimentos: 2
Área do pavimento: 220,00 m²
Área Total: 220,00 m²

Técnica/Material Construtivo: Concreto Armado

Data do Projeto Arquitetônico: 02/01/1935

Alvará de Construção: N° 873/1935

Descrição: Projeto Arquitetônico para construção de residência, Alvará de Construção com Memória de Cálculo e fotografia do imóvel.

Situação em 2012: Existente


Imagens

1 - Projeto Arquitetônico.
2 - Alvará de Construção com Memória de Cálculo e planta baixa das estruturas em concreto armado.
3 - Fotografia do imóvel em 2012.

Referências: 

1 - CHAVES, Eduardo Fernando. Construção para o Snr. Henrique Roberto Michelis. Planta dos pisos térreo e superior, fachada principal e lateral esquerda, corte, implantação e muro representados em uma prancha. Microfilme digitalizado.
2 – Alvará n.º 873
3 – Fotografia de Elizabeth Amorim de Castro (2012).

Acervo: Arquivo Público Municipal de Curitiba; Prefeitura Municipal de Curitiba.

A Casa de Henrique Roberto Michelis: Entre Tijolos, Memórias e Bolos Holandeses

Na confluência simbólica e geográfica das ruas 7 de Setembro, Cândido Xavier e Castro Alves, no coração de Curitiba, ergue-se um edifício que carrega, sob sua fachada aparentemente comum, duas vidas distintas: uma como lar projetado com esmero nos anos 1930; outra como ponto de encontro afetuoso sob o doce aroma da Confeitaria Holandesa. Mas antes de virar confeitaria, este imóvel foi concebido como residência de médio porte para um homem cujo nome marcou seus alicerces: Henrique Roberto Michelis.


Um Projeto de Vida em Concreto Armado

Em 2 de janeiro de 1935, o arquiteto responsável — cujo nome se perdeu nas dobras do tempo, embora sua obra permaneça — assinou os desenhos de uma residência moderna para a época: dois pavimentos, totalizando 220 m², construída inteiramente em concreto armado, técnica ainda relativamente nova no Paraná, mas já emblemática do avanço técnico e estético da arquitetura urbana brasileira.

O Alvará de Construção nº 873/1935, acompanhado de uma detalhada Memória de Cálculo e plantas estruturais, atesta o rigor técnico da empreitada. A planta incluía:

  • Piso térreo com salas de estar e jantar, cozinha, área de serviço e dependências;
  • Piso superior com dormitórios, banheiros e varanda — típica da arquitetura residencial da classe média ascendente da Primeira República tardia;
  • Fachadas principais e laterais desenhadas com proporções simétricas, janelas generosas e detalhes que sugerem influência do ecletismo tardio, ainda presente na década de 1930 em Curitiba.

A implantação do edifício aproveitava a esquina privilegiada, com muros baixos e portões que convidavam à convivência urbana — um testemunho de uma cidade que, mesmo em expansão, mantinha certa intimidade entre vizinhos.


Henrique Roberto Michelis: O Homem por Trás da Casa

Embora os registros biográficos sobre Henrique Roberto Michelis sejam escassos, sua escolha por uma residência de dois pavimentos em concreto armado revela um perfil de cidadão moderno, economicamente estável e visionário. Talvez fosse comerciante, profissional liberal ou industrial — alguém que investiu não apenas num teto, mas num legado familiar.

Seus descendentes, ou talvez ele mesmo, habitaram a casa por décadas, testemunhando as transformações de Curitiba: do calçamento de ruas à chegada dos bondes elétricos, da industrialização ao boom urbano do pós-guerra. A casa permaneceu — silenciosa, sólida, resistente.


Da Residência à Confeitaria: Uma Nova Alma

Por volta das primeiras décadas do século XXI, o imóvel passou por uma transformação simbólica e funcional. Deixou de ser residência particular para se tornar espaço comercial, mais precisamente a encantadora Confeitaria Holandesa — um local onde o cheiro de canela, maçã e massa folhada toma o lugar das conversas familiares no jantar.

Essa mudança não apagou sua história; ao contrário, recriou seu propósito com afeto. As janelas que um dia iluminaram quartos de crianças agora emolduram vitrines com tortas caseiras. A varanda superior talvez tenha se tornado terraço para clientes. O concreto armado, tão inovador em 1935, agora sustenta sonhos feitos de café e receitas herdadas.

Ainda assim, a estrutura original — os dois pavimentos, os 220 m² bem distribuídos, a planta fiel ao projeto inicial — permanece reconhecível, graças à fotografia registrada em 2012 por Elizabeth Amorim de Castro, hoje parte do Arquivo Público Municipal de Curitiba.


Patrimônio Urbano: Mais que Tijolos e Argamassa

Em 2012, o edifício foi catalogado como existente e preservado, embora não tenha recebido tombamento oficial. Mesmo assim, sua importância é inegável:

  • É um exemplo raro de residência de médio porte em concreto armado no centro de Curitiba, de antes da Segunda Guerra;
  • Representa a transição do uso residencial para comercial em áreas centrais, fenômeno comum nas grandes cidades brasileiras;
  • Conserva, em sua estrutura, a memória arquitetônica de uma Curitiba em formação, onde o moderno e o familiar caminhavam lado a lado.

Os documentos — especialmente o microfilme digitalizado da planta original, atribuído a Eduardo Fernando Chaves, e o Alvará nº 873 — são tesouros para historiadores, arquitetos e genealogistas que buscam entender como Curitiba foi construída, um lar de cada vez.


Conclusão: Uma Casa que Vive Duas Vezes

A residência projetada para Henrique Roberto Michelis não morreu quando deixou de ser lar. Ela renasceu — primeiro como memória familiar, depois como espaço coletivo de prazer e encontro. Hoje, quem entra na Confeitaria Holandesa talvez não saiba que pisa sobre os mesmos pisos que, um dia, ouviram os passos de uma família curitibana dos anos 1930. Mas a casa sabe. E, em silêncio, conta sua história através de cada detalhe preservado.

“As cidades não são feitas só de ruas, mas de casas que guardam vidas.”
— Anônimo


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Fontes: Arquivo Público Municipal de Curitiba; Prefeitura Municipal de Curitiba; Microfilmes de Projetos Arquitetônicos; Alvará nº 873/1935; Fotografia de Elizabeth Amorim de Castro (2012).