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sábado, 17 de dezembro de 2022

O SOMBRA DA XV

 O SOMBRA DA XV

Lembro-me quando o "sombra" apareceu na XV de Novembro, Curitiba, no final da década de 1980, com sua performance em simular o andar e atitudes dos transeuntes. Foi um sucesso imediato, tinha público garantido desde as calçadas até nas janelas dos prédios no entorno.
Seu desempenho era tão sutil que alguns transeuntes só percebiam que estavam sendo imitados quando ouviam os risos da platéia. A maioria levava na esportiva, outros saiam de fininho. Tinham os que invocavam e, a coisa ficava pior porque a mímica do sombra acompanhava a mudança de humor da pessoa. De vez em quando alguém apelava e queria partir para as vias de fato, porém, com grande habilidade de fazer humor, o sombra, acalmava o enfezado.
Mas, quem é esse personagem tão cativante que, ainda hoje, atua ali próximo do bondinho?
Ele é o artista de rua Carlos Roberto Telles (42) que, aos sete anos de idade saiu de casa para ir à escola e não voltou mais para o convívio da família. Ele sofria constantes agressões dos pais e passava muita fome. Naquele dia, um colega disse que, se Telles fosse até o Centro da cidade pedir dinheiro, conseguiria comprar comida para a família e até um sapato. A tentativa não foi bem-sucedida e, com medo de apanhar, Telles decidiu viver nas ruas, onde passou a cheirar cola, fumar maconha e usar todo o tipo de drogas que a vida oferecia naquela época.
Com 10 anos, ouviu dizer que em São Paulo era muito fácil roubar relógios e para lá viajou. "Cheguei à Praça da Sé e o primeiro relógio que roubei foi do padre Júlio Lancellotti, que era da Pastoral da Criança. Ele me segurou, disse que não chamaria a polícia e me mandou para um colégio, onde tive aulas de teatro", conta. Esse primeiro contato com a arte foi o início do que viria a se tornar o ganha-pão de Telles. Para quem não está ligando o nome à pessoa, ele é o "Palhaço Chameguinho", o "Sombra" da Rua XV de Novembro.
Depois de viver alguns meses em São Paulo, Telles foi mandado de volta para a capital paranaense pelos órgãos de assistência social. Ele foi engraxate, trabalhou em feira e fez de um tudo para se manter, mas continuou dormindo nas ruas. Um dia resolveu: não queria mais usar drogas nem ser um menino de rua. Entrou em uma farmácia e pegou um lápis e uma pomada Minancora. Pintou-se de branco e começou a fazer shows, como "sombra", na Rua XV. Com o dinheiro, ajudou a mãe a construir uma casa. Também criou o Projeto Jovem Cidadão, com palestras e shows nas escolas para contar a sua história e prevenir o uso de drogas.
Hoje, aos 42 anos de idade, tendo completado 33 anos de verdadeiros shows naquela calçada, e ainda continua, executa o programa "Doutores do Sorriso para Todos", realizando apresentações em hospitais, asilos e creches, além de dar treinamento para grupos que queiram multiplicar a iniciativa. Tem interesse? Ligue para: 99924-7332.
(Adaptado da Gazeta do Povo / Foto: gazetadopovo.com.br)
Paulo Grani.

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