O SOMBRA DA XV
Seu desempenho era tão sutil que alguns transeuntes só percebiam que estavam sendo imitados quando ouviam os risos da platéia. A maioria levava na esportiva, outros saiam de fininho. Tinham os que invocavam e, a coisa ficava pior porque a mímica do sombra acompanhava a mudança de humor da pessoa. De vez em quando alguém apelava e queria partir para as vias de fato, porém, com grande habilidade de fazer humor, o sombra, acalmava o enfezado.
Mas, quem é esse personagem tão cativante que, ainda hoje, atua ali próximo do bondinho?
Ele é o artista de rua Carlos Roberto Telles (42) que, aos sete anos de idade saiu de casa para ir à escola e não voltou mais para o convívio da família. Ele sofria constantes agressões dos pais e passava muita fome. Naquele dia, um colega disse que, se Telles fosse até o Centro da cidade pedir dinheiro, conseguiria comprar comida para a família e até um sapato. A tentativa não foi bem-sucedida e, com medo de apanhar, Telles decidiu viver nas ruas, onde passou a cheirar cola, fumar maconha e usar todo o tipo de drogas que a vida oferecia naquela época.
Com 10 anos, ouviu dizer que em São Paulo era muito fácil roubar relógios e para lá viajou. "Cheguei à Praça da Sé e o primeiro relógio que roubei foi do padre Júlio Lancellotti, que era da Pastoral da Criança. Ele me segurou, disse que não chamaria a polícia e me mandou para um colégio, onde tive aulas de teatro", conta. Esse primeiro contato com a arte foi o início do que viria a se tornar o ganha-pão de Telles. Para quem não está ligando o nome à pessoa, ele é o "Palhaço Chameguinho", o "Sombra" da Rua XV de Novembro.
Depois de viver alguns meses em São Paulo, Telles foi mandado de volta para a capital paranaense pelos órgãos de assistência social. Ele foi engraxate, trabalhou em feira e fez de um tudo para se manter, mas continuou dormindo nas ruas. Um dia resolveu: não queria mais usar drogas nem ser um menino de rua. Entrou em uma farmácia e pegou um lápis e uma pomada Minancora. Pintou-se de branco e começou a fazer shows, como "sombra", na Rua XV. Com o dinheiro, ajudou a mãe a construir uma casa. Também criou o Projeto Jovem Cidadão, com palestras e shows nas escolas para contar a sua história e prevenir o uso de drogas.
Hoje, aos 42 anos de idade, tendo completado 33 anos de verdadeiros shows naquela calçada, e ainda continua, executa o programa "Doutores do Sorriso para Todos", realizando apresentações em hospitais, asilos e creches, além de dar treinamento para grupos que queiram multiplicar a iniciativa. Tem interesse? Ligue para: 99924-7332.
(Adaptado da Gazeta do Povo / Foto: gazetadopovo.com.br)
Paulo Grani.
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