QUANDO OS ESTUDANTES TOMBARAM UM BONDE EM CURITIBA
O bonde derrubado por estudantes na Avenida João Gualberto.
Foto: Domingos Foggiato, 06/06/1945.
O bonde derrubado por estudantes na Avenida João Gualberto.
Foto: Domingos Foggiato, 06/06/1945.
Em junho de 1945, policiais vigiavam a entrada da garagem de bondes da Companhia Força e Luz do Paraná, em frente ao prédio da Assembléia Legislativa (hoje sede da Câmara).
Foto: Domingos Foggiato, 06/06/1945.
Cupom usado pela Ferro Carril Curitybano usado durante anos, ao custo de 100 réis.
Foto: Coleção Alen Morrison.
Em 31/05/1945, houve a mudança de gestão do sistema de transporte o qual foi assumido pela Companhia Força e Luz do Paraná (CFLP), tendo ela anunciado, no mesmo dia, um reajuste de 10 centavos nas tarifas, momento em que passou de réis para cruzeiro. O comunicado dizia o seguinte:
"A Companhia Força e Luz do Paraná (CFLP), na contingência de fazer vigorar para seus empregados a tabela de reajustamento de salários comunica ao público que a partir de junho de 1945, fará cobrar nos serviços de transporte coletivo a seu cargo (ônibus e bondes) a taxa adicional de Cr$ 0,10 (dez centavos) por passagem, pelo qual serão observadas as seguintes tarifas devidamente aprovadas pela prefeitura:
Linhas de Bondes:
- Praça Tiradentes à Água Verde: Cr$0,30
- Água Verde ao Portão: Cr$0,30
- Praça Tiradentes ao Portão (direto): Cr$ 0,50
- Praça Tiradentes ao Juvevê: Cr$0,30
- Juvevê ao Bacacheri: Cr$ 0,30
- Praça Tiradentes ao Bacacheri (direto): Cr$ 0,50
- Praça Zacarias ao Batel: Cr$ 0,30
- Batel ao seminário: Cr$0,20
- Praça Zacarias ao Seminário (direto): Cr$0,40
- Trajano Reis ao Asilo Cr$ 0,30
- Asilo ao Prado: Cr$0,30
- Praça Tiradentes ao Prado (direto): Cr$0,50
- Linha de ônibus Alto da Rua XV ao Hospital Militar: R$ 0,40".
“Foi o estopim com retardo para o que iria acontecer no dia 3 de junho, quando à noite, por volta das 21 horas, começaram os protestos dos estudantes universitários que em número aproximado de uma centena fizeram uma viagem de bonde da praça Zacarias ao Seminário, retornando ao ponto de partida, onde retiveram o veículo até as 23 horas. À frente da multidão os diretores da União Paranaense dos Estudantes [UPE], cujo presidente Francisco Oswaldo Costelucci falou às pessoas ali reunidas, atacando os lucros das passagens e os altos lucros auferidos pela CFLP. O manifesto foi pacífico, contando com a presença de policiais”, escreveu o jornalista Cid Destefani, em 1993.
No dia 5, disse a coluna, “as manifestações começaram a tomar o rumo da violência, apesar do manifesto publicado pelo Sindicato dos Trabalhadores da Empresa de Carris de Curitiba, apelando ao povo que apoiasse o aumento que iria trazer melhorias aos trabalhadores e que a situação dos salários, como estava, era insustentável”. Os estudantes, contou Destefani, lotavam os bondes e se negavam a pagar as passagens.
“No dia 6, pela manhã, foi tombado um bonde da linha Juvevê, na avenida João Gualberto. […] Em resposta às reivindicações estudantis, o governo mandou, à noite, piquetes de cavalaria da Força Policial para a frente dos colégios Iguaçu e Novo Ateneu, quando os milicianos deram cargas com suas espadas desembainhadas contra os estudantes que saíam das provas parciais de meio de ano. Vários foram feridos, tendo inclusive cavalarianos tentado adentrar com suas montarias no Colégio Iguaçu. Foi uma verdadeira operação 'matar no ninho', para impedir que os colegiais voltassem a atacar os coletivos. Motivados por esta agressão, os estudantes criariam poucos dias depois a União Paranaense dos Estudantes Secundaristas”, relatou.
Os protestos seguiram até o dia 15 de junho e foram apoiados por operários e professores. As manifestações só terminaram quando Manoel Ribas voltou da viagem que fizera ao Rio de Janeiro, reassumindo a Interventoria do Paraná. De todo aquele movimento realizado pela UPE ficaram as imagens: policiais protegendo a Estação de Bondes da Força e Luz, na Barão do Rio Branco e o bonde tombado na Avenida João Gualberto quando as passagens dos coletivos, depois de se manterem durante anos em custos estáveis, subiram dez centavos."
(Extraído da Gazeta do Povo)
Paulo Grani.