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quinta-feira, 7 de setembro de 2023

SEGUNDA GUERRA: FOTOS REVELAM RITUAL DE SEPULTAMENTO NA FEB

 

SEGUNDA GUERRA: FOTOS REVELAM RITUAL DE SEPULTAMENTO NA FEB

Imagens do fotógrafo oficial da FEB, Horácio Gusmão Coelho, organizadas no site Brasilianas, revelam um dia de sepultamento no cemitério de Pistoia. As fotos foram feitas por ocasião visita do comandante da Força Expedicionária Brasileira – FEB, General Mascarenhas de Moraes que esteve no local para prestar homenagens a um dos soldados tombados e, oficialmente, conhecer o cemitério, que naquela época tinha recém sido inaugurado.

Os registros de Horácio completam este texto. Abaixo, a visita.

Como funcionava

Quando a FEB resolveu organizar o serviço de sepultamento, já prevendo as baixas que se dariam no front, foram retirados elementos de diversas companhias para compor a unidade. O aviso reservado o número 333-229, de 04 de março de 1944 tratou de organizar um pelotão (aproximadamente 50 combatentes), subordinado à Intendência expedicionária.

Porém, não deu tempo de enviar o pelotão junto com o primeiro escalão, e os homens tiveram que seguir na segunda e terceira leva de enviados para o combate na Itália. A partida do grupo foi em 22 de setembro de 1944, tendo desembarcado no dia 06 de outubro do mesmo ano.

Ali, fizeram estágio em cemitérios e também nos postos de coleta americanos, para aprenderem técnicas que lhes habilitassem desenvolver suas funções. O comandante do pelotão era o tenente Lafayete Vargas Moreira Brasiliano.

Soldado Enio Espagnolo, à esquerda; segundo-tenente Copérnico de Arruda Cordeiro, subcomandante do pelotão, ao centro; Lafayette Brasiliano, à direita

Surge o cemitério de Pistoia

Quando o cemitério de Pistoia ainda não existia, os brasileiros mortos eram enterrados no cemitério civil de Tarquinia e nos cemitérios militares de Felonica e Vada. A situação ficou assim até dezembro de 1944, quando a família Landini doou uma área na estrada de Candeglia, região de San Rocco, em Pistóia.

O terreno apresentava umidade em algumas partes e precisou ser drenado. Em seguida, trabalhadores civis italianos foram contratados para que abrissem as sepulturas e confeccionassem cruzes, sendo seguido o trabalho de instalação de um necrotério, que funcionava em uma barraca de campanha.

O necrotério em funcionamento.

Para deixar o local esteticamente mais agradável, foi feito um trabalho de jardinagem, também por trabalhadores italianos.

Trabalhadores italianos que construíram o cemitério. Brasiliano está aqui na ponta e outro oficial na esquerda.

Na parte técnica, o pessoal do pelotão foi treinado para fazer os atestados de óbito padronizados. Havia ainda relatórios de sepultamentos, com inventário de objetos deixados e um certificado de enterramento.

O novo cemitério foi dividido em quadras com letras, para facilitar a localização dos falecidos. Inicialmente, tinha quatro quadras para brasileiros e duas para os inimigos encontrados após as batalhas contra os pracinhas.

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Até o final de 1945, 445 Soldados da FEB e oito da FAB repousaram em Pistoia. Esses eram os números constantes no relatório secreto de Mascarenhas de Moraes. Hoje, aceita-se que o número de brasileiros mortos na Segunda Guerra Mundial, servindo no exército ou na força aérea, chegou a 467 (na época do relatório, ainda havia brasileiros desaparecidos em combate).

Pelotão eficiente

“A missão do pelotão era receber, nos postos de coleta, os mortos evacuados pelas unidades com seus próprios meios. Entretanto, por falta de transporte ou porque o combate não permitia, o pelotão adiantava-se no serviço, retirando os corpos do campo de batalha. Deste modo, quando da conquista de Monte Castello, em 21 de fevereiro de 1945, recebeu o pelotão a ordem do chefe do serviço de intendência, para proceder ao recolhimento de corpos de soldados brasileiros tombados no combate anteriores e insepultos há cerca de dois meses. Foi cumprida a missão com grande dificuldade, pois, muitos cadáveres estavam em completo estado de decomposição, e o inimigo castigava a região com pesado bombardeio de artilharia. O terreno, quase totalmente minado, era limpo pela nossa Engenharia e em diversos corpos foram encontrados ‘booby traps’ [armadilhas], desumanamente colocadas pelos alemães. Foram recolhidos 66 cadáveres, sendo que 20 eram do ataque recém-terminado [21/02/1945]”, aponta o relatório assinado pelo comandante da FEB.

Outro trecho, do mesmo relatório, fala sobre os combates na região de Montese, em que o pelotão retirou “222 corpos de soldados americanos que foram transportados para seus cemitérios, e 40 corpos alemães, sepultados junto aos brasileiros em Pistoia”. “Reuniu, ainda, o pelotão todos os 77 mortos brasileiros, enterrados nos cemitério dos americanos e civis, e os onze sepultados pelo inimigo, perfazendo um total de 88 transladações”.

Minutos antes do enterro do pracinha das fotos anteriores.

Os rituais religiosos eram importantes, e segundo o Mascarenhas, “nenhum corpo baixou a sepultura sem o devido cerimonial fúnebre e sem encomendação feita pelo Capelão militar pertencente ao pelotão [capelão Noé Pereira]”.

Capelão Noé Pereira, primeiro à esquerda; Lafayette Brasiliano, segundo à esquerda; mais oficiais não identificados.

Atualmente os corpos dos brasileiros mortos na Itália repousam no Monumento aos Mortos na Segunda Guerra Mundial, no aterro do Flamengo, no Rio de Janeiro. Foram transladados para lá em 1960.

Para saber mais

Para quem quiser saber mais sobre como eram feitos os rituais fúnebres na FEB e mesmo o que portavam os mortos no momento do passamento, indicamos o livro “Morrer na Guerra: a sociedade diante da morte em combate”, da autora Adriane Piovezan. Link: https://www.editoracrv.com.br/produtos/detalhes/32084-morrer-na-guerrabra-sociedade-diante-da-morte-em-combate

Abaixo, vistas do cemitério de Pistoia, pelas lentes de Horácio Coelho.

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