sábado, 3 de agosto de 2024

Brasileiros vs italianos: Guerra em São Paulo

 Brasileiros vs italianos: Guerra em São Paulo

Brasileiros e italianos em guerra pelas ruas, com gritos de “vivas” e “morras”. A Força Pública (atual Polícia Militar) prendendo cidadãos de ambas as nações para tentar controlar o conflito. Para complicar, um diplomata que esqueceu a serenidade e as mesuras típicas da função para inflamar batalhas campais. Esse foi o cenário, na São Paulo de agosto de 1896, durante a chamada Questão dos Protocolos Italianos. Um conflito que, por muito pouco, não levou a Itália a declarar guerra ao Brasil. O caso colocou no chinelo outros desencontros diplomáticos entre Brasil e Itália, como a negativa do governo brasileiro de extraditar o escritor e ex-terrorista Cesare Battisti – condenado à prisão em seu país natal sob acusação de dois assassinatos. Ou da fuga para a Itália do ex-diretor do Banco do Brasil Henrique Pizzolato, cidadão ítalo-brasileiro, após sua condenação a 12 anos de prisão pelo Supremo Tribunal Federal (STF) no julgamento do escândalo do mensalão em 2013.

Tudo começou quando comerciantes italianos radicados no Brasil, com apoio de seu governo, pediram indenização por supostos prejuízos sofridos na Revolução Federalista (entre 1893 e 1895) e na Revolta da Armada (entre 1893 e 1894). Depois de uma negociação entre os dois países, a questão foi ao Congresso Nacional e acabou aprovada em duas votações. O valor era de 62.700 réis, algo como R$ 3 bilhões em valores aproximados. Os paulistas, no entanto, questionaram o fato de somente os italianos – que representavam cerca de metade da população da cidade de São Paulo na época – serem beneficiados, como se os demais fossem cidadãos de segunda categoria. “A opinião pública se convenceu de que o país havia sofrido um ato de prepotência, enquanto o rancor italiano foi alimentado por jornalistas”, afirma Angelo Trento em Imprensa Italiana no Brasil. Começou, então, uma forte movimentação contrária à medida. Cerca de 400 estudantes da Faculdade de Direito do Largo de São Francisco queimaram, no dia 10 de agosto, pedaços de pano com as cores da Itália, aos gritos de “abaixo o protocolo” e “vivas” ao Brasil e à República.

Pouco depois, em 22 de agosto, ocorreu algo surpreendente: o cônsul italiano em São Paulo, o Conde Edoardo Campans de Brichenteau, ao lado do vice-cônsul, o Conde Brandolini D’Aste, liderou uma manifestação de patrícios depois de uma convocação secreta à comunidade, na qual se gritaram “morras” ao Brasil e “vivas” à Itália. Ao mesmo tempo, imigrantes italianos começaram a atacar brasileiros com armas de fogo e facas. Houve agressões por praticamente toda a cidade e os brasileiros iniciaram a reação. A Força Pública teve que entrar em ação para acalmar os ânimos e prender os brigões. Também houve conflitos no Rio de Janeiro, na Bahia e no Rio Grande do Sul.

Frota italiana

A cientista política Ana Luiza Backes considera que a reação aos Protocolos Italianos integraram uma série de preocupações de caráter nacionalista nos primeiros anos da República. Na mesma época, a Inglaterra havia invadido a Ilha de Trindade, no Espírito Santo, alegando que ela era de colonização inglesa desde 1700, e a França havia atacado um povoado no Amapá, matando brasileiros. Além disso, Portugal havia apoiado os insurgentes da Revolta da Armada, o que fez com que o então presidente Floriano Peixoto rompesse relações diplomáticas com o país. “As controvérsias em torno dos protocolos traziam o tema do nacionalismo para o debate institucional”, diz Ana Luiza. Insuflado pelas notícias que chegavam do Brasil, o governo da Itália teria preparado uma frota para atacar o Rio de Janeiro com intenção de defender seus cidadãos no Brasil, o que acabou não ocorrendo. “São estrangeiros que nos agridem, inspirados e dirigidos pela responsabilidade ostensiva de agentes oficiais de seu governo”, registrou o jornal O Estado de S. Paulo, de 24 de agosto de 1896. “Se há alguma coisa a lamentar é que o cônsul de uma nação civilizada como a Itália trocasse a nobre posição de mediador pela de um arruaceiro exaltado contra um país que o tem como seu hóspede.”

Campos Sales Wikimedia Commons

O Conde Brichenteau havia deixado claro que reagiria ao que chamou de “provocações de jacobinos radicais”. No mesmo dia em que marchou pela Rua Quinze de Novembro, a mais elegante da cidade, se iniciou o conflito. Italianos atacaram, a facadas, brasileiros que assistiam a uma peça no Teatro São José, no Viaduto do Chá. Na saída do teatro, o alferes do Exército Plínio Mário de Carvalho foi atacado por um grupo de italianos. Acompanhado por alguns amigos, Carvalho reagiu, mas acabou tomando uma punhalada no olho direito. Brichenteau, que também estava na plateia, foi retirado com escolta policial e levado a sua casa, pois temia ser linchado. Detetives descobriram que havia sido distribuído secretamente à comunidade italiana um panfleto convocando-a para uma reunião no Largo do Paiçandu com o objetivo de “desafrontar a honra da Itália”. No panfleto, haveria “torpes acusações ao Brasil”.

O Largo da Memória, no Centro, foi palco de um ato promovido por brasileiros no qual foi lido um manifesto que pedia a cassação do exequatur (autorização para exercer a função diplomática) do cônsul italiano. O então governador de São Paulo, Campos Sales, recebeu manifestantes e prometeu que resolveria a questão. Um grupo de dez comerciantes italianos, de acordo com o Estadão, também esteve no Palácio do Governo e se ofereceu para acalmar a comunidade.

Ainda no dia 23, um grupo de jovens brasileiros passava pela Rua São Caetano, no Bom Retiro, quando avistou uma moça gritando “vivas” ao Brasil. Ao se aproximarem, perceberam que ela era italiana. Ao ser abraçado pela apoiadora, um dos rapazes, José Xavier Pinheiro, caiu pesadamente. A “moça” era, na verdade, um robusto italiano travestido. O agressor conseguiu apunhalar um segundo jovem e só parou quando levou uma cacetada na cabeça. Diante da reação, largou as saias e fugiu, em direção ao Brás. No mesmo dia, a redação do Fanfulla, jornal publicado em italiano, foi atacada por desconhecidos, que quebraram vidraças e móveis.

Os emigrantes, por Antonio Rocco Wikimedia Commons

Na Rua Príncipe de Nápoles, na Consolação, um grupo de moças retirou as placas da rua e foi agredido por italianos. As placas da Rua dos Italianos, no Bom Retiro, também foram arrancadas, o que causou novo conflito. Houve ainda um tiroteio na Rua Formosa, com vários feridos. Os italianos atiravam de dentro do Teatro Politeama e só foram capturados quando uma patrulha da Força Pública os retirou. Um português, José Mariano Avelós, morreu ali, vítima de bala perdida. Já eram 115 os presos. Campos Sales enviou ao governo federal um documento em que relatava os fatos e pedia a cassação do exequatur do cônsul italiano.

No dia 24, a Câmara dos Deputados, depois da apresentação de uma petição popular e de um discurso do deputado paulista Francisco Glicério, em que deplorou os acontecimentos de São Paulo, rejeitou, por unanimidade, os Protocolos Italianos. Uma passeata percorreu as ruas centrais, passando em frente ao Palácio do Governo e à Central de Polícia para comemorar o resultado da mobilização. A reação veio na sequência.

Negro degolado

Entrincheirados na casa 39A da Rua dos Timbiras, onde morava o açougueiro Antonio Grecco, italianos atacaram, a tiros de revólver, os brasileiros que passavam. A cavalaria da Força Pública dirigiu-se ao local e também foi recebida a tiros, respondendo aos disparos. No conflito, foram feridos o dono da casa, que recebeu uma bala no abdômen, e seu companheiro Domenico Travia, que levou quatro tiros. O soldado da Força Pública Antonio Ferreira da Silva foi vítima de um disparo no olho direito. Nesse episódio, a população também atacou os italianos, ajudando a polícia a desalojá-los.

Na sequência, as autoridades policiais percorreram o Brás, apreendendo armas e prendendo pessoas. O carro em que viajavam os delegados Cardoso Júnior e Júlio de Sá Rocha foi atacado a tiros na Rua do Glicério. Um italiano, Giuseppe Magai, foi preso, armado com um revólver e um facão. Na Rua Carneiro Leão, no Brás, grupos de italianos atacavam os transeuntes com revólveres. Um piquete de cavalaria se deslocou do Centro para lá e foi recebido a tiros. As portas das casas foram arrombadas e 32 italianos, detidos. Um brasileiro negro, que trabalhava na Olaria Maranhão, na Penha, foi degolado por um grupo de 14 italianos, que acabou preso.

Em outro confronto, na Rua Aimorés, no Bom Retiro, o soldado Antonio José Soares foi atingido por um tiro, disparado de um cortiço onde viviam europeus, e morreu. O local foi invadido e onze italianos, presos. Os assassinos não foram localizados, embora tenham sido apreendidas suas armas: dois revólveres e uma espingarda. Os soldados ficaram muito exaltados ao verem o corpo do companheiro e tiveram que ser contidos para não atacar os presos. No dia 26, o jornal A Notícia, do Rio de Janeiro, noticiou a cassação do exequatur de Brichenteau. O ministro das Relações Exteriores, Carlos de Carvalho, devolveu as credenciais do italiano e ele retornou ao seu país. Também foram registrados excessos do lado dos brasileiros. Soldados embriagados espancaram trabalhadores italianos na Avenida Rangel Pestana, um dos quais carregava uma criança no colo. Outros casos de agressão de inocentes foram noticiadas.

Colonos expõem seus produtos em Caxias do Sul Wikimedia Commons

Diante da repercussão do caso e dos ataques da imprensa de oposição ao governo, dizendo que a Itália agia de forma “frouxa” e pedindo até a declaração de guerra contra o Brasil, o rei Humberto I determinou a proibição provisória da imigração italiana para o país, ao mesmo tempo em que ordenou proteção policial à legação brasileira em Roma. O seu ministro das Relações Exteriores, Marquês de Rudini, pediu explicações sobre o caso ao governo brasileiro.

Um jornal italiano noticiou que 2,5 mil camponeses que estavam no porto de Gênova prontos para imigrar, protestaram contra a determinação de seu governo de proibir a saída. Estavam dispostos a vir ao Brasil, mesmo com as notícias de jornal sobre os conflitos em São Paulo, estado em que vivia mais da metade dos 800 mil italianos do Brasil.

No dia 3 de setembro, foi anunciada a vinda à costa brasileira de uma esquadra formada por navios de guerra que, de acordo com o governo italiano, tinha a missão de proteger os cidadãos italianos na América do Sul. A intenção oculta era intimidar o Brasil para que retomasse os termos dos Protocolos. Poderosa e bem-armada, a esquadra sob o comando do almirante Giuseppe Palumbo era formada por cinco navios de guerra. O governo daquele país, entretanto, tratava do assunto com cautela, embora não desautorizasse seu representante no Brasil. Dias depois, o governo da Itália informou que viria ao Brasil somente o vaso de guerra Lombardia, trazendo um representante plenipotenciário do país europeu, Renato de Martino, a fim de exigir explicações formais. O navio teve destino trágico: toda a população morreu vítima de febre amarela.

O governo brasileiro decidiu que só pagaria as indenizações realmente devidas. Em 1896, o presidente Prudente de Morais colocou em execução os novos protocolos, no valor atual de R$ 2,4 milhões. Os recursos foram distribuídos a entidades ítalo-brasileiras, como o Hospital Umberto Primo, o Orfanato Cristóvão Colombo e escolas italianas no país, o que diminuiu seu valor em mais de dois terços. O saldo da confusão: doze mortos e centenas de feridos. 

Uma relação delicada

Imigrantes passaram maus bocados em São Paulo

Italianos na Hospedaria dos Imigrantes em, em São Paulo, em 1890 Wikimedia Commons

A Questão dos Protocolos Italianos foi a mais grave, mas não a única, a opor brasileiros e italianos no período da Grande Imigração (entre 1880 e 1920). Em 1906, o governo daquele país havia publicado o Decreto Prinetti, que proibiu a imigração de peninsulares para o Brasil. A razão eram as denúncias de maus-tratos, praticados por capatazes e donos de fazendas de café no interior de São Paulo, que foram confirmados em relatório de um funcionário do governo italiano que veio ao Brasil. Havia, também, o problema da expulsão de anarquistas italianos por autoridades policiais brasileiras, embora nesses casos o governo do país europeu não se preocupasse tanto, afinal o próprio rei Humberto I, que governava a Itália no período dos Protocolos Italianos, seria morto, em 1900, pelo anarquista Gaetano Brescia, em protesto contra o massacre de trabalhadores em greve pelo Exército e a posterior condecoração do general responsável pelo ataque. Deportado do Brasil em 1898, com base na Lei de Repressão ao Anarquismo, o jornalista Gigi Damiani editou o opúsculo Brasil, País para Onde Não se Deve Imigrar, denunciando agressões e violências contra peninsulares nas fazendas. A divulgação fez o governo italiano proibir a imigração. Entre 1917 e 1926 foram expulsos do país, por motivos políticos, em torno de 314 estrangeiros, dos quais 87 italianos. Os italianos constituíam parte importante dos deportados, com base na Lei Adolfo Gordo, de 1907, que permitia a expulsão de estrangeiros, sem possibilidade de obter habeas corpus.

Saiba mais

Impasses no Novo Mundo, Flávia Arlanch de Oliveira, 2008

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Antigo Shopping Estação Plaza Show - Centro de Curitiba Foto tirada em 14 de agosto de 1999

Bairro Hugo Lange - Jardim Ambiental da Rua Schiller Foto tirada no ano de 1978

GINASIO PARANAENSE, na RUA ÉBANO PEREIRA. Inaugurado em 1904.

Veículos da empresa Nossa Senhora da Penha na antiga Estação Ferroviária de Curitiba - Ano de 1965. Imagem do acervo da empresa Nossa Senhora da Penha.

1932. Aviões da AEROPOSTALE na ILHA DO MEL.

Rua Fernandes Pinheiro, ao fundo Estação Saudade. 1910. Foto Bianchi Ponta Grossa - PR .

Colégio Estadual Prof. Elias Abrahão (Grupo Escolar Cristo Rei)

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Praça Rui Barbosa: De um lado, a tradicional feirinha ao ar livre, e do outro, as ações do Programa de Transporte Urbano Foto tirada em 16 de julho de 1995 © SMCS/Autor desconhecido.

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1850. A igreja matriz ficava dentro do LARGO DA MATRIZ, em posição diferente da atual catedral. Trancava a atual rua JOSÉ BONIFÁCIO que se chamava, então, RUA FECHADA.

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Bela Casa da Família SCHACK, que existia no local onde hoje é o Estacionamento da Clínica Cetap no Batel. Imagem da década de 1940

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Praça Eufrásio Correia e a “Nova Curitiba” do século XX

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Arsuf: Coração de Leão vs Saladino Em 7 de setembro de 1191, confrontavam-se os mais legendários guerreiros dos lados cristão e muçulmano

 Arsuf: Coração de Leão vs Saladino Em 7 de setembro de 1191, confrontavam-se os mais legendários guerreiros dos lados cristão e muçulmano

Corria o ano de 1191 e a situação era difícil para os cruzados na Terra Santa. Jerusalém estava novamente sob domínio dos muçulmanos, que haviam reconquistado a cidade quatro anos antes, bem como a maior parte do território que os cristãos chamavam de Outremer, estabelecido após a Primeira Cruzada em áreas que hoje correspondem a Israel, Palestina, Jordânia e Líbano. A perda de Jerusalém motivara uma nova Cruzada, a Terceira, que, depois de muita confusão, incluindo a morte de alguns de seus principais líderes, ficou sob comando do rei inglês Ricardo I, também conhecido como Ricardo Coração de Leão. Ricardo sabia que, para atacar Jerusalém com sucesso, era preciso garantir suas linhas de abastecimento, capturando a cidade portuária de Joppa (a atual Jaffa, em Israel). Com esse objetivo, no final de agosto de 1191, ele saiu da cidade de Acre em direção a Joppa, à frente de quase 30 mil homens e de uma longa caravana de camelos e mulas, carregados com suprimentos para tomar aquele porto estratégico.

Formação de batalha

O comandante cristão posicionou suas tropas de tal maneira que elas poderiam ser rapidamente convertidas em formação de batalha, com as divisões de cavalaria defendidas por uma linha quase ininterrupta de unidades de infantaria, estendendo-se do início ao fim da longa coluna. A comitiva seguia margeando o litoral do Mediterrâneo, tendo sua vanguarda formada por um destacamento de cavaleiros da Ordem dos Templários, enquanto a retaguarda era protegida por cavaleiros de uma outra ordem, a dos Hospitalários. Estima-se que o total de cavaleiros não passasse dos 5 mil, com o restante formado por infantaria.

Desde o início, a marcha foi hostilizada pelos muçulmanos, que lançavam ataques freqüentes, tentando atrair os cruzados para uma batalha em campo aberto. Ricardo, porém, havia ordenado que seus homens resistissem às provocações do inimigo e evitassem contra-atacar, até receber ordem expressa para tanto - sua estratégia era cansar o adversário e esperar uma oportunidade mais favorável

Em 7 de setembro de 1191, a comitiva estava a uma pequena distância ao norte da cidade de Arsuf. O exército cruzado levantou acampamento ao amanhecer e cruzou o rio Rachetaille, reiniciando a marcha em três colunas. Perto do mar caminhava a caravana de bagagem com escolta de infantaria. Na coluna do centro iam 12 esquadrões com 100 cavaleiros cada, enquanto a coluna da esquerda era integrada por soldados de infantaria armados com lanças e balestras

Estratégia da paciência

Os ataques prosseguiam e tornaram-se cada vez mais intensos, pressionando principalmente o flanco esquerdo das tropas de Ricardo, defendido pelos Hospitalários. Por volta das 11 horas da manhã, Saladino enviou um destacamento de cavalaria para pressionar novamente o flanco esquerdo da comitiva, mas ele foi prontamente repelido pelos cristãos. Os muçulmanos, que eram cerca de 20 mil homens, metade dos quais cavaleiros, continuavam a lançar flechas e arremessavam lanças, enquanto os cruzados retaliavam com setas disparadas por suas balestras.

Nessas escaramuças, os Hospitalários sofreram poucas baixas em homens, mas perderam grande número de cavalos, a ponto de ameaçar a continuidade de suas operações. Eles pediram autorização para contra-atacar, mas Ricardo recusou, aguardando que as forças de Saladino expusessem seu flanco direito e ficassem mais vulneráveis. Porém, à medida que mais cavalos eram mortos, os Hospitalários avançavam por conta própria. Sem outra alternativa, Ricardo lançou-se ao ataque, ordenando que os Templários avançassem contra o flanco esquerdo das tropas de Saladino. Quando a batalha começou, o comandante cristão estacionou a caravana com a bagagem na sua retaguarda, próxima ao mar. Diante da caravana foi posicionada a cavalaria, enquanto a infantaria assumia a linha de frente. Os sarracenos, com suas cornetas soando, atacaram vindos da floresta de Arsuf e concentraram-se numa ofensiva contra o lado esquerdo da linha dos Templários, tentando isolar esse setor para, em seguida, aniquilá-lo.

O contra-ataque

Enquanto isso, os cavaleiros Hospitalários, com a infantaria deslocando-se a sua frente, contra-atacaram pelos espaços deixados entre os agrupamentos de soldados a pé. Os muçulmanos, que haviam passado os últimos dias tentando provocar os cruzados a lançarem um ataque em larga escala, foram apanhados de surpresa quando ele finalmente aconteceu. Seus homens ainda tentaram reagrupar-se e resistir, mas acabaram massacrados pela carga dos cavaleiros cristãos, acompanhados lado a lado por sua infantaria.

No total, pelo menos 7 mil integrantes das tropas de Saladino foram mortos, enquanto os cruzados perderam no máximo mil homens. Foi uma vitória importante, especialmente do ponto de vista psicológico, pois foi o primeiro grande sucesso cruzado desde a perda de Jerusalém, quatro anos antes. Serviu, também, para abalar o mito da invencibilidade de Saladino, que até então sempre havia sido vitorioso em seus embates contra os cristãos.

Representação do século 13 mostra o encontro entre Ricardo I e Saladino Wikimedia Commons

Após a vitória em Arsuf, a caravana de Ricardo conseguiu avançar sem maiores dificuldades em direção ao sul da costa mediterrânea e acabou por retomar o porto de Joppa. Mas o ataque contra Jerusalém, etapa subseqüente da campanha, nunca aconteceu. Ricardo acreditava ser capaz de tomar a Cidade Sagrada, mas sabia que seria impossível mantê-la depois que a maioria dos cruzados retornasse à Europa, o que iria ocorrer cedo ou tarde. Assim, ele concluiu um acordo de paz com Saladino em 1192 e deixou a Terra Santa com destino à Inglaterra, encerrando a Terceira Cruzada, que teve em Arsuf sua primeira e única batalha de grandes proporções.

A vitória dos cristãos deu aos Estados Cruzados no Outremer uma sobrevida, mas sua manutenção a longo prazo era um projeto fadado ao fracasso. Em 1291, um século depois da Batalha de Arsuf, a última cidade cruzada, Acre (hoje Akko, em Israel), foi conquistada pelos muçulmanos. A perda dos Estados Cruzados, junto com outros eventos, como a ascensão do Império Otomano, causou sérios prejuízos econômicos, com o fechamento das rotas comerciais que as nações da Europa usavam para negociar com a Ásia. Era necessário encontrar rotas alternativas, e esse esforço resultaria na Era dos Descobrimentos, que nos séculos 15 e 16 levaria os europeus a chegar ao Novo Mundo.

Armados da cabeça aos joelhos

No final do século 12, os cavaleiros cruzados que lutavam na Terra Santa costumavam ser protegidos por uma roupa feita de cota de malha de ferro que os cobria da cabeça aos joelhos. Seus capacetes de metal eram cônicos ou no formato de uma balde invertida que cobrina toda a cabeça. As armas que esses cavaleiros usavam eram uma lança de madeira com cerca de três metros e ponta de ferro, a espada de lâmina com mais de um metro de comprimento, o machado de batalha, a maça (um porrete com cabo de madeira tendo na ponta uma bola de metal) e um sabre com lâmina curta e larga conhecido como alfanje. Seus soldados a pé disparavam flechas usando arcos e bestas ou balestras, armas que empregavam um mecanismo com manivelas para retesar a corda e aumentar o impacto do projétil.

Já as tropas muçulmanas de Saladino incluíam cavaleiros com armaduras leves de metal ou de couro que cobriam o torso do guerreiro. Esses cavaleiros utilizavam lanças de madeira, maças e sabres com lâminas estreitas e recurvadas. A principal arma ofensiva era um arco curto de origem turca, que podia ser disparado a galope por causa de seu tamanho compacto.

Uma luta entre dois gigantes

Ricardo Coração de Leão

Retrato de Ricardo I, por Merry-Joseph Blondel Wikimedia Commons

Nascido em 1157, passou a maior parte da vida guerreando, não apenas contra os muçulmanos, mas também contra seu pai, Henrique II, seus irmãos e o rei da França, Filipe II. Tornou-se rei da Inglaterra em 1189. Em 1190, partiu para a Terra Santa, onde se destacou como comandante brilhante.

Salah ad-Din Yusuf ibn Ayyub

Saladino, por Cristofano dell'Altissimo Wikimedia Commons

Salah al-Din Yusuf ibn Ayyub nasceu em 1137 ou 1138, em uma família curda na cidade de Tikrit, atual Iraque. Seu nome, ocidentalizado como Saladino, tornou-se para os cristãos da época sinônimo de guerreiro implacável e astuto, nunca derrotado em combate, até a Batalha de Arsuf.

Saiba mais

História das Cruzadas, Volume III: o Reino de Acre e as Últimas Cruzadas, Steven Runciman, Editora Imago, 2003

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Antigo Shopping Estação Plaza Show - Centro de Curitiba Foto tirada em 14 de agosto de 1999

Bairro Hugo Lange - Jardim Ambiental da Rua Schiller Foto tirada no ano de 1978

GINASIO PARANAENSE, na RUA ÉBANO PEREIRA. Inaugurado em 1904.

Veículos da empresa Nossa Senhora da Penha na antiga Estação Ferroviária de Curitiba - Ano de 1965. Imagem do acervo da empresa Nossa Senhora da Penha.

1932. Aviões da AEROPOSTALE na ILHA DO MEL.

Rua Fernandes Pinheiro, ao fundo Estação Saudade. 1910. Foto Bianchi Ponta Grossa - PR .

Colégio Estadual Prof. Elias Abrahão (Grupo Escolar Cristo Rei)

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Praça Rui Barbosa: De um lado, a tradicional feirinha ao ar livre, e do outro, as ações do Programa de Transporte Urbano Foto tirada em 16 de julho de 1995 © SMCS/Autor desconhecido.

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1850. A igreja matriz ficava dentro do LARGO DA MATRIZ, em posição diferente da atual catedral. Trancava a atual rua JOSÉ BONIFÁCIO que se chamava, então, RUA FECHADA.

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Bela Casa da Família SCHACK, que existia no local onde hoje é o Estacionamento da Clínica Cetap no Batel. Imagem da década de 1940

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Praça Eufrásio Correia e a “Nova Curitiba” do século XX

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