terça-feira, 31 de janeiro de 2023

Antigos e históricos hotéis da Rua Barão do Rio Branco

 Antigos e históricos hotéis da Rua Barão do Rio Branco

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Com o processo de modernização de Curitiba a partir do final do século XIX, principalmente após a inauguração da estrada de ferro e da estação ferroviária, muitos hotéis surgiram na cidade. Na Rua da Liberdade, atual Barão do Rio Branco, a mais importante da época, concentraram-se a maioria dos hotéis, que supriam uma demanda cada vez maior por estadia para viajantes, comerciantes, aventureiros, imigrantes, entre outros grupos de pessoas vindos de incontáveis regiões. 


Neste artigo, falaremos sobre alguns históricos hotéis da Rua Barão do Rio Branco, em especial o Grande Hotel Moderno, o Roma, o Tassi e o Johnscher.


Grande Hotel Moderno


O primeiro hotel de que se tem registro em Curitiba é o Grande Hotel Moderno, inaugurado com grandes dimensões em 1868, na esquina da então chamada Rua da Liberdade com a Rua das Flores (hoje XV de Novembro). Quem nos conta isso são fontes da própria época, como é o caso do viajante inglês Bigg-Wither, que relata suas impressões sobre o hotel em sua obra “Novo caminho no Brasil meridional: a Província do Paraná”: "
À direita, em construção, vi um gigantesco edifício, no mais moderno estilo de um hotel de Londres do que qualquer dos que vira no Rio de Janeiro". Em 1903, após o alargamento da Rua Barão do Rio Branco, o hotel mudou de endereço para a Rua XV de Novembro.

Vinte anos depois, em 1923, foi adquirido pela proprietária do Hotel Johnscher (fundado em 1917 e sobre o qual falaremos mais à frente no texto). A partir daí, o Grande Hotel Moderno passou a ser gerenciado por Francisco Lourenço Johnscher, o antigo administrador do hotel da família, que então passou a ser administrado por seu cunhado Leopoldo Niemeyer. O Grande Hotel chegou a hospedar notáveis personalidades, como o Presidente Getúlio Vargas, o ator Henry Fonda e Santos Dumont,  e funcionou até setembro de 1975.


O contexto dos anos finais do século XIX e início do século XX é o de um Brasil e de uma Curitiba que buscam organizar seu espaço urbano visando ações de modernização. Estavam em voga os ideais positivistas de “ordem e progresso”, estampados na atual bandeira nacional, vigentes desde a Proclamação da República, em 1889. Assim, apareciam na paisagem urbana cada vez mais elementos que buscavam simbolizar inovações e progresso, a estação ferroviária, inaugurada em 1885. A partir disso, a capital paranaense foi se remodelando. Uma das esferas desse processo foram os hotéis - lugar que deveria hospedar os visitantes que chegavam de trem à cidade.


A Rua Barão do Rio Branco desponta como local privilegiado nesse período, uma vez que ligava alguns dos mais importantes pontos da cidade à época - a Estação Ferroviária ao Paço Municipal, à Rua XV de Novembro, ao Alto da Glória e à Estrada da Graciosa. Assim, era fácil a quem chegava na capital desembarcar do trem e ir direto para um hotel nas redondezas da Estação, onde os mais tradicionais e mais próximos eram o Hotel Tassi e o Hotel Roma, que dividiam parede. 


Hotel Roma


Em 1889, quatro anos depois da abertura da Estrada de Ferro, era inaugurado o Hotel Roma, que leva esse nome por ser Roma a capital do país de origem do seu fundador - o italiano Baldassare Mattana. Antes de abrir o Hotel, Mattana chegou a possuir outros empreendimentos, como uma casa de comércio situada na esquina da Rua São Francisco e a travessa do Rosário, no ano de 1887. Ele era também membro da Sociedade Italiana Giuseppe Garibaldi. À época da inauguração do hotel, tinha 41 anos.


Anos depois, a administração do hotel passou para sua família, sob o nome de Irmãos Mattana & Cia.

Já no século XXI, o hotel funcionou por alguns anos como hostel, abrigando principalmente viajantes jovens. Foi tombado em julho de 1985 pelo Governo Estadual e atualmente se encontra fechado.

Hotel Tassi


Onze anos depois da abertura do Hotel Roma, era inaugurado na Rua Barão do Rio Branco o “Hotel Estrada de Ferro”. O terreno para a construção era de um padre e foi comprado pelo imigrante italiano Ângelo Tassi. Inicialmente, o imóvel da família funcionava como comércio de alimentos e bebidas. Com a procura dos viajantes que chegavam ao local por um “pouso”, o prédio passou a funcionar como hotel em 1900, sob o nome de “Hotel Estrada de Ferro”. Estava localizado na esquina da Praça Eufrásio Correia, de frente para a Estação Ferroviária (atualmente, pode-se dizer que o terreno está na esquina da Rua Barão do Rio Branco com a Av. Sete de Setembro).


Anos depois, na década de 1920, após reformas e ampliações que deram ao hotel um segundo pavimento, veio a ganhar o seu nome mais famoso: Hotel Tassi. Hoje, o Hotel Tassi permanece em reformas, tratando-se de um patrimônio histórico edificado tombado pelo Estado do Paraná, também no ano de 1985.

O Hotel Tassi, inclusive, já foi ilustrado por um dos maiores artistas paranaense - Poty Lazzarotto -, o que reforça sua importância para a cidade de Curitiba.

O fato dos dois hotéis que estão entre os mais antigos da cidade terem ambos sido inaugurados por italianos não é uma coincidência, mas um reflexo do contexto que se vivia na época. Após a abolição da mão de obra escrava, em 1888, o governo brasileiro passou a incentivar a entrada de imigrantes europeus. Eles cumpririam duas funções: a de suprir a mão de obra necessária no contexto pós-abolição; e a de, sob argumentos eugenistas que estavam em voga na época, "embranquecer" a população.


Hotel Johnscher


Um pouco mais recente, mas não menos histórico ou importante, é o Hotel Johnscher, inaugurado em junho de 1917 por Victoria Johnscher, a algumas quadras do Hotel Roma e do Hotel Tassi, na Rua Barão do Rio Branco, em direção ao Paço Municipal. De localização privilegiada, estava em frente ao Palácio do Governo - prédio que hoje abriga o Museu de Imagem e Som do Paraná (MIS).

Victoria Johnscher, que inaugurou o hotel, já possuía experiência no ramo hoteleiro antes da abertura do Johnscher, tendo administrado, desde 1915, o hotel Stumbo - antes chamado Hotel Paris. Além disso, Victoria já tinha experiência gerenciando, junto de seu marido, uma pensão às margens do Rio Itiberê em Paranaguá.


Desde o início o Hotel Johnscher se destacou por seu luxo e suas confortáveis instalações. Foi um dos primeiros de Curitiba a contar com telefonia interna, água quente e fria encanada, quartos privativos, lavanderia própria a vapor, frigorífico, etc. Era famoso também por seu banquete de natal. Segundo a historiadora Mariana Corção (p. 51):


“A maior parte dos hóspedes do Hotel Johnscher eram comerciantes que vinham à Curitiba a negócios. No Hotel eram servidas as três refeições do dia, o requinte se fazia presente tanto na comida quanto na louçaria utilizada. Após revitalização do antigo prédio histórico, foi reaberto como San Juan Palace Hotel, com indicação: Antigo Johnscher, na placa externa”.


A desativação do hotel ocorreu em 1977. Assim permaneceu até 2002, quando a rede San Juan Hotéis o adquiriu e o restaurou. Desde então, o hotel permanece aberto e em funcionamento.

Preservação e memória


Todas essas construções antigas, quando não tombadas, são Unidades de Interesse de Preservação. Isso porque a região da Rua Barão do Rio Branco, antes conhecida como a “rua do poder”, é relativamente valorizada pelo poder público no que se refere à preservação patrimonial. O fato de estarem em frente à Câmara de Vereadores, e também por serem imóveis de famílias tradicionais na cidade, contribui para a realização de políticas de memória.


Outros imóveis, entretanto, não tiveram o mesmo fim. Há fontes que comprovam a existência de pelo menos mais 4 hotéis na rua Barão do Rio Branco após a década de 1910: Rio Branco, Lisboa, Paraná e Stumbo. Possivelmente o Hotel Rio Branco tenha se tornado o Hotel Brotto, que ficava ao lado do Roma e que atualmente se encontra em ruínas.


Isso mostra um pouco como funcionam a história e a memória: alguns patrimônios são lembrados porque permaneceram em pé, enquanto incontáveis outros se esvaem da memória pois há muito foram demolidos ou porque a eles foram dadas outras funções ao longo do tempo, sem que sua história fosse (tão) contada.

Mesmo alguns dos patrimônios que têm sua história amplamente contada - como o Hotel Tassi - não são tão preservados. Os hotéis citados (Tassi, Roma, Grande Hotel Moderno, Johnscher e Brotto) são Unidades de Interesse e Preservação (UIPs), o que não significa, porém, que sua preservação esteja garantida, muito por conta da falta de incentivos públicos e fiscais — via de regra, os proprietários desses imóveis antigos precisam assumir a onerosa tarefa de reforma, que não sai barata para patrimônios históricos. 


Os hotéis Tassi e Brotto, por exemplo, encontram-se praticamente em ruínas, há anos com tapumes em sua fachada. Para quem passa pelo local, não há referência alguma que permita identificar que ali funcionaram alguns dos mais tradicionais hotéis da capital paranaense. 

Texto e pesquisa de Gabriel Brum Perin e Gustavo Pitz


Fontes de pesquisa:


CORÇAO, Mariana. Os tempos da memória gustativa : Bar Palácio, patrimônio da sociedade curitibana (1930-2006). Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação do Departamento de História, Setor de Ciências Humanas, Letras e Artes da Universidade Federal do Paraná. 2007. Disponível em: https://acervodigital.ufpr.br/bitstream/handle/1884/13526/Disserta%c3%a7%c3%a3o.pdf?sequence=2&isAllowed=y


RAMOS, Simone Eloisa Villanueva de Castro.
 
A dinâmica da localização da hotelaria curitibana no período de 1966 a 2008. Tese de Doutorado. Programa de Pós- Graduação em Geografia, Setor Ciências da Terra, da Universidade Federal do Paraná. 2010. Disponível em: https://acervodigital.ufpr.br/bitstream/handle/1884/25919/Tese%20Simone_Villanueva.pdf?sequence=1&isAllowed=y


DIÁRIO DA TARDE, 14 de jul. de 1917. Disponível em:
 
https://memoria.bn.br/DocReader/docreader.aspx?bib=800074&pasta=ano%20191&pesq=&pagfis=23591


https://pergamum.curitiba.pr.gov.br/vinculos/000096/00009681.pdf


https://mcities.com.br/curitiba/descubra-curitiba/hospede-com-historia-os-hoteis-mais-antigos-da-cidade/


https://www.marceloaraujo.pics/hotel-tassi


https://www.prppg.ufpr.br/siga/visitante/trabalhoConclusaoWS?idpessoal=39888&idprograma=40001016009P0&anobase=2018&idtc=79


https://www.facebook.com/groups/417557358409468/permalink/1606743832824142/


https://www.facebook.com/photo/?fbid=1481030518634126&set=gm.824377274394139


https://tribunapr.uol.com.br/noticias/curitiba-regiao/todo-mundo-em-curitiba-ja-dormiu-no-johnscher/


https://ippuc.org.br/listaDetequipamentospdf.php?cd_tp_equipamento=27


https://www.fotografandocuritiba.com.br/2016/01/grande-hotel-moderno.html


https://arquivoarquitetura.com/059#7446-7525-galeria-059-antigo-hotel-tassi

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