terça-feira, 31 de janeiro de 2023

Passeio Público: o primeiro parque de Curitiba

 Passeio Público: o primeiro parque de Curitiba

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Neste texto falaremos sobre o primeiro parque de Curitiba, mais que centenário, e que até hoje segue fazendo parte do cotidiano dos curitibanos


A historiadora Aparecida Vaz da Silva Bahls, em sua dissertação de mestrado intitulada "O Verde na metrópole: A evolução das praças e jardins em Curitiba (1885-1916)" fala sobre o contexto de inauguração do Passeio Público na cidade de Curitiba:


A construção do Passeio Público, em 1886, veio ao encontro dos anseios da sociedade, de tornar Curitiba uma capital bela e próspera. Através do saneamento do rio Belém, o verde transformou-se em monumento a ser admirado e usufruído. Sendo assim, procurou-se dotar o espaço de beleza e diversão, dois elementos essenciais para atrair visitantes ao logradouro. Houve um cuidado especial com a arborização, a principal fonte de beleza do Jardim, por meio da reunião de espécies raras e exóticas. Outra forma de garantir a presença de freqüentadores, foi a instituição de diversos equipamentos de recreação, como o carrossel adquirido pela direção do Passeio, em 1886. (p. 132)

O terreno onde hoje é o passeio público, na região norte da cidade, era um banhado formado pelo Rio Belém, onde o mau cheiro, a água parada e a possibilidade da proliferação de doenças afastavam a população do local. Isso começou a mudar quando, buscando fugir das leis municipais que regulavam os padrões de arquitetura dos edifícios nas zonas entendidas legalmente como meio urbano, os barões do mate começaram a se instalar nas proximidades do terreno.


A partir disso, as obra de construção de um passeio público passaram a ser proveitosas para a elite, pois valorizaria seus terrenos, e passaram a contar com seu apoio. Tanto foi assim que os trabalhos foram dirigidos por uma comissão composta por dois dos mais ricos e poderosos ervateiros da época: Francisco Fasce Fontana e Ildefonso Pereira Correia - o Barão do Serro Azul.


O nivelamento do terreno teve início em fevereiro de 1886, e em março o município de Curitiba desapropriou a chácara pertencente a Paulina Hauer, no local onde viria a ser construído o Passeio. Por conta da falta de dinheiro, a província iria pagar metade do valor da indenização, estabelecida em Rs. 2:2205000.


Mesmo aprovada, a verba da Câmara Municipal demorou a sair, e a maioria da obra foi executada pelos ervateiros já citados Fontana e o Barão do Serro Azul. Trabalharam na obra em média 50 operários por dia, sob a supervisão de João Lazzarini, engenheiro da câmara.


Na inauguração, foi construído um pavilhão no qual, em um mastro, foram entrelaçadas as bandeiras "allemã, oriental e italiana". A banda do 3º regimentou agraciou o público com músicas, e um bote e uma canoa foram disponibilizados ao público para passeios nos canais do rio Belém.


A área inicial do terreno era de 48 mil metros quadrados - a área atual do Passeio é superior a 69 mil metros quadrados.

Ao longo de seus 136 anos, o Passeio Público passou por muitas transformações até que adquirisse sua forma atual, e foi também protagonistas de eventos históricos e inéditos da cidade de Curitiba, como a instalação da primeira lâmpada elétrica da cidade de Curitiba, em 19 de dezembro de 1886.


A última reforma significativa ocorreu em 2019, que contou com a demolição da estrutura que abrigava o antigo Bar do Pasquale, fundado em 1957 e ponto tradicional dos curitibanos aos fins de semana. Segundo a prefeitura, o objetivo da reforma foi uma revitalização do Passeio Público, que "Ficou mais aberto, ganhando nova praça, mais variedade de plantas, muitas flores – e até um palco flutuante, para apresentações e espetáculos especiais, como na época do Natal."


O coreto, local onde antigamente a banda do exército costumava fazer suas apresentações, hoje se tornou um coreto digital, com programação diversificada e variável mês a mês, onde são exibidos vídeos-exposições artísticas, vídeo clips de gêneros musicais diversos , de espetáculos de dança, teatro, contação de histórias, etc.


Curiosidades históricas


Em 21 de abril de 1909, após duas outras tentativas, Maria Aída decidiu que ali seria o local ideal para a primeira decolagem de balão da cidade. O evento, que era também alusivo ao Dia de Tiradentes, reuniu mais de duas mil pessoas. O voo não foi tranquilo, uma vez que, antes do balão tocar o chão, Aída se viu obrigada a fazer um improviso e se jogou no telhado da Catedral.


Mesmo assim, o voo foi considerado um sucesso e Aída foi saudada pelos presentes ao aterrissar na Praça Tiradentes. Apesar de breve, o voo da corajosa Maria Aída foi suficiente para marcar a história, já que ela foi a primeira mulher de Curitiba e do Brasil a voar sozinha de balão. 

No ano de 1911, aconteceram no Passeio Público diversos eventos culturais importantes. Para 20 de agosto do mesmo ano, estava marcada a coroação de Emiliano Perneta como príncipe dos poetas paranaenses. Perneta era também conhecido como o poeta da ilusão. Com isso, o local onde ele foi coroado no Passeio Público ficou conhecido como Ilha da Ilusão.


Aparecida Vaz da Silva relata esse acontecimento:


A população compareceu ao logradouro junto à ponte que dava acesso à Ilha da Ilusão. Nela, foi erigido um templo, em estilo jónico, com as colunas presas aos festões de cedro e loureiro. Completando o cenário, colocaram-se estátuas representativas da mitologia grega.

Os portões do Passeio Público de Curitiba foram inspirados na entrada do Cimetière des Chiens et Autres Animaux Domestiques de Asnières-Sur-Seine, ou Cemitério dos Cães e outros animais domésticos de Asnières, inaugurado em 1899 e localizado na periferia de Paris. Ambos foram projetados pelo mesmo arquiteto, o francês Joseph-Antoine Bouvard. Famoso na Europa e também no Brasil, Bouvard foi contratado pelo então prefeito de Curitiba, Cândido de Abreu, para as reformas no Passeio Público, em 1915/16.


Bouvard primeiro projetou a entrada do Passeio Público em arcos na Av. João Gualberto, depois fez a réplica construída do outro lado, na Rua Carlos Cavalcanti. Concluídas as obras, os portões do Passeio Público logo se tornaram símbolo de uma Curitiba que se projetava aos moldes europeus, considerados mais "civilizados" e "avançados". 


Atualmente, são um dos pontos turísticos mais famosos da cidade, graças às políticas de preservação de memória — muitos foram os restauros realizados nessas entradas até hoje.

Visitantes sazonais


O parque não é referência apenas para turistas e curitibanos. Há mais de vinte anos o Passeio é ponto de parada obrigatória para a espécie Ardea alba , também conhecida como Garça-branca-grande. Em meio ao caos urbano, as grandes aves de até 100 cm e plumagem completamente branca, escolheram o coração do parque como berçário.


Durante oito meses do ano, as garças permanecem ali: chegam em julho e partem só em março do ano seguinte; o auge da reprodução é em setembro, na primavera. Nesse período, machos e fêmeas ganham uma plumagem especial que possui função ornamental para atrair um parceiro... 


Essa estratégia, porém, não dá muito certo, pois o Passeio já chegou a ter cerca de 80 filhotes em uma só temporada. Ninguém sabe ao certo o motivo das Garças terem escolhido esse ponto da cidade para reprodução; sabemos apenas que elas são um espetáculo à parte e que muitos moradores da região esperam ansiosos pela chegada desses majestosos animais e do espetáculo de fofura que é o nascimento de seus filhotes.

Desde 1974, o Passeio Público é patrimônio tombado pelo Estado do Paraná. Abaixo, mais fotos de diversas épocas do Passeio Público:

Texto e pesquisa de Elaine Costa e Gabriel Brum Perin


Fontes de Pesquisa:


BAHLS, Aparecida Vaz da Silva. O VERDE NA METRÓPOLE: A EVOLUÇÃO DAS PRAÇAS E JARDINS EM CURITIBA (1885-1916). Dissertação apresentada como requisito parcial à obtenção do grau de Mestre. Curso de Pós-Graduação em História, Setor de Ciências Humanas, Letras e Artes, Universidade Federal do Paraná. 1998. Disponível em: https://acervodigital.ufpr.br/bitstream/handle/1884/24659/D%20-%20BAHLS%2c%20APARECIDA%20VAZ%20DA%20SILVA.pdf?sequence=1&isAllowed=y


DEZENOVE DE DEZEMBRO. Curitiba, 4 maio 1886. Disponível em: https://memoria.bn.br/DocReader/docreader.aspx?bib=416398&pasta=ano%20188&pesq=&pagfis=13906


https://www.curitiba.pr.gov.br/conteudo/passeio-publico-municipal-de-curitiba/324


https://www.fotografandocuritiba.com.br/2017/02/o-principe-dos-poetas-do-parana-na-ilha.html


https://www.bemparana.com.br/noticia/coreto-digital-do-passeio-publico-retoma-apresentacoes#.YtrhmHbMLrd


https://g1.globo.com/pr/parana/noticia/2019/03/22/prefeitura-de-curitiba-demole-antigo-bar-do-pasquale-para-construir-praca-no-passeio-publico.ghtml

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