terça-feira, 21 de junho de 2022

QUANDO A VIDA IMITA A ARTE " Não raro a vida imita a arte, ao contrário do que dizem.

 QUANDO A VIDA IMITA A ARTE
" Não raro a vida imita a arte, ao contrário do que dizem.

QUANDO A VIDA IMITA A ARTE
" Não raro a vida imita a arte, ao contrário do que dizem.
Por exemplo, eu vi da minha mesa na redação do jornal "Última Hora" o Adherbal Fortes de Sá Júnior sugerir a um tipo estranhíssimo, chamado Tuyuti Sareta, que padecia de lábio Leporino e era fanho, que imitasse o Zé do Burro de "O Pagador de Promessas", de Dias Gomes, que havia ganho a Palma de Ouro de Cannes com o filme de Anselmo Duarte, e levasse uma cruz até a igreja do Rocio em Paranaguá, em troca de alguns favores.
Lembro que, na seqüência, o improvisado Zé do Burro entrou no santuário da padroeira do Paraná com todas as honras, pois o prefeito, o bispo e o delegado de polícia não ousaram enfrentar a força popular do jornal que, em Paranaguá, sob o comando de Cícero Catani, tirava quase três mil exemplares e comandava até greves na área portuária.
Vi, também, uma situação de absoluto decalque do filme "A Montanha dos 7 Abutres", de Billy Wilder, com o ator Kirk Douglas na pele de um jornalista inescrupuloso e sensacionalista, que se aproveita de um acidente numa mina para conter o último mineiro até a morte da vítima.
Havia uma invernada no Capão Raso, onde um pequeno regato penetrava por uma caverna subterrânea estreitíssima, só explorada pelas crianças, que afinal desafiam o imponderável, são protegidas pelos anjos e têm as dimensões do corpo como vantagem para penetrar em bueiros e galerias. Anos antes, corria na memória da população daquele bairro a estória de um menino que avistara uma santa no interior dessa galeria.
Na verdade, tratava-se de um fenômeno comum de refração da luz e que produz uma espécie de prisma de forma triangular e lembrando em tudo um ícone. Como uns meninos voltaram a explorar o mesmo lugar e a ver idêntica imagem, a fantasia se alastrou e o jornal Última Hora fez um carnaval em cima do assunto, com o repórter Maurício Távora.
Como chefe de redação, fui até lá para tomar pé da situação e ao ver a estreiteza da entrada da caverna, resolvi avisar o comandante dos bombeiros, coronel Hamilton de Castro, do risco que havia no local. Meia hora depois, o comandante ligou-me agradecendo, mas avisando que um operário da construção civil resolvera entrar na galeria para ver a santa e acabou morrendo.
Pior é que, com o sensacionalismo do noticiário, pintou no lugar um taumaturgo, milagreiro. que se fazia passar por Wilmar Schmidt, um menino catarinense que andou fazendo, décadas antes, milagres em Curitiba, e que afirmava que localizaria o trabalhador.
Ajudei na época a desmascarar o falso milagreiro, pois havia conhecido o verdadeiro Wilmar. Não foi fácil, porém, à autoridade segurar o povo que entrou na onda do milagreiro e até rezava o terço, bem como o Corpo de Bombeiros teve que criar "Know how" para aquele tipo de soterramento.
Nesse caso, também a vida imitou, sem muita criatividade, aquilo que a arte já consagrara."
(Autor: Jornalista Luiz Geraldo Mazza / Fonte: Histórias de Curitiba / Foto ilustrativa: Wikipedia)
Paulo Grani

Pode ser uma imagem de uma ou mais pessoas e pessoas em pé

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