sábado, 26 de novembro de 2022

A MARCHA DOS ESCOTEIROS 3 - SURGE A PATRULHA TOURO

 

A MARCHA DOS ESCOTEIROS 3 - SURGE A PATRULHA TOURO


Anuncio no jornal O Dia, de Curitiba, informando o percurso dos "Itas" da Costeira, indo e vindo de Norte a Sul; 
(Estamos no mês de dezembro de 1941. Enquanto o mundo está em Guerra e o Brasil segue sob a Ditadura do Estado Novo, cinco escoteiros de Antonina (PR), entre 15 e 18 anos, estão desde 16 de dezembro de 1941 numa marcha a pé rumo ao Rio de Janeiro para entregar uma mensagem para Getúlio Vargas. Beto, Milton, Lydio, Antônio (Canário) e Manoel (Manduca) são os escolhidos para compor a Patrulha Touro, que ira realizar a marcha até o Rio de Janeiro.)

Antonina era uma pequena cidade marítima, no estreito litoral do Paraná. Seu pequeno porto, porém, era muito bem situado. Localizado no fundo da baia de Paranaguá, estava no início da estrada da Graciosa, então o melhor caminho para o planalto. Enquanto a distância de Paranaguá a Curitiba era de 120 km, passando por rios e Serras altas, o caminho da graciosa, além de bonito, era o que oferecia o melhor custo benefício para os carroceiros e, depois, para os pequenos veículos a motor. O binômio porto mais próximo e a estrada da Graciosa constituía uma vantagem sensível para o comercio da Deitada-a-beira-do-mar. 

O porto de Paranaguá, uma das principais cidades do estado, também era um adversário terrível. Perdendo na questão geográfica, combateu com o estabelecimento de um novo modal de transporte como diferencial. Este diferencial seria a ligação do porto com a ferrovia. Paranaguá assumiu esta vantagem no final do século XIX, sendo o caminho final da linha férrea, inaugurada em 1885. Antonina, logo a seguir, emparelhava a disputa com o ramal ferroviário até a cidade de Morretes. Os dois portos, associados e concorrentes, eram pontos importantes do transporte marítimo de cabotagem do Rio de Janeiro para o sul do Brasil e mesmo para Uruguay e Argentina. 

Entretanto, a crescente malha ferroviária, embora muitas vezes parceira, também punha em xeque o transporte marítimo, principalmente no sul. A princípio, o trilho era um associado do transporte de cabotagem, fazendo ligações e encurtando distancias de maneira cooperativa. No entanto, com a chegada do automóvel, ameaçando a ferrovia, a cabotagem começou a rapidamente perder importância.
A década de 30 em Antonina foi um período de muito aperto econômico. Os velhos armazéns que antes controlavam o comércio da cidade com Curitiba e com os portos mais próximos, como Santos e Florianópolis, mudaram-se em sua maior parte para Paranaguá e Curitiba. O pequeno comércio local que não conseguiu se mudar da cidade e era dependente do sistema de cabotagem, começou a diminuir. Com a interrupção das atracagens da Costeira e do Loide na cidade, a situação começou a ficar desesperadora para estes comerciantes. Da mesma forma, os Sindicatos de Estivadores e os que trabalhavam nas firmas embarcadoras foram ainda mais duramente afetados. 

Não se sabe de onde veio a ideia de mandar os rapazes para o Rio. Mas, desde o início, a ideia pareceu boa. Estávamos vivendo no regime do Estado Novo, a Ditadura Varguista. O escotismo era um dos pilares de Vargas, assegurando o surgimento de uma juventude patriota e adestrada, fortemente associada ao regime. Uma vez que o destino das companhias de cabotagem estava em suas mãos, por que não quatro meninos a convencê-los? 

O grupo escoteiro Valle porto havia sido fundado havia três anos, em 1938. Era um grupo jovem, mas bastante organizado. Desde o início fortemente associado aos encontros escoteiros da região, possuía uma tropa bem treinada. Muitos destes escoteiros participaram nestes primeiros anos de diversos encontros de escoteiros em Joinville, Curitiba, São Paulo e Rio de Janeiro. Era um grupo forte e motivado. 

Caminhadas também eram o forte do Grupo Escoteiro Valle Porto. Em maio de 1940, os escoteiros Rubens Nagorne Vieira, Lourival silva, Lydio dos Santos Cabreira e Alceu Pereira da Silva haviam participado de uma caminhada a pé de 82 km, ligando Antonina a Curitiba. Foi um feito notável. Este Raid, que era como se chamavam então este tipo de competição, foi o batismo da patrulha Touro. Esta foi, com algumas modificações, a patrulha encarregada da missão no Rio de Janeiro. 

Uma vez definido o grupo, foram reunidos na Patrulha Touro cinco rapazes que pudessem dar cabo da tarefa. A escolha, bem se pode imaginar, era a escolha de rapazes que tivessem experiência em caminhadas, em acampamentos, mas, que, também, pudessem agir como um grupo. Sem isso, a missão jamais poderia ter sido concluída com êxito. 

Quem eram estes rapazes?

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